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Só pode ser doença PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 05 May 2018 20:42

Tem certas situações que eu passo na vida que me pergunto seriamente sobre o que fiz para merecer aquilo. Eu não sou espírita, não acredito em reencarnação, vidas passadas e outras coisas, mas se isso é verdade, eu devo ter feito muita coisa errada no passado. Talvez tenha sido eu o soldado que deu a esponja com vinagre para Cristo beber ou, no mínimo, joguei pedra na cruz.

 

Depois de um maravilhoso feriadão em família em uma estância hídrica muito famosa aqui em Minas Gerais (coisa rara na vida de um corretor de imóveis é não trabalhar nos finais de semana, principalmente nos domingos), chego no escritório da corretora e vem um colega de trabalho que tem nome de tonto, cara de tonto e age como um tonto (o adjetivo não era esse, mas vocês entendem...), veio com aquele sorriso de gente descompensada de massa cinzenta me mostrar o seu burrofone com uma foto.

 

“Olha que homenagem bacana fizeram para o Senna lá na Inglaterra... preciso conseguir uma nota dessas para mim. Deviam fazer uma homenagem dessas aqui no Brasil...”

 

A nota é falsa, mas muita gente sem noção andou repassando esta imagem no início do mês.

 

Sem nenhuma parcimônia ou papas na língua, perguntei diretamente se ele era burro ou só se fazia de burro para irritar as pessoas ou a gente ter pena dele. Ele arregalou os olhos, guardou o celular e deu dois passos pra trás. Mas não parei: perguntei se ele realmente acreditava naquela foto, que os ingleses tinham feito aquilo, se ele tinha visto alguma matéria no fantástico (imagina se a Globo não iria fazer um carnaval sem tamanho se fosse verdade) falando da homenagem...

 

O colega, já gaguejando, argumentou – tentou argumentar, né? – isso “estava em todas as redes sociais”, nas páginas do Senna no Facebook, que vários postaram pelo instagram... o que só reforça a minha ojeriza por essas tais redes sociais, tamanha a quantidade de porcaria (a palavra não era essa) que publicam e que os tontos (e, novamente, o adjetivo seria outro) saem repassando, sem ter a menor ideia se aquilo é verdade ou não. É como esses blogs de ‘fakenews’ de política, financiados por partidos políticos.

 

Outras invencionices já foram feitas e, temos que admitir, os caras que fazem isso sabem mexer em computador.

 

É verdade que o falecido já foi homenageado – e mais de uma vez – com moedas e notas comemorativas em alguns lugares do mundo, além do Brasil. Em 1997, foi lançada uma edição limitada de moedas para grandes ídolos da Fórmula 1 e Ayrton Senna foi retratado na cara da moeda de 25 Euros. Houve uma homenagem anterior com uma moeda de 5 Euros, assim como aqui no Brasil Fizeram uma moeda de 2 Reais e uma outra, de 20 reais, mas nada como a Rosland Capital, empresa referência em metais preciosos, que no GP de Mônaco do ano passado lançou uma coleção de moedas parar celebrar 30 anos da primeira vitória dele no principado. Em parceria com o Instituto Ayrton Senna, foram produzidas seis moedas de ouro de 850 gramas e mais 180 moedas de ouro e 300 de prata – todas pesando 70 gramas e estampadas com uma imagem que, se colocassem um sorrisinho, ficaria quase igual àquele busto do Cristiano Ronaldo que virou piada mundial. Em todo caso, estas peças viram preciosidades nas mãos de colecionadores por serem edições limitadas.

 

Por falar no Instituto Ayrton Senna, que como diz o polêmico jornalista Flavio Gomes, em breve terá alfabetizado todas as crianças do Brasil pelos seus impressionantes números, este – até agora – não se manifestou contra a exploração da imagem do falecido ou sobre a não veracidade da homenagem. Na verdade, estão aproveitando da visibilidade que a ‘fakenews’ tem dado ao serviço de manter o falecido vivo e endeusado. Ao invés disso, o Instituto “pega carona” em qualquer coisa que considere positiva, como o “prefeito jestor” que se vestia de fã e queria destruir o autódromo de Interlagos e o kartódromo que leva o nome do piloto morto.

 

A família do falecido piloto não perde a oportunidade para promover sua imagem, mesmo quando pela via errada. 

 

Apesar de ter se esforçado muito para impedir o tricampeão mundial de Fórmula 1 de seguir seus sonhos e se tornar um piloto profissional, criando todo o tipo de dificuldades possíveis e imagináveis para atrapalhar seus planos (obrigaram o falecido até a se casar antes se seguir para a primeira temporada da Fórmula Ford 1600 na Inglaterra) em se tornar um piloto profissional – e que não adiantou – a família Senna da Silva, que gozava de uma ótima condição financeira, sendo o patriarca, Milton Silva, empresário no ramo industrial, com mais de 750 funcionários e possuidor de algumas fazendas, passou ao estado de multi milionária com o sucesso profissional e financeiro do rebelde filho do meio, desfruta de todos os benefícios – financeiros e midiáticos – dos contratos e feitos do piloto.

 

No caso das “fakenews que interessam”, o Instituto que leva o nome do piloto e é presidido por sua irmã, o mesmo não se manifesta para desmentir os devaneios dos cegos seguidores que o idolatram, parecendo aproveitar o fato de haver gente sem bom senso e capaz de todo e qualquer tipo de fanatismo (convenhamos, fazer uma montagem como essa da foto de 10 Libras não deve ser fácil) para “manter o ídolo vivo”.

 

Alguém precisava ter coragem – e a oportunidade – para chegar na cara desse povo que vive da fama do falecido e dizer que isso que fazem com a imagem dele não o promove, pelo contrário, o denigre. Lá na Argentina ninguém faz coisas do gênero com a imagem do Juan Manuel Fangio, que tem um museu gigantesco com seu nome e recebe milhões de visitantes de vários países além dos argentinos todos os anos.

 

Em Donington, uma justa homenagem a dois gênios que fizeram corridas épicas em seu traçado. Sem ufanismo.

 

Feitos, como os que ambos obtiveram em Donington Park renderam uma homenagem conjunta, um justo reconhecimento a dois gênios do automobilismo. Sem endeusamento, sem extrapolação dos seus feitos, sem delírios, sem ‘fakenews’.

 

Antes que seja eu o apedrejado em praça pública por “blasfemar contra o deus morto” (e o deus em minúsculo foi proposital), eu torci pelo falecido nas suas vitórias. Gostava do jeito combativo como ele atacava os adversários nas pistas e defendia posição. Lamentei e mesmo chorei quando ele morreu, mas daí a distorcer o que ele fez, supervalorizando feitos, explorando imagens e – o pior – inventando coisas que nunca existiram é ridículo.

 

A falta de noção é tamanha que um grupo de brasileiros pediu mesmo, em 2014, que o governo britânico fizesse a nota.

 

Esse tipo de gente que faz o que faz só pode ser doente... e acreditem, tão insanos que chegaram a pedir ao parlamento inglês que fizessem tal homenagem. Felizmente os ingleses são mais racionais do que os fanáticos idólatras e negou o pedido. Eles tem personalidades suficientes para homenagear, não precisam “importar” uma.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva