Olá leitores! Escrever esta coluna tornou-se um desafio: como produzir um bom texto a partir de uma matéria prima tão fraca como o GP de Abu Dhabi? Uma das poucas pessoas que devem ter sinceramente gostado da última etapa da temporada 2019 da F-1 provavelmente foi Lewis Hamilton, que venceu com tranquilidade absoluta, como se estivesse sentado na poltrona de casa de robe e pantufas. Talvez Valtteri Bottas tenha se divertido ultrapassando tantos carros após largar em último lugar por causa da penalização de troca de motor. Para o espectador, a corrida conseguiu igualar a chatice da etapa de Paul Ricard, em uma versão piorada. Lembremos que Paul Ricard fica no sul da França, numa região produtora do licor pastis e a poucos quilômetros das belas praias da Côte D’Azur... enquanto lá no meio do deserto nem comemorar com champagne no pódio se pode, em obediência ao Alcorão. Nem o sistema de controle da FIA para monitorar o DRS quis funcionar na última etapa do ano, e quando a abertura da asa móvel foi permitida já era a 18ª volta, e já tinha espectador bocejando. Enfim, vitória soberana de Lewis Hamilton, talvez a mais fácil de sua carreira. Pole position, desde o ponto de freada da primeira curva não foi ameaçado por ninguém. Talvez o tédio e o sono tenham ameaçado a vitória dele, mas nenhum outro piloto o fez. Seu escudeiro Valtteri Bottas (4º) largou em último por conta de punição por troca de motor e se divertiu ultrapassando carros mais lentos na primeira metade da corrida, e disputando posições com carros da Ferrari e Red Bull na segunda metade. Em segundo chegou Max Verstappen, responsável por um dos poucos momentos interessantes da corrida, sua bela ultrapassagem sobre Leclerc após a troca dos pneus. Com todos os méritos termina a temporada em 3º lugar na pontuação, atrás apenas dos inalcançáveis pilotos da Mercedes. Seu companheiro Alexander Albon (6º) foi chamado cedo para os boxes para a troca de pneus, “marcando” os carros da Ferrari, e a exemplo dos italianos se deu mal depois, com pneus muito desgastados no final da prova. Boa corrida para um dos melhores estreantes da temporada. Em 3º terminou Charles Leclerc, que acelerou muito para compensar toda a intelectualidade da estratégia de pneus montada pela equipe, que conseguiu sair de mau para pior nas estratégias dos pilotos. Que equipe seria capaz de chamar para troca de pneus NA MESMA VOLTA um piloto com pneus macios (Vettel, até aí normal) e outro com pneus médios, que são mais duráveis, sem que houvesse algum problema nos mesmos? A Ferrari, claro e evidente. Tem coisas que só a Ferrari faz por você. E ainda se atrapalha toda na troca do papai fresco Vettel (na 5ª feira nasceu o 3º filho do Vettel, dessa vez um garoto para acompanhar as duas filhas que ele já tem, e como foi um ano de grandes dificuldades para o Sebastian e até o horário do fechamento desta coluna não tinha sido divulgado o nome do menino, espero que ele não batize o garoto de Sue – OK, a piada foi ruim, mas a música é boa). O melhor entre os “normais”, claro que uma volta atrás do líder, foi Sérgio Pérez em 7º lugar. Fez uma grande corrida, mesmo tendo sido atrapalhado na primeira curva por um toque do Gasly, e conseguiu na última volta uma linda ultrapassagem sobre Norris para alegria do público que ainda estava acordado ou tentando prestar atenção na corrida. Muito boa mesmo. Seu companheiro e filho do dono da equipe Lance Stroll também foi afetado pela bobagem do Gasly e teve que parar para trocar o bico, perdendo muito tempo e indo lá pra trás... abandonou a 10 voltas do final por falha nos freios. Em 8º chegou Lando Norris, talvez a mais grata surpresa de 2019, e certamente o mais promissor dos estreantes da temporada. Dentro das possibilidades que a pista permite, fez uma boa corrida e “vendeu” muito caro a posição para Pérez no final da prova. Seu companheiro Carlos Sainz Jr. (10º) também fez boa prova, em que pese reclamar muito do tráfego e de dificuldades com pneus. Corrida honesta da McLaren, em seu ano de reerguimento após a “terra arrasada” deixada por Alonso, o Semeador da Cizânia. Em 9º chegou Daniil Kvyat, mesmo reclamando de problemas aerodinâmicos causados por uma asa dianteira levemente solta após um toque com Daniel Ricciardo, mas... não estava comprometendo muito no trecho de baixa, e não prejudicava muito nas retas, então a equipe deixou lá mesmo. Acabou dando certo. Seu companheiro Pierre Gasly (18º) teve que parar para trocar a asa dianteira após o enrosco com os carros da Force Daddy, digo, Racing Point, e estava frustrado por ver a posição em que Kvyat terminou mesmo largando atrás dele. Quem sabe sirva de lição para a próxima temporada... Tivemos também duas despedidas, Nico Hülkemberg deixando a categoria sem nunca ter conquistado um pódio – apesar do seu notório talento – e Robert Kubica, que provou que mesmo com as limitações físicas dele, pilotando o pior carro disparado da categoria, ainda seria possível voltar a disputar corridas de F-1. Kubica será substituído por Latifi, um jovem piloto que consta que o pai é ainda mais rico que o pai do Stroll. Vai ser divertida a disputa dos “garotos ostentação” ano que vem... E o mundo da F-1 lamentou a morte por câncer no pulmão aos 75 anos de idade do jornalista português Domingos Piedade, que desempenhou grande papel nos bastidores no suporte ao Emerson Fittipaldi no começo da carreira internacional dele, trabalhando como manager do “rato” nos primeiros anos, também tendo auxiliado Nelson Piquet, tido amizade com Ayrton Senna e, em sua época de vice-presidente da AMG, ter contribuído para revelar ao mundo um rapaz chamado Michael Schumacher... também foi dele a iniciativa do Medical Car para prestação de socorro rápido em caso de acidente na primeira volta da corrida. Era formado em Engenharia Mecânica e Economia por faculdades na Alemanha, e dedicou grande parte de sua vida a esse esporte que tanto amamos. Resquiat in pace, Domingos, e obrigado por tudo. Até a próxima! Alexandre Bianchini |