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Precisamos de uma nova corrida à velocidade PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 20 March 2018 16:26

Caso não saibam, o primeiro carro a alcançar os 100 km/hora era elétrico. Chamava-se “Jamais Contente” e era guiado pelo piloto belga Camile Jenatzy, em 1899. A ideia de um recorde de velocidade, de um carro que fizesse um troço de um quilómetro, quer parado, quer lançado – ou seja, partindo antes e começar a contar quando o carro estivesse em velocidade de cruzeiro – sempre fascinou o ser humano desde que foi inventado o automóvel. E uma competição entre marcas ou pilotos para ser que máquina ou piloto era o mais veloz sempre atraiu pessoas e marcas. E até países, que sempre viram isso como forma de mostrar que a sua tecnologia era melhor do que a do vizinho.

 

Hoje em dia, o recorde de velocidade anda pelo “Mach 2”, e pode-se dar a volta ao mundo em pouco mais de hora e meia, se for para o espaço. Mas o que é interessante, nestes dias em que o século XXI caminha para o final da sua segunda década, é que nos aproximamos de uma revolução que vai mudar a maneira como encaramos os automóveis. Iremos trocar os carros a combustão interna pelos elétricos, ao mesmo tempo que a condução autónoma nos irá facilitar a vida em termos de trânsito e de propriedade. Há quem preveja até que deixaremos de ser proprietários e usuários exclusivos do nosso automóvel e acabaremos por partilhar um para nosso usufruto profissional.

 

Mas o que quero falar hoje é outra coisa, o universo dos supercarros. E como isso poderá impulsionar a tecnologia num determinado rumo.

 

 

Há cerca de uma década, surgiu o Bugatti Veyron, o primeiro supercarro a passar a barreira dos 400 km/hora. Foi o primeiro carro a ter um motor de mil cavalos, com turbo e pneus especiais para aguentar as altas velocidades que ele iria alcançar. Ficou famosa a tentativa de James May, então no Top Gear, de alcançar os 430 km/hora em Ehra-Lessen, o circuito de testes do grupo VAG na Alemanha. E nessa altura, falávamos de um motor a combustão a alcançar o limite.

 

 

Passado esse tempo, surgiram dezenas de supercarros, de diferentes marcas, mas ao mesmo tempo que isso acontecia, surgia a tecnologia para os motores eletricos, e graças a modelos como a Tesla, descobríamos que a electricidade tinha mais um trufo em relação aos motores a combustão interna (MCI). Para além do barulho que (não) faziam, o torque que tinham logo desde o momento em que aceleravam prendia o condutor e os passageiros à cadeira. Literalmente. E claro, passou a ser comum ver nos "dragstrips" americanos um Tesla Model S a comer ao pequeno-almoço Mustangs, Corvettes e Camaros, tuda uma panóplia de “muscle cars”, como que a dizer aos proprietários dos MCI's que os seus dias estavam contados.

 

 

No final do ano passado, a Koenigssegg meteu um Agera RS ao estado do Nevada e faz 458 km/hora num troço de estrada fechado ao público, batendo o recorde de velocidade de um veículo de produção. Falamos de um carro com quase 1500 cavalos de potência, um MCI. Mas isso foi feito numa altura em que já se sabia que a Tesla irá lançar o Roadster de segunda geração, que prometem que fará 0-100 em 1,9 segundos, algo quase impossível de alcançar por parte dos supercarros a gasolina. E como sabemos o que fazem os Tesla Model S, imagino o que fará um carro desportivo elétrico.

 

E neste mês, no Salão Automóvel de Genebra, a Rimac, uma pequena construtora sediada na cidade croata de Zagreb, lançou o seu Concept Two, que anuncia rendimentos a rondar os 1500 cavalos, gerado por quatro pequenos motores elétricos em cada uma das suas rodas, providenciando uma aceleração de 0-100 em 1,85 segundos. Velocidade quase instantânea, capaz de nos fazer revirar os olhos e agarrar-nos ao lugar.

 

 

E todas essas marcas querem ir ao Nurburgring Nordschleife para mostrar que o meu carro é mais veloz do que o teu no "Inferno Verde", a e Mercedes até quer pegar no seu supercarro para ver se bate o mítico recorde de 6.11 minutos estabelecido em 1983 pelo Stefan Bellof, no Porsche 962. É muito bom ver tudo isso, mas... e os velhos recordes de velocidade? No meio disto tudo, não vi nada até agora que indicasse que queriam bater o recorde da Koeniggsegg de ser o supercarro de estrada mais veloz do mundo. E isso também é importante, especialmente para recuperar um recorde que já foi seu: um elétrico voltar a ser o mais veloz do mundo, algo que já aconteceu há quase 120 anos.

 

Creio que isso seria o palco ideal para um carro elétrico mostrar o que vale. Os MCI's estão a chegar ao seu limite, algo que foi visto há mais de 70 anos na aviação, quando se mudou dos motores a pistão, supercomprimidos durante a II Guerra - por causa disso, deu-se o salto dos 750 para os 1500 cavalos - para os motores a jato. Aqui não se passa para o jato, mas anda-se lá perto. Existem vantagens mais do que óbvias em relação ao motor a combustão, quer em termos de torque, quer em termos de peso. Já está mais do que provado que esses carros são deixados para trás, falta ver um desses carros a tentar um recorde de velocidade. Creio até que está aqui a primeira grande oportunidade de tentar quebrar a barreira dos 500 km/hora.

 

 

Esse é o desafio que marcas como a Rimac, Tesla ou outro que está a tentar a sua sorte no domínio dos carros elétricos deveriam abraçar, mais do que dar uma voltinha no Nordschleife e baixar o tempo para o carro de produção mais veloz do mundo, por muito desafiador que seja. Precisamos de ver um desafio desse tipo, porque tal como acontecia no passado, capta a atenção dos “petrolheads”. E até poderá dar uma sepultura digna aos carros de combustão, que todos sabemos que terá os dias contados.

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira

 


Last Updated ( Tuesday, 20 March 2018 16:44 )