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O Jeitinho Holandês PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 06 November 2019 10:53

Tem uma coisa que todo mundo fala e ninguém explica que é o tal do “jeitinho brasileiro” é aquela coisa de por meio da habilidade e engenhosidade que faz alguém tornar possível o impossível, justo o injusto, legal o ilegal.

 

Já teve até estudo sociológico sobre o assunto para buscar compreender se afinal poderia ser cogitada como alternativa válida o uso desse dito “jeitinho” como uma saída viável e aceitável na resolução dos problemas em qualquer seguimento da vida.

 

Mas eu duvido que algum dos meus leitores saibam o que pode ser “jeitinho holandês”... sim, eles tem! Pra começar, eles fizeram de um buraco e um banhado na beira do mar um país. Fizeram um monte de muros (que eles chamam de diques), pra deixar a água do lado de fora e os holandeses do lado de dentro. Tem que respeitar os caras em matéria de jeitinho!

 

Mas agora eles uns 6 meses para transformar uma pistinha macambúzia em um autódromo FIA 1 e fazer do velho, mutilado e defasado autódromo de Zandvoort em um palco para já em 2020 se apresentar em condições de sediar o GP da Holanda de Fórmula 1, turbinado pelo “Efeito Verstappen”, que tem levado multidões aos autódromos pela Europa e que, em uma corrida doméstica, vão mudar o contraste de verde, branco e azul da vegetação, dunas e lagunas para um manto laranja.

 

   Em meio a dunas e lagunas, o atual traçado do circuito de Zandvoort está longe de poder receber a Fórmula 1.

 

Mas onde é que está o tal do “jeitinho”? Desde que foi decidido que a Holanda voltaria ao calendário, os organizadores do GP da Holanda tiveram que travar uma guerra antes de começar a preparar Zandvoort para a corrida do próximo ano. Mesmo antes do acordo com a Fórmula 1 ser fechado, grupos de oposição estavam prometendo tomar atitudes legais visando impedir ou atrasar o evento. E fizeram isso!

 

De um jeito tipicamente brasileiro (acho que aprenderam isso no tempo do Maurício de Nassau lá em Pernambuco) as obras começaram mesmo antes das licenças ambientais terem sido dadas e os ecologistas estavam reclamando da instalação de telas que impediam o livre ir e vir dos sapos entre as lagunas que existem na área do circuito... se no Canadá vemos marmotas atravessando a pista, poderemos ver sapos saltando na frente dos carros no ano que vem!

 

   Visto de cima, pode se pensar que não falta espaço para obras, especialmente aumentar a reta, mas há uma batalha ambiental.

 

O grupo ambiental 'Mobilisation For The Enviroment' e o Stichting Duinbehoud (Dune Conservation Zandvoort) lideravam o movimento para tentar impedir a grande obra que o circuito precisa com base em uma ordem judicial do governo concedida em maio que impedia construções próximas de áreas de reserva natural, buscando impedir a emissão de nitrogênio, um problema preocupante nos países da comunidade europeia.

 

A indústria da construção está sendo particularmente afetada por isso, pois entende-se que 18.000 projetos atuais na Holanda estão em espera no momento. Zandvoort não é exceção, devido ao escopo dos trabalhos que precisam ser realizados na pista e a legislação sobre nitrogênio que entrou em vigor em maio. O governo está vendo no GP uma forma atender toda a Holanda. Todos vão ganhar com a corrida.

 

O trabalho não vai ser fácil. Fora da Fórmula 1 há 35 anos (considerando 2020, que já está na porta), o circuito de Zandvoort precisa de uma obra gigantesca, quase uma reconstrução, para poder receber a Fórmula 1. A pista é estreita, com pontos com menos de 12 metros de largura, tem uma única reta – ridícula – de pouco mais de 650 metros, áreas de escape minúsculas, sem os aparatos de proteção que são exigidos em qualquer outro autódromo, boxes minúsculos comparados com qualquer um, exceto Mônaco...

 

   O traçado usado pela F1 nos anos 70 e 80 é o marcado em amarelo. Com os carros atuais, ninguém vai passar ninguém.

 

Na contramão disso tudo, os organizadores do GP da Holanda estão considerando aumentar a capacidade do autódromo por conta da procura de ingressos para a edição de retorno. O plano é fazer com que o autódromo possa receber 200 mil pessoas e os holandeses estão disputando os ingressos em lugares que nem existem como se fossem os últimos torresmos do petisco.

 

Mas pra se chegar no autódromo, que fica em um balneário com uma estrutura precária até se formos pensar em uma praia do Espírito Santo, vai ser um verdadeiro horror. No verão, os engarrafamentos deixam o trânsito parado por horas e nem a opção de se ir de trem parece ter condições de levar o tsunami laranja da capital, Amsterdam, para Zandvoort. O engarrafamento pode ser até mesmo aéreo, com um fluxo enorme de helicópteros para transportar pilotos, autoridades, personalidades e os ricos que vão ficar no paddock (que também terá que ser construído).

 

A extensão do trabalho necessário tem levado muita gente a considerar que Zandvoort pode ter dificuldades para concluir tudo a tempo; especialmente com alguma resistência local em permitir que grandes obras de construção ocorram nas dunas históricas, mesmo depois da vitória na corte no final de outubro que autorizou as obras.

 

   Este ano a Red Bull foi com seus carros e a estrela local fazer uma apresentação em Zandvoort. Lotou o autódromo.

 

Além das licenças, a organização de cada evento deve lidar com outro fator decisivo: o dinheiro. Para Zandvoort, o primeiro contratempo ocorreu no ano passado. Naquela época, o governo nacional indicou que não apoiaria o GP com dinheiro público. Mas a realidade acabou sendo um pouco diferente, já que no algumas semanas atrás o governo disse que ainda contribuiria com 2,3 milhões de euros para a reforma das ferrovias de Zandvoort. Portanto, o governo está investindo indiretamente no evento da F1. Mas isso aí é “dinheiro de pinga” para o tamanho das obras a serem feitas. Essa conta tem mais zeros do que metros na reta dos boxes.

 

Será que os holandeses vão dar jeito em todos os problemas e transformar Zandvoort em um circuito para receber a Fórmula 1? Teremos a resposta daqui há 6 meses.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva