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Graziela Fernandes Santos PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 28 February 2010 22:53

 

A nossa “pátria sobre rodas” é pródiga em nomes, valores, títulos e história... não apenas escrita por homens, mas também por mulheres.

 

Disputar corridas de igual para igual num país latino, onde o machismo é mais latente, a aceitação e o preconceito tornam este desafio mais difícil... 

 

O que dizer então de uma mulher, há quase 40 anos e correndo contra a mais brilhante geração de pilotos já formada... 

 

Este foi o grande desafio de Graziela Fernandes, onde nunca foi descriminada e sim apoiada por todos. Sem desmerecer as outras e com todo respeito do mundo, a grande “dama do automobilismo brasileiro”. 

 

Filha de italianos, Graziela Fernandes é uma brasileira de paixão que cresceu em terras paulistanas. Nascida em 3 de junho de 1948, como quase todas as jovens de sua geração, seguiu sua formação escolar até a conclusão da escola normal (a escola “normal” era o caminho de todas as moças, mas o desejo dela era cursar Engenharia Mecânica). Os seus pais só permitiram que ela fizesse um curso técnico de mecânica, o que veio ajudar muito posteriormente. Contudo, o efervescente sangue italiano a empurrava em outra direção e foi ainda adolescente que convenceu os pais de comprarem uma pequena moto de 50 cilindradas. 

 

Do curso de mecânica para as pistas de competição não demorou muito. Sua estréia nas pistas foi numa corrida feminina, em 1964, realizada na preliminar das 100 milhas da Guanabara, ao volante de seu próprio carro, uma Willys Interlagos. A prova terminou mais cedo, com um abandono por quebra, mas o primeiro passo estava dado,A quebra de seu motor levou a procurar a fábrica da Willys Overland.  

 

Interessada em trabalhar nesta área, foi na Willys que ela conseguiu uma oportunidade para desenvolver-se na carreira. Após rigorosos testes entrou na fabrica como Técnica em Engenharia Experimental, onde a media diária eram 500 Km por dia testando os novos lançamentos dos automóveis para o lançamento do ano seguinte. 

 

 

Com uma preparação "por debaixo dos panos" em seu Renault 1093, Graziela disputou várias corridas em São Paulo. 

 

Trabalhando na fábrica da Willys, encontrou um grande mestre e inspirador para mostrar os “atalhos” das pistas: Luiz Pereira Bueno. Contudo por ser funcionaria da fábrica não podia fazer  parte da equipe de competições comandada por Luiz Antônio Greco, só que sua vontade de correr foi reconhecida na empresa e assim encontraram um “meio termo”: Ela teve acesso a um Renault 1093 de linha, mas que recebia preparação “extraoficialmente”.

 

Graziela mostrou que tinha braço, conseguindo excelentes resultados, enfrentando de igual para igual os melhores pilotos da época. Eventualmente, também disputava provas ao volante dos Willys Interlagos, como nos 1000 Km de Brasília em 1966, dividindo o volante com Luis Carlos Fagundes. 

 

 

Não foram apenas corridas com o 1093 que Graziela disputou... ela também correu com um Willys Interlagos. 

 

O convívio, dentro do possível, com os pilotos da equipe Willys, entre eles Emerson Fittipaldi, proporcionou um convite a uma visita na sua fábrica de volantes. Na visita, ela foi “apresentada a uma diversão” dos pilotos: o kart!  

 

 

 

Vendo os pequenos carrinhos que andavam colados no chão e empurrados por estridentes motores foi quase impossível não  aceitar o convite para participar de uma prova que seria realizada no fim de semana seguinte. 

 

Emerson falou que ia haver uma corrida em Ribeirão Preto, valendo pelo campeonato Brasileiro, Graziela aceitou participar, com um kart cedido pelos Fittipaldi. Certamente eles apostavam na competência da colega para fazer um bom papel e, claro, usando um kart MINI  dele. Assim, Graziela deu de cara com uma grande quantidade de curiosos, concorrentes e jornalistas... até emissora de televisão compareceu para “verem ‘a piloto’ correr”.  

 

Sem nunca ter pilotado um kart antes na vida, Graziela fez sua estréia indo para o pódio em Piracicaba, com um 3º lugar. 

 

Até então ela nunca havia pilotado outra coisa que não carros de turismo e agora iria, já, “à vera”, encarar uma categoria nova com uma multidão olhando prá ela! Mesmo sem ter andado antes, Graziela conquistou o 3º lugar na sua primeira participação como Iniciante.  

 

Depois, correu outras provas na categoria de Novatos e obteve pontos suficiente para ser guindada a categoria dos Profissionais. Mesmo tendo alcançado esta categoria, ela não deu prosseguimento as corridas de kart. Não havia como conciliar tudo. 

 

Como a Willys pertencia a Ford, em 1967, apostando na visibilidade que ela tinha, convidou-a a conduzir– um Galaxie – como carro madrinha de uma corrida em Piracicaba. Após sair da Willys, ministrou um curso de mecânica exclusivamente para mulheres, na Chrysler e ano seguinte na Ford do Brasil onde formaram-se mais de 500 alunas. 

 

Sempre ligada a automóveis, quando saiu da FORD, foi trabalhar numa concessionária  Volkswagen como Gerente de Vendas. 

 

Amiga dos donos da Equipe Jolly, Piero Gancia e Emilio Zambello, com quem tem uma boa amizade até hoje, Graziela voltou às pistas, convidada para integrar a equipe Jolly e pilotar as Alfa-Romeo “ GTA”.  

 

A estréia na equipe Jolly foi no Rio Grande do Sul, Graziela brigou pelo pódio até a última curva. 

 

A reestréia foi na inauguração da Rodovia Presidente Kennedy, no Rio Grande do Sul. Os Alfa dominaram a prova com Emilio Zambello vencendo e Rafaelle Rosito em segundo. Na disputa pelo terceiro lugar, a luta foi acirrada entre Graziela e o Gaucho Alcides Bertuol. Na primeira etapa Graziela chegou na frente, na segunda Alcides chegou à frente e no somatório dos tempos “entrou no tudo ou nada” Ganhou a posição e Graziela terminou em 4º lugar... entre 63 participantes. 

 

Os Alfa eram carros rápidos, potentes e resistentes, no feitio para participar das provas de resistência que arrastavam milhares de pessoas aos autódromos e locais onde elas ocorriam. Apesar do Emilio e Piero serem os pilotos que eram, quando a equipe chegava onde quer que fosse, os olhos de todos sempre recaiam sobre ela. Afinal, ela competia de igual para igual com os melhores pilotos do país. 

 

Em 1970 Graziela realizou um sonho: correr as Mil Milhas Brasileiras e fez isso correndo pela sua equipe de coração. 

 

A reinauguração de Interlagos aconteceu com a prova mais tradicional do calendário brasileiro: as Mil Milhas. Graziela convidou Carlos Alberto Sgarbi para fazer dupla, realizando um desejo antigo Participar da “MILLE MIGLIA” com uma Alfa Romeo. Ao final da prova, conquistaram um belíssimo 7º lugar entre mais de 60 participantes! 

 

Na equipe Jolly ela tinha  um carro com as características que ela gostava, os desafios eram duros e muito prazeirosos , grandes conquistas chegaram com as  Provas mais importantes do Campeonato Brasileiro. Se passaram 3 anos de competições e conquistas. 

 

Tudo parecia estar bem quando foram proibidos os carros importados em corridas nacionais. Isso acabou com a equipe e deu uma desanimada em todos que competiam no país. Graziela tinha patrocínio da Valvoline e eles também contavam com uma Equipe de Corridas que marcaram época nas inesquecíveis disputas na Stock Cars. O convite para correr com na Equipe foi quase que automático, mas ela não conseguiu se adaptar ao novo carro, que tinha um comportamento completamente diferente das Alfa.  

 

A distância das pistas abriu espaço para outros amores. Em 1973, Graziela Fernandes casou-se com o cavaleiro Carlos Alberto Santos, que fez parte da Equipe Olímpica de Hipismo do Brasil, passando a assinar como Graziela Santos. 

 

 

A amizade com Emílio Zambello continua forte desde os anos 60 até os dias de hoje. Esta foto é de 2009. 

 

Existe uma certa “informação genética” ligada à velocidade, mesmo fora das competições a paixão não foi aplacada. Os italianos tem uma tradição motociclista... Graziela tem uma Kawasaki Ninja, de 900cc, uma “substituta natural, daquele primeiro ‘ciclomotor de 50cc. 

 

O casal Santos mantiveram durante anos uma fazenda em Uberaba, no estado de Minas Gerais. Para facilitar a locomoção, eles adquiriram um pequeno avião e a velocidade saiu do chão e foi para os ares.  

 

A aviadora Graziela Fernandes Santos, como em tudo, não se contentou com um monomotor e foi a 900 Km/h num Learjet.

 

Graziela tirou brevê e passou a pilotar seu monomotor PIPER, durante 7 anos, depois dele veio um bimotor Sêneca  que pilotou mais 18 anos. Em sua formação a nossa piloto chegou ao mais alto grau que um piloto pode alcançar, a licença de Piloto de Linha Aérea (PLA), tendo sido a primeira mulher no Brasil a alcançar tal certificação. Ao todo, acumulou, em mais de 30 anos como piloto, mais de 7000 horas voadas, inclusive a bordo de um Learjet, capaz de atingir os 900 Km/h.  

 

Em 1983 Graziela voltou a interlagos e as Mil Milhas, desta feita ao lado do marido, com apoio de Jayme Silva. 

 

Com toda essa gasolina correndo nas veias, mesmo fora das competições a paixão não foi aplacada. A velocidade em terra também não ficara esquecida e a prova disso foi uma saudosa volta em 83, nas Mil Milhas Brasileiras, desta feita ao lado do marido em um Stock Car, preparado por Jayme Silva, um dos “pais” da Stock. O casal sentiu-se tão bem com a volta que repetiram a dose em 1984. 

 

A despedida das pistas em definitivo foi 1986 quando a FIAT (fabrica) convidou p/ fazer ao Campeonato de Marcas, dividindo o volante com Carmem Mascarenhas, Foi um ano fantástico, diz Graziela – uma corrida por mês o ano todo!!!

 

Coisas do destino, nesta época começava a despontar no Rio Grande do Sul uma jovem piloto, inspirada pelo pai, e certamente pela sua companheira de equipe, trilhou os caminhos desbravados por Graziela para as mulheres no Brasil. Seu nome, Maria Cristina, filha de Rafaelle Rosito!

  

 

A velocidade que nunca deixou de fazer parte de sua vida, nos anos 90 encontrou mais uma forma de manifestar-se. 

 

Se Graziela já havia mostrado sua capacidade de ser veloz na terra e no ar, só faltava a água... e isso aconteceu em 1990, disputou o Campeonato Brasileiro de Offshore, culminando a temporada com uma brilhante vitória na etapa final, na Baía da Guanabara. 

 

Em 1995 Graziela pilotou uma lancha offshore da categoria Fórmula 1... tendo conhecido o barco apenas no dia anterior! 

 

Tomando gosto pelo novo esporte teve a oportunidade de participar de uma corrida de lanchas em 1995, na falta do 3º Piloto da Equipe, convidaram Graziela para participar na represa de Guarapiranga... e não era qualquer lanchinha, era simplesmente a categoria chamada de Fórmula 1! O convite foi feito na véspera da prova e no domingo, após um treino no sábado, Graziela foi para a água e conquistou o Pódio com um  3º lugar!  

 

Em 2009, Graziela participou da prova de regularidade organizada por Jan Balder no autódromo de Interlagos. 

 

A convite de seus amigos, depois de 37 anos longe da pista de Interlagos e das Alfa Romeo, Graziela participou de uma prova de regularidade para autos antigos. Imaginem se após sentar diante do volante de um Alfa GT 6 cilíndros ela iria se contentar em andar devagar. "Regularmente veloz", fez a volta mais rápida, voando pelas retas e curvas do novo traçado. O resultado era o menos importante, "aquela manhã foi como um sonho realizado e inesquecível", disse a piloto.

 

Ao lado do marido, Carlos Alberto, em Interlagos, revivendo grandes momentos de um casamento de muito amor e harmonia.  

 

Ainda hoje Graziela Fernandes Santos frequenta o autódromo de Interlagos, participando eventualmente de etapas de carros antigos na categoria “regularidade”, além de fazer outros esportes como o “Tiro ao Prato” e Mergulho, que praticou a vida toda.  

 

 

Fontes: Revista Quatro Rodas; Revista Brasileiros; Yellow Pages; Depoimentos e fotos do arquivo da piloto.

 

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Last Updated ( Saturday, 07 August 2010 20:07 )