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Reims-Gueux PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 02 September 2009 19:54

 

 

 

A vila de Gueux é um lugarejo tranqüilo ainda nos dias de hoje, em pleno século XXI. No centro da vila, em frente a igreja vê-se o nome do lugar escrito em um pórtico. Como se não fosse suficiente este lugar ser assim tão bucólico, ele ainda é parte da famosa região de Champagne, um lugar que o nome fala por si mesmo. 

 

Ali perto, cerca de 1 Km seguindo-se para nordeste, na direção de Thillois, olhando pela janela do carro seguindo pela estrada, começa-se a avistar antigas construções nas margens do longo trecho em linha reta. 

 

 

Situação geográfica do Circuito de Reims-Gueux. Em cinza, o traçado antigo. Em preto, o traçado após 1953. 

 

Bem vindo ao circuito de Reims-Gueux! 

 

O circuito de Reims-Gueux foi o primeiro circuito com percurso fechado definido na França, em 1925, sendo o traçado determinado por estradas como a – hoje – Rota Nacional 31, que liga Reims a Soissons, a rodovia entre Thillois e Gueux e outras estradas de menor movimento. Este circuito foi, durante décadas, palco de grandes disputas de provas de curta e longa duração, envolvendo os melhores carros e motos da época, tendo sediado provas do antigo circuito de Grand Prix e posteriormente, da Fórmula 1. 

 

Durante as primeiras décadas do século XX, a região foi palco de diversos eventos aeronáuticos. e até os dias de hoje, é em Reims que acontece a famosa feira anual de aviação da França. 

 

Em 1909, foi de Reims que partiu a corrida aeronáutica para cruzar o canal da mancha. Aida hoje ocorre o festival anual de aviação. 

 

A exatos 100 anos, na semana de 22 a 29 de agosto de 1909, alguns dos principais aviadores do mundo reuniram-se na região para realizar o primeiro encontro internacional organizado, oficialmente chamado de “A Grande Semana da Aviação de Champagne”, região da França onde está a cidade de Reims. 

 

O evento incluía além de apresentações de inovações por parte dos criadores de modelos de aviões, competições de distância, altitude e velocidade de voo, distribuindo prêmios em dinheiro e troféus aos vencedores. Esta primeira competição atraiu inúmeros espectadores e também políticos e militares, certamente interessados em tirar alguma vantagem com aquele novo invento. 

 

Vinte e dois aviadores vieram para Reims participar do evento. Todos eles, exceto dois, eram franceses. Entre eles Louis Bleriot, Hubert Latham, Eugene Lefebvre e Louis Breguet. Bleriot e Latham eram experientes e rivais desde a competição para a travessia do Canal da Mancha, que teve sua partida em Reims poucas semanas antes, mas também haviam novatos como o Monsieur Ruchonnet, que havia voado pela primeira vez apenas dois dias antes. 

 

O primeiro evento automobilístico realizado na região veio a acontecer apenas em 2 de agosto de 1925, num festival que envolveu corridas com carros e motocicletas. O vencedor do então chamado Grand Prix de la Marne foi Pierre Clause, pilotando um Bignan com motor de 2 litros a uma velocidade média de 102 Km/h, feito pelo traçado original, de 7.826 metros e que formava praticamente um triângulo, com a (hoje) Avenida de la Gare, na época a CD 26, ligando Gueux de volta a Route Nationale 31 e, ao sair da NR 31, tomava-se a reta dos boxes até a vila de Gueux pela CD 27. A ligação entre as estradas secundárias era praticamente dentro da vila, com os carros passando entre Os prédios e lojas do comércio. 

 

No ano seguinte, 1926, foi realizada as primeiras 12 horas de carros esporte, vencida por François Lescot, prova que veio a se tornar muito popular em todo o continente. A prova tinha o apoio das comunidades locais, e particularmente de Raymond Roche, neto de Mary Roche Wittington, proprietária das terras onde posteriormente foram construídos os boxes e as tribunas na CD 27. 

 

 

Nestas imagens, feiras ainda nos anos 60, vê-se acima, o pórtico para sustentar a cortina para os pilotos não serem cegados pelo sol. Abaixo, a estrutura eqguida para fazer o mesmo na nova curva de Muizon, que também tinha refletores. 

 

Durante as provas em Reims-Gueux, como era originalmente chamado, o nascer do sol era um problema adicional para todos os pilotos. A curva de Thillois era a leste e o sol vinha diretamente contra o rosto dos competidores naquela que era a curva mais difícil e realizada depois da reta mais longa. Para atenuar o problema, os organizadores elaboraram uma solução insólita: Foi colocado um pórtico com uma cortina gigante após a curva para bloquear o sol! 

 

O Primeiro Grand Prix. 

 

Diversas corridas foram promovidas na segunda metade dos anos 20 por organizadores locais da província de Champagne com grande sucesso, atraindo cada vez mais público, até que em 1932, L’Automobile Club de France (AFC) decidiu por realizar naquele local o Grand Prix de France. O circuito entrava em sua fase internacional, atraindo grandes eventos e pilotos de diversos países. Neste Grand Prix de 1932, a vitória coube a Tazio Nuvolari, ao volante de uma Alfa Romeo P3, projetada por Vittorio Jano, tendo o Ás italiano percorrido os 742 Km da prova a uma média de 148,5 Km/h. 

 

Contudo, no ano seguinte o Grand Prix não foi realizado em Reims-Gueux, mas em Linas-Montlhéry, circuito próximo a Paris.  

 

Passaram-se 6 anos até que o Grand Prix de France voltasse à região de Champagne. Em seu retorno, em 1938, vieram junto os velozes bólidos alemães!As tribunas e os boxes já haviam sido em parte construídos, o Pavilhão Andre Lambert, que continua lá e foi recentemente restaurado.  

 

 

Raymond Mays, ao volante de um Talbot, em 1939, conquistou uma das poucas vitórias genuinamente francesas em Reims-Gueux. 

 

Era a fase pré guerra onde a supremacia germânica no automobilismo era comandada pela Auto Union e pela Mercedes. A marca de Stuttgart dominou a prova de 1938, com Manfred Von Brauschitsch ao volante de um W154, uma evolução do W125 Flecha de Prata, sem dúvida um dos carros mais impressionantes já projetados na história. O segundo foi Rudolf Caracciola e Hermann Lang completou o 1-2-3 da estrela prateada. Em 1939 foi a vez da Auto Union devlver o revés, com Hermann. P. Müller vencendoAo volante de um D-Type, com Georg Meier fazendo o 1-2 da marca dos anéis. 

 

A II Guerra Mundial paralisou as competições na Europa e apenas em 1947 as provas foram retomadas no circuito de Reims. O evento realizado com uma prova local, em 3 de agosto de 1947, credenciou Reims a voltar a ser a sede do Grand Prix de France em 1948.  

 

Naqueles primeiros anos – fase pré Fórmula 1 – as Alfa Romeo com motores de 1,5L turbo (modelo 158s) voavam a uma média de 193 km/h no antigo traçado. Uma velocidade inimaginável... e um tanto perigosa, visto que parte do circuito passava pelo casario... e a vila crescera um pouco. Esta velocidade atingida pelo modelo italiano era quase 5 Km/h mais rápida que a obtida pelos W154 da Mercedes antes da guerra.  

 

A Guerra da Velocidade. 

 

Uma outra guerra começava a se travar na Europa: Quem tinha o circuito mais veloz! Claro que Avus com aquela curva espetacular e suas duas longas retas eram algo fora do normal, mas entre os outros circuitos, a disputa era grande, com Silverstone, Spa-Francorchamps e Nurburgring, com o circuito belga em vantagem.  

 

Nos primeiros anos da Fórmula 1, foi Fangio quem brindou em 1950/51 com champagne na região em que esta é produzida.

 

Nos Grand Prix do final da década de 40, Louis Chiron honrou as cores da bandeira francesa ao vencer com um Talbot (Lago C39 em 1947 e um T26C em 1949) ainda nos Grand Prix. Nos dois primeiros GPS da França da Fórmula 1, Fangio estourou – literalmente – o champagne, com as vitórias de 50 e 51 (esta última dividida com Luigi Fagioli). Foram as últimas provas no traçado original da mítica pista, pois L’Automobile Club de France e a administração da região de Champagne, como se em conjunto, decidiram. 

 

Em 1952, iniciou-se a construção de novas estradas como a Bretelle (o setor sul e o norte eram ligados por uma rápida curva, que veio a receber o nome de Annie Bousquet) levando até a nova ligação com a NR 31, em Muizon, passando antes por outra curva rápida, a Hovette, em descida. A curva de Muizon era parecida com a de Thillois, só que na direção contrária e com isso, tinha o mesmo problema, só que no sentido contrário: O por do sol fazia com que os pilotos não tivessem a noção exata da aproximação da curva. Como solução, foi feita uma construção com um painel de propagandas que serviria como a antiga cortina de Thillois, , se cruzar a estrada. 

 

Completando as obras, a curva de Gueux (também chamada de curva do calvário) foi antecipada para um trevo construído fora da cidade, com sem uma freada extremamente forte, o que propiciava a elevação da média horária. 

 

 

Na projeção no mapa, é possível identificar (ver linha amarela) como o ciecuito era localizado numa área iminentemente agrícola.

 

Mesmo durante a construção, algumas provas continuaram sendo realizadas, mas a Fórmula 1 foi correr em outro circuito. O novo traçado deixou o circuito maior, com 8.347 metros. 

 

Quando a obra ficou pronta, em 1953 (alguns pequenos “ajustes” foram feitos nos anos seguintes), com o circuito passando a ter um novo traçado, o GP da França voltou a Reims (no ano da reforma, a prova foi realizada em Rouen-Les-Essarts) e com uma nova fase de disputa pelo domínio da categoria entre os italianos da Ferrari e as Flecha de Prata da Mercedes, agora o modelo W196. Contudo, no retorno a Reims, a batalha travada entre Ferrari e Maserati teve contornos épicos. A corrida foi chamada (como algumas outras antes e mais algumas depois) de “A Corrida do Século”, devido a intensa disputa entre os pilotos das equipes italianas. 

 

Em 1953, Reims-Gueux teve uma disputa tão sensacional que a prova (como tantas antes e depois) foi chamada de "A Corrida do Século". 

 

A prova teve simplesmente 12 trocas de posição entre os líderes! Se nas primeiras 30 voltas os registros trazem apenas a liderança de Foirlan Gonzáles, este dado visto de forma meramente estatístico não mostra o que aconteceu na pista.  

 

Fangio, Hawthorn, Ascari, Villoresi e Farina trocavam de posição diversas vezes durante cada uma das voltas, com Foirlan entrando neste na segunda metade da prova. Sendo a segunda metade uma magnífica aula de pilotagem conduzida por Hawthorn e Fangio. No final, Villoresi e Farina ficaram um pouco para trás mas a decisiva ultrapassagem – Hawthorn sobre Fangio – só ocorreu há 3 voltas do final, com uma diferença na linha de chegada de apenas 0,7s entre os dois e de 1,2s para Foirlan, o terceiro colocado.

 

 

 

Em 1954, Fangio não deu chances aos adversários... nem na prova nem no campeonato. Venceu 6 das 9 corridas do campeonato. 

 

Em 1954, Fangio não deixou a vitória escapar, conquistando a terceira vitória consecutiva na temporada (Indianápolis, apesar de fazer parte do campeonato, não tinha a participação dos pilotos e carros que corriam na Europa) das 6 que conquistaria até o final do certame.

 

 

Reims era sinônimo de corridas na França. 

 

Em 1955 não houve Grande Premio da França de Fórmula 1, decisão tomada devido ao enorme desastre ocorrido nas 24 horas de Le Mans que vitimou dezenas de pessoas e que levou a Mercedes a se retirar das pistas. Contudo, em 1956, com o traçado definitivamente pronto, a corrida era para ter sido marcada por uma sensacional disputa entre Peter Collins e Eugenio Castellotti. Contudo, outros fatores atuaram no cenário. 

 

Fora do que se costumava ser feito, as 12 Horas de Reims-Gueux era para fazer parte da mesma programação do GP da França, com a prova iniciando-se à meia noite e terminando ao meio dia. A extensa lista de atrações, com bandas de música, bailarinas, acrobatas, fogos de artifício e até artistas do Molin Rouge vieram de Paris. Claro que tudo isso regado a champagne... de graça! 

 

O Automóvel Clube da França fez um grande esforço para dotar o circuito de meios para que se realizasse uma prova noturna, com a instalação enormes estruturas de refletores nos principais pontos da pista, especialmente as curvas Muison e Thillois.  

 

 

Annie Bousquet era a melhor piloto francesa no pós guerra e o acidente que lhe tirou a vida acabou por "batizar" uma das curvas do circuito. 

 

A corrida começou pontualmente a meia noite e na segunda volta a Ferrari 4,5 litros de Umberto Maglioli e Pietro Carini lideravam e mantiveram a liderança por toda a noite. Contudo, por volta da 5 horas da manhã, percebeu-se que a Ferrari estava passando com os faróis apagados, o que não era permitido pelo regulamento da prova. Na parada dos boxes para a troca de pilotos o diretor de prova foi aos boxes da Ferrari e constatou também que o carro estava sendo atendido por um número superior de mecânicos do que era permitido e o carro ainda foi empurrado para voltar a prova, o que também era proibido. Não restou outra alternativa ao diretor de prova que não dar a bandeira preta e desqualificar a Ferrari da prova. Apesar de inúmeras indicações da desclassificação os italianos ignoravam os fiscais de pista e Maglioli fazia gestos obscenos para os oficiais de pista. Logicamente quando o carro parou nos boxes foi impedido de retornar e a vitória coube a dupla Stirling Moss e Peter Whitehead com um Jaguar C-Type.  

 

Todo este cenário, desde a festa durante a noite bem como a corrida de fatos inusitados até a largada para a prova da Fórmula 1 não seriam mais do que festivos e caricatos se não fosse por um detalhe: Na manhã daquele sábado, 30 de junho de 1956, viria a falecer aquela que, ao lado de Hele Nice, era considerada uma das maiores piloto da Europa: Annie Bousquet.  

 

 

 

Acima, por ângulos diferentes, a antiga "Courbe de Gueux", que passava dentro da vila, entre prédios e praças.

 

Era a mais uma prova do campeonato de carros esporte até 1500cc e Annie participava em dupla com Isabel Haskell com um Porsche 550. Na 17º volta ela saiu da pista na curva entre a parte sul e a parte norte da Bertelle e capotou várias vezes. Na opinião de Richard von Frankenberg, vencedor da corrida, ele acredita que o que causou o acidente foi um excesso de fadiga, uma vez que a piloto veio da fábrica da Porsche até Reims dirigindo o carro após a revisão, tendo chegado praticamente em cima da hora para a tomada de tempo. A curva na Bertelle recebeu o seu nome como homenagem à sua trajetória ao longo da carreira. 

 

Voltando ao evento principal, a prova da Fórmula 1, o clima nos boxes entre o final das 12 horas de Gueux e a largada do GP da França não era nada bom.  

 

Antes da largada, a indignação na ‘Scuderia Ferrari’ era total, devido a desclassificação na prova anterior. Corria o boato de que os carros de Maranello dariam apenas o número mínimo de voltas que seriam a ser dadas, exceto em caso de acidente ou quebra, e se retirariam da prova, cumprindo apenas obrigações contratuais. Contudo, na hora da largada, os quatro carros da equipe estavam alinhados no grid e a vitória, com dobradinha, coube a Peter Collins, numa eletrizante disputa com seu companheiro de equipe Eugenio Castellotti que terminou com a mínima diferença de 0.3s. Nesta corrida também é “interessante citar a participação como piloto de um homem que veio a tornar-se lenda no automobilismo... mas fora das pistas: Colin Chapman! 

 

Nos anos 50, apesar de alguns contratempos, a Ferrari foi a maior vencedora em Reims-Gueux como em 53/56/58/59.

 

Após esta prova e a tragédia em Le Mans no ano anterior, Reims tornou-se o circuito número 1 do país, apesar de que, o circuito de Sarthe (como também Le Mans era chamado) nunca ter perdido sua aura de templo do esporte a motor (nos anos 60 o circuito das 24 horas passou a ser o "Bugatti".  

 

O Grande Prêmio da França de Fórmula 1 foi sediado na região de Champangne regularmente, com algumas exceções, quando era feito em Rouen-Les-Essarts ou Clemond-Ferrand e a única de Le Mans. Ao todo foram 9 das 13 edições entre 1953 e 1966 e isso devido a idéia do Automóvel Clube Frances de estabelecer um revezamento entre Reims, Rouen-Les-Essarts, Clemond-Ferrand e Le Mans, que foi iniciado em 1964 (na verdade, em 1962 já havia uma forte pressão para um revezamento com Rouen-Les-Essarts). 

 

A década entre a segunda metade dos anos 50 e a primeira dos anos 60 foram os anos dourados das provas realizadas em circuitos que se valiam de estradas para a realização das corridas, fugindo do padrão anterior, que usava circuitos de rua nas cidades. Contudo, ainda não era o ideal. Uma das razões foi claramente a questão da segurança. Apesar de serem mais práticos e rápidos, o preço das mortes ocorridas nos graves acidentes fizeram muitos organizadores e donos de equipe repensar seus conceitos e a buscar novas alternativas: Os circuitos fechados. 

 

 

No final da década de 50, as marcas de Reims-Gueux: A morte de Luigi Musso e a única vitória de Giancarlo Baghetti. 

 

As disputas nas estradas, não só de carros como também de motos atraiam milhares de pessoas a região... mas o “preço cobrado” era alto: Em 1958, após a morte de Luigi Musso, piloto da Ferrari, na “Courbe de Gueux”, prova que marcou também a retirada de Fangio da Fórmula 1 (O Pentacampeão declarou que “precisava ter atenção aos sinais e que os sinais diziam que era hora de parar”). A prova foi vencida por Mike Hawthorn, companheiro de Musso na Ferrari, teve o seguinte comentário por parte do Comendador: “Podemos ter vencido a corrida hoje, mas a derrota da perda de um piloto, o único italiano no grid foi maior". 

 

O declínio dos circuitos de estrada. 

 

Apesar de ser considerado pelos pilotos como um grande desafio a sua perícia, Reims e outros circuitos formados por estradas começaram a perder espaço para os autódromos: conceito de pista com largura de estradas, com condições de corrida e com mais segurança.  

 

Alguns já existiam, claro, como Silverstone e Monza, mas a disseminação deste conceito foi tomando vulto na década de 60. 

 

 

A prova de 1961 foi a que levou o maior público a região, com mais de 40 mil espectadores em torno do autódromo. 

 

As corridas em Reims não pararam. As 12 horas de Gueux era uma das provas de longa duração mais importantes da Europa, mas com a saída da Fórmula 1 do circuito, boa parte do brilho e do atrativo deixou de existir. Alem do que, a França tinha como sua grande prova, as 24 horas de Le Mans. Assim, a importância de Reims foi diminuindo com o passar do tempo e o cancelamento da prova de 12 horas de 1968 comprometeu em muito a credibilidade dos organizadores locais. 

 

No ano seguinte, programada a prova de Fórmula 2 para o circuito, acabou sendo a última prova de carros de fórmula no local. Após a prova o Automóvel Clube de Champagne emitiu a seguinte nota à imprensa: “Modificações estão sendo estudadas para adequar o circuito de Reims-Gueux as novas exigências de segurança para corridas de automóvel. Estas alterações vão requerer inspeções e obras que durarão vários meses. Consequentemente o Automóvel Clube de Champagne, desejando realizar tais alterações e oferecer melhores condições aos pilotos e equipes, decidiu não organizar eventos automobilísticos no ano de 1970, reservando datas para a realização de eventos com pilotos amadores em 1971. 

 

Os trabalhos nunca foram feitos por diversas razões: Primeiro por questões financeiras... construir um pit nos moldes que eram exigidos pela Federação Internacional de Automobilismo e do Automóvel Clube da França. Seria necessário demolir o existente e fazer um totalmente novo. As curvas precisariam ter as rotatórias retiradas ou refeitas, com guias baixas e pontos para fixação de gruardrails e áreas de escape. Uma torre de cronometragem teria que ser edificada e as tribunas modernizadas.  

 

O abandono de Reims-Gueux por mais de 30 anos deixou para trás as ruínas das tribunas e do paddock, depredadas.

 

Em paralelo a isso, ainda houve o projeto de duplicação da NR 31, que comprometeria a ligação em Muison à rodovia principal. 

 

Com uma pressão cada vez maior de outros locais para sediar o GP da França de Fórmula 1 e a construção do autódromo de Paul Ricard em Le Castelet, a página de Reims na história começava a ser virada. A última prova realizada no circuito foi uma corrida de motos da categoria 750cc, vencida por Yves Compan, pelo certame nacional. 

 

A morte e o renascimento. 

 

Com as atividades encerradas, o complexo da CD 26 e os símbolos que marcaram Reims-Gueux foram largados ao esquecimento e assim ficaram por mais de 30 anos, sofrendo com as intemperes do tempo e com o vandalismo do turismo predatório de gente que ia lá não apenas para tirar fotos, mas que também “fazia questão de levar um ‘pedaço da história’ para casa”. A última reforma nas rodovias da região, em 2000, inviabilizou qualquer chance de se retomar, mesmo que para efeitos de preservação histórica, com o realinhamento da estrada entre Muizon e Thillois, com a Garenne sendo cortada e sendo feito um canteiro de flores onde era a antiga ligação. 

 

 

Acima, a visão das curvas de Reims-Gueux nos dias de hoje e da autovia 31. A modernidade ajudou a destruir o circuito.

 

Contudo, no final de 2004, uma comissão de pessoas da região, pilotos e entusiastas decidiram reverter este quadro: Com ampla divulgação e angariamento de recursos, começou-se o projeto de recuperação de Reims-Gueux!  

 

Foram anos de trabalho até se chegar ao estágio atual. Os pits foram restaurados como eram nos anos 60, com as mesmas pinturas, o mesmo formato e até consegui-se fazer novamente – com autorização do Departamento de Estradas do país – a ligação de Muison à RN 31 (não de forma fixa, mas para poder ser aberta em caso de eventos).  

 

 

Entusiastas, empresários e pilotos como Jean Alesi iniciaram um projeto de recuperação da história de Reims-Gueux. 

 

Assim, a história passou a ser preservada e conta com hoje com a organização de eventos anuais onde a história dos anos dourados do circuito é contada, festivais com carros da época são realizados e ídolos do país como Jean Alesi comparecem anualmente para compartilhar com aqueles que amam este esporte um final de semana de “retorno aos bons tempos” em que Reims-Gueux era o principal circuito da França... e não é só isso: Existe um projeto para a construção de um circuito moderno com a preservação das edificações antigas e o desejo de fazer da região de Champagne, mais uma vez, o centro do automobilismo Francês. Afinal, não é com o mais famoso espumante do mundo e fruto da região que se festejam as vitórias nas corridas? 

 

O grupo de trabalho tem um projeto ambicioso: Fazer de Reims-Gueux novamente a capital do automobilismo francês. 

 

Ainda há muito a se recuperar. As tribunas ainda não estão como deveriam – ou ao menos não como Franz Hummel, o organizador do evento, gostaria – mas o trabalho vem sendo feito ano a ano e como a mitológica fênix, Reims-Gueux renasceu de suas próprias cinzas!

 

Quem puder ir até a França na última semana de setembro, não deixe de comparecer ao evento deste ano. É uma grande festa. 

 

Till förhandsmöte (Até breve)

 

Willy Möller

 

 

Fontes: L'Automobile Club de France; L'Automobile Club de Champagne; Arquivos pessoais.

 

 

Last Updated ( Thursday, 10 September 2009 01:46 )