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A grama do vizinho PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 17 October 2018 22:09

Caros Amigos, entre muitos dos ditados populares que ouvi na minha infância, tinha um que meu pai dizia que eu lembro até hoje: “a grama do vizinho sempre parece mais verde”!

 

Esta frase é uma metáfora que se aplica em diversos sentidos na nossa vida. Pode ser com relação ao local em que nós moramos, ao círculo de amizades, ao emprego que temos e até mesmo ao gramado das nossas casas, para quem ainda pode morar em uma. Mas e quando a grama do vizinho estiver realmente mais verde do que a nossa, como fazer para enxergar isso da forma correta e – mais ainda – fazer com que nosso gramado fique tão ou mais verde do que o da casa ao lado?

 

Nas últimas três semanas tratei em minha coluna sobre os problemas de alguns autódromos brasileiros. Tarumã, Londrina, Curitiba e Curvelo. Sem entrar no mérito do semi destruído autódromo de Brasília, nos mais de 70 milhões de reais gastos em Goiânia, dinheiro suficiente para se fazer um autódromo novo e o que temos é uma pista cheia de remendos, com uma estrutura de Box deficiente e sempre necessitando de novas reformas para manter seu status de autódromo FIA 3, isso para não falar dos sucateados autódromos nordestinos e no arremedo construído na Paraíba, que não tem condições de ser homologado para nada, exceto seus eventos privados e locais.

 

Enquanto isso, no jardim da casa ao lado – a Argentina – o jardim está cada vez mais verde. No último final de semana a Superbike veio correr em nosso continente no novíssimo e bem equipado autódromo de “El Villicum”, na cidade de San Juan. Ele é o mais recente de uma nova safra de circuitos na Argentina, projetada para trazer corridas nacionais e internacionais de alto nível de volta à província de San Juan pela primeira vez desde que o circuito de El Zonda caiu em desuso por motivos de segurança.

 

Localizado perto da cidade de Albardón, o novo circuito está ao lado da simbólica Rota 40, uma estrada de 5 mil quilômetros que se estende do norte ao sul da Argentina, ao lado da cordilheira dos impressionantes Andes. A Rota 40 é – para os argentinos – uma atração turística, quase como a Rota 66 nos EUA.

 

A custo de 170 milhões de pesos (pouco mais de 17 milhões de reais – ou 1/4 do que custou a reforma de Goiânia) este autódromo foi construído atendendo os padrões FIM – A  e FIA 2 para sediar o Campeonato Mundial de Superbike na Argentina – assim como já sedia a Moto GP, em Termas de Rio Hondo – com contrato assinado com os organizadores da DORNA.

 

A cidade de San Juan fica a mais de 1000 km de Buenos Aires, com 160 mil habitantes e tendo no somatório com a região metropolitana algo próximo a meio milhão de pessoas. Praticamente a mesma população de Londrina, sem levar em conta as cidades vizinhas como Cambé e Ibiporã. O que mostra o tamanho do potencial desperdiçado aqui no Brasil quando falamos de autódromo.

 

Ao contrário dos erros cometidos em Curvelo, que ambicionava trazer a motovelocidade para correr no Brasil, o projeto da pista passou por inúmeras alterações, com a contribuição da FIM, resultando no layout final, assinado pelo arquiteto argentino Leonardo Stella. A pista de 4.266 metros possui 19 curvas (11 à esquerda e 8 à direita), além de assentos permanentes na arquibancada para até 10.000 pessoas. Tem também excelentes instalações com 64 boxes, metade desses de frente para o pitlane.

 

Este é o terceiro autódromo argentino com graduação FIA 2, vindo se juntar ao de Termas de Rio Hondo, localizado a 70 km de San Miguel de Tucumán, capital da província e que tem 800 mil habitantes, sede há alguns anos da Moto GP, e do autódromo de Potrero de lós Funes, que circunda um belo lago nos arredores da cidade de San Luis, capital desta província na Argentina, cidade de cerca de 200 mil habitantes.

 

Pouco a pouco a Argentina vem adequando seus autódromos à modernidade, seguindo o nível de exigências da FIA. Além destes três autódromos ele tem o velocíssimo oval de Rafaela, o misto muito técnico de Oberá e o extremamente veloz traçado de Mendoza, que podem passar por reformas e atingir o grau FIA 2, o que aumentaria a diferença entre o nível dos autódromos argentinos em relação aos brasileiros.

 

Mais do que isso, existe desde o ano passado um trabalho para que a Argentina possa voltar ao calendário da Fórmula 1 em breve. O projeto da reforma já foi apresentado à Charlie Whiting e o custo estimado da obra é de “apenas” 45 milhões de dólares para adequar o traçado mais longo das 15 opções de pista do Hermanos Galvez.

 

Lembrando que o contrato com Interlagos termina no final de 2020, lembrando que há uma campanha em curso por parte de um dos candidatos ao governo de São Paulo para que o mesmo “desapareça”, que há um grande lobby dentro da câmara dos vereadores da capital paulista para que este projeto seja levado adiante e que mesmo que nos livremos desta ameaça, certamente outras virão, olhando para o jardim da casa do vizinho, infelizmente temos não a impressão, mas a certeza de que a grama de lá é realmente mais verde.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva