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O título da inteligência emocional PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 01 August 2018 14:04

Olá fãs do esporte a motor,

 

Há anos que vocês, meus amados leitores tem visto aqui nesta coluna relatos de passagens pelo meu Divã de vários pilotos, de diversas categorias e modalidades onde procuro passar ao meu público como é difícil a vida destes homens e mulheres que vivem da velocidade. Do quanto eles se cobram e são cobrados.

 

Embaixo daquela armadura à prova de fogo e dentro de seus capacetes, que parece ser um mundo à parte, onde eles se blindam do que acontece em volta e mergulham numa dimensão que só seres especiais e superiores são capazes de compreender, existem seres humanos... com angústias, sentimentos, sangue e lágrimas como todos nós.

 

Esta quinzena, com o início das férias de verão da Fórmula 1 e também por terem sido estes últimos dias muito intensos na vida dos meus pacientes, decidi deixar o Divã vazio e fazer uma análise paralela (pensei muito em usar “comparativa”, mas não se trata de uma comparação) sobre as oscilações que Lewis e Sebastian vem passando. Não apenas este ano, mas fazendo uma retrospectiva em suas carreiras na Fórmula 1 e como eles foram do cume ao fundo – e vice versa – ao longo destes anos. Quem sabe isso seja um bom ponto de reflexão para o que iremos encontrar no retorno das competições no final de agosto.

 

Como os meus amados leitores sabem, Lewis e Sebastian são meus pacientes há alguns anos e eles tem grandes semelhanças em suas carreiras. Lewis foi “adotado” por Ron Dennis e pela McLaren quando ainda corria de kart e mostrou que o apoio à sua carreira não foi em vão. Sebastian destacou-se e foi também “adotado” pela BMW, que investiu em sua carreira, levou-o à Fórmula 1. Não foi “apenas” um piloto do programa de jovens pilotos da Red Bull. Sebastian tinha os alemães apostando nele para ser “um novo Michael”.

 

Antes de estarem vivendo esta disputa direta dos últimos dois anos pelo título da Fórmula 1, a história de ambos vem de mais de uma década. Em 2005, no campeonato europeu de Fórmula 3, Lewis destruiu a concorrência nas 10 rodadas duplas. Foram 15 vitórias e 17 pódios. Sebastian foi ao pódio junto com ele em 5 oportunidades, mas passou o ano sem vitórias, terminando o campeonato na 5ª posição.

 

 Desde 2005 Lewis e Sebastian já dividiam o pódio...

 

Ambos tiveram primeiras vitórias emblemáticas. Lewis não apenas venceu em seu primeiro ano no GP do Canadá, mas também levou a disputa pelo título até a última etapa do campeonato em Interlagos, no ano de 2007. Convivendo em um clima pesado e negativo com Fernando – que todos sabemos tem um perfil profissional muito difícil – Lewis deu mostras de ter sentido a pressão no final, quando errou na primeira volta e jogou por terra suas chances de ser um estreante campeão do mundo.

 

Sebastian estreou no meio da temporada de 2007, a mesma da estréia de Lewis. Não teve um início tão brilhante quanto o dele, mas conseguiu marcar ponto em sua corrida de estréia, mesmo sem um carro de ponta e com menos pontos distribuídos aos participantes das corridas. No ano seguinte, conquistou sua primeira vitória de forma mais impressionante do que Lewis havia feito. Venceu com uma Toro Rosso, com um misto de pista úmida e molhada. Em condições normais, talvez não tivesse chances nem de chegar ao pódio, mas não dizem que todo campeão precisa ter sorte?

 

 Em 2007, chegando na F1, encontrou o bicampeão Fernando Alonso e as coisas não foram nada bem...

 

A relação de ambos com suas respectivas equipes foi um pouco diferente, mas em algum momento (ou vários), sendo suficientemente instável. Lewis era “filho da McLaren” quando chegou na equipe para ser o segundo piloto do bicampeão Fernando Alonso. Ele era o campeão da GP2 e todos acreditavam que ele era um futuro campeão da Fórmula 1.

 

Mas talvez nem o mais otimista dos integrantes da equipe acreditasse que Lewis seria este campeão em potencial logo na primeira temporada. Ameaçado, Fernando fez tudo o que podia para “sabota-lo”, mas todos viram que Lewis não era uma promessa, mas uma realidade e o título veio no ano seguinte.

 

 Na Red Bull, Sebastian também tinha problemas com o companheiro de equipe, Mark Webber...

 

Depois de conseguir sua primeira vitória na Toro Rosso em 2008, em 2009 Sebastian foi para a equipe principal e, quem sabe, não fosse o início devastador da Brawn GP, ele tivesse conseguido conquistar seu primeiro título ainda naquele ano. Alavancado pela BMW e com todo o investimento do programa de jovens pilotos da Red Bull, Sebastian estava sendo preparado para ser “o campeão dos sonhos”, colocando o piloto mais experiente da equipe, Mark Webber, em último – não segundo – plano, com a mão pesada do abominável Helmut Marko. Todos lembram o que aconteceu na Turquia, as declarações para a imprensa, os favorecimentos de equipamento... não sei como o Mark aguentou tanto tempo. Sinto saudades das nossas sessões.

 

 Em uma equipe alemã, contra um piloto alemão, Lewis chegou ao extremo na temporada de 2016...

 

Lewis só veio a ter problemas com companheiro de equipe quando foi para a Mercedes. Por mais que as versões oficiais queiram negar, Nico Rosberg, alemão, era o piloto para levar a equipe ao título, mas não podemos deixar de reconhecer que Lewis está não apenas um, mas alguns degraus acima. As coisas não foram nada fáceis em cinco anos de convivência, especialmente nos três últimos, quando a equipe praticamente não tinha adversários e a disputa era 100% interna. O ano de 2016 tem muitas perguntas sem resposta que, por ética profissional, eu não posso responder aqui.

 

A situação de Sebastian era mais confortável, apesar do ambiente pesado por conta das declarações de Helmut Marko contra Mark Webber. No sentido contrário, todas enalteciam como Sebastian era bom, rápido, vitorioso, etc. Mas as coisas mudaram quando veio para a equipe um outro piloto preparado no programa da Red Bull: Daniel Ricciardo (que eu amo de paixão). Junto com Daniel, veio um pacote de mudanças na Fórmula 1 que alterou o equilíbrio de forças... e desequilibrou a cabeça de Sebastian.

 

 Antes disso, em 2013, o tetracampeão Sebastian teve que encarar um sorridente e veloz companheiro de equipe.

 

Ricciardo mostrou-se melhor adaptado ao novo carro, era mais rápido que Mark, seu antecessor, e Sebastian. Mesmo tetra campeão, ele sentiu o golpe e desta vez não tinha como Helmut Marko “sabotar” o outro piloto da equipe. As coisas não chegaram às vias que tomaram com Mark, mas Sebastian precisou deixar o time. A equipe agora tinha um outro “queridinho”.

 

Nestas últimas duas temporadas a situação interna de ambos está bem mais cômoda, com seus segundos pilotos – coincidentemente finlandeses – devidamente em seus papeis, mas o que vemos é que, ainda assim, existem instabilidades.

 

 Nos anos de McLaren, não foi apenas na pista que momentos da vida de Lewis foram conturbados...

 

Lewis teve, fora das pistas, seus fatores externos. Em 2010, ele anunciou que Anthony Hamilton não estava mais gerenciando sua carreira. O trocou por uma empresa sem experiência com a categoria. Depois teve um relacionamento bem conturbado na vida amorosa e na religião houve problemas e mudanças. O relacionamento com a cantora Nicole Scherzinger, bela que sempre foi de aparecer para acompanhar os GPs, teve suas idas e vindas. Em suas crenças, passou a seguir a a cientologia, crença mística que junta partes do budismo, hinduísmo e acredita que a salvação depende da interação do homem com a “comunidade cósmica”.

 

Há alguns anos aderiu ao veganismo e veio tatuando o corpo inteiro, mas alguns hábitos, como o de se fazer presente nas rodas de Rap no EUA ainda torcem narizes no Reino Unido. Apesar disso Lewis tem sabido lidar melhor com os incidentes de corrida e fatalidades como abandonos melhor do que Sebastian. Mesmo quando sofre um revés, tem mostrado mais equilíbrio para retomar o caminho.

 

 E na italianíssima Ferrari, o mais latino dos germânicos oscila em sua latinidade incomum.

 

Já Sebastian, parece ter encontrado uma “casa latina” para o que eu chamo de “o mais latino dos alemães”. Contudo, esta “latinidade latente” por vezes parecem levá-lo a cometer erros que um cerebral alemão jamais cometeria. O que aconteceu na primeira curva na França e no final da corrida na Alemanha não são erros aceitáveis a um tetra campeão do mundo. Foram duas corridas cujo os pontos farão falta no final do ano, isso para não falar da pouco racional dividida de curva com Max Verstappen na China, onde a perda da posição era inevitável.

 

Sagrar-se campeão não requer apenas braço e bota, requer sobretudo cabeça e o título de 2018 ainda está em aberto, apesar dos 24 pontos que Lewis tem de vantagem no momento. Estas “férias” serão de intenso trabalho nas fábricas, nos computadores para que quando voltarem para a pista em Spa-Francorchamps a Ferrari se mantenha mais rápida do que a Mercedes, que por sua vez fará de tudo para reverter esta situação.

 

 Não se enganem os leitores: o campeonato ainda está longe de estar decidido.

 

O campeonato ainda nos reserva grandes emoções. Resta-nos ver quem terá mais estabilidade emocional para lidar com os fatores que fogem ao controle destes dois incríveis protagonistas.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares 
Last Updated ( Wednesday, 01 August 2018 14:36 )