Quando eu morava no Brasil, sempre que possível ia nas corridas da Stock Car e da então Fórmula Truck como expectador, para a arquibancada e lá assistir o espetáculo da velocidade. 

Como colunista do Nobres do Grid, sempre escrevi meus artigos baseado em estudos, sentado em uma sala e diante de um computador. Analisando, comparando dados, apresentando estudos e tentando explicar de uma forma simples as coisas complexas do automobilismo.

Há alguns anos moro na França, onde trabalho e vivo muito bem. Tenho continuado a escrever meus artigos para o Nobres do Grid, mas em abril deste ano recebi um convite e um desafio: estar presente em Le Mans para produzir um artigo trabalhando ‘in loco’, entrevistando pessoas, fazendo fotos, andando em um meio onde era um estranho, como na sala de imprensa.

Fernando Paiva já havia me alertado, mas foi nos seis dias em que estive em Le Mans que pude ver que o site Nobres do Grid é conhecido. Alguns jornalistas me cumprimentaram e apontavam para o escudo na camiseta negra na altura do peito e sempre elogiavam o nosso trabalho. Quanta responsabilidade!

Como a minha coluna é uma coluna técnica, posso dizer que sou um “jornalista de sorte”. Um dos assuntos mais quentes na sala de imprensa, no paddock e entre os engenheiros foi a mudança no regulamento para a temporada de 2020, com a introdução dos “Hypercarros”, uma revolução tecnológica e também estética nos carros da maior categoria de endurance do mundo.

Eu sempre fui um estudioso, desde criança, e precisei estudar o que seriam estes “Hypercarros” e como o regulamento iria mudar. Na reunião do conselho do esporte a motor da FIA, os representantes dos países e categorias e as decisões que, progressivamente mudarão a cara da próxima geração de protótipos da categoria de endurance foram um destaque.

O novo regulamento está direcionado para o corte de despesas para algo próximo a um quarto do orçamento atual do LMP1. Além disso, a liberdade de fabricar protótipos de corrida que se assemelhem a carros de estrada é amplamente visto como positivo para as empresas em potencial que podem se juntar à categoria em um futuro próximo.

O corte orçamentário tem um desafio enorme, que é manter o mesmo nível de desempenho que os atuais carros da LMP1 consegue. Para isso, foi estabelecido que os Hypercarros devem ser capazes de concluir uma volta no traçado de mais de 13 Km em 3 minutos e 20 segundos. Além disso, em conversa com o diretor esportivo do ACO, promotor da prova, Vincent Beaumesnil, ele afirmou que o design dos carros poderia se inspirar nos carros dos anos 90 e 2000, que eram muito bonitos e se pareciam mais com um carro de estrada do que os atuais protótipos.

Mas foi com Pascal Vasselon, diretor técnico da Toyota e que declarou-se um grande fã do nosso trabalho que eu tive uma conversa mais longa. Segundo ele, o projeto dos LMP1 é um tipo de “protótipo genérico” e você tem que pintá-lo para colocar sua marca nele, explicou ele. A ideia poderia ser ir em direção a carrocerias que sejam claramente mais próximas de carros reais, algo que poderia interessar fabricantes que no momento não estão interessados ​​em um “LMP genérico”.

Trabalhar com um conceito diferente do conceito de carro DPi, que pode mudar drasticamente de modelo para modelo. Em vez de permitir que os fabricantes alterem tudo, desde a carroceria dianteira e traseira até os sidepods e outros elementos principais, eles receberiam uma janela de desempenho aerodinâmico para operar. Isso garante um campo de atuação mais nivelado e ainda fornece individualidade dentro da categoria de protótipo.

Na visão de Pascal, o WEC não está procurando homologar os hypercarros de última geração para a categoria, algo que iria na direção oposta do que foi apresentado com um dos planos fundamentais da categoria, que seria reduzir os custos em toda a linha. Em vez disso, o plano é despertar em muitos fabricantes um consenso que eliminaria a necessidade de carros de quase um milhão de dólares como base para os competidores de LMP.

O grande desafio, segundo Vasselon, é que o desenvolvimento tecnológico deve permanecer na vanguarda das mudanças na regulamentação. Isso inclui avanços híbridos e não híbridos entre os fabricantes e os participantes privados. A fim de manter a série inovadora, ele diz que eles devem "manter a tecnologia desafiadora" para promover o crescimento dentro do automobilismo.

Pascal Vasselon me apresentou ao presidente da Gazoo Racing Company, Shigeki Tomoyama, e na visão do executivo japonês, competir em uma categoria de endurance requer demandas muito particulares e o retorno em desenvolvimento para, por exemplo, sistemas híbrido-elétricos de alta tecnologia precisa ser efetivamente aplicadas em carros de produção em série.

A indústria automotiva está próxima a uma era de grandes transformações e é necessário continuarmos com nossa paixão para fazer carros que estimulem as pessoas a buscar nossos produtos. Não importa quanta eletrônica e tecnologia digitais sejam necessárias a continuar a transformar os carros. O que não podemos deixar acontecer é que um carro se torne apenas mais um bem de consumo.

Tomoyama enfatizou que a Toyota estará neste projeto por acreditar que criar supercarros esporte com o mesmo apelo do TS050 Hybrid e o compromisso da Toyota com a categoria vão na mesma direção.

As regras, que têm o título de trabalho de 'GTP', permitirão aos fabricantes darem ao seu maquinário protótipo a aparência de um de seus carros esportivos de estrada. A intenção do novo livro de regras será manter o nível atual de desempenho, mas a um custo substancialmente reduzido.

Haverá um nível mais baixo de tecnologia híbrida permitido e espera-se que os fabricantes possam optar por um sistema específico de recuperação de energia em vez de desenvolver o seu próprio sistema. Os fabricantes em torno da mesa durante a formulação das novas regras foram Toyota, McLaren, Aston Martin, Ferrari e Ford.

O plano 2020-2024 dará início a uma nova era de corridas de resistência com um estilo ultramoderno de protótipo, com um nome a ser determinado pelos fãs do FIA WEC. Super Sportscar, GTPrototype, Le Mans Supercars ou Le Mans Hypercars? A escolha é dos fãs!

Os regulamentos, desenvolvidos pela FIA e pela ACO, enfocam a aparência, o estilo e as linhas dos carros na nova liga principal. A diversidade de equipes e carros nas corridas de endurance é uma das principais marcas registradas da disciplina, nunca mais verdadeira com o surgimento desses carros estilizados, mas musculosos, verdadeiras feras de corrida no espírito e na imagem de resistência. A aerodinâmica não pode ter precedência sobre a estética!

Nos próximos meses nós teremos mais detalhes e eu assumo o compromisso com os leitores do Nobres do Grid de preparar novos textos sobre o regulamento especificado da categoria e explicar de forma bastante compreensível como estes carros novos serão ao mesmo tempo eficientes e “baratos”, lembrando que o conceito de “barato” no automobilismo é algo bem distante da realidade.

Abraços,