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O Bataclan carioca em chamas PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 11 December 2019 11:41

Algumas semanas atrás recebi aqui na minha casa um querido amigo carioca, corretor de imóveis como eu, que veio para um simpósio sobre corretagem e mercado imobiliário (estão pensando que é só médico e engenheiro que faz isso? A gente também faz!) e, evidentemente, após as plenárias, nos dávamos direito a um momento de relaxamento que muitos chamam de “happy hour”. No nosso caso, algumas “hours”.

 

Entre brindes e gargalhadas, meu amigo – que não vou revelar o nome por motivos de sua segurança pessoal – em certo momento ficou sério e com um tom choroso falou de uma perda recém ocorrida e da falta que esta lhe fazia. Achei que era algum parente, mas ele revelou o fato: um certo estabelecimento no centro do Rio e Janeiro, cujo o nome remete ao mundo off road, mas que a única relação com o automobilismo é que o local era onde seus usuários, perdiam o controle e derrapavam nas curvas do local, ardeu em chamas, deixando desamparados seus trabalhadores e trabalhadoras, além dos clientes.

 

O “Bataclan” (nome fictício, inspirado em uma obra do escritor Jorge Amado, e que remete à natureza do estabelecimento incendiado) era um lugar de boa convivência, segundo ele (eu juro pela pureza dos meus filhos que não conheço nenhum local do gênero), com todas as pessoas tratando-se com o devido respeito e seguindo a “liturgia” do local, como acontece na política, onde os políticos se agridem-se, xingam-se e acusam-se de tudo, mas nos seus respectivos “Bataclans”, chamam uns aos outros de “Vossa Excelência”.


  Quando se fala que as coisas se complicaram entre os sócios do negócio e um chuta o balde, é como por fogo no bordel. 

 

Além desse “Bataclan” no Rio de Janeiro, que acabou-se em chamas, existem vários outros com “diversas naturezas”. Na mesma altura, também há algumas semanas, o governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), teria desistido do projeto de levar a Fórmula 1 para a capital fluminense a partir da temporada 2021, mirando levar para cidade maravilhosa a emergente Fórmula E como alternativa mais barata e menos complicada, sem depender do terreno em Deodoro e deixando claro sua posição de confronto ao presidente Jair Bolsonaro.

 

Para quem tem um mínimo de bom senso e sabe que é impossível construir um autódromo para a Fórmula 1 com 700 milhões de ‘taoqueis’, na conta do governador a fórmula E custaria para o estado 35 milhões e esse valor seria muito mais simples de conquistar junto a investidores. Correndo contra o efeito das labaredas provocadas pelo posicionamento, a assessoria de imprensa correu para desmentir, via nota, que o governador não havia desistido da Fórmula 1 e nem do autódromo de Deodoro... tarde demais. As labaredas já tomavam conta do “Bataclan”.


  Parceiros de ocasião nas eleições de 2018, os personagens acima viraram concorrentes para 2022.

 

Para quem leu o livro de Jorge Amado ou, preguiçoso como eu, assistiu a novela, sabe que o “Bataclan” era comandado com mão de ferro por sua proprietária, Maria Machadão. E assim como em qualquer tribo só tem um cacique, qualquer país (sério), quem manda é o presidente, o primeiro ministro ou o ditador, em um “Bataclan” só tem espaço para uma Maria Machadão e, no caso do “Bataclan” de Deodoro, tem “Machadão” demais para um bordel só.

 

As coisas vão tão longe nessa disputa, toda visando o maior dos “Bataclans” do país (localizado em Brasília), que o governador do Rio de Janeiro tratou de desmentir a própria nota oficial que ele pediu para ser divulgada na tentativa de apagar o fogo que ele mesmo causou na entrevista onde anunciou o projeto da Fórmula E.


  Por lei, o projeto do autódromo é responsabilidade da prefeitura do Rio de Janeiro, mas todos querem lucrar com ele.

 

A tal da nota a imprensa informava que a obra do Autódromo de Deodoro é privada, cuja concessão é de responsabilidade do Município do Rio de Janeiro e que a Rio Motorpark, consórcio vencedor (e único participante da licitação) para a construção e exploração do Autódromo Parque de Deodoro, nunca solicitou ao Governo do Estado do Rio de Janeiro qualquer tipo de incentivo fiscal ou apoio financeiro para sua construção... que recentemente conseguiu do Instituto Estadual Ambiental um “sinal verde” para a elaboração de um plano de impacto ambiental que a obra do autódromo pode causar.

 

Acontece que, pouco tempo depois, o governo do Estado do Rio, através da secretaria de esporte aprovou um projeto que daria um incentivo fiscal de 302 milhões de ‘taoqueis’ para a construção do autódromo encravado em uma região de extrema segurança e maravilhosa vizinhança para receber o GP Brasil de Fórmula 1, dividido em duas etapas, de 151 milhões e 152 milhões, respectivamente, para 2021 e 2022. Este valor, na cotação atual do dolar, cobririaa proposta de 35 milhões de dólares por ano que está sendo oferecido ao Don Bigodão, CEO da Liberty Media, para a Fórmula 1 ir para o Rio de Janeiro, ao contrário dos 20 milhões oferecidos pelo grupo do governador João Ralph Laurent Doria, de São Paulo.


  O Inea abriu o caminho para ser feito um estudo de impacto ambiental da construção do autódromo.

 

Responda-me se for capaz, leitor carioca: se um estado que está quebrado, com um rombo orçamentário bilionário, onde vai poder fazer renúncias fiscais para deixar de arrecadar dinheiro com impostos para atender uma necessidade que em pouco ou nada atende a população? Como desgraça pouca é bobagem, o projeto vai contra a lei, ultrapassando o teto de renúncia fiscal da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte, que é de cerca de 138 milhões de ‘taoqueis’.

 

Na prática, isso significa que a Rio Motorsport tem uma autorização para buscar empresas interessadas a doarem já em 2019 até 3% do ICMS devido ao governo do Rio para o projeto do GP Brasil. O negócio funciona da seguinte maneira: quando uma empresa demonstrar interesse, o consórcio precisa voltar até a secretaria, que então autoriza a isenção fiscal até o máximo de 3% do ICMS devido. Até 2022, todo esse montante pode chegar a R$ 302 milhões.


 O tempo está passando, Deodoro continua sendo uma folha de papel e o Brasil pode acabar ficando sem GP de F1.

 

Bem organizado, qualquer “Bataclan” que se preza dá lucro. Vide a prefeitura de São Paulo, que investe 40 milhões de ‘pô, meus’ por ano na realização do GP Brasil, bancando a operação, que inclui limpeza, segurança e arquibancadas provisórias. A Secretaria de Turismo da capital paulista diz que a corrida movimenta cerca de 334 milhões na economia do município.

 

Nessa guerra de “Bataclans” e “Machadões”, não faltarão fanfarronices, querosene e labaredas na fogueira de vaidades que entre um projeto inexistente e inviável de um autódromo de papel e uma corrida para comandar o mais cobiçado dos bordeis do país, ainda podemos correr o risco de ficar sem GP Brasil de Fórmula 1.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva