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No fio do bigode PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 10 June 2019 21:22

Meus leitores andam muito animados ultimamente. Fui informado que sou o colunista mais citado nos emails que recebemos. Alguns elogiando a mim, outros a distinta avó dos meus filhos. “Falem mal ou falem bem, mas falem de mim”. Fui pesquisar na internet quem foi o criador da brilhante frase, que é de um poeta inglês, Henry B. King.

 

Usando destas coisas que se tornaram de fácil conhecimento da sabedoria popular, para que aquela coisa de se fazer negócios “no fio do bigode”, seria algo de grande utilidade para Dom Bigodão, o chefão do Grupo Liberty Media, Chase Carey. Uma expressão que surgiu “há décadas”, talvez coisa do século XiX.

 

O tal do “fio do bigode”, que precedeu o lacre, a assinatura e a rubrica. Consistia em dar em garantia da palavra empenhada um fio da própria barba, retirado em geral do bigode. De origem controversa, bigode pode ter vindo da antiga expressão germânica pronunciada nos juramentos: “bi Gott”, ou “por Deus”. A palavra valia tanto quanto um fio do bigode. Pois homem que era homem, usava bigode. E para usá-lo tinha que honrar essa condição de homem. Tinha que ser muito macho, cumpridor de seus compromissos, custasse o que custasse. Tinha que ter na cara, além do bigode, vergonha!

 

   Já se foi o tempo em que o "fio do bigode" era a garantia de que um negócio era fechado com honra.

 

Nesses tempos onde tudo está mais amarrado do que uma múmia no sarcófago, o fio do bigode do Chase Carey não seria tão pesado quanto a tinta de uma caneta ou uma mala de dinheiro. Ser gerente de uma empresa não é fácil e de uma coisa que mexe com paixões e emoções, além dos cifrões, é mais complicado ainda e como se costuma dizer, “não é para amadores”... e os americanos talvez não tivessem ideia do tamanho do trem que teriam pela frente.

 

Quando o assunto é dinheiro, ligado à administração da Fórmula 1, o Grupo Liberty Media tem um pacotão maior que um comprimido de Sonrisal que eles querem fazer todos no circo engolir... sem água! O maior deles é o famigerado – para uns e esperado para outros – limite de orçamento, combatido ferozmente por Ferrari e Mercedes, e defendido pelas equipes menores, que estão fora do tal do Grupo de Estratégia.

 

   Chase Carey está tendo que empenhar mais do que o seu bigode para tentar garantir o futuro da Fórmula 1.

 

Quando o Grupo Liberty Media comprou a F1 do grupo de investimentos CVC e colocou o até então todo poderoso, Bernie Ecclestone, no limbo, o pacote incluía o Pacto da Concórdia, um contrato pelo qual as equipes se obrigam a participar dos campeonatos até 2020, com decisões tomadas pela FIA, FOM e equipes. Com o pacto terminando no ano que vem, os americanos tem uma bomba no colo com o timer em contagem regressiva.

 

A garantia de continuidade ou não é uma arma nas mãos das grandes equipes na discussão das novas regras é sua participação, já que em 2021 estarão desobrigadas. A Ferrari vai abrir mão de seu “bônus histórico”? A Mercedes, que ganha o campeonato desde 2014 e tem a maior fatia do bolo, vai “rasgar dinheiro”, deixando que parte dos seus ganhos vá para as mãos de outras equipes? Vai haver sempre a “ameaça” de deixar a categoria, coisa que a Ferrari já fez diversas vezes e a Mercedes, algumas.

 

Como desgraça pouca é bobagem, junto com o fim do Pacto da Concórdia, a nova dona da Fórmula 1 tem outros contratos importantes que vão terminar já neste ano, como o da Rolex (marca famosa de relógios) e a Heineken, cerveja holandesa que vende como água no mundo inteiro. Eles vão ter que costurar um contrato com cláusulas que grandes empresas criarão contrapartidas. Afinal, quem garante que vai ter F1 depois de 2020? A audiência global anda em queda, o faturamento, idem, as ações do Grupo Liberty Media vai junto. É preciso “fazer dinheiro”.

 

   Quando se fala em limite de orçamento, Ferrari e Mercedes não querem conversa. A Red Bull "joga o jogo" e as menores são a favor.

 

Seguindo um capítulo bem escrito da cartilha do Bom Velhinho, que está só de botica, esperando o circo pegar fogo, uma das formas de “fazer dinheiro”, é “vendendo corridas pra quem tem dinheiro”. E o que não faltam são candidatos. O problema é que para o público fiel da categoria, uma corrida nas ruas de Hanoi, no Vietnã, não pode tomar o lugar de uma corrida em Hockenheim, na Alemanha... mas é o que vai acabar acontecendo no ano que vem.

 

Corrida de Fórmula 1 custa caro para quem quer ter a corrida em seu território. Dependendo de onde é a corrida, a quanto tempo ela acontece, além das coisas que o Bom Velhinho colocava no contrato que a gente não fica sabendo. O valor da “nota” vai de 20 a 60 milhões, dependendo do cliente. Corre a notícia por aqui de que Interlagos faz a corrida sem pagar nada desde 2018, um acordo fechado no ano anterior pelo Bom Velhinho, que anda de mãos dadas com o promotor local, Tamas Rohonyi. E isso não vai continuar após o final do contrato em 2020.

 

   Com os boxes em obras para os GPs deste ano e do próximo, Interlagos não tem garantida a sua permanência no calendário.

 

Interlagos e o Brasil tem ao seu favor o fato do país ainda ser um dos que transmite a corrida em TV aberta, o que ajuda no fato de sermos o país com o maior número de telespectadores de suas corridas. Além disso, nos últimos anos, o público tem feito uma grande ocupação das arquibancadas e camarotes. O problema é que sucesso de arquibancada não é exclusividade brasileira. O GP do México é uma festa enorme, com um circuito tradicional como é Interlagos, mas o governo já avisou que este é o último ano que ele entra com 20 milhões de dólares para ajudar o promotor.

 

Outros grandes circuitos, circuitos históricos como Hockenheim, Monza e Silverstone podem ficar fora do calendário já em 2020. A Associação dos Promotores de Fórmula 1 (FOPA) que reúne representantes de 16 grandes prêmios vem cobrando desde o começo do ano uma “abordagem mais colaborativa”... circuitos privados, seus administradores estão alegando que não tem como pagar o que o Grupo Liberty Media pede para renovação do contrato.

 

   Silverstone, Monza e Hermanos Rodriguez não tem garantias de continuidade após 2019. A etapa do México está praticamente fora.

 

Os americanos estão correndo atrás de público e querem associar a corrida ao turismo, buscando lugares com grande apelo turístico, como o Rio de Janeiro. Inclusive, o promotor, construtor e todos os “or” do projeto carioca da empresa que nunca construiu um autódromo, nunca promoveu uma corrida e nem ao menos tem dinheiro ou uma área onde construir o circuito, foi recebido como gente grande em Mônaco... Alguém devia contar par o bigode o que aconteceu em Brasília com a Fórmula Indy.

 

Até o ano que vem, ainda vamos ter muitos fios de bigode para arrancar e não descuidem do Bom Velhinho... que ninguém ache que ele está morto. Como diz o livro dele, ele não é um anjo.

 

Abraços,

 

Maurício Paiva

  

Last Updated ( Wednesday, 25 September 2019 02:23 )