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As (in)conveniências da democracia PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 05 April 2017 23:29

Caros Amigos, temos visto – horrorizados – nos noticiários da televisão, jornais, rádios e portais de notícias da internet como tem se buscado mudar leis para gerar favorecimentos para determinados grupos em detrimento do desejo popular, os verdadeiros detentores do poder. São verdadeiras guerras de interesse!

 

Por mais absurdo que possa parecer, este tipo de coisa não é uma exclusividade do ‘modus operandi’ brasileiro. Ou seja, em diversas partes do mundo e em diversos seguimentos, o jogo de interesses tem sido o instrumento utilizado para se manipular grupos, impor decisões, minar o poder de alguns, aumentar a força de outros, tudo em nome de algo que nem sempre vai produzir os melhores resultados.

 

A relação entre a FOM e a FIA tem uma história de gato e rato desde que a FOM era chamada FOCA, envolvendo todos os construtores, liderados pelo então dono da Brabham, Bernie Ecclestone e a FIA tinha seu braço esportivo – a FISA – focada em manter a ordem hierárquica na estrutura do automobilismo mundial e em frear o crescimento do poder que se insurgia. De um lado, o inglês Bernie Ecclestone e as equipes. Do outro, o francês Jean Marie Balestre.

 

Foram mais de 10 anos de batalha até que Bernie Ecclestone conseguisse colocar na presidência da FIA seu bom e velho amigo, Max Mosley, que ficou à frente da entidade máxima do automobilismo mundial por oito anos, até entrar em conflito com o antigo amigo. Acabou nem se candidatando à uma nova reeleição e foi substituído pelo francês Jean Todt... e uma nova guerra começou.

 

Bernie Ecclestone sempre se mostrou um administrador do tipo controlador, que tomava as decisões e determinava o que deveria ser feito porque “ele entendia melhor das coisas do que qualquer um”. Contudo, com a chegada de Jean Todt as coisas começaram a mudar e os conflitos entre os dois foram aumentando de intensidade com o passar do tempo.

 

Jogando aquele “xadrez político” que no meio governamental é chamado de diplomacia, golpes e contragolpes maquiados por apertos de mãos, fotos e sorrisos acabaram gerando algo que parecia ser impensável anos antes: o chamado “Grupo de Estratégia”, onde as equipes passaram a ter poder direito de voto nas decisões dos destinos da Fórmula 1 e para a Ferrari foi dado o “poder de veto”. Sendo a equipe mais antiga da categoria, seus desejos não podiam ser contrariados.

 

Jean Todt via nos votos da equipes uma forma de enfraquecer Bernie Ecclestone, mas em dados momentos colheu revezes, justamente quando o todo poderoso da FOM e representante do grupo CVC conseguia unir as equipes em torno de si para exigir mudanças em normas da FIA para a categoria. A posição mais cômoda neste jogo era das equipes e, em particular, da Ferrari.

 

Mas desde o final do ano passado o cenário começou a mudar. A CVC vendeu as ações da Fórmula 1 para o grupo Liberty Media, um grupo norte americano e que via – e vê – uma forma diferente de se fazer esporte e espetáculo. Sem a liberdade que tinha nos tempos de CVC, no primeiro enfrentamento com os novos “donos do circo”, Bernie Ecclestone foi simplesmente “deposto” e depois de algum tempo, Ross Brawn teve seu nome anunciado como o novo Diretor Esportivo da categoria.

 

Agora, tentando acompanhar a velocidade que o grupo Liberty Media parece pretender impor às mudanças na categoria, aquilo que o Bernie Ecclestone falava sobre democracia e Fórmula 1 (que a primeira atrapalhava a segunda) e que soou como algo absurdo parece que, agora, com o ex-chefão fora do esquema, parece ser algo defendido por mais pessoas.

 

Recentemente Jean Todt admitiu sua frustração com a dificuldade de fazer mudanças na F1. Na visão do dirigente, a governança do Mundial dificulta mudanças, já que tudo tem de passar pelo Grupo de Estratégia, pela Comissão de F1 e pelo Conselho Mundial, afirmando que – infelizmente – as decisões de mudanças não poderiam demorar tanto tempo para acontecer como tem levado.

 

Segundo ele, para alguns projetos de longo prazo, é precisa de algum tempo para planejar com antecedência, mas no caso de algumas mudanças simples os processos tem sido duramente morosos. Chamando de uma condição perturbadora para se implementar modificações para o bom funcionamento do esporte como negócio.

 

De certa forma, o bom alinhamento que havia entre ele e Ross Brawn dos tempos de sucesso absoluto da Ferrari pode significar uma mudança de direção neste sentido de enfraquecimento das equipes no Grupo de Estratégia. Como a FIA tem 6 votos e a FOM tem outros 6, se os dois votam juntos, derrotam os 6 votos das equipes. Assim, planos de longo prazo poderiam ser trabalhados em conjunto, mas mudanças rápidas poderiam e precisariam ser tomadas sem um processo burocrárico.

 

Ross Brawn é uma pessoa muito atenta e viu bem o que aconteceu (na verdade, o que não aconteceu) no GP da Austrália: ultrapassagens! Atento a isso, prometeu agir se as corridas da temporada 2017 da F1 não foram empolgantes o bastante. Contudo, reconheceu que não pode fazer tudo sozinho e que neste momento, Jean Todt é seu melhor aliado para convencer as equipes a uma possível mudança nas regras com o campeonato em curso.

 

A forma de gestão de Ross Brawn tem sido melhor recebida pela direção das equipes. Com total suporte do Grupo Liberty Media, Brawn é um líder forte. Talvez ainda não tão forte quanto foi Bernie Ecclestone enquanto diretor executivo da FOM nos tempos da CVC. Caso as corridas sejam morosas na China e no Bahrain, a pressão para que mudanças sejam tomadas e tornem a Fórmula 1 mais competitiva.

 

Mas, agora que a Ferrari finalmente “acertou a mão” e fez um carro competitivo, se ela estiver liderando o campeonato, vai aceitar “mudar a regra do jogo” e correr o risco de perder uma vantagem que mostrou ter nos testes pré-temporada e na corrida de abertura ou usará o seu “poder de veto”?

 

Uma boa pergunta para pensarmos até a segunda-feira após o domingo de páscoa.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva