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Meinha - O Pequeno Gigante PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 26 December 2009 15:36

 

 

Deus ajuda quem cedo madruga. 

 

Chegamos cedo ao endereço que o próprio Rosinei nos passou durante a 9ª etapa da Stock Cars em Curitiba... mas os funcionários da equipe de Rosinei Campos já estavam lá! Afinal, a equipe estava inteira na luta pelo campeonato da categoria (seus quatro pilotos estavam no playoff).  

 

As atividades na RC Competições começam cedo. Além da excelência, eles sabem que não podem dar moleza pra concorrência. 

 

Rosinei ainda não havia chegado, tinha uma reunião fora como primeiro compromisso da agenda. Fomos recebidos pelo Joselino Barcik – o Polenta – que é o gerente administrativo das duas equipes deste paranaense de Telêmaco Borba, que nunca foi piloto: sua formação é de Técnico em Mecânica, curso feito no SENAI em Curitiba, para onde mudou-se ainda na adolescência.  

 

O automobilismo entrou na vida deste que é um dos maiores e mais respeitados preparadores e dono de equipe do país de forma um tanto quanto acidental.  

 

Ao entrar, encontrar os carros depois de um fim de semana pós corrida é deparar-se com tudo desmontado. 

 

Após formar-se em Mecânica de Automóveis no SENAI, Rosinei foi trabalhar em oficinas de retificação de motores até que em 1978 foi convidado a trabalhar numa oficina que era de propriedade de Marcos Curi, que conhecia o Raul Boesel.  

 

Curi era um poliglota, lia em vários idiomas e lecionava inglês e alemão, além de ter a oficina e naquele ano mesmo, o Raul pediu que eles preparassem um opala da antiga Divisão 1 para competição.  

 

No escritório do primeiro andar, Joselino Barcik (o Polenta) já estaba no batente, ele é o gerente administrativo. 

 

Por falta de um entendimento maior entre Curi e Boesel, eles acabaram se separando... e Rosinei ficou com o Raul Boesel e mais um ajudante para fazer aquele campeonato. 

 

Com a ida de Raul Boesel para a Inglaterra, correr de Fórmula Ford e a venda do equipamento para uma equipe de São Paulo, Rosinei mudou-se para o estado vizinho... e enveredou de vez pelo mundo do automobilismo! 

 

Cada um dos carros é desmontado, revisado e preparado em tudo para a próxima etapa desde o final da anterior. 

 

Dentro do prédio encontramos as duas equipes trabalhando lado a lado.  

 

A equipe principal é a RC Eurofarma, com patrocínio de uma das maiores empresas de medicamentos genéricos do país. Esta é chefiada na pista pelo próprio Rosinei e tem como pilotos Ricardo Mauricio e Max Wilson, esquema vitorioso que deverá permanecer sem alterações para o ano de 2010. 

 

Assim, vistos de cima, tem-se uma idéia melhor do padrão de excelência e organização necessários para o sucesso.

 

A RC Motorsport tem a mesma atenção e os mesmos recursos técnicos da equipe principal, graças ao suporte dos patrocinadores (a farmacêutica Blausiegel e os refrigerantes Dolly) e um líder nos boxes com nome, sobrenome e bagagem para levar os seus pilotos (Valdeno Brito e Marcos Gomes) a lutar em condições de igualdade com os melhores pilotos e as melhores equipes. André Bragantini foi um dos melhores pilotos de sua geração e tem demonstrado o quanto aprendeu ao longo de seus anos na pista para poder ser um grande comandante fora dela. 

 

RC Competições e RC Motorsport. Trabalho dobrado! 

 

A estrutura técnica das equipes de Rosinei não deixa a dever a nenhuma grande equipe da categoria e/ou de outras como a vizinha TC 2000, que conta com patrocínios oficiais das montadoras instaladas no país. Com quase 30 integrantes, entre mecânicos, eletrônicos e artífices em fibra trabalhando em tempo integral, a excelência em resultados e o nível de competitividade mantém-se alto ano após ano. 

 

Segundo o próprio Meinha - com felicidade - vai ser preciso fazer umas reformas na sede... para caber mais troféus?

 

As paredes do quartel-general de Rosinei Campos estão cobertas de troféus e fotos das conquistas de sua equipe e pilotos ao longo dos anos. Com um vão principal, onde é feita a montagem e desmontagem dos carros, existem algumas salas nas quais estão instalados os equipamentos de aferição e testes, além da câmara de pintura.  

 

Na parte posterior ficam as oficinas de montagem de pneus e trabalhos com fibra, para reparos na carroceria. Os carros costumam sair com algumas “avarias” decorrentes dos toques entre eles durante as provas. A parte frontal esquerda do carro de Ricardo Maurício, após a etapa de Curitiba é um exemplo disso. 

 

A agenda do comandante começou cedo... ele já vinha de um compromisso anterior quando chegou à sede da equipe. 

 

Eram cerca de nove horas da manhã quando Rosinei chegou para a longa jornada que costuma entrar pela noite quando necessário. 

 

Era terça-feira, após a corrida no autódromo que fica bem próximo e os quatro carros estavam completamente desmontados e sendo revisados.  

 

Por regulamento, apenas a JL pode mexer nos motores. Após cada prova, os motores vão para Cotia-SP, lá é feita a revisão. 

 

Os motores, já retirados, estariam sendo preparados para o envio até a JL, dos Giaffone, ainda naquele dia para a revisão com uma preocupação: o motor do Ricardo Maurício não rendia o esperado no final de semana da 9ª etapa e ele utilizou o motor reserva do companheiro, Max Wilson. 

 

Nos carros da equipe, freios, embreagens, suspensões, eletrônica... tudo era detalhadamente revisado e substituído se necessário para a etapa seguinte.  

 

 

Bem assessorado, sim, meticuloso, sempre: Meinha vai a fundo em cada detalhe dos serviços em andamento na equipe. 

 

 

Rosinei ia de bancada em bancada, conversando e orientando os mecânicos sobre o que deveria ser feito e sempre trocando impressões com André Bragantini. Foi possível perceber que o método de gerenciamento implementado por ele é o tipo que permite a comunicação em duas vias, como se encontra hoje nas grandes corporações. 

 

 

Ao lado de André Bragantini e de Joselino, os assuntos são discutidos e as diretrizes são estabelecidas... é uma grande equipe.

 

Após observar o estágio do trabalho iniciado no dia anterior e orientar o pessoal da mecânica, ele foi atrás do setor de reparos, verificar o andamento dos ajustes nos carros após a corrida e todos os incidentes de corrida que envolveram seus pilotos. Um exame detalhado dos assoalhos, extratores, e o pessoal das fibras. 

 

Depois de todo o trabalho de ver o que se fazer em cada etapa do trabalho, Rosinei foi para seu escritório junto com o André e o Joselino para uma reunião... a portas fechadas. Assuntos que, claro, não caberia ser comentado na nossa frente.  

 

André Bragantini é irmão de um dos melhores pilotos de turismo da história do nosso país - Artur Bragantini - e pai de André Bragantini Jr. Como a competência "está no sangue" André vem se mostrando um excelente chefe de equipe. 

 

Após a reunião para tratar dos assuntos das suas equipes, pudemos conversar com Rosinei Campos por alguns minutos e tentar revelar um pouco do segredo do sucesso desde que é um dos mais importantes personagens da história do nosso automobilismo. 

 

Antes de nos atender para uma conversa rápida, Meinha tinha assuntos a tratar e esta parte não podíamos registrar. 

 

Um papo aberto com o Meinha.  

 

NdG: O Senhor teve uma carreira brilhante e reconhecida por todos como preparador durante 20 anos na Stock Car. Contudo, quando deixa-se de ser o “segundo” e passa-se a condição de chefe de equipe, de responsável por tudo, as coisas mudam, não? Como foi esse processo no início de sua carreira como chefe de equipe? 

 

Rosinei Campos: Uma coisa posso dizer que não muda: o desafio é diário, é constante. Desde quando fui para São Paulo e no ano seguinte já conseguimos o vice campeonato da Stock com o Alencar Jr. Daí ter trabalhado com vários pilotos até a conquista do campeonato de 1986 com o Marcos Gracia, no esquema do Luiz Pereira, das lojas Abaeté e depois disso ter vindo para a Action Power, onde trabalhei por 13 anos com o Paulo de Tarso, onde conquistamos alguns títulos e um tricampeonato com o Ingo Hoffmann, posso dizer com franqueza: no automobilismo a gente tem mais tristeza do que alegria.  

 

 

O ocupado comandante tem muito o que fazer todos os dias, mesmo com um exército de 28 funcionários. 

 

NdG: Mas mesmo assim, o senhor e tantos outros continuam... 

 

Rosinei Campos: É... continuamos. Independentemente das inseguranças, dos maus resultados, do orçamento muitas vezes apertado... sem falar na concorrência. Não é fácil se manter no topo, vencer uma corrida, um campeonato. A gente tem sempre que estar de renovando, se desdobrando para continuar entre os primeiros... este desafio é que ainda mantém a mim e certamente a outros no automobilismo.  

 

NdG: Como é o dia a dia aqui da sua equipe assim como agora, entre uma etapa e outra? O que pode ser feito e o que não pode, dentro da limitação do regulamento? Estar perto de um autódromo ajuda? 

 

Rosinei Campos: Estar perto do autódromo só ajuda quando tem corrida aqui. Neste caso tudo está sempre a mão. Mas para treinar não pode porque é proibido. Entre uma corrida e outra os carros são totalmente desmontados e nós temos um “check list” de revisões, de itens a ser analisados e é feita uma manutenção preventiva, por assim dizer, de troca de equipamentos que possa vir a dar algum problema na pista, a gente tenta se antecipar e assim evitar que ele ocorra. Daí fazemos o levantamento de tudo aquilo que é preciso providenciar junto a JL, que é a fabricante dos componentes dos carros, enviamos os motores para eles, pois é lá que é feita a manutenção, teste de potência (na etapa de Curitiba houve muita queixa por conta do desempenho em reta) e solicitamos as peças, que muitas são importadas, para que as tenhamos aqui antes da etapa seguinte. 

 

NdG: Fazendo uma “pergunta 3 em 1”, qual o segredo para uma fórmula de sucesso como a sua, para conseguir gerenciar os pilotos, que são as estrelas da mídia e para “sobreviver” de automobilismo num país com tantas “prioridades” longe do esporte e com tão pouca consideração por ele? 

 

Rosinei Campos: É parte da nossa vida. Ao longo destes trinta e poucos anos de automobilismo a gente teve que aprender a lidar com isso. Aprender a custear as coisas, aprender a lidar com as pessoas, que são muitas e cada uma tem um jeito, tem que saber lidar com os pilotos, que são os astros do esporte, mas tem um outro lado também: credibilidade te dá respeito por parte de todos e isso está diretamente ligado aos resultados. A gente roda e roda e roda e volta a questão dos resultados. Para se conseguir resultados tem que haver um compromisso muito forte entre as pessoas que trabalham e que precisam estar sempre motivadas para dar o seu melhor, os patrocinadores, porque sem patrocínio, sem verba não há como se conseguir desenvolvimento, não tem como contratar os melhores pilotos, não vai ter como obter bons resultados. Há uma ligação intrínseca, um vai puxar o outro. 

 

NdG: Então a “mola-mestra” é o patrocínio? 

 

Rosinei Campos: Sem dúvidas. Sem ele não se vai a lugar algum. Não adianta você querer ter os melhores profissionais, uma equipe trabalhando em sintonia se não tiver como custear, antes de mais nada, tudo aqui em volta. Se consideramos que cada trabalhador aqui tem 3 ou 4 dependentes, veja o tamanho que isso toma. E tudo isso só é possível graças ao patrocinador. Meinha – apelido do Rosinei – aqui não é capaz de fazer nada se não tiver este comprometimento do todo e os meios para que consigamos fazer nosso trabalho. 

 

NdG: Este prédio que estamos é a sua instalação de trabalho? 

 

Rosinei Campos: Sim, é. Temos um outro depósito mas não há atividade lá.

 

NdG: Os pilotos vem até aqui na sede durante o ano? Como é a relação dos pilotos com a equipe? 

Durante a nossa conversa, alguns assuntos não podiam ser postergados. Gerenciar uma equipe é algo complexo. 

 

Rosinei Campos: Por conta de não poder treinar, eles acabam vindo pouco aqui. Vem fazer um ajuste de banco, de pedais, mas quase não vem... não há necessidade e eles tem uma agenda de compromissos a cumprir com os patrocinadores. Quando temos etapa aqui no Paraná eles vem com antecedência, mas devido ao regulamento técnico esta presença não é algo crucial. 

 

NdG: A crise econômica que se abateu sobre o mundo causou muitos estragos no mundo do esporte a motor. Como foi que o senhor enfrentou mais este desafio? 

 

Rosinei Campos: Alguns setores no Brasil não foram tão atingidos por esta crise, muitos setores agiram por medo, tiraram dinheiro de investimentos, de patrocínios, de projetos, sem necessidade. Acredito que as coisas estão voltando ao normal e o dólar baixo melhora para nós por conta dos componentes importados ficarem mais baratos. Estamos com boas perspectivas para o ano que vem, com a renovação de contrato com a Eurofarma, que já está conosco há 5 anos e com os pilotos (o que ocorreu agora, em dezembro). 

 

NdG: A Stock Cars é uma categoria privilegiada pelo excelente nível de seus pilotos. Poderíamos dizer seguramente que é uma das categorias mais fortes, ou até a mais forte do mundo neste aspecto e o senhor sempre contou com os melhores destes melhores. Como que o senhor consegue trazer e manter estes pilotos com o senhor?  

 

Rosinei Campos: Primeiro é uma honra sermos uma equipe que os pilotos gostam e querem correr conosco. Além disso, é um reconhecimento do nosso trabalho como equipe e que, ao que parece, mostra-se interessante para eles. Nós não somos os melhores, mas estamos entre os melhores e quem fala isso são os resultados, e todos os pilotos que passaram por aqui nós tivemos muito prazer em trabalhar, assim como temos com os atuais. 

 

NdG: O senhor falou muito no esquema RC Eurofarma, mas e a RC Motorsport? Funciona como duas equipes separadas? 

 

Rosinei Campos: Sim. Como negócio temos o mesmo espaço físico, o mesmo proprietário, mas como equipe são equipes concorrentes, com patrocinadores diferentes, com budgets diferentes. O André (Bragantini) é o responsável por toda a parte técnica como chefe de equipe do carro do Valdeno e era do (Enrique) Bernoldi. O Caso do Marcos Gomes foi um acordo que surgiu depois do ocorrido com a Action Power. 

 

A admiração que sempre tivemos pelo Meinha ficou ainda maior depois da nossa visita à sua equipe. Obrigado! 

 

NdG: Nestes 30 anos de automobilismo, tem algo que o senhor se arrependa de ter feito ou de não ter feito em uma dada altura e, se pudesse, como sua experiência de vida, hoje, o senhor faria diferente? 

 

Rosinei Campos: Não sei... (pausa) Talvez um ou outro detalhe... a gente está sempre tentando melhorar... acho que se alguma coisa, não muita coisa, nada que fosse muito diferente do que é hoje. 

 

O pequeno gigante. 

 

Apenas para que os amigos leitores tenham uma idéia da capacidade deste gigante que é Rosinei Campos, quando visitamos em abril a Berta Motorsport, equipe com patrocínio oficial de uma montadora na TC 2000 na Argentina e uma das equipes mais poderosas do país vizinho, nos deparamos com uma sede pelo menos seis vezes maior que a sede das equipes do Meinha... e as duas tem carreiras e a mesma trajetória vitoriosa em suas disputas, fazendo do pequenino Rosinei um verdadeiro gigante do nosso automobilismo!

 

 

 

 

Last Updated ( Sunday, 14 March 2010 23:27 )