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As lições de Le Sarthe PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 19 June 2019 22:46

Caros Amigos, quando estou em uma reunião, seja este um encontro profissional ou social e onde, por algum motivo aleatório o assunto acaba se voltando para o automobilismo, uma das coisas que mais me entristece nas pessoas é ouvir a frase “a Fórmula 1 acabou pra mim quando o Senna morreu”.

 

Prefiro sempre pensar que essas pessoas não falam isso por maldade, mas por falta de profundidade. Elas foram vítimas de um processo de massificação – muito bem conduzida é bom salientar – e pelos feitos fabulosos de um piloto fora de série como foi Ayrton Senna. Uma coisa não aconteceria sem a outra.

 

Contudo este tipo de pensamento também não deixa de ser uma falta de consideração com todos os pilotos que nós homenageamos aqui no site feito para eles, os Nobres do Grid, para com Nelson Piquet, três vezes campeão mundial e para com os outros pilotos brasileiros que chegaram a maior categoria do automobilismo mundial.

 

Além destes, há por parte de uma enorme parte dos que assistiam a Fórmula 1 até 1994 – e mesmo depois do trágico 1° de maio daquele ano – com Raul Boesel e Ricardo Zonta, campeões mundiais de Protótipos e Gran Turismo, feitos que fora da imprensa segmentada e especializada foram pouco, mal ou não mencionados. Infelizmente o Brasil é pródigo em fazer coisas do gênero.

 

Desde os anos 70, quando vimos Emerson Fittipaldi conquistar o mundo, colocar o Brasil definitivamente no cenário internacional conquistando dois títulos mundiais de Fórmula 1, o automobilismo ganhou uma projeção que não possuía até 1972. Foi neste ano que começaram as primeiras transmissões dos Grandes Prêmios da categoria. Antes disso, o acesso a informação sobre o que acontecia no automobilismo se dava através das revistas especializadas, duas delas, nacionais, com encartes de 50 ou mais páginas sobre o automobilismo mundial e nacional.

 

Sim, estas revistas de periodicidade mensal tinham um rico noticiário sobre diversas competições internacionais e sobre os grandes eventos do automobilismo nacional em uma época em que a Fórmula 1 era um mundo distante. Distância imposta em parte pela “guerra” entre o Automóvel Clube do Brasil e a recém fundada Confederação Brasileira de Automobilismo.

 

Durante muito tempo, década após década, o sonho, o objetivo de 9 entre 10 pilotos (talvez 10 entre 10) era trilhar os mesmos passos de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e – posteriormente e principalmente – Ayrton Senna. Contudo, o que vimos foi o caminho da Fórmula 1 ficando cada vez mais distante, mais difícil e – especialmente – mais caro. Fazendo do fator técnico, aquele que deveria colocar na melhor e maior das categorias, os maiores e melhores pilotos como um dia o foi.

 

Há anos temos “sofrido” com corridas na Fórmula 1 sem vitórias brasileiras e, nos últimos dois anos, sem pilotos brasileiros alinhando no grid. Mas até onde a Fórmula 1 é tão importante e vital para que não possamos continuar apaixonados pelo apaixonante esporte a motor, seja este motor elétrico, híbrido ou de combustão interna?

 

Os nossos vizinhos na Argentina já vem mostrando que o automobilismo pode viver distante da fórmula 1 e continuar sendo um esporte apaixonante, capaz de levar dezenas de milhares de fãs da velocidade aos autódromos, de terem corridas transmitidas na televisão de várias categorias, de terem regularmente publicações (revistas e jornais) especializados sobre automobilismo nas bancas e onde o automobilismo local é a principal atração.

 

Neste último final de semana, tivemos (pelo menos quem tem acesso ao respectivo canal por assinatura) quase 10 horas de transmissão ao vivo das 24 Horas de Le Mans e esta edição do grande evento mostrou para todo mundo que não é por falta de talento que os pilotos brasileiros não podem estar em uma equipe da Fórmula 1. Em três das quatro categorias da quase secular corrida na França, tivemos três brasileiros arrancando elogios de profissionais das equipes e também da mídia internacional e fazendo parte dos trios vencedores na LMP2, GTEPro e GTEAm – ao menos no cruzar da linha de chegada, uma vez que o Ford F40 número 95 da categoria GTEAm foi desclassificado por um erro de dimensionamento do tanque de combustível de 0,1 litro.

 

André Negrão, Daniel Serra e Felipe Fraga mostraram velocidade, arrojo, performance e capacidade de seguir o planejamento suas respectivas equipes para uma corrida complexa como são as corridas de 24 horas. Eles e os outros que nesta competição participaram (é preciso destacar também o desempenho de Bruno Baptista, que com a desclassificação do Ford F40 do qual fazia parte Felipe Fraga, ficou com o segundo lugar da categoria GTEAm).

 

Confesso que fiquei encantado com a performance de Daniel Serra, que já havia vencido a corrida na categoria GTEPro no ano de 2017 pela equipe oficial da Aston Martin, bicampeão da Stock Car e um dos grandes protagonistas da categoria nacional, nesta edição, ao volante de uma Ferrari 488GT Evo, da equipe AF Corse, protagonizou um verdadeiro espetáculo de capacidade em um duelo de horas em que mais parecia ser uma corrida de poucas voltas e não mais que duas horas contra os Porsches e Corvettes. O Duelo com Laurens Vanthoor, um dos pilotos mais respeitados no Gran Turismo mundial e Daniel não se intimidou e mostrou uma capacidade técnica enorme ao encontrar um meio de superar o belga e manter-se à frente.

 

Antes de chegar ao Mundial de Endurance André Negrão passou por diversas categorias de monopostos pela Europa e não conseguia – por falta de equipamento como ficou comprovado nestes anos de WEC – que talento nunca faltou para ele e no caso de Felipe Fraga, que passou pelo “triturador de pilotos” Helmut Marko no programa de jovens pilotos da Red Bull, quem o acompanha desde o kart sabe que se trata de um de nossos maiores valores.

 

A força mostrada pelos brasileiros precisa servir de lição para todos os pilotos brasileiros, para toda os gestores de plataformas de mídia do Brasil, para o público brasileiro que assiste corridas, seja na televisão, na internet ou nos autódromos, para os dirigentes do automobilismo em todas as esferas, para as empresas que enxergam no automobilismo uma plataforma de negócios e para as que ainda não enxergam isso, que o automobilismo brasileiro é uma jóia a ser valorizada, que precisa de um tratamento à altura dos talentos que temos.

 

Que as lições de Le Sarthe não sejam esquecidas.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva