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Uma boa conversa com Alessandro Nannini PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 13 May 2019 21:21

Esta aconteceu numa das minhas viagens a trabalho. Estava no tradicionalíssimo Autódromo de Nurburgring, na Alemanha, para cobrir uma corrida, acho que da antiga Fórmula 3000, que tinha vários brasileiros: Cristiano da Matta, Marcos Gueiros, acho que o Ricardo Zonta e outros pilotos daqui do lado debaixo do Equador. Para os mais novos, essa categoria teve como campeões Roberto Moreno (1988), Christian Fittipaldi, que neste ano de 2019 garante que faz seu último ano como piloto (1991), Ricardo Zonta (1997), hoje na Stock Car, e Bruno Junqueira (2000).

 

Meu editor em O Globo, o grande jornalista e amigo Alvaro Oliveira Filho, o Alvinho, me disse para tentar fazer uma entrevista com o italiano Alessandro Nannini. Ele havia sofrido, e escapado vivo, de um grave acidente de helicóptero, e ficou com problemas na mão direita. No entanto, não se deu por vencido e voltou a correr. Entrei na grande sala de recepção da categoria principal, se não me engano eram carros de Turismo, que me fugiu da memória (meu HD está quase sobrecarregado) e pedi para falar com ele.

 

Me orientaram a esperá-lo numa das mesas, onde os jornalistas relaxavam um pouco e eram servidas algumas bebidas, pois o treino de sábado já tinha terminado. Menos de cinco minutos depois lá estava ele. Vestindo seu macacão, humildemente disse quem era e começamos a conversa assim: você é brasileiro? Ele me perguntou em inglês. Respondi que sim e ele sapecou algumas palavras em português que tinha aprendido com seu, digamos assim, mentor na língua tupiniquim, o tricampeão mundial Nelson Piquet quando eles correram na Fórmula 1. Pelo nível do professor dá para imaginar o tipo de palavras que ele conhecia muito bem, mas ele também entendia bem o restante do nosso português.

 

Aí, de forma surpreendente, Nannini me fez uma proposta. Ele falaria em italiano, eu em português e as dúvidas das duas línguas tiraríamos em inglês. Fechado o acordo, que nos fez rir, comecei a conversa sobre o seu acidente, que ele falava numa boa, mostrou-me a mão meio mirrada devido aos ferimentos, e muitos outros assuntos. Nada que o impedisse de continuar a exercer sua paixão de pilotar carros de corrida. Quando falei do gravíssimo acidente de Piquet (quase perdeu os pés) em 1992 nos treinos para as 500 Milhas de Indianápolis, Nannini, que, como disse, é muito amigo do brasileiro, se empolgou. Ele gostava, ou gosta, muito do Nelson e recordou de fatos entre os dois e tal.

 

Nanini e Piquet foram companheiros na Benetton por 2 anos. Uma boa amizade, lembranças e um impublicável vocabulário em português

 

Num determinado momento da entrevista o italiano disse que ele e o Nelson poderiam dividir o cockpit. O Nelson emprestaria as mãos, que estavam boas, enquanto ele emprestaria os pés, que não tinham sido afetados no acidente aéreo. Aí Nannini sapecou: Vai ser difícil ver quem coloca a cabeça!!! Ele entendia que nem a dele nem a do brasileiro eram boas o suficiente. Rimos muito nessa conversa que durou quase uma hora de muitas risadas. Sinceramente, não sei se essa foi a primeira vez que ele fez essa declaração, mas registrei nas páginas do jornal e essa entrevista ficou marcada como uma das mais gostosas que já fiz.

 

Alessandro Nannini nunca foi campeão de Fórmula 1, onde ganhou uma corrida (1989 no Japão), mas demonstrou ser um campeão de simpatia, bom humor e superação. Talvez seja a sina dos Alessandros, como o Zanardi, que ainda faz suas peripécias pelo mundo guiando carro de corrida mesmo sem as pernas, perdidas num acidente da Fórmula Indy.

 

Milton Alves