Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Cala a boca, Magda! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 11 May 2017 16:43

Outro dia eu cheguei em casa e a patroa estava tranquilona assistindo TV, as gargalhadas. O canal era aquele canal de repetecos sem fim que passa tudo o que já passou um milhão de vezes. Mas tem certas coisas que dá vontade de ver novamente... como o “Sai de Baixo”. Só grandes atores, bons textos e interpretações hilárias dos “donos” dos personagens. Vavá, Cassandra, Caco, Ribamar Edileuza e Magda, a inspiração da coluna deste mês.

 

“Cala a boca, Magda!” Este foi o grito dos dirigentes do DTM, o campeonato alemão de turismo, que reúne três das grandes montadoras alemãs (Audi, BMW e Mercedes Benz) ao proibir a comunicação por rádio entre piloto e equipe. Segundo a cartolada – e eu aplaudo de pé – o objetivo da medida é aumentar a responsabilidade dos pilotos, obrigando-os a “tomar decisões eles mesmos”.

 

Como sempre, as regras tem exceções. A proibição da comunicação por rádio só não será aplicada em situações de bandeira amarela e safety-car, quando equipes poderão avisar sobre possíveis acidentes na pista, levando em consideração a questão da segurança. De resto, vai ser preciso virar o pescoço, ler e interpretar as informações transmitidas através de placas no pit-lane. Se os loucos da Moto GP fazem isso trepados nas duas rodas, dá pra fazer o mesmo sentadinho confortável no cockpit fechado daqueles carrões.

 

 

Na “Categoria Rainha” (gagá), a Fórmula 1, a FIA chegou a impor uma “linha dura” com relação as comunicações via rádio, usando como “gancho” o artigo 20.1 do regulamento esportivo, que afirma que “o piloto deve guiar o carro sozinho e sem ajuda”. A gente que adora meter o pau na cartolada é obrigado a dar o braço a torcer neste caso. Afinal de contas, antes do endurecimento das regras, o piloto parecia uma marionete, um retardado mental, que não apenas ouvia “dicas fenomenais” do pessoal do pit wall.

 

No caso da Fórmula 1, a FIA extrapolou o bom senso que novidade) ao querer impedir mensagens de segurança, como bandeira amarela, bandeira vermelha, largada abortada ou outras instruções similares do controle de corrida, mas acertou ao proibir coisas como instruções para trocar de posição com outro piloto, detalhes do tempo de volta ou do setor, indicações do tipo “force ao máximo”, “force agora”, “você está lutando com piloto x” ou aquelas “mensagens de incentivo”.

 

 

Bom ou ruim, não levou muito tempo para a FIA “abrir as pernas”. Em pouco mais de 6 meses, na metade da temporada de 2016, o Grupo de Estratégia, reunido em Genebra também concordou em liberar o conteúdo das mensagens de rádio e o uso dos limites da pista (esse outro ponto ridículo, culpa dessas zonas de escape asfaltadas).

 

Os alemães estão certos. Essa coisa de mensagem de rádio só tem uma coisa boa: quando os pilotos mandam um “cala a boca, Magda” no engenheiro como fez o Anakin Bottas na corrida da Rússia, como Neguin Hamilton já fez várias vezes ou então quando o Príncipe das Lamúrias ou o Kimi Toma Todas nos fazem rir com suas respostas impagáveis ou um monte de palavrões.

 

 

 

É lógico que a decisão dos cartolas do DTM teve a ver com aquele bizarro episódio de 2015, quando na última volta da corrida de Spielberg, sob chuva, Robert Wickens, Pascal Wehrlein, da Mercedes, e Timo Scheider, da Audi, brigavam pela sexta posição. Pouco depois de Pascal ter ultrapassado os dois carros, na entrada da curva, Timo Scheider passou a ser bloqueado por Robert Wickens, protegendo o então líder do campeonato. Foi então que o piloto da Audi recebeu uma mensagem, captada pela transmissão da corrida, vinda de Dr. Wolfgang Ullrich, O carecão Diretor da Audi. Em bom alemão, ele disparou a frase ‘schieb ihn raus’, que significa ‘empurre-o para fora’! Segundos depois, Timo Scheider tocou no carro de Robert Wickens, que acertou o de Pascal Wehrlein onde os carros pareciam bolas de bilhar. As duas Mercedes ficaram paradas na caixa de brita, e Timo seguiu.

 

 

O resultado pós corrida foi desastroso para a Audi. Mesmo com os pedidos de desculpas formulados por meio de comunicado, desde agora e até o fim da temporada 2015 do DTM, Herr Doctor Ullrich foi proibido de entrar no pit-lane e também banido de ter acesso ao rádio da equipe. Timo Scheider, por sua vez, foi suspenso da etapa seguinte do campeonato, em Moscou, e, no final do ano, apesar de tudo, Pascal Wehrlein sagrou-se campeão.

 

Não dá pra negar que a comunicação por rádio tem suas vantagens e também não podemos simplesmente virar as costas à modernidade e a evolução. Sem ele não teríamos a chance de ouvir as comemorações, palavras de desabafo e felicidade como foi o áudio do Felipe Nasr quando conquistou os pontos que permitiram a sobrevivência da Sauber depois do GP Brasil.

 

 

Mas vocês, amigos leitores, conseguem imaginar um piloto da Moto GP, Moto 2, Moto 3 ou de Motocross com uma anteninha no capacete e um plug enfiado até metade da caixa craniana pelo ouvido com um engenheiro berrando instruções para ele durante uma corrida? Eu não consigo! E mesmo sem rádio, as corridas das categorias de moto são emocionantes.

 

Em outros casos, a comunicação com rádio é algo tão inserido na categoria que é difícil vê-las sem ele. As categorias dos Estados Unidos, especialmente nas corridas nos ovais, é algo que precisa do rádio, até mesmo por conta das questões de segurança. Imagina aquele bando de cérebro de ameba que correm na NASCAR andando em círculo e às cegas? Não chegava um carro no final da prova! O pessoal da Indy, que tem seis neurônios per capita dentro do capacete, e não tem a estrutura das banheiras da NASCAR tem que usar pra terminarem vivos. Neses casos, não dá pra tirar.

 

 

Aqui no Brasil as categorias, até nos regionais mais fortes, tem rádio e gente tagarelando no microfone para orientar o piloto a não errar o caminho. O Bom Velhinho, nos tempos em que mandava na Fórmula 1, era um defensor ferrenho da restrição no volume e no conteúdo das mensagens de rádio. Ele – que como eu coloquei no mês passado, não embarcou na conversa do delirante prefeito engomadinho de São Paulo para comprar Interlagos – era um dos maiores críticos a “marionetização” dos pilotos de Fórmula 1.

 

Quem sabe o exemplo do DTM não influencia o restante das categorias, norte americanas à parte, e os pilotos conseguem ser um pouco mais pilotos como eram os de algumas décadas atrás.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva


Last Updated ( Thursday, 11 May 2017 16:59 )