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Vettel vence, mas não ganha... Será que a culpa é dos Comissários? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 13 June 2019 16:52

Uma punição “Legal”, porém, “Injusta”, dentro de uma corrida burocrática demais!

 

Coitado do Vettel, fez uma super prova, não cometeu nenhum erro grave, mas na interpretação dos Comissários, uma “fechada de porta” no Hamilton,  após uma escapada de pista gerou uma penalização que lhe tirou a vitória.

 

Mas, da mesma forma que digo “coitado do Vettel”, também digo: Coitados dos Comissários que agiram completamente dentro da legalidade e estão sendo massacrados pela mídia, pelos torcedores da Ferrari e pelos torcedores  do Vettel. Alguns pilotos e chefes de equipe concordaram com a penalização, mas estes não se manifestam com a intensidade daqueles que se sentiram prejudicados. Já disse algumas vezes que dentro do grupo de Oficiais de Competição, a pior função é a dos Comissários Desportivos e cada vez mais isso se confirma.

 

Vamos tentar entender o que houve na prova do Canadá em que o Vettel “venceu” e quem “ganhou” foi o Hamilton. Mas antes tenho que explicar algumas coisas: quando fui convidado para escrever esta coluna, a proposta era apenas tentar explicar as regras, os regulamentos e a forma como trabalhamos na Torre de Controle da Prova ou no Race Control, porém, às vezes, o assunto me obriga a emitir opinião pessoal. Neste caso do Vettel, tenho que deixar claro aquilo que disse na coluna de fevereiro de 2019,  “as corridas estão perdendo a emoção por serem muito burocráticas”! E quem é o culpado pelas corridas estarem assim? Todos nós! Entidades, Promotores, Organizadores, Mídia e Pilotos. Todos nós temos uma parcela de culpa, até porque, na maioria das vezes estamos manifestando apenas a nossa emoção de momento, em quase todo acidente de pista envolvendo mais de um carro é muito comum um dos pilotos ou o chefe de equipe que se sentiu prejudicado, subir correndo à Torre e manifestar sua “raiva” ou ‘indignação” solicitando uma ação enérgica dos Comissários Desportivos ao outro piloto. Mas é importante lembrar que este concorrente está movido pela emoção da disputa e nem sempre ele tem razão na sua interpretação dos fatos, então, os Comissários devem ter tranquilidade para analisar os fatos, pois é sabido que em toda interferência dos Comissários Desportivos e do Diretor de Provas alguém na corrida se dá bem e alguém se dá mal, e normalmente as manifestações são de acordo com as vantagens ou desvantagens obtidas.

 

Lembro-me de uma corrida da Stock Car que fui o Diretor de Prova e no meio da corrida começou a chover, era a última etapa do campeonato em 2010, em Curitiba e a chuva era uma só, porém eu olhava para baixo, na torre, e via manifestações diferentes, alguns chefes de equipe fazendo sinal para que eu parasse a prova ao mesmo tempo que outros chefes de equipe faziam sinal de que a chuva não era tão forte  e que a prova deveria continuar. Os sinais dos chefes de equipe refletiam exatamente a posição de cada um deles na prova, então fico pensando: se eu interrompesse a prova, seria “massacrado” por aqueles que seriam prejudicados na interrupção e também seria criticado por parte da imprensa. Aqueles que tivessem levado alguma vantagem, pouco se manifestariam. Por outro lado, se eu deixasse a prova seguir e por algum azar acontecesse algum acidente, então seria “massacrado” por aqueles que haviam pedido para eu parar a prova e também por parte da imprensa, mas aqueles que obtivessem alguma vantagem não se manifestariam, ou seja de toda forma a Direção de Prova poderia ser criticada, mas isto é um assunto para uma outra coluna.

 

Agora, vamos nos atentar à manobra do Vettel. Será que ele merecia uma punição? Para qualquer um de nós, que gosta de corridas puras, com disputas na pista, que gosta de ver um piloto arrojado, lutando o tempo todo por uma posição, é obvio que acharemos que a punição foi injusta. Mas para os Oficiais de Competição, (os Comissários), que estão no Race Control com um regulamento na mão e que tem acesso à toda telemetria e imagens de todos os carros da pista e pior do que isto, estão sob uma pressão imensa de todas as entidades que trabalham e organizam as provas, para estes oficiais, eles não tem outra opção senão seguir o regulamento e aplica-lo, pois já que serão criticados, pelo menos não poderão serem chamados de negligentes por não terem seguido o regulamento (a telemetria deve ter mostrado o quanto e em que momento o Vettel virou o volante do carro dele). Mas cabe ainda dizer que entre as avaliações técnicas de imagens e equipamentos, existe também a interpretação dos fatos. Sim! E por conta disso é que sempre trabalham com mais de 3 Comissários e um Piloto Consultor, desta forma, além de seguirem o que diz o regulamento, nos casos onde cabem as interpretações, agem de forma colegiada.

 

 Vettel cortando pela grama GP Canadá 2019 – Imagem extraída do site F1

 

 Vettel com volante virado para direita logo após retornar à pista – Imagem extraída do site F1

 

 

Acho que pelo que foi escrito acima, conseguimos entender por que estas situações acontecem, mas uma coisa é fato: AS CORRIDAS ESTÃO FICANDO CADA VEZ MAIS CHATAS! Por conta de tudo isso, muitas vezes a emoção da corrida sai das pistas e vai para os boxes. Eu que já vi disputas como as de Gilles Villeneuve x Rene Arnoux no GP da França em 1979 (https://www.youtube.com/watch?v=LSbnDzcBcqw), ou de Nelson Piquet x Airton Senna no GP da Hungria de 1986 (https://www.youtube.com/watch?v=AgrWsd5QXF0), que nos deixavam grudados nas poltronas esperando sempre a próxima curva, mas recentemente, já me peguei algumas vezes, torcendo para uma falha no pit stop de alguma equipe com a intenção do piloto perder a posição nos boxes, já que na pista as ultrapassagens estão cada vez mais difíceis.

 

 Villeneuve travando rodas em disputa com Rene Arnoux no GP da França em 1979 Obs. Ele conseguiu ultrapassar sem tomar um “X”.

 

 Nelson Piquet ultrapassando Ayrton Senna por fora e escorregando nas 4 rodas no GP da Hungria em 1986.

 

Feita todas as explicações, infelizmente, acho que isso não tem volta. Por mais que os puristas de corridas gostem da emoção das provas, basta acontecer um acidente grave, para que as regras se tornem cada vez mais rígidas no quesito segurança e consequentemente restritivas nas disputas, e então teremos cada vez mais intervenções de safety cars, bandeiras vermelhas e qualquer outro tipo de neutralização da competição. Certo ou errado? Não sou eu que direi, apenas afirmo que não tem volta, pois se algum Comissário agir diferente do que manda o regulamento, ele também será penalizado e por vezes suspenso dos quadros da FIA ou da CBA.

 

 Já de noite, mais de 3 horas após o encerramento das provas, e os Comissários da CBA fazendo verificações das imagens para atender às ocorrências e várias reclamações de pilotos. (Prova da Porsche no Velo Città em 01/06/2019)

 

Caros leitores, gosto muito da oportunidade que o Nobres do Grid me proporciona cedendo este espaço para tentar explicar nosso trabalho do alto da Torre de Controle, eu, com meus 43 anos de automobilismo sempre tive muita facilidade em escrever sobre os temas que me são sugeridos, porém desta vez, por algum motivo tive muita dificuldade. Será que é saudosismo? Relembrei de emoções em corridas que dificilmente verei de novo? Ou será que é tristeza mesmo, por perceber que as corridas, por conta de toda essa burocracia nunca mais nos trarão as mesmas emoções?

É isso!

Abraços,

Sérgio Berti