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Entrevista: Carlos Col PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 20 February 2018 20:55

Era uma vez um engenheiro mecânico que sempre gostou de automobilismo que um dia, tendo sair para comprar um motor para um barco acabou por comprar um carro de corridas!

 

Carlos Col, esse paulistano, casado há mais de 40 anos e pai de dois filhos já formados (mas não pilotos) tinha uma indústria de máquinas agrícolas, mas a paixão pela velocidade fez com que, ao invés da água, foi para a pista, correr no paulista de Turismo e posteriormente na Stock Car Light, categoria onde sagrou-se campeão brasileiro no ano de 1993.

 

 

Destacou-se dentro e fora das pistas, com suas ideias sobre gestão de automobilismo e visão do que a categoria poderia alcançar. Tornou-se um líder na categoria e em 1995 foi fundada a VICAR Promoções, empresa que começou a gerenciar e promover a categoria, alavancando-a para um padrão de profissionalismo exemplar.

 

Em torno da categoria principal outras nasceram, foram aperfeiçoadas, com a VICAR vindo a tornar-se a principal promotora de eventos do esporte a motor do país.

 

Sucesso alcançado, Carlos Col negociou a venda da empresa que criou e posteriormente deixou o conselho de administração e partiu para projetos na sua área de formação, a engenharia... mas quando a paixão pulsa nas veias é mais forte, é difícil ficar longe e quando se é uma referência, sua opinião sempre será consultada. Assim, Carlos Col tornou-se consultor de equipes, associações, outras categorias.

 

Para 2018 ele tem como desafios trazer de volta aos dias de glória uma categoria nacional de caminhões, que teve na sua antecessora a categoria mais popular do país, mais até que a Stock Car, e fazer com que uma categoria monomarca sobreviva e se fortaleça mesmo diante do severo corte financeiro de suporte dado pela montadora.

 

Conversamos com este incansável empresário, visionário e personagem dos mais importantes no automobilismo brasileiro sobre vida, gestão, perspectivas e, porque não, automobilismo.

 

NdG: Você foi piloto da Stock Car antes de ser o promotor da categoria, mas tem uma passagem da sua vida como piloto no kart que poucas pessoas sabem... dá prá contar aos nossos leitores?

 

Carlos Col: Eu quis fazer engenharia mecânica para trabalhar na indústria automobilística. Automobilismo sempre foi uma paixão. Por essas coisas da vida eu segui em outra direção, mas quando pude, comprei um kart e durante um ano fui companheiro de equipe do Ayrton Senna quando ele ainda estava começando no kart, em 1975/1976. É uma passagem da minha vida que guardo com muito carinho. Foi um privilégio muito grande e que, obviamente, marcou a história da minha vida. Em 1985 eu comprei um opala para correr o campeonato paulista, onde corri alguns anos e fui campeão estadual. Eu fui comprar um motor que eu queria, um motor Chevrolet 6 cilindros, preparado e fui parar numa equipe de corridas. Comprei o carro!

 

NdG: Foi aí então que você “tomou gosto pela coisa” e decidiu alçar voos maiores?

 

Carlos Col: Sim, no início dos anos 90 eu fui chamado para disputar o campeonato da ‘Stock Light’ e acabei eu fazendo o regulamento da categoria e acabei sendo o primeiro campeão brasileiro.

 

NdG: Você chegou numa categoria e foi logo fazendo o regulamento? Como é que você via o automobilismo e como é que os pilotos e chefes de equipe te viam na época?

 

Ter sido companheiro de equipe de Ayrton Senna por um ano foi algo que vou ter sempre comigo na memória.

 

Carlos Col: Quando me convidaram para correr na categoria eu disse que não iria porque não era um piloto profissional, não tinha acesso aos motores com a potência que as equipes mais competitivas tinham e que não ia lá pra não ter chances. Então me sugeriram que eu fizesse um regulamento que desse chance a todos os participantes, que todos tivessem meios iguais. Com essa possibilidade e a amizade com os pilotos que corriam o campeonato paulista eu fiz a proposta, preparei o regulamento e fomos juntos disputar o campeonato, não apenas eu. Bastaram 3 ou 4 corridas para que a categoria ‘light’ tivesse um grid maior do que a categoria principal. Foi um crescimento muito rápido.

 

NdG: Nessa época você tinha sua fonte de renda, seu negócio, a indústria de máquinas agrícolas para custear sua vida de piloto. Isso abriu de alguma forma seus olhos para buscar mais viabilidade econômica para o automobilismo?

 

Carlos Col: Sim, mas eu buscava patrocínios como todo piloto busca para poder custear a equipe e a preparação do carro. Eu sempre corri patrocinado, não deixava o automobilismo comprometer meu trabalho.

 

NdG: Antes de criar a VICAR você consolidou uma liderança perante os pilotos e equipes. Como se deu este processo?

 

Carlos Col: No final de 1992 eu escrevi o regulamento que utilizamos em 1993, ano que eu fui campeão e daí fui correr na categoria principal em 1994/95. Foi em 1995 que foi criada a associação de pilotos da Stock Car pelo Wilsinho Fittipaldi e ele me convidou para da diretoria e depois ele saiu e eu passei a gerenciar a associação. No final de 1998 quando a GM anunciou que sairia do evento, para 1999 eu assumi como promotor do evento. Mas a VICAR já existia, tinha sido fundada em 1995, quando eu tinha a minha equipe e eu usava para ter as relações com os patrocinadores. Como a empresa já existia, ela passou a ser então a promotora da Stock Car em 1999.

 

NdG: Quando você saiu de casa para comprar o motor para o barco nem de longe imaginava que tudo isso iria acontecer, não?

 

Carlos Col: Obviamente que não, mas o destino acabou me levando a isso e tudo alimentado pela minha paixão desde criança pelo automobilismo. Na verdade, isso mudou a minha vida. Para poder abraçar de forma correta esta nova vida como promotor de eventos de automobilismo eu tive que fazer uma escolha: Eu abri mão da minha indústria, um negócio que eu tinha havia 25 anos, para me dedicar integralmente ao automobilismo e ao projeto de renovação da Stock Car.

 

NdG: Quando um piloto entra numa seara dessas e parte para promover um campeonato de automobilismo, como isso foi visto na época pelo braço político do esporte: a CBA e as federações?

 

Eu abri mão da minha vida profissional, vendi minha indústria para poder me dedicar inteiramente a vida como promotor.

 

Carlos Col: Na verdade a CBA e as federações são carentes de profissionais que façam este papel de promotor. Então isso foi visto de forma positiva e eu sempre tive um relacionamento muito bom com todos e com isso a gente conseguiu construir este trabalho.

 

NdG: A história da Stock Car tem algumas idas e vindas da GM em termos de nível de envolvimento com a categoria. Como despertar o interesse de uma montadora por automobilismo e vê-la envolvida num projeto de longo prazo, algo que vemos acontecer em diversos países, mas não vemos aqui no Brasil?

 

Carlos Col: A GM, que deixou a categoria em 1998, mas que conseguimos trazer de volta, de uma outra forma, em 1999, ela tem se mantido parceira da categoria até hoje. Comigo não teve períodos de idas e vindas, teve antes. Em 2010 estruturamos a Copa Petrobras de Marcas e Pilotos, onde no primeiro ano tivemos 5 montadoras (GM, Ford, Honda, Toyota e Mitsubishi), conseguindo reativar a ligação das montadoras com o automobilismo. No Brasil a tradição é pequena da participação delas, por diversos motivos. Eu acredito que é muito mais uma falha nossa, do automobilismo, do que das montadoras. Nós é que, ao longo da história, trabalhamos mal este relacionamento com as montadoras.

 

NdG: Desculpe, mas precisamos discordar. Nos anos 60, a geração dos Nobres do Grid corria com forte apoio das fábricas da época como a Vemag, Willys, Simca e mesmo pequenos construtores como a Dacon, Uirapurú foram para as pistas...

 

Carlos Col: Isso morreu em 1994, quando acabou a Copa Shell de Marcas. Até ali ainda havia um envolvimento das montadoras de forma mais direta. Contudo, aquilo foi mal gerido e houve uma situação que as montadoras brigavam pelo regulamento e isso foi mal gerido pelas equipes e organizadores. Por isso que eu digo que a culpa é do automobilismo e não das montadoras. Obviamente é preciso administrar os interesses para que todos fiquem bem atendidos. Outra coisa importante é que, quando uma montadora abre suas portas para uma categoria ou uma equipe é preciso se tratar isso com moderação e houve muitos casos de abuso desta relação. Coisas do tipo: iam lá na montadora buscar peças que não eram necessárias, peças que foram revendidas no mercado, uma relação inadequada e isso foi fazendo com que as montadoras fossem se aborrecendo e se afastando do automobilismo.

 

NdG: Durante os seus anos como promotor da VICAR, que reunia a categoria com maior visibilidade do país e outras como categorias satélite, qual eram seus maiores desafios?

 

O afastamento das montadoras do caso do autmombilismo brasileiro é muito mais uma falha nossa.

 

Carlos Col: Os desafios de um evento como cresceu o evento da Stock Car são muitos e você não pode deixar de dar atenção a nenhum.  É preciso fazer com que a organização do evento funcione de forma efetiva, tem que buscar contratos de patrocínio para financiar o evento, tem que ter uma boa parceria com as mídias de divulgação, tem que cuidar bem da parte técnica e do equilíbrio da competição entre todas as equipes e pilotos, cuidar para que o custo da categoria não saia fora da realidade... e o somatório de todos estes pontos é que fazem a relação para se ter ou não um resultado positivo.

 

NdG: O início da Stock Car tinha os carros de rua (os Opalas, na época), como seus carros. Na sua gestão passou-se a ter carros construídos e sobre eles a colocação de uma “bolha” de fibra de vidro com a estética próxima a de um carro de rua. Como foi feita esta transição e se estabeleceu a parceria com a JL?

 

Carlos Col: Se vocês me permitem um ajuste, o que há é um chassi tubular de competição com uma carroceria de fibra de vidro reproduzindo as linhas de cada carro, que chegamos a ter quatro projetos distintos por alguns anos. Esta estratégia foi estabelecida para que não houvesse a necessidade de se fazer o investimento no desenvolvimento dos carros em si para competição, o que gera um budget muito aberto e nosso plano era confinar este custo e o conceito apresentado na época foi bem aceito, tanto pela GM como pelas outras que vieram a tomar parte no evento.

 

NdG: Tendo uma trajetória de sucesso como a da VICAR, que atraiu pilotos que correram no exterior, na F1, Indy e outras categorias e com potencial de crescimento, porquê vender a VICAR?

 

Carlos Col: Foi uma questão de projeto de vida. Eu estou com 63 anos e tinha planejado me aposentar aos 60 anos. Eu já tinha vendido em 2005 uma parte da empresa, mas segui sendo o presidente, acionista e dirigindo a companhia, mas havia em contrato a previsão de depois de 6 ou 7 anos eu vender o restante e promover uma transição. Portanto, foi uma questão pessoal e familiar.

 

NdG: Então o plano era “virar a página” e mudar de vida, longe do automobilismo?

 

Carlos Col: Era. E eu fiquei longe, sendo só um fã e assistindo corridas por 5 anos, criei uma nova empresa, a +Brasil, em Indaiatuba, mas eu fui procurado pelos chefe de equipe da Stock Car, que criaram uma associação e pediram que eu desse uma consultoria para controlar custos, gerenciar o relacionamento com os ‘players’ do evento e eu não tive como recusar.

 

NdG: Há uma carência nesta área para que se abra espaço para consultores no automobilismo brasileiro em geral?Seja para pilotos, equipes, promotores... há um vácuo?

 

Quando vendi a VICAR tinha o plano de me aposentar aos 60 anos, mas fui os chefes de equipeme pediram consultoria.

 

Carlos Col: Um vácuo eu não diria, mas existe uma carência na parte das equipes de maior envolvimento de engenharia e gestão. Foi nisso que o trabalho se focou e consegui ajudar as equipes da Stock Car a evoluírem neste sentido. Em outras categorias há uma carência maior, para organizar eventos existem boas empresas organizando e umas vão aprendendo com as outras e vão surgindo novos empresários interessados em ingressar nessa atividade, que não é fácil. Os desafios são muito grandes e o maior deles é buscar recursos suficientes para promover um campeonato e o custo é muito alto. Sem recursos fica-se muito limitado.

 

NdG: Nos seus últimos anos à frente da Stock Car a VICAR e a F. Truck levavam multidões aos autódromos e disputavam datas entre si. Como era, se havia, sua relação com Aurélio Batista Felix?

 

Carlos Col: Sempre foi uma coisa distante, não nos conhecíamos pessoalmente. Havia da minha parte um respeito muito grande ao trabalho que ele fazia e todo o seu empreendedorismo, visão e capacidade de trabalho, mas eu só vim a ter um pouco mais de contato com ele pouco tempo antes dele falecer. Ele esteve no meu escritório, encontramos e conversamos umas duas vezes sobre algumas possibilidades, mas pouco tempo depois ele faleceu.

 

NdG: E com a D. Neusa?

 

Carlos Col: Eu tive um contato com ela, buscando uma aproximação e fui muito bem recebido, conversamos sobre algumas coisas mas não houve evolução nas conversas por parte dela.

 

NdG: Nessas voltas que o mundo dá estamos diante de Carlos Col, agora promotor da Copa Truck, principal categoria de competição de caminhões no país. Como foi esse processo até chegarmos a este retorno seu ao cenário como promotor de eventos?

 

Carlos Col: Foi uma mistura entre acaso e circunstâncias. As equipes já vinham me procurando a mais de um ano para termos uma reunião e eu jamais aceitei em respeito a D. Neusa, a família e a todo o histórico de ter sido promotor de outra categoria. Varias vezes eles me buscaram e eu sempre recusei o contato até que em 2017 a grande maioria das equipes não se inscreveram para o campeonato, fizeram uma nota à imprensa dizendo seus motivos e depois disso eu aceitei um convite para um almoço com um grupo que pediu que eu desse uma consultoria a eles estavam tentando montar um projeto, que não poderia ser um campeonato, porque o campeonato brasileiro pode ser só um, e eles queriam fazer algumas provas regionais. Eu aceitei e durante 2017 fiz este trabalho de consultoria para eles, até que mais para o final do ano, a pedido deles, eu passei a negociar com a CBA, uma vez que o contrato de uma categoria de caminhões ficou vago, eu apresentei a proposta para ser o promotor da Copa Truck como evento nacional, como campeonato brasileiro, a partir de 2018.

 

NdG: Como você vê o desafio de fazer a categoria de caminhões, agora a Copa Truck, recuperar o interesse do público que havia há alguns anos e voltar a ser o sucesso de lotação dos autódromos e audiência na TV?

 

Eu tinha muito respeito pelo trabalho e pelo empreendedorismo do Aurélio Batista Felix.

 

Carlos Col: Tão grande quanto um caminhão!

 

NdG: O seu nome é extremamente respeitado em todo meio do automobilismo no país, a ponto de ter sido ventilada uma candidatura sua à presidência da CBA. Como você vê este meio político e como ele “absorveria” alguém com a sua mentalidade?

 

Carlos Col: Talvez não absorvesse e por isso eu não me candidatasse, porque ou se faria uma coisa nos moldes que eu acredito ser a forma correta de se fazer ou eu não aceitaria ser candidato. Mas eu nunca tive aspiração nenhuma de ser candidato ou vir a ser o presidente da CBA. Inclusive chegaram a noticiar que eu teria me desligado da VICAR para ser candidato a presidência da CBA e isso não era verdade. Esse nunca foi meu objetivo e continua não sendo meu objetivo.

 

NdG: Nossos vizinhos argentinos tem atraído eventos internacionais como o Dakar, a MotoGP e o WTCC, melhorando seus autódromos e se tornando uma opção interessante. O Brasil poderia vir a também criar meios para ser um destino para outras categorias internacionais?

 

Carlos Col: Eu cheguei a ser contatado por duas categorias mundiais, que eu prefiro não revelar os nomes por questões negociais, mas que foram contatos recentes, nos últimos dois anos mas eu acho que isso é algo de pontual e não é disso que o automobilismo brasileiro está precisando. O que o automobilismo brasileiro precisa é de base, crescer na sua base, aumentar a base da pirâmide.

 

NdG: E como fazer isso?

 

Carlos Col: O problema é que não existe planejamento para se fazer isso e a CBA, que deveria ser o fomentador do automobilismo brasileiro, que é uma das três funções da confederação, além de regulamentar e fiscalizar as atividades do automobilismo no Brasil, como está no seu estatuto. Fomentar ela não faz, homologar ela faz bem, porque bate o carimbo e recebe a taxa correspondente e fiscalizar ela faz mal.

 

NdG: Mudar este cenário é possível, como?

 

Carlos Col: Estou tentando fazer algo, ajudando o presidente Waldner Bernardo que foi eleito no início de 2017 e me apresentou uma visão mais aberta, menos politizada, mais voltada a uma visão de gestão mais moderna, então eu acho que a crítica tem que ser responsável. Não temos só que atirar pedras. Eu continuo criticando a CBA apesar de estar apoiando a gestão dele e tenho me colocado à disposição de tudo que ele possa precisar. Eu acho que em todo o automobilismo, as pessoas que são formadoras de opinião ou que tenham relevância dentro do processo agissem assim, talvez pudéssemos construir algo diferente, já que existe uma porta aberta em não existindo, como era nas gestões anteriores, não adiantava nada, evidentemente.

 

NdG: Seu plano de aposentadoria aos 60 anos ficou para trás há três anos. Estamos diante de um futuro Bernie Ecclestone nacional?

 

A CBA tem 3 missões em seu estatuto, mas ela não fomenta o automobilismo, fizcaliza mal e bem ela apenas homologa.

 

Carlos Col: É, eu fui obrigado a rever um pouquinho os meus planos e como estou com 63, estou prorrogando a minha aposentadoria para quando eu fizer 70.

 

NdG: Então são 7 anos para preparar um sucessor, um discípulo. Temos uma pessoa que possa ser preparada para dar seguimento neste seu trabalho?

 

Carlos Col: Existem pessoas inteligentes, bem preparadas, dispostas ao trabalho, mas não é o momento de se citar nenhum nome. Vamos dar tempo ao tempo e ver como as coisas andam.

 
Last Updated ( Tuesday, 20 February 2018 21:21 )