Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
O teorema de Pascal PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 11 December 2017 19:32

Olá fãs do automobilismo,

 

Uma das épocas mais complicadas no meu trabalho aqui no consultório é o período entre uma temporada e outra. O grande desafio é fazer o processo de reconstrução psicológica de muitos pacientes que não conseguiram atingir suas expectativas e que se sentem frustrados por isso.

 

Os piores casos, naturalmente, são os daqueles que ale da frustração pagam o alto preço da cobrança por parte de seus financiadores, sejam estes os programas fé formação de pilotos, investimento de montadoras, patrocinadores corporativos e/ou individuais, sempre esperando resultados, exposição, retorno.

 

Entre os casos deste período o que tem me inspirado mais preocupação é o de Pascal Wehrlein. Piloto preparado para ser o grande nome do automobilismo alemão da nova geração, forjado na Mercedes Benz para vir a ocupar um lugar de piloto titular na equipe de Fórmula 1, mas que após alguns anos sem conseguir projetar-se como esperado, terminou o ano sem perspectivas na categoria e com poucas opções fora dela.

 

 

Pascal veio para uma de suas sessões regulares na sexta-feira após o encerramento da temporada com o GP de Abu Dhabi. A expressão do seu rosto traduzia até para quem não é profissional da área o tamanho da decepção com tudo aquilo que ele estava vivenciando naquele momento e a angústia por não estar vendo muitas perspectivas a curto prazo para encontrar um cockpit para correr no próximo ano.

 

É muito comum criarmos expectativas sempre que estamos em um projeto ou querendo obter algum resultado de algo que esperamos. A espera do resultado, do que quer que seja, sempre gera ansiedade e expectativa. A maioria de nós sempre espera que certas coisas aconteçam de certa maneira. É muito importante, desde cedo, aprender a lidar com as expectativas e saber administrá-las, de modo assertivo, para que assim não comprometam nossos resultados e nossa saúde emocional. Digo isso porque o excesso de expectativa traz à tona uma incapacidade em lidar com situações que fogem ao nosso controle, e esta é uma habilidade que faz toda diferença em nossa vida.

 

 

Durante quase 10 minutos Pascal ficou deitado no meu Divã completamente inerte, calado. Nem parecia respirar. Talvez, psicologicamente falando, ele nem estivesse ali, mas em outro lugar, outra dimensão. Então ele “retornou” e começou a falar sobre como foi este angustiante final de ano e de como, apesar de seus esforços, não conseguia fazer qualquer coisa que pudesse reverter a espiral negativa na qual sua carreira na Fórmula 1 mergulhou.

 

Antes de chegar à Fórmula 1, colocado na equipe Manor pela Mercedes, Pascal protagonizou uma conquista espetacular do campeonato alemão de carros de turismo, o DTM, sendo o piloto mais jovem a conquistar o título em um grid repleto de pilotos muito experientes. Neste mesmo período a equipe começou a projeta-lo como futuro piloto da equipe de Fórmula 1, tendo ele participado de alguns testes de pista ao lado dos então titulares da equipe, Lewis Hamilton e Nico Rosberg.

 

 

Contudo, antes de ter obtido o sucesso que o alavancou na Mercedes e no DTM, Pascal disputou o Campeonato Europeu de F3 em 2012, onde obteve uma vitória, foi superado pelo companheiro de equipe, o sueco Felix Rosenquist e terminou o campeonato em quarto lugar. No ano seguinte, disputou apenas a primeira rodada tripla, em Monza, mas depois foi para o DTM, onde pareceu se adaptar melhor à carros carenados do que os monopostos.

 

Com a Manor recebendo motores Mercedes para a temporada de 2016, Pascal foi colocado na equipe para adquirir experiência de corrida na categoria, mas a estrutura era tão precária que era um problema para ele não tinha como conseguir mostrar seu trabalho. Conquistar um ponto com um décimo lugar no GP da Áustria com uma Manor era praticamente uma vitória! Mas o grande “golpe” foi a chegada, no meio da temporada, de outro piloto do programa da Mercedes: Esteban Ocon.

 

 

Ao contrário de Pascal, Esteban não tinha conquistado vitórias ou mesmo grandes resultados no DTM, mas em 2014, no campeonato europeu de Fórmula 3, sagrou-se campeão derrotando Max Verstappen, hoje o grande nome da nova geração. A relação entre os dois não foi fácil e apesar de não ter marcado pontos, no final do ano de 2016, quando surgiu uma vaga na Force Índia, foi Ocon o escolhido e não Pascal. Foi um golpe duro.

 

Em 2017, na Sauber, com um motor defasado, uma equipe sem orçamento para fazer o desenvolvimento do carro, Pascal conseguiu marcar 5 pontos, quatro deles com um oitavo lugar no GP da Espanha, o melhor resultado da equipe no biênio 2016/2017. Mas com as mudanças na equipe, com a Ferrari passando a investir no time como sendo quase uma “equipe B”, com um motor atualizado e sendo a porta de entrada para novos pilotos, Pascal foi preterido mais uma vez.

 

 

Pascal tinha muitas expectativas e a Mercedes tinha muitas expectativas sobre ele também. Aceitar que as expectativas existem e que elas fazem parte do nosso dia a dia é o primeiro passo para aprender a conviver com elas e, o mais importante de tudo, sem sofrer. Isso não quer dizer que a expectativa é dominante, e que não temos controle sobre ela. Pelo contrário, aprender a gerenciar as expectativas é um exercício, e como toda habilidade, necessita ser praticada.

 

Existe uma linha na psicologia que defende a não criação de expectativas para não criar frustrações. Eu discordo desta linha. É certo que há situações que somos impotentes ou quando esperamos a atitude de alguém, mas ainda assim, se criar expectativas quando há uma série de variáveis externas e fora do nosso alcance, estar no caminho mais seguro para não se decepcionar e se frustrar é igualmente decepcionante e frustrante. As expectativas existem para nos mover, motivar, mas também há o risco delas nos destruir internamente. Encontrar o equilíbrio entre expectativa e realidade é o nosso desafio, meu e de Pascal.

 

 

Contra nós jogam o tempo e o mercado. A nosso favor, a força interior que move um campeão como ele e que ele não pode deixar morrer nas curvas dos seus pensamentos.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares