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Fernando contra o tempo PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 28 March 2017 02:01

Olá Fãs do Automobilismo,

 

Comecei a escrever esta coluna no domingo, voltando para casa depois da Auto Club 400, etapa da NASCAR disputada em Fontana onde fui acompanhar o Jimmie Johnson, que está muito angustiado com seu início de campeonato e disse precisar de um “apoio extra”. Como o Fontana Motor Speedway fica aqui na costa oeste e a cerca de duas horas de carro de minha casa, usei dos meus encantos para ter o meu “personal driver” que ganhou também uma credencial VIP para que eu pudesse me concentrar no teclado.

 

O final de semana em Fontana, que fica na grande Los Angeles coincidiu com a abertura do campeonato mundial de Fórmula 1, na Austrália, que pela diferença de horário a transmissão foi na noite do sábado e eu procurei um hotel que tivesse o canal por onde eu pudesse assistir a corrida, de tão preocupada que eu estava com a cabeça dos meus pacientes.

 

Nem preciso dizer que o final da semana anterior e até a última segunda-feira foi um malabarismo sem tamanho para poder atender a todos. Haviam os tranquilos, os preocupados, os tensos pela estreia – ou reestreia – mas havia um angustiado... e era justamente este que, antes mesmo de começar a “maratona” eu já havia me preparado para receber de uma forma especial.

 

 

Contrariando meu chefinho Ciro, eu sou uma grande fã do Fernando Alonso. Ele é educadíssimo, um verdadeiro cavalheiro, elegante, profissional e muito comprometido com suas responsabilidades. Trabalhamos durante todo o inverno. Enquanto ele preparava-se fisicamente, era mentalmente que ele vinha trabalhar aqui na costa oeste americana. Ele estava confiante, mas preocupado.

 

Quando o vi sair do carro no início do primeiro treino livre, com poucas voltas dadas e o motor Honda apresentando problemas eu sabia que aquilo não ia ser bom. Na noite do terceiro dia de testes Fernando me ligou e conversamos por quase uma hora. Ele falou que o motor era decepcionante, mas que também havia problemas no carro. Que aquele ano seria mais do que foram os últimos dois.

 

 

Tivemos uma sessão bastante tensa na sexta-feira, antes dele seguir para a Austrália. Morando na Europa, é muito mais perto se tomar um voo para a Ásia e de lá ir para a Austrália. Dependendo do país, tem até voo direto, mas ele e os outros que foram a San Diego percorreram o dobro da distância. Fernando estava muito angustiado e eu percebo isso na forma como ele movimenta as mãos.

 

Todos nós sabemos da força e da história da McLaren, mas o que temos visto desde que a ex-equipe de Ron Dennis refez a parceria com a Honda foi uma sequência de fiascos. Com a possibilidade da mudança do regulamento e de se poder fazer motores completamente novos para 2017. Era a grande chance para a Honda fazer um motor novo, eficiente e com aquele padrão de qualidade que a Honda deixou como marca na parceria anterior com a equipe.

 

 

Fernando parecia estar deitado numa frigideira com óleo ao invés de estar no divã do meu consultório. Estava inquieto como nunca, falando rápido, tão rápido talvez quanto ele gostaria de ver seu carro. Fernando é perfeccionista e extremamente competitivo. Preparou-se como nunca para esta “nova Fórmula 1”, física e mentalmente, mas por mais pessimista que fosse, não acreditava que a combinação Honda-McLaren o deixaria na mão mais uma vez, pelo terceiro ano consecutivo.

 

Ele sabe que o tempo está passando e se for para ter mais um ano perdido, aos 35 anos de idade, com que, para quem e com quem fazer uma nova parceria? Fernando tem consciência de que sua personalidade forte e suas declarações nem sempre polidas criaram dificuldades para seus planos de carreira. Foi assim na primeira passagem pela McLaren em 2007, foi assim nos anos de Ferrari e isso precipitou sua saída das duas equipes e gerou uma certa dificuldade para uma recolocação. Há quem afirme que, se não fosse a McLaren, ele teria ficado a pé em 2015.

 

 

Desde que começou sua nova relação com a McLaren, andando no fundo do pelotão, voltando aos tempos de Minardi, corrida após corrida, entrevista após entrevista, as colocações de Fernando eram cada vez mais ácidas e as sessões aqui no consultório, mais desgastantes. Em um dado momento, disse a ele que ele tinha apenas duas opções: ou mudar radicalmente sua postura, ou mudar de categoria caso não encontrasse outra equipe para correr.

 

E Fernando tomou uma decisão: passamos a ver um piloto sempre com uma piada pronta para arrancar risos dos entrevistadores, com atitudes desconcertantes como tomar sol depois de parar o carro, de assumir o lugar do câmera e filmar a passagem dos carros. Mas eu sempre tive o temor de que ele decidisse por uma medida radical: quebrar o contrato e deixar a equipe no meio do campeonato.

 

O fato do meu telefone ter tocado às sete horas da manhã no domingo – e eu já estava no Super Speedway – não foi surpresa. Era Fernando. Eu ainda não tinha lido nada sobre a corrida, as entrevistas, declarações dos pilotos, nada. Disse apenas que lamentava muito pelo resultado, pelo abandono, mas a decepção dele era maior que minha tristeza.

 

 

Depois de sete anos como sua terapeuta, pela primeira vez estou vendo a possibilidade de ver Fernando tomar uma atitude drástica: abandonar o campeonato e a McLaren. Andei pesquisando e isso já aconteceu antes. Carlos Reutemann e Niki Lauda fizeram isso. Fernando não seria o primeiro. Talvez tenha sido este o real propósito da McLaren manter Jenson Button sob contrato.

 

Fernando vai ser, certamente, meu maior desafio para 2017. Espero poder contar com a McLaren e a Honda para conseguir mantê-lo na categoria. A Fórmula 1 perderá muito sem ele.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares