Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Sebastian: Missão impossível? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 30 September 2017 20:58

Olá fãs do automobilismo,

 

Um dos maiores desafios na vida profissional de um terapeuta é tentar buscar o equilíbrio – ou o re-equilíbrio – emocional de um dos seus pacientes após um momento de grande instabilidade vivida, especialmente quando se trata de um momento crítico.

 

O que aconteceu na largada do Grande Prêmio de Singapura, alguns dias atrás foi algo profundamente instabilizador para Sebastian Vettel e as imagens de como ele estava desorientado na hora que teve que ir dar “satisfações”, “explicações” ou sei lá o que naquele espaço reservado para entrevistas compulsórias, pouco depois do ocorrido onde em sua mente deviam estar passando milhões e milhões de coisas, com um filme se repetindo incessantemente.

 

É preciso abrir um parêntese aqui: do ponto de vista clínico, levado em conta cada situação e aquela em particular, expor meu paciente a submeter-se a uma sabatina naquele momento foi uma verdadeira tortura para o piloto e antes de tudo para o ser humano. Sabemos todos que há uma queixa generalizada – e correta – de que os pilotos da Fórmula 1 não interagem com o público e que esta interatividade precisa aumentar. Mais do que via redes sociais, afirmo. Interatividade pessoal. Olhos nos olhos, troca de sorrisos, apertos de mão, tapinha nas costas. Contudo, é preciso se respeitar um momento onde o ser humano precisa de introspecção e reflexão. Este era o momento de deixar Sebastian ou sozinho ou na companhia de seu terapeuta ou mesmo um membro da família se assim ele quisesse... mas ser feito algo que ele quisesse, ele não deveria ser “exposto” como algo que se coloca em uma vitrine.

 

 Expor um piloto a ter que lidar com a mídia após um episódio como o ocorrido em Singapura é simplesmente desumano.

 

Na sexta-feira, dia 22 de setembro, Sebastian tinha consulta comigo às 15:00. Chegou em cima do laço, algo que não é habitual de sua parte. Estampava no rosto um sorriso forçado quando cumprimentou minha secretária (ela é estudante de Psicologia aqui em San Diego e vai ser uma grande profissional). Eu já tinha terminado a sessão com Daniil, que é um outro caso de extremo cuidado. Nos cumprimentou num tom mais baixo que o normal, entrou na minha sala e deitou-se.

 

Nas sessões com Sebastian é normal eu usar de algo entre 8 a 10 minutos para faze-lo “desarmar-se”, mas desta vez foi bem diferente. Antes que eu dissesse qualquer palavra ele começou a falar e falava numa velocidade que mais parecia sua Ferrari rasgando a reta de Monza do que o paciente que vem ao meu consultório regularmente desde 2013.

 

 Sebastian expôs-se a um risco acima do necessário na largada em Singapura.

 

Sebastian questionou muito do que foi falado na imprensa, as críticas que recebeu e à certa altura falou que não era possível que ninguém parecia ter visto que ele já estava com o carro “totalmente à frente” da Red Bull de Max quando foi tocado por Kimi Raikkonen. Confesso que precisar rever a cena do acidente e acabar admitindo – de certa forma – que era verdade. No momento em que Max Verstappen e Kimi Raikkonen se tocaram, a Ferrari de Sebastian já estava, se não totalmente à frente da Red Bull, estava praticamente nesta condição, mas porque Sebastian fechou sua linha para dentro tão antes da tomada da curva 1.

 

Perguntei a Sebastian se ele teria feito algo diferente, como postergar sua mudança de trajetória para tomar a curva 1... e seguiu-se um longo silêncio. Nestas horas não há como interpretar isso como um ‘mea culpa’ e estando Sebastian envolvido na disputa direta do título, assumir aquele risco no início da corrida teria sido um erro de julgamento?

 

 O prejuízo foi enorme, mas o título ainda não está perdido, contudo isso depende muito da sua força mental e da Ferrari.

 

A Ferrari sofreu um enorme prejuízo com o resultado da corrida em Singapura, tanto na disputa pelo título do campeonato de pilotos bem como no de construtores na etapa noturna. A Mercedes conquistou 40 pontos contra nenhum dos italianos. A diferença entre Lewis e Sebastian saltou de 3 para 28 pontos e a pressão mudou completamente de lado.

 

Durante a sessão, que dura 50 minutos, o terapeuta trabalha aspectos relacionados às necessidades do paciente e busca fazer com que ele encontre seus próprios caminhos para poder se tornar uma pessoa melhor em todos os sentidos, mas é entre uma sessão e outra que os frutos destes 50 minutos precisam florescer e crescer. Neste aspecto, a atitude do paciente é vital. Caso ele “apenas” freqüente as sessões e não busque o seu crescimento interior, de nada estará valendo o tempo empreendido nas sessões e muito menos o dinheiro gasto.

 

 Revendo a cena a´pos o acidente, certamente o "filme" do que aconteceu passou milhares de vezes em sua mente.

 

Quando vocês, queridos leitores, estiverem lendo esta coluna, o Grande Prêmio da Malásia já terá sido disputado e saberemos se todo o trabalho feito com Sebastian teve resultados práticos ou não. Tendo-o como paciente há tantos anos, sei do potencial e da força psicológica que ele tem e de como ele já foi capaz de superar desafios quase impossíveis, até com menos idade, mas desta vez há uma diferença.

 

Quando estava na Red Bull e precisou conquistar uma série de vitórias para conquistar um dos seus quatro títulos (2010, no caso). Na ocasião, Sebastian tinha nas mãos o melhor equipamento em relação aos concorrentes (fosse ele seu companheiro de equipe, Mark Webber, fosse Fernando Alonso, então na Ferrari). A vantagem era dele. Apesar da Ferrari ter ‘saído na frente’ esta temporada, a Mercedes equilibrou o jogo e Lewis Hamilton tem feito a diferença dentro do cockpit, mesmo quando tudo parece estar contra ele.

 

 O desafio de Sebastian é grande, mas eu ainda não o descartaria da luta pelo título.

 

Sebastian tem dois desafios para as próximas duas semanas: o primeiro, colocar-se à frente de seu grande oponente na disputa pelo título logo nas duas provas que restam no continente asiático e assim buscar desestabilizar tanto Hamilton quanto a equipe, segundo, torcer por um problema no carro de seu oponente e espera tirar o maior proveito disso para reduzir a enorme vantagem que hoje Hamilton possui.

 

Apesar da desvantagem, em uma disputa igual, eu não descartaria Sebastian da disputa pelo título.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

 

p.s. Fechei esta coluna apenas na manhã do sábado, após o treino classificatório para o GP da Malásia. Ficou mais difícil... 

Last Updated ( Sunday, 01 October 2017 01:22 )