Olá fãs do automobilismo,

As vezes a gente recebe uma notícia sobre alguma coisa, algo que afeta a gente de alguma forma ou sobre um amigo ou amiga, mesmo distante que acaba mexendo com a gente, incomodando e mesmo deixando a gente para baixo. Foi o que aconteceu na última terça-feira, dia 10, quando recebi a coluna do Helinho Castroneves com seu comunicado de despedida... e no dia seguinte ele teria consulta comigo. Pensei: não vai ser fácil... e não foi!

Uma das coisas que eu mais admiro no Helinho é a sua extrema positividade. Ele está quase sempre sorrindo e em todos estes anos de terapia comigo, desde quando o consultório era lá em Cuiabá, entrar na sala de espera com aquele sorriso estampado no rosto era e é uma marca registrada. Contudo, desta feita, apesar do sorriso estar lá, o brilho não era o mesmo.

Desde criança Helinho é um piloto e um piloto dos mais competitivos. Certa vez ele me contou que viveu uma disputa tão acirrada com outro piloto nos tempos de kart que andou com um segurança para evitar problemas, tamanha era a disputa com ele, mas que, passado este momento, ele não deixou de ser competitivo e assim foi no automobilismo brasileiro, na Europa e também nos Estados Unidos, onde começou pela Indy Lights.

Focado e extremamente dedicado, esse sempre foi o perfil de Helinho nas pistas, desde criança.

Apesar da mudança, Helinho está se mostrando motivado com o novo desafio de encarar uma equipe no campeonato norte americano de endurance, o Wethertech da IMSA, e fazendo a estreia ao lado dos companheiros de Penske Juan Pablo Montoya e Simon Pagenaud, que já tinha uma boa experiência do campeonato em anos anteriores, antes de juntar-se ao time Penske.

Helinho também falou sobre os 18 anos de Penske na Fórmula Indy e mostrou que, longe de ter algum motivo para se sentir excluído, lembrou de todo o apoio que Roger Penske e toda a equipe dera ao longo do ano de 2008, quando ele passou por um dos momentos mais difíceis de sua vida com o processo contra ele por uma acusação de sonegação de impostos, o que o afastou das pistas e do noticiário esportivo.

Uma relação de 18 anos com Roger Penske na Fórmula Indy e que vai continuar no IMSA.

A forma como Helinho vem encarando esta mudança pode ser considerada positiva. O passado por vezes pode ser esmagador e igualmente castrador de uma tentativa de começar a estruturar uma nova forma de vida, ou pelo menos mudar algumas áreas de vida, no sentido de não voltar a cometer os mesmo erros e enveredar pelos mesmos comportamentos que fizeram que você chegasse onde chegou, o que não é o caso do Helinho.

Ainda que este tipo de cenário possa parecer derrotista e a avaliação da sua vida possa ser depreciativa, no reverso da medalha ela transmite uma palavra de esperança. É sempre preciso avaliar suas ações, pensamentos e atitudes que mais contribuíram para a situação em que se encontra neste momento, pode agora, na posse de nova informação fazer diferente. Tem agora a possibilidade de alinhar e mudar um conjunto de pensamentos, comportamentos e atitudes no sentido de construir uma nova forma de sentir, pensar e agir no mundo.

Apesar de estar “escalado” para as edições das 500 Milhas de Indianápolis, Helinho precisa investir no desapego do seu passado. Por outras palavras, deve olhar para trás e compreender à luz do seu entendimento na altura e do contexto que vivia que o que aconteceu teve um enquadramento legítimo, ainda que possa não ter sido benéfico para si mesmo ou para outras pessoas. No exato momento que tiver essa noção, pode decidir ser diferente, e não mais condicionar o seu futuro e bem-estar por possíveis rancores, ressentimentos ou punições a si mesmo.

Helinho "chegou chegando". Marcou a pole position na sua estreia e tem tudo para dar trabalho aos concorrentes.

O passado foi você que o viveu, mas você é mais que esses acontecimentos, você é aquele que analisa o que lhe aconteceu através da sua memória. Mas você não é só memória, também é imaginação. Imagine uma vida melhor para si, mantenha essas imagens na sua mente, faça delas o seu marco orientador. Imagine-se a ser aquilo que pretende e que esteja de acordo com a sua nova forma de estar no mundo.

O próximo passo para Helinho construir uma nova vida no IMSA é converter a sua visão num plano real e exequível, e na sua estreia no IMSA, cravando a pole position e tendo um desempenho espetacular na pista, ele mostrou que pode pensar em definir metas ambiciosas, com uma visão realista e concreta sobre o seu destino desejado. Os seus objetivos e metas são o seu mapa para chegar lá.

Na estreia em Petit Lemans, com Montoya e Pagenaud no carro, uma equipe de peso e muita quilometragem.

Os objetivos devem ser específicos, mensuráveis, alcançáveis​​, relevantes e oportunos, levando em conta que o carro vai ser dividido com outro piloto.  E acima de tudo têm de estar contextualizados com a sua própria realidade. Analise os seus objetivos de acordo com este modelo. Certamente ficarão mais claros na sua mente. Em geral, os seus objetivos não têm necessariamente que colocar uma pressão avassaladora sobre você. Na verdade, se o fizerem, eles irão ser provavelmente contraproducentes. No entanto, devem focalizá-lo na direção certa e impulsioná-lo para o destino desejado.

Em todo este processo do final de 2017 e ao longo do ano de 2018, tendo as 500 Milhas de Indianápolis requer que nossa relação, terapeuta-paciente, num objetivo exigente como construir uma nova vida, o desgaste faz-se sentir. Abalos, recuos, frustrações, angústias, erros, falhas, desmotivação, tudo isto contribui para o consumo da sua energia. É imperativo arranjar mecanismos de compensação. Sem os mecanismos de compensação você correrá enormes riscos, tal qual um atleta que treina duro e recupera pouco. Comer bem, descansar bastante e comemorar as suas vitórias é um alimento necessário para você mesmo. Helinho é um grande atleta, fisicamente falando, e agora, mentalmente, terá que ser mais forte do que nunca!

O sonho da quarta conquista das 500 Milhas de Indianápolis continua e Helinho continuará competitivo.

Helinho  tem que implementar um sistema eficaz de recuperação e motivação, como todos os bons atletas sabem fazer. Encontrando a sua forma e continuar a trabalhar. Trabalhando bem, certamente ele irá vencer mais este desafio e, quem sabe, isto culmine com a conquista da quarta vitória em Indianápolis. Trabalharemos junto nisso.

Beijos do meu Divã,

Catarina Soares