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Era uma vez um autódromo PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 12 February 2019 19:27

Todo mundo sabe que mineiro é bom de prosa e que todo mineiro que se preza tem pelo menos um “causo” dos bons pra contar.

 

“Causo” são aquelas histórias que nem sempre é possível comprovar se são verdadeiras - e aí reside o encanto delas. Saborosas, fantásticas, às vezes amedrontadoras, às vezes engraçadas, e passadas de geração em geração, elas são contadas por vozes que, com sotaque e expressões interioranas, entonação e ritmo certos, capturam a atenção.

 

E como bom mineiro que sou, vou contar um “causo” que mais parece coisa de copa do mundo de futebol ou talvez os jogos olímpicos. Por uma daquelas coisas que ninguém consegue explicar e acaba chamando de “coincidência”, mas que eu vou chamar de “conveniência”, está acontecendo de quatro em quatro anos.

 

Com certeza todos mundo já deve ter ouvido falar em histórias da carochinha, não é mesmo? Mas, quem sabe quem é a tal da dona Carochinha? Normalmente, se usa o termo história da carochinha quando se quer falar de contos infantis. Outra maneira que é usado é para fazer uma referência a um tempo que passou, alguma coisa antiga, mas também serve pra falar que aquela história não passa de uma fábula, que é algo inventado, que não existe.

 

Pois eu descobri de onde é a tal da dona Carochinha... ela é carioca! Apesar do termo ter passado a fazer parte da cultura nacional, esse mineirinho aqui descobriu que a dona Carochinha, cujo a figura foi associada ao folclore do nosso país como o de uma senhorinha bondosa e carinhosa que distrai as crianças com suas histórias, no caso da Carochinha carioca, é uma velhaca bem sacana!

 

 

 

Vocês já devem estar encafifados com tanta conversa fiada, mas vamos ao “causo do mineiro sobre a D. Carochinha carioca”.

 

Era uma vez, a ideia de se construir um novo autódromo no Rio de Janeiro num matagal cercado de favelas por todos os lados chamado de Deodoro. Quem andou lendo notícias recentes sobre o assunto, que o prefeito “ungido por Deus” da cidade outrora maravilhosa disse que iria criar as condições para que um novo autódromo fosse construído na sua cidade... como outros outrora fizeram.

 

No ano de 2010 foi notícia nos jornais da cidade, nos sites e blogs de automobilismo que já existia um projeto pronto e que a área escolhida pertencia ao Exército, ficando próxima ao Complexo Esportivo de Deodoro, que foi usado durante os jogos panamericanos de 2007 e que também receberiam parte das competições dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.

 

O tal projeto teria não só o autódromo, mas também um espaço poliesportivo dentro do autódromo, como quadras descobertas e um complexo aquático, o que viria beneficiar moradores das comunidades carentes vizinhas ao novo autódromo em mais de 10 bairros. O esboço do projeto contava com uma pista de 4.715,7 metros em seu maior traçado, com 19 curvas, além de um circuito oval. Pela extensão e instalações, o traçado misto atenderia o padrão FIA 1. Isto é, teoricamente poderia receber a F1, teria também um oval pra receber a Fórmula Indy e também contaria com um kartódromo de 1.344 m.

 

 

 

O novo autódromo teria na sua estrutura um estacionamento com capacidade para pelo menos 10 mil veículos, áreas destinadas para cursos profissionalizantes, bares e restaurantes e todo um projeto para ter atividades durante todo ano. O estudo conceitual foi feito pela Federação de Automobilismo do Rio de Janeiro (FAERJ), presidida na época, antes disso e até hoje, por Djalma Faria Neves (que eu e outros na redação apelidamos de Poliana) junto com o arquiteto paulista Artur Katchborian. Ele contava que a data de início das obras depende da conclusão dos estudos realizados pelo Ministério do Esporte e outros órgãos do governo... e o que aconteceu?

 

Em 2014 surgiu uma nova proposta, também amplamente divulgada pela “imprensa especializada”, da qual, orgulhosamente, não faço parte. Na verdade, a conversa começou no final de 2012, mais precisamente e, novembro de 2012, quando a pedra fundamental do autódromo chegou a ser lançada (dou uma dúzia de vidros de doce de leite pra quem mandar uma foto da mesma com a data de 2019) e o traçado da pista, divulgado. A conclusão da obra estava prevista para 2014, mas – como dizem os cariocas – “deu ruim”.

 

Após não ter entrado um caminhão, um tijolo ou um saco de cimento no terreno durante mais de m ano e meio, o projeto de construção do autódromo de Deodoro foi “suspenso temporariamente”. A decisão do Ministério do Esporte, que financiaria a obra, foi tomada a partir de uma decisão judicial do Ministério Público do Rio de Janeiro, que exigiu a realização de um Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA) na área de Mata Atlântica aonde seria o circuito. 

 

 

 

A pasta federal tentou, sem sucesso, cassar a liminar e mesmo tendo conseguido transferir o caso do Ministério Público Estadual para o Federal acreditando que teria êxito. Mais uma vez em vão. Pra completar, o Exército alertou que a área usada para treinamentos estava contaminada por minas terrestres. Em junho de 2012, um militar morreu e outros dez ficaram feridos em uma explosão após acenderem uma fogueira em um acampamento na região. Enquanto isso, o então Diretor jurídico da Confederação Brasileira de Automobilismo, Felippe Zeraik disse que a entidade estava lutando para fazer com que a justiça federal revogasse a liminar. E assim, em 2014, “deu ruim” de novo.

 

E agora, recentemente, em 2018, surge um novo projeto. De acordo com uma nota da seção “Radar”, da revista Veja, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) também prometeu um novo autódromo em Deodoro, chegando a se reunir com esportistas, vereadores e representantes da sociedade para anunciar o plano de construção do novo autódromo. Ele assinou o chamado “Procedimento de Manifestação de Interesse” (PMI), documento que viabilizaria a construção do autódromo com investimentos da iniciativa privada. O projeto tinha um planejamento parecido com o que foi feito no Porto Maravilha, no Centro.

 

Dessa vez a coisa foi ambiciosa. Plano (por enquanto vamos considerar que está valendo), apresenta um autódromo FIA 1 e FIM A com uma extensão de pista com 5,386 km, em um projeto que leva a assinatura do “renomado” arquiteto alemão Hermann Tilke  (vai ver que é por isso que o autódromo não tem uma reta decente, tem um monte de curvas e – ah, ilusão – se sair do papel, alguém construir e a Fórmula 1 for par o Rio, não vai ter ultrapassagens na corrida). No caso deste novo projeto, quem tem que investir é a iniciativa privada e o investimento previsto é de, somente, 850 milhões de Reais... uma bagatela!

 

O fervilhante noticiário dá conta de que estariam envolvidas no projeto empresas de consultoria (Crown Consulting), gestão esportiva (CSM), e arquitetura (B+ABR Backheuser e Riera), além da Tilke Engineers & Architects, liderada pelo arquiteto alemão Hermann Tilke. A prefeitura chegou a realizar Consulta Pública, por intermédio de Subsecretaria de Projetos Estratégicos, para abrir o processo de licitação para as obras do complexo em Deodoro. A consulta foi feita depois de a Prefeitura ter analisado o projeto apresentado em junho deste ano em conjunto com suas equipes jurídicas e técnicas e a Procuradoria Geral do Município.

 

 

 

No final de novembro a Prefeitura disponibilizou o edital para a parceria público-privada que a Prefeitura do Rio quer estabelecer para construir um novo autódromo em Deodoro. O projeto causou polêmica, já que o terreno é um dos poucos resquícios da mata de baixada, mas os ânimos foram acalmados na última audiência pública, com a confirmação de que o edital obriga a realização de um estudo de impacto ambiental (EIA/RIMA), para que a obra preserve a maior área possível.

 

Em novembro, o CEO do Grupo Liberty Media, o bigodudo Chase Carey, viajou ao Rio alguns dias depois do GP do Brasil do ano passado, realizado em Interlagos, para conhecer o projeto carioca. O dirigente se encontrou com o prefeito e o então governador eleito, Wilson Witzel, que disse na ocasião considerar um compromisso receber a F-1 em 2021. Mas ninguém avisou ao bigodão de como as coisas (não) funcionam no Rio de Janeiro.

 

A briga entre Prefeitura do Rio e ambientalistas não tem prazo pra terminar e Licitação do autódromo de Deodoro foi novamente adiada no final de janeiro, sem data para retomada. Na longa lista de recomendações, estão a apresentação de uma nova modelagem econômico-financeira, a correção de inconsistências, divergências e omissões, a obtenção de uma licença ambiental prévia ou a expedição de diretrizes para o licenciamento ambiental e o detalhamento do anteprojeto.

 

Mas a melhor pergunta para esse que esse projeto saia do papel é: quem vai, em sã consciência, investir 850 milhões de Reais (fora que isso é uma conta que nunca bate) na construção de um autódromo?

 

Aguardemos 2022.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva 
Last Updated ( Tuesday, 12 February 2019 19:43 )