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Interlagos é do Brasil PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 01 April 2018 21:21

Se tem uma coisa da qual eu decidi me manter longe há muito tempo foi essa tal de “rede social”. Antro de “fakenews”, onde tem um bando de idiota posando de sábio e que qualquer porcaria (o termo não era bem esse) que se posta, os que concordam com ela sai repetindo, replicando, como papagaios eletrônicos, sem saber o que estão fazendo.

 

A última que fiz parte foi o Orkut, mas li tanta besteira (novamente o termo não era esse) ali que de 2010 para cá eu prefiro ficar de fora. Tenho whatsapp pra falar com meus contatos, minha família, até cheguei a fazer parte de grupos, mas quando começaram a postar corrente, propaganda política, piadinha de futebol e outras bobagens (mais uma vez... é, tá ficando repetitivo), mandei todos para aquele lugar e disse que quem quisesse falar comigo, entrasse em contato comigo. Não sou vaca nem ovelha pra andar em rebanho.

 

Mas mesmo assim, vez por outra um amigo me manda alguma coisa sobre alguma coisa e as vezes esta coisa é sobre automobilismo, uma vez que sou conhecido internacionalmente (podem chorar porque é verdade) como colunista do site dos Nobres do Grid, queira a rainha elisabete (em minúsculo mesmo pra ele saber) ou não. Esta semana, o assunto é Interlagos.

 

Eu pensava que era piada de primeiro de abril quando um colega do escritório mandou pra mim uma “foto” sobre a guerra que os automobilistas e todo um exército de abnegados, estão travando para que o Autódromo de Interlagos não se transforme num empreendimento imobiliário e venha aumentar o nível de caos da já caótica capital paulista nos delírios midiáticos do “jestor” que fez muita farofa, mas pouco fez de prático e o presidente da câmara de vereadores, que tem uma pilha de processos contra ele em diversas varas, que quer fazer uma pagoderia e um curral eleitoral no local.

 

O assunto do artigo deste mês é a importância de que salvemos o que sobrou de Interlagos das garras dos políticos.

 

Voltemos a foto. A tal da foto me fez soltar um “mas vão pra (censurado)!” Era um desenho que juntava o traçado atual do Autódromo de Interlagos com o desenho de um certo capacete de um certo indivíduo (que não vai poder se defender – se é que iria – porque já está morto) que além de nunca ter corrido uma corrida sequer no verdadeiro Autódromo de Interlagos, foi um dos responsáveis pela irreparável (sim, porque custaria uma fortuna reconstituir o traçado original) destruição do templo do nosso automobilismo, do autódromo-escola, que formou nossos campeões (menos ele) e que depois da destruição do traçado original, não ganhamos mais nenhum título na Fórmula 1. E eu me recuso a publicar a tal da foto, mas muita gente já sabe qual é.

 

Túnel do tempo.

 

Vamos fazer uma viagem até 1988, quando o Presidente da CBA, o Nobre do Grid Piero Gancia, eleito um ano antes recebeu um “ultimato” do então Presidente da FOCA (Formula One Constructors Association), Bernie Ecclestone, que informou-o que o Brasil deixaria de sediar a Fórmula 1 se providências urgentes não fossem tomadas. A prefeitura do Rio de Janeiro deixava claro seu desinteresse em continuar promovendo a corrida. O Prefeito – Marcelo Alencar, afilhado político de Leonel Brizola – queria fazer o Bom Velhinho, que na época não era tão velhinho, colocar dinheiro na realização da corrida. Logo quem? Isso jamais iria acontecer.

 

A CBA precisava correr contra o tempo para encontrar um outro local para realizar o GP de Fórmula 1. Apenas dois autódromos teriam condições de receber o evento: o Autódromo Internacional de Brasília e o Autódromo de Interlagos. Este último com um histórico de grandes corridas e de já ter sediado a competição, mas também a memória de duas corridas complicadas em 1979 e, principalmente, 1980, onde o estado de degradação do asfalto e a infraestrutura mostravam ser necessária uma grande intervenção.

 

O Presidente da CBA, Piero Gância convenceu a Prefeita Luiza Erundina a reformar Interlagos. Ao fundo, o projeto.

 

Piero Gancia fez sua vida no Brasil em São Paulo. Correu em Interlagos por décadas e além de saber que Interlagos era o autódromo mais completo do país, sabia que o retorno a São Paulo iria implicar em um reforma e uma atualização que o autódromo estava precisando há uma década. Contudo, haviam outro problemas que precisariam ser enfrentados para colocar novamente a Fórmula 1 em Interlagos.

 

O primeiro era atualizar o circuito. que com as novas exigências de segurança que a FISA (Federation Internationale Du Sport Automobile), na época era o braço desportivo da FIA, vinha exigindo de todos os autódromos que recebiam a categoria no mundo. Isso exigiria um grande investimento em obras e a prefeitura de São Paulo estava nas mãos de um partido que não tinha o “perfil” de quem investiria neste tipo de obra. Luiza Erundina (PT) tinha em seu conselho próximo a socióloga Marilena Chauí, que defendia a demolição do autódromo para se fazer casas populares.

 

Ea Esq. p/Dir: Tamas Rohonyi, Bernie Ecclestone, Luiza Erundina e Piero Gância. Reuniões sobre o GP e a reforma.

 

O segundo era como atualizar o circuito. Além das exigências da FISA, tinha as da FOCA e Bernie Eclestone tinha um “fantasma” a sua volta e que ele queria empurrar para longe: a Fórmula Indy! A categoria de senhores aposentados e pilotos gordinhos estava ficando famosa pelo mundo, especialmente no Brasil depois que Emerson Fittipaldi foi para lá e começou a ganhar corridas. O traçado original de Interlagos tem (tinha) um anel externo de 3,2 Km, que poderia ser utilizado em uma “típica corrida norte americana”. Além disso, os filhos dos gordinhos começaram a se sentir estimulados com Emerson Fittipaldi falando que eles poderiam correr na Fórmula 1. Entre estes, Al Unser Jr. e Michael Andretti. Além desses, Bobby Rahal chegou a correr no final dos anos 79 e Danny Sullivan no início dos anos 80, mas em 1986, a FISA passou a não dar mais a “superlicença” para pilotos da Indy.

 

Os projetos da reforma.

 

Piero Gancia agendou audiência com a Prefeita Luiza Erundina e – muito bem preparado e assessorado – explicou para a Prefeita os benefícios de fazer o investimento necessário para reformar Interlagos e trazer de volta o GP Brasil de Fórmula 1 para São Paulo. Erundina recebeu do administrador do autódromo, o Nobre do Grid Chico Rosa apresentou o local (ela nunca tinha estado lá), o número de funcionários municipais lotados lá e os recursos orçamentários destinados à manutenção e funcionamento daquele equipamento, cuja programação de atividades se limitava quase que exclusivamente a treinamentos, corridas do campeonato metropolitano e kartismo, uma vez que o calendário nacional estava reduzido a poucas categorias.

 

Chico Rosa queria preservar o traçado original, mas Bernie Ecclestone queria inviabilizar a Fórmula Indy no anel externo.

 

Na apresentação e nas reuniões que se seguiriam, Chico Rosa apresentou alternativas para que o autódromo pudesse receber a Fórmula 1. A preocupação do Nobre do Grid era fazer com que as exigências da FISA em questões de segurança fossem atendidas e que o traçado original do Autódromo de Interlagos fosse preservado. Chico Rosa pensou algumas soluções e entre as mais audaciosas, o “Templo” poderia ter quatro opções de traçado, com a Fórmula 1 utilizando um circuito de 5.248 metros (algo que atende a média dos circuitos atuais), um traçado mais curto, com 4.487 metros, que é maior do que o traçado atual, o traçado original, com seus 7.960 metros e o anel externo, com 3.208 metros.

 

As propostas de Chico Rosa esbarraram em Bernie Ecclestone. O Presidente da FOCA queria inviabilizar o anel externo e assim acabar com qualquer possibilidade de, com o sucesso de Emerson Fittipaldi e o crescimento de popularidade da Fórmula Indy no Brasil e no mundo, o temor de que Interlagos viesse a receber uma corrida da categoria no anel externo era real. A ponto de, nos contratos da FOCA e depois da FOM para a realização do GP Brasil de Fórmula 1 havia o “impedimento” de realização de corridas fa Fórmula Indy em Interlagos.

 

Ecclestone arranjou um "capataz" e um aliado para mutilar um dos melhores autódromos do mundo.

 

Para inviabilizar o anel externo, Bernie Ecclestone “contratou um capataz de obra”. Na época, para mutilar o melhor autódromo do país o piloto que era o atual “campeão dos brasileiros”, o queridinho da torcida e alguém com uma vaidade do tamanho da sua competência ao volante. E assim nasceu a inicial do cidadão logo depois da saída dos boxes, ligando o anel externo à curva do sol. O resto todo mundo já sabe.

 

O Barão Wilson Fittipaldi, em entrevista dada para nós, mostrou que não perdoava o piloto brasileiro por ter apoiado esta iniciativa criminosa de Bernie Ecclestone. Durante a execução das obras, midiático como ele sempre foi ao longo de sua carreira, até “pilotando trator” ele se deixou fotografar. Segundo Chico Rosa, o custo da obra aumentou absurdamente para custear as grandes movimentações e compactação de terras para se poder construir a curva após a largada.

 

 

Hoje nós temos um grupo de pessoas lutando bravamente para que o que sobrou do mítico Autódromo de Interlagos não desapareça sob uma canetada de pessoas com interesses escusos e que querem fazer do autódromo que ainda tem contrato para receber a Fórmula 1 até 2020, além das categorias nacionais e regionais. Espero que estas pessoas, talvez algum deles seja o responsável pelo desenho/foto que recebi e possa fazer algo melhor, usando a bandeira do Brasil como fundo. Afinal, Interlagos é do Brasil, não apenas de São Paulo.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva