Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Arrivederci PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 14 January 2019 13:29

Essa semana eu estava indo para o trabalho e em um programa esportivo matinal o apresentador começou a falar sobre seus narradores de futebol favoritos e citou o grande Silvio Luiz, que por anos narrou os jogos do campeonato italiano de futebol e tinha como comentarista o chefe de cozinha, Silvio Lancelotti.

 

Era uma narração divertida e que, no meio do jogo, quando a coisa estava chata, sempre saia uma boa receita de massa com molho. Se tem uma coisa que eu sempre ouvi bem das coisas da Itália (só ouvi, porque eu nunca estive lá) é que se come muito bem. Outra que mesmo sem estar lá eu não só ouvi como vi é que eles são meio atrapalhados na hora de organizar as coisas.

 

Um bom exemplo disso é a Ferrari. Quando a equipe italiana foi liderada por uma legião estrangeira (Jean Todt, Ross Brawn, Rory Bryne e Michael Schumacher) a casa de Maranello teve seu grande – na verdade o maior – período de domínio nos anos de existência da Fórmula 1. Algo que em breve pode vir a ser superado pela Mercedes se o domínio da equipe alemã continuar.

 

Nos anos em que esteve sob o gerenciamento de italianos, muitas vitórias e campeonatos também vieram, mas a quantidade de micos pagos e trapalhadas dignos das melhores comédias italianas também aconteceram pelas pistas do mundo. Como na Itália se falam vários dialetos locais além do idioma oficial, acho que lá na fábrica da equipe também deve ter gente até hoje que não fala a mesma língua de quem está do seu lado.

 

 Uma simpatia em pessoa, com um belo sorriso, Maurizio Arrivabene chegou em 2015 na Ferrari.

 

Como se a gente for contar a história toda da equipe vai dar um livro de umas mil páginas, vou limitar essa coluna aos últimos quatro anos, quatro anos e meio, desde quando Luca di Montezemolo foi afastado da presidência da Ferrari pelo presidente do grupo Fiat, Sergio Marchionne, que acumulou o cargo e, no final do ano de 2014, trouxe para comandar a equipe na pista “o RH da Camorra”, Maurizio Arrivabene, que chegou com uma cara de quem iria jogar no mar mediterrâneo com um bloco de concreto nos pés quem fizesse bobagem (o termo não era esse, mas deixa pra lá).

 

A “política do sacode” do Arrivabene, que era executivo da Marlboro e entendia tanto de corrida quanto qualquer blogueiro metido a gato mestre acabou se mostrando uma postura do tipo “o poderoso chefão, aquele do filme com o Marlon Brando. Só que ao contrário do Don Corleone, a turma dos seguidores de Arrivabene foi diminuindo com as derrapadas que ele dava na hora de decidir em momentos críticos. Faltava conhecimento de pista, de casa e de causa!

 

Só que o chefão não era o Arrivabene, mas o Sergio Marchionne e esse ouvia não só a ele mas também ao diretor da equipe técnica, o suíço naturalizado italiano Binotto, que chefiou o time de engenheiros e técnicos que construíram os modelos SF70H, de 2017, e o SF71H, do ano passado, que ficaram no “quase” e onde se viu – em ambos os anos – uma série de erros sendo cometidos dentro da pista, no pit wall e dentro dos boxes.

 

 Sergio 'Don Corleone' Marchionne sabia gerenciar os egos e impor limites dentro da Ferrari.

 

Esse “quase” só não custou a degola de Arrivabene antes porque o cara amarrada tinha as costas quentes e estas tinha a retaguarda de ninguém menos que o diretor da empresa Ferrari, não apenas da equipe de F1, o egípcio/suíço Louis Camilleri, que assumiu este cargo em julho do ano passado, depois da morte de Sérgio Marchionne. Camilleri era o chefe de Arrivabene na Philip Morris, o que – em teoria – era uma garantia de continuidade... #sqn como falam meus filhos.

 

O trem saiu dos trilhos depois do GP de Singapura. Uma pista onde era pra Ferrari andar e sobrar e quem ganhou a corrida foi o “mc neguin”. Arrivabene jogou a culpa em Binotto e na dispensa de James Allison que saiu da Ferrari para a Mercedes em 2016. O tempo fechou em Maranello! Enquanto Marchionn parecia levar os dois com a maestria de um grande chefão, sobrou para o novo presidente, John Elkann ter que cortar uma cabeça do time. Ele demorou, mas decidiu.

 

 Com o passar do tempo, a falta de conhecimento de Arrivabene no campo técnico e no lidar com as pessoas foi aumentando.

 

É um tanto de sacanagem também jogar a culpa da perda do título no Arrivabene. Darth Vettel cansou de fazer cagadas. Se somarmos o que ele fez em Baku, França, Alemanha, Itália e Japão, somando os pontos que ele deixou de marcar levariam fácil a termos uma disputa na etapa final em Abu Dhabi. Especular se a Ferrari iria ganhar o campeonato é querer demais, mas pelo menos teria chance. Mas até onde as ordens de rádio perturbaram o alemão? Aí a falha é do cara na mureta de Box.

 

Sabem, a gente devia poder fazer como na NASCAR, onde qualquer um pode ouvir o rádio de qualquer um. Isso iria esclarecer um monte de coisa, responder um caminhão de perguntas que ficaram no ar e expor a falta de capacidade de gerenciar as questões de pista que o Arrivabene tinha.

 

 Como diria o Tite, "fala muito... fala muito..." mas até conseguir se fazer entender, a coisa não funcionava.

 

Do outro lado, o Mattia Binotto foi fazendo o seu trabalho. Ele está na Ferrari desde 1995 e agora tem “a chance da vida”. Os carros dos anos anteriores estavam longe de serem ruins, pelo contrário. Para este ano, os conceitos básicos do modelo do ano passado não serão uma referência total, uma vez que a mudança dos aerofólios para a temporada 2019 vai exigir um trabalho diferente nas outras partes do carro e para isso ele conta com Enrico Cardille para o chefe de aerodinâmica e Corrado Iotti para a seção das unidades motrizes.

 

Se ele vai conseguir segurar a pressão (agora todas as cobranças, todos os olhos, vão estar sobre ele) e junto com sua equipe técnica fazer a mídia, os tiffosi e os analistas técnicos engolirem a seco esta conversa de que italiano é bom pra fazer filme de pastelão, mas acaba fazendo trapalhada para tornar a Ferrari uma equipe campeã do mundo (o time de Maranello tá “na fila” desde 2007 no campeonato de pilotos e 2008 no de construtores).

 

 Agora que o 'Capo' ali no muro vai ser a versão descabelada do Harry Potter, vamos ver com a Ferrari vai se dair em 2019.

 

Em fevereiro teremos a apresentação dos novos carros e em seguida os testes pré-temporada. Em março, na Austrália, a abertura do campeonato. Se as coisas não saírem conforme o esperado, podemos nos preparar para um bombardeio sobre Binotto e sua equipe. Afinal, estamos falando de Ferrari e na Ferrari não vencer nunca foi uma opção.

 

Quanto ao Maurizio... arrivederci!

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva