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Keimola - O 1º Autódromo da Finlândia PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 16 December 2009 09:12

 

                                                            

 

 

A Finlândia é um país famoso por seus inúmeros campeões de rally, pelo famoso rally dos 1000 lagos e por ter uma tradição de décadas no esporte a motor fora dos autódromos (e por sua vodka, claro!). Contudo, no final da década de 70 surgia um rápido piloto nas pistas e que viria a tornar-se campeão mundial de Fórmula 1: Keke Rosberg. Na sua trilha vieram outros, os contemporaneos Mika Salo e Mika Hakkinen, este último bicampeão do mundo e posteriormente Kimi Raikkonen, que depois de muitos bons resultados, conquistou o mundial em 2007 pela Ferrari. 

 

Além da grande quantidade de letras “K” nos seus nomes, tirando Raikkonen, todos tiveram um outro “K” em susa vidas: o de Keimola! 

 

O circuito de Keimola é muito bem localizado... poderia perfeitamente voltar a atividade. Veja na imagem via satélite.

Este circuito, hoje abandonado as margens de uma das principais vias de acesso e saída da capital, Helsinki, já foi o palco de grandes provas durante mais de uma década. Alguns dos principais pilotos do mundo disputaram provas em suas curvas e retas entre 1966 e 1978, especialmente em provas de protótipos e gran turismo. 

 

Curt Lincolm, um dos grandes pilotos finlandeses que se aventuraram nas pistas nos anos 50 foi o idealizador e o responsável pelo projeto de construir em seu país um circuito capaz de abrigar provas das grandes categorias que corriam em circuitos. Apostando na tradição de um país que adorava o esporte a motor, em 1965 ele partiu para a construção daquele que seria o primeiro circuito permanente na Finlândia. 

 

Com uma pista de 3.3 Km (2.05 Milhas) e uma largura entre 13 e 15 metros, dependendo do ponto, O “Keimolan Moottorstadion” foi inaugurado no dia 12 de junho de 1966. Suas características mais marcantes era ter maior parte das curvas ser de raio constante e levemente inclinadas, o que proporcionava o contorno e uma boa velocidade. Sua reta tinha um bom comprimento e nela localizava-se uma – na época – revolucionária e moderníssima torre de controle circular e envidraçada, que permitia uma visão quase total do circuito. Logo a torre ganhou em seu topo a estrela de 3 pontas da Mercedes-Benz, assim como um dia esteve sobre a torre de Avus. 

 

Durante seu periodo de atividades, Keimola foi palco de grandes provas de turismo dos campeonatos europeus.

 

O tipo de traçado era desafiador para os carros de grande potência e isso se fez confirmar ao longo dos anos, com as velocidades médias obtidas, bem como as de final de reta. Um festival de velocidade deu início as atividades em Keimola, com provas de Fórmula Vê, Formula 3 e uma exposição de carros antigos. O primeiro vencedor,numa prova de 15 voltas da Fórmula Vê, foi Olov Gunnarson. 

 

Em pouco tempo Keimola passou a ser um ponto de efervescência automobilística com eventos praticamente em todos os finais de semana (em que a neve não estava cobrindo a pista, claro). Não apenas os automóveis, mas as provas de motocicletas e sidecars (para quem não conhece, são aquelas motos com uma cadeirinha sobre uma roda onde para levar um passageiro e que estes costumavam ser as maiores vítimas dos acidentes (salvo engano a FIM aboliu estas competições há mais de 10 anos). 

 

Lincolm tinha uma estreita ligação com o pai de Jochen Rindt, de quem era advogado, Esta proximidade proporcionou contatos com o piloto e um pedido para que ele e seus colegas das pistas “viessem conhecer o autódromo do país”. Foi assim que, no auge do verão de 1966, quando o circuito completava pouco mais de 3 meses de inaugurado, acontecesse uma prova de Fórmula 2 com a presença de alguns dos principais pilotos em atividade e que também corriam na Fórmula 1.  

 

Nos monopostos, a amizade com a família de Jochen Rindt propiciou a ida da F2 ainda no primeiro ano do circuito. 

 

Segundo a revista Autosport, foi uma das provas mais emocionantes do ano. Além de Jochen Rindt, estiveram presentes Jack Brabham, Jim Clark, Denny Hulme e Graham Hill, que disputaram intensamente a liderança, com diversas trocas de posições entre eles.

 

A prova que aconteceu numa quarta-feira foi transmitida pela TV e foi simplesmente eletrizante, segundo a Autosport. 

 

A prova aconteceu no dia 24 de agosto, uma quarta-feira, e num horário pouco usual: 20:00hs. Como no berão tem-se luz do dia até quase 11 horas da noite, isso não seria um problema e na verdade, foi uma inteligente solução para atender ao público. O problema é que muita gente saira da cidade devido ao feriado e com os direitos de imagem vendidos pelo próprio Lincolm à televisão, o público presente não foi aquilo que Lincolm desejava, mas ele conseguia em pouco tempo, realizar o primeiro evento de automobilismo com caráter internacional no país. 

 

 

No ano seguinte, os velozes pilotos - que também participavam da F1 - retornaram a Keimola para mais uma prova.

 

A prova foi vencida por Jack Brabham, com Denny Hulme fazendo a dobradinha da equipe Brabham-Honda. O pódio foi completado por Jim Clark, com o carro da Ron Harris-Lotus, na prova disputada nos mesmos moldes do campeonato europeu, com duas baterias de 10 e 25 voltas, respectivamente e Brabham obteve uma media de 142.47 Km/h (88.546 mph) para as 35 voltas. 

 

A Fórmula Vê também correu em Keimola. Os administradores sabiam como promover eventos e o público comparecia.

 

No ano seguinte, foi a vez de Jim Clark vencer a prova, com Jochen Rindt tem Segundo e Graham Hill em terceiro. Keimola se consolidava como um palco feito para grandes disputas. 

 

As motos e sidecars também tiveram vez em Keimola. Interessante é que corriam também no sentido oposto!

 

Em 1968, finalmente os grandes carros de turismo chegavam a Keimola. Diversos corredores famosos vieram disputar a “Keimola 500”, atraídos pela premiação. Apesar dos estrangeiros, o vencedor foi Leo Kinnunen (uma verdadeira lenda deste autódromo), em dupla com Hans Laine, com um Porsche 911 em pouco mais de 4 horas e 30 minutos. 

 

A Mercedes foi - durante um bom tempo - um dos patrocinadores do circuito. 

 

Em 1969, aconteceu a primeira prova em Keimola da “Nordic Challenge Cup”, com carros de protótipo e gran turismo, entre os quais, os Porsches 908. No ano seguinte, chagariam os 917 e seus rivais e na quarta etapa do campeonato de 1970 foi vencida por Dutchman Gijs van Lennep, após 50 voltas.  

 

Com o Porsche 908, Gijs Van Lennep foi um dos grandes pilotos que se destacaram em Keimola...

 

Leo Kinnunen consagrou-se ao vencer com o Porsche 917 a “Corrida Interséries”, derrotando Peter Gething na McLaren M8E e Helmut Kelleners, o terceiro com um March 717. Kinnunen também venceu a última prova da “Interséries” no ano seguinte, com o enorme porsche 917/10.  

 

mas o grande nome do autódromo foi mesmo Leo Kinnunen, vencedor das provas da "Interseries" com o Porsche 917.

 

Keimola atraiu ate mesmo os pilotos de rally a se aventurar em um circuito. O legendário Pentti Airikkala disputou diversas provas e ainda está gravado na memória dos mais saudosistas como foi a sua primeira vitória: Pentti conseguira um carro para disputar a prova, mas não tinha pneus para a corrida e foi atrás de pneus velhos no aeroporto que fica perto do circuito. Foi com pneus velhos e quase na lona que ele venceu a prova no dia seguinte. 

 

O cartaz de chamada para a prova de 1972, para repetir o sucesso do ano anterior. 

 

Ao longo dos anos 70 os gestores do circuito buscaram diversas alternativas para fazer de Keimola um empreendimento rentável. Drag races, Rallycross e ate mesmo concertos de rock tiveram o autódromo como palco. 

 

No kartódromo de Keimola, alguns dos grandes pilotos finlandeses que chegara a F1 como Salo e Hakkinen.

 

Um kartódromo foi construído atrás do paddock e próximo a curva dos pits na primavera de 1971. Foi lá que surgiram dois jovens garotos que disputaram palmo a palmo, prova a prova, os títulos de kart do país. Eram Mika Hakkinen e Mika Salo! Foram anos de disputas intensas até o final daquela década JJ Letho também fez escola no mesmo kartódromo, seguindo os passos dos dois. 

 

Na Keimola 500, uma das poucas participações de Keke Rosberg correndo no circuito... nem isso impediu o fechamento.

 

Contudo, sem ter mais um evento internacional de grande porte e mesmo com algumas reformas que davam opções de circuitos mais curtos, como o “Pikku Keimola, com 1/3 do comprimento original, o pouco público foi se afastando e os custos de manutenção passaram a gerar déficit ao invés de lucro. 

 

O “Keimolan Moottorstadion” foi fechado em 1978 em meio a sérios problemas financeiros. A Wihuri company, para quem Lincolm vendera o autódromo dois anos antes, decidiu não mais injetar capital em um negócio que simplesmente não dava retorno. Os portões foram acorrentados e passados cadeados pela última vez no final daquele ano, no início do inverno e deixado para trás. 

 

Clandestinamente, jovens invadiam a pista e disputavam corridas de motos e sidecars...

 

Na década de 80, alguns grupos de motoqueiros decidiram reativar o circuito… ilegalmente! Eles organizaram e correram em eventos clandestinos até que bem organizados na segunda metade daquela década. 

 

Os eventos até recebiam um bom público para ver as motos e sidecars nas disputas em um circuito reduzido. Como eram feitas provas curtas e na parte mais distante do movimento, além de não chamarem atenção, eles não perturbavam ninguém. 

 

Apesar de estar usando apenas uma pequena parte do circuito, o traçado – como um todo – estava em boas condições. Se os proprietários quisessem reativá-lo, pouco haveria a ser feito que não um serviço de carpinagem no mato e tratamento das áreas de escape, além de – claro – uma limpeza na pista. 

 

 Não era todo o circuito que era usado, mas a farra dos garotos quase terminou em tragédia.

 

Os eventos clandestinos continuaram acontecendo até que no dia 10 de maio de 1988 aconteceu o que possivelmente aconteceria a qualquer altura: um grave acidente! 

 

O jovem de apenas 17 anos, Elk Wandered ficou em coma por 5 dias depois do acidente que sofrera com sua moto. Muitos rumores surgiram na época, inclusive noticiando a morte de Elk. 10 anos depois, um dos jornais da cidade relembrava o fato como o título “Morte em corrida ilegal em Keimola”. A resposta veio em carta ao jornal “pelo próprio morto”, que – diga-se de passagem, voltara a correr quando recuperou-se. 

 

 

Os administradores colocaram muretas atravessadas na pista, mas não foi suficiente... 

 

Correr, sim… mas em outro lugar: os proprietários do circuito colocaram diversas barreiras de concreto atravessadas ao longo da pista para que não fosse mais possível realizarem corridas clandestinas no local. Contudo, estava em construção a nova rodovia que ligaria Helsinki a Tampere e nela trabalhavam alguns dos rapazes que corriam clandestinamente. Não foi difícil levar uma grua e remover as barreiras e assim voltar a correr. 

 

Precisaram inutilizar o asfalto para impedir que as corridas clandestinas continuassem acontecendo. 

 

Pouco depois de saber que as atividades haviam retornado a Keimola, os donos do circuito mandaram cavar valas no asfalto, destruindo a cobertura asfáltica e aí sim, impedindo de vez que provas fossem realizadas ali de forma clandestina. O paddock tornou-se um depósito de pneus velhos com montanhas deles empilhados. 

 

Curiosos e "turistas esportivos" como eu - Willy - e amigos iam visitar Keimola. Aqui, em 1998. 

 

Keimola caiu de vez no esquecimento em meio às árvores que margeiam a estrada. A exceção de alguns entusiastas que ocasionalmente tentam fazer encontros no abandonado circuito, nem mesmo alguns habitantes das proximidades conhecem o local. O traçado, tirando os estragos feitos no asfalto, mas que poderiam ser facilmente reparados continua intacto. Ciclistas fazem trilhas no local.  

 

O antigo kartódromo tornou-se uma área de armazenamento de paletes de madeira. Apenas os donos dos depósitos de madeira e pneus podem transitar pela área, contudo eles permitiam que as pessoas visitassem o local, mediante autorização. Todas as entradas e acessos foram bloqueados, exceto a entrada dos depósitos. 

 

Em 2003, um incêndio criminoso fez arder a torre, o paddock e a floresta... os bombeiros trabalharam muito. 

 

Esta situação perdurou até 2003, quando um grupo de adolescentes ateou fogo nos pneus velhos armazenados no paddock. Os bombeiros levaram três dias até controlar o incêndio, que alastrou-se por boa parte da vegetação. 

 

Levou mais de 5 anos até os proprietários do local permitirem visitas ao antigo autódromo após o incêndio, mas – por incrível que pareça – por mais esquecido do mundo com o passar do tempo, ainda havia pessoas querendo conhecer o local e mesmo fãs do automobilismo querendo vê-lo reaberto. 

 

 

Sob a neve do implacável inverno nórdico, Keimola fica imaculadamente branco, como se ainda pudesse estar ativo. 

 

As ruínas do paddock e da torre ainda estão lá. A estrela prateada há décadas já se foi e é apenas sob a neve do rigoroso inverno nórdico que os contornos da pista ficam mais suaves, quase parecendo ser um local onde ainda ocorrem corridas. 

 

Os atuais proprietários da área, o Grupo Helsingin Sandomat, ligado ao setor de imprensa escrita, decidiu erguer na área um novo setor de impressão de jornais. Eles chegaram a iniciar a demolição do que restava do paddock, mas movimentos locais de fãs do automobilismo e de moradores conseguiram embargar a obra. O circuito permaneceu intacto e o parque de impressão foi erguido há 5 Km do local.  

 

 

Entre as árvores, a antiga torre de controle ainda impõe-se majestosa. Para os apaixonados, uma penosa inatividade. 

 

De todos os circuitos abandonados no passado, talvez Keimola fosse o mais fácil de ser recuperado. Diversos fatores poderiam contribuir para que ele entrasse em atividade e mesmo viesse a ser parte do calendário das principais categorias do mundo. 

 

Seu traçado é bom e seguro, não faltam condições para a criação de boas áreas de escape, ele encontra-se as margens de uma das principais rodovias, está há 10 Km do Aeroporto Internacional de Vantaa, que atende a capital, Helsinki, localizada há menos de 20 Km. 

 

Contudo, esta posição geográfica pode ser o que decretará o desaparecimento para  sempre de Keimola: como a ligação entre o aeroporto e a capital é feita apenas por via rodoviária (carros, taxis e ônibus), a cidade de Vantaa apresentou um projeto para estender e integrar a malha ferroviária de ligação com a capital e para tal, passaria os novos trilhos onde é hoje o autódromo abandonado. Juntamente com o novo sistema de ligação para o aeroporto, seriam construídos núcleos habitacionais no local. Caso tudo seja aprovado, o inicio das obras será em 2010! 

 

Acima, um mosaico com este que vos escerve em um dos andares da torre. Keimola não pode morrer! 

 

Os defensores que lutam para que um dia Keimola possa resgatar seus dias de glória terão mais uma árdua batalha pela frente. Do alto de uma das passarelas que cortam a rodovia, ainda pode ser visto o que restou da imponente torre de controle e sonhar, junto com eles, os amantes do automobilismo, agarrados a tênue esperança (ou ilusão) de que um dia o primeiro circuito construído na Finlândia volte a sediar corridas. 

 

Till förhandsmöte (Até breve) 

 

Willy Möller 

 

Fontes: Keimola Fans Club; Arquivos pessoais.

Last Updated ( Sunday, 10 January 2010 11:17 )