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A angústia de Valentino PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 06 March 2018 21:49

Olá Fãs do automobilismo,

 

Desde que eu comecei a minha vida como colunista no Site dos Nobres do Grid em 2010, sempre usei esta saudação para meus queridos leitores, apesar de, há alguns anos, ter apresentado colunas com pilotos do motociclismo.

 

Digam-me se eu estiver errada: todo fã de automobilismo, raras exceções, são fãs de motociclismo e não perdem uma corrida da Moto GP e suas categorias-satélite. O contrário é que eu tenho sérias dúvidas pela diferença da injeção de adrenalina despejada em cada curva sobre duas rodas.

 

Acho o motociclismo simplesmente fascinante e ter alguns pilotos da Moto GP e Superbike entre meus pacientes é algo que muito me orgulha, pelo reconhecimento ao meu trabalho e por poder conhecer de perto o que é esta opção de vida que – mais do que qualquer outra – é um verdadeiro desafio à morte sobre duas rodas.

 

Não são nada incomuns as quedas, as fraturas e as cirurgias corretivas para colocação de placas, pinos, hastes e toda uma quantidade enorme de metal que por muito tempo fiquei imaginando como seria passar num detector de metais e que hoje eu sei bem como é porque eles me contam como até se divertem com os seguranças dos aeroportos.

 

Devido a este tipo de “característica da profissão”, a longevidade nas pistas não é algo recorrente. Pelo contrário, a carreira do piloto de motovelocidade começa muito cedo, ainda na adolescência, e também costuma entrar cedo em declínio e eles se retiram, com poucos passando dos 30 anos, pelo menos correndo numa categoria como a Moto GP. A Superbike é menos exigente e acaba sendo um caminho para os que não conseguem parar tão facilmente.

 

 

Como toda regra tem exceção neste mundo, o maior piloto de motociclismo que pude ver pilotar completou em fevereiro passado 39 anos e continua com a disposição de um principiante, reinventando-se a cada ano, sempre disputando em alto nível a mais importante categoria do motociclismo mundial, arrastando multidões de fãs enlouquecidos aos autódromos e desafiando jovens que poderiam ser seus filhos. Muitos deles, cresceram tendo-o como o ídolo das pistas.

 

Depois do conturbado final da temporada de 2015, onde ele e Mark Marquez extrapolaram o bom senso e quase se agrediram com as motos na pista, Valentino vem enfrentando problemas com o desempenho da sua Yamaha e não tem conseguido manter-se na luta pelo décimo título mundial, o oitavo na categoria principal. E este ano, a luta, aparentemente, está se assemelhando aos anos anteriores.

 

 

Valentino veio ao meu consultório para sua sessão regular após os testes no Qatar e na Malásia e a expressão do seu rosto não era das mais difíceis de ser entendida, apesar de seu esforço em tentar passar outra expressão com seu sorriso, brincadeiras e aquele sotaque carregadíssimo em seu inglês que as vezes preciso me controlar para não rir.

 

O motivo da tensão e desconforto em seus traços era ligada à performance da Yamaha nos testes coletivos da pré-temporada 2018. Desde as primeiras idas para pista na Malásia, mesmo confiante na escolha da marca japonesa usar o chassi de 2016 como base para a M1 deste ano, ele não estava satisfeito e, desta feita, não era algo que estava em suas mãos.

 

 

O novo software unificado da Magneti Marelli não vem respondendo para a Yamaha e naqueles dias todas as Ducati, além da Honda de fábrica eram melhores em aceleração que as motos da sua equipe. Certamente por estarem mais na frente em acerto de eletrônica e se não resolvermos agora, não estou otimista em resolver nas primeiras corridas se não resolverem este problema agora, na pré-temporada, as coisas ficarão difíceis já nas primeiras corridas.

 

Pior que isso, a evolução apresentada pela Yamaha em relação a performance do Qatar não foi suficiente para diminuir a preocupação dentro do time de fábrica. Ao contrário do que foi analisado nos testes da Malásia, no circuito do oriente médio a Yamaha estava com dificuldade no entendimento entre a moto, o pneu e o asfalto. Contudo, Valentino acredita que melhorando a resposta do módulo de eletrônica, o comportamento da moto vai melhorar.

 

 

Valentino tem se reinventado ao longo dos anos para conseguir se manter competitivo e derrotar seus adversários nas quase duas décadas de categoria principal, mas seu último título foi em 2009 e ele sabe que, mais do que para os seus adversários (apesar de não parecer lógico dizer isso), os anos tem passado mais rápido e pesado mais sobre seus ombros do que para os seus adversários. Marquez, Lorenzo, Viñalez são todos bem mais jovens que ele, mas ainda assim, Valentino impõe respeito.

 

A questão que tenho trabalhado com ele desde o ano passado é a transição. Valentino é bastante consciente e sabe que não poderá continuar para sempre, mas não esconde de ninguém o desejo de despedir-se com um título, mas cada vez mais ele vê este desejo mais distante e sem a Yamaha encontrando uma forma de dar para ele uma moto no mesmo padrão de competitividade das Honda e Ducati, o desafio fica cada vez maior.

 

 

Neste trabalho da transição, uma das coisas que Valentino vem fazendo é a formação de jovens pilotos e a montagem de uma equipe privada. Ele, que é dono da VR46, equipe que disputou a Moto 2 em 2017 e um de seus pilotos, o italiano Francesco Bagnaia, terminou a temporada em 5º lugar, mostrando-se um time promissor para, no futuro, ser a sua continuidade no mundo do motociclismo de forma profissional e competitiva.

 

Esta transição, cada vez mais próxima, é o meu maior desafio no trabalho que venho fazendo com Valentino. Sinto-me ziguezagueando as curvas de um circuito, a toda velocidade, bailando de um lado para o outro sobre a moto e sem direito algum de cair!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares