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A encruzilhada da F3 Brasil PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 16 January 2017 00:59

Em dezembro de 2013 o então presidente da CBA, Cleyton Pinteiro, em uma informação exclusiva para o Site dos Nobres do Grid, anunciou que um projeto para o incremento da Fórmula 3 no Brasil teria início para a temporada de 2014.

 

Depois de ter se reunido com os proprietários dos carros no país, chefes e donos de equipes, fornecedores de peças e a VICAR, que abraçava o evento em sua programação, a Confederação Brasileira de Automobilismo lançaria aquela que seria “a Fórmula 3 mais barata do mundo”, com um custo para a categoria Light abaixo dos 200 mil reais e a categoria A a cerca de 450 mil reais.

 

 

No ano de 2014, o que se viu foi um grid bastante razoável, e bem maior do que nos anos anteriores. Em algumas corridas 17 carros chegaram a alinhar para a largada. Contudo, com o passar do tempo a esperada competitividade não apareceu. Nos dois primeiros anos, Pedro Piquet dominou a categoria sem dificuldades. No ano passado, Matheus Iorio foi ainda mais dominador.

 

Os custos para fazer um carro mais competitivo subiam etapa após etapa. Havia um piso, uma base para valores básicos, mas não havia um teto e alguns pilotos chegaram a investir mais de um milhão de reais por temporada. Isso desestimulou os que tinham menos condições e o grid foi definhando até vermos, na etapa de Goiânia, apenas 5 carros inscritos. Foi preciso “alinhar um sexto carro” para haver o número mínimo de competidores e a etapa pudesse acontecer.

 

Diante do quadro que se apresentou no final de 2016m a CBA e a VICAR voltaram a conversar com os proprietários e chefes de equipe para buscar soluções que pudessem reduzir custos e aumentar a competitividade na categoria, fazendo dela mais atrativa para os pilotos que decidem dar seus primeiros passos na carreira.

 

Fazer a equalização dos motores foi a proposta de maior impacto – e de divergências – onde os mesmos iriam ser equalizados em dinamômetro pela JL, a mesma que faz este trabalho com os motores da Stock Car, Brasileiro de Turismo e Brasileiro de Marcas. Mas em um carro tão complexo quanto o Fórmula 3, seria o suficiente?

 

Contudo, haviam outros pontos de discordâncias: A categoria corre em horários onde a exposição é mínima (ou muito cedo, pela manhã, ou no final da tarde, em algumas vezes com a luz natural bastante comprometida), sempre ficando com as piores instalações no autódromo e presa a um contrato de transmissão das corridas onde as mesmas são exibidas em VT, quase sempre em horários “alternativos” (tarde da noite, entrando pela madrugada, por exemplo).

 

O tiro de misericórdia foi a proposta da VICAR de disponibilizar apenas quatro de suas 12 datas para a categoria. Os donos de equipe não aceitaram e o “divórcio” foi inevitável. Desde o final do ano passado a categoria busca uma alternativa para que a temporada de 2017 aconteça. Entre as possibilidades estaria o estabelecimento de um evento conjunto com a Porsche GT3 Cup Challenge, evento de sucesso nas mãos do competente Dener Pires. Há uma outra alternativa ainda, mas esta está sendo a grande aposta para se buscar alavancar mais uma vez a categoria.

  

Convidamos os proprietários e chefes de equipe para falar sobre o assunto.

 

Augusto Cesário – Dono da Equipe Cesário Fórmula.

Eu não saberia precisar um ponto específico que tenha levado a categoria ao estágio que chegou depois de termos tido uma temporada excelente em 2014, com um grid cheio, muitos pilotos novos e estou preocupado com a condição na qual estamos hoje.

 

É claro que como categoria, como negócio, nós precisamos encontrar um meio de fazer dar certo, de viabilizar a categoria e atender a todas as necessidades, buscando socorrer as dificuldades de cada um e infelizmente não houve um acompanhamento direto deste processo e eu acredito que isso foi um ponto crucial nesse processo.

 

Não posso simplesmente apontar o dedo para um culpado ou dizer que a culpa de tudo foi minha. Não seria justo com ninguém que trabalha aqui e de alguma maneira colabora para a continuidade da categoria. O que eu vejo é que a categoria não tem um comando, uma pessoa que cuide dela na parte de gestão, de promoção e marketing, que se ocupe especificamente com a categoria, e isso desestimula, vai levando as pessoas a desistir.

 

Sem um trabalho para manter a exposição das equipes, da categoria, mesmo com o campeonato nas suas etapas finais e praticamente decidido, acaba levando ao que aconteceu este ano, onde as pessoas foram desistindo e deixando o campeonato antes do seu final. Se houvesse um trabalho de exposição, de motivação, talvez isso que estamos vendo fosse evitado.

 

Eu acho que nós tivemos oportunidade de fazer isso e chegamos, inclusive a procurar a VICAR para pedir que contratassem uma pessoa pra cuidar especificamente da categoria, mas não conseguimos levar esta conversa adiante e com a saída do Maurício [Slaviero] no final da temporada e ainda não sabemos como vamos dar continuidade a este assunto com seu substituto.

 

Dentre as coisas que sempre são faladas vem a questão dos custos da categoria. Em uma das reuniões foi falado que uma coisa que baixaria os custos seria fazer a equalização dos motores na JL, para ficarem todos”iguais”. Se isso vai, efetivamente, baixar custos, só veremos após algumas etapas, caso venha mesmo a ser feito. Obviamente que o quanto se investe numa equipe ou num carro faz diferença, porém, não é só colocar dinheiro no carro e ele anda mais. Não é assim que funciona.

 

 

Eu não acredito que nossos motores sejam melhores que os dos outros, mas eu concordo com esse processo e todas as coisas que vierem pra somar no sentido da gente melhorar o grid eu tenho total disposição em fazer. Nós temos no regulamento que todas as peças são originais de fábrica. A eletrônica é igual pra todos, As peças do motor são todas da Berta e a taxa de compressão é limitada. Mas aí, neste caso, as peças tem que estar em perfeitas condições de uso. Se não estiverem, o carro não vai andar.

 

A Fórmula 3 é uma categoria escola. E aonde o dinheiro faz diferença é na quantidade de treinos que se faz. O piloto pra se aprimorar tem que treinar e aprender a regular parte mecânica, aerodinâmica, eletrônica... isso só vem com treinos. Não dá pra ficar treinando só nos finais de semana da corrida.

 

É aqui na Formula 3 onde o piloto aprende tudo que tem pra aprender antes de ir para a Europa. Em outras ele pode até aprender algumas coisas, mas não tem a escola que estes carros proporcionam.

 

As conversas tomaram um rumo estranho logo após o término da temporada e ainda naquela semana a VICAR, unilateralmente, disse que não teríamos mais espaço na estrutura deles para 2017. Ainda conversamos com eles, mas aí veio a ideia de talvez termos quatro datas ao invés das oito dos anos anteriores.

 

Estamos trabalhando para encontrar uma alternativa viável para a categoria. As negociações estão em andamento e eu tenho esperança que ainda em fevereiro teremos uma resposta para dar para vocês, para todos que trabalham na categoria e como agiremos deste momento em diante. Tudo está em aberto, até a ideia de equalizar os motores com a JL.

  

Darcio dos Santos – Proprietário da Equipe PropCar.

A crise econômica que o país vem passando afetou muito a nossa categoria. A Fórmula 3 tem um problema para se conseguir patrocínio e normalmente são os pais dos pilotos que acabam arcando com a maior parte das despesas durante a temporada e sem ter mais uma disponibilidade de recursos como já tiveram em outros tempos, temos este quadro que aí está.

 

Eu tenho fé de que a economia do Brasil vai se recuperar e vai mostrar resultados já no segundo trimestre de 2017. Com isso, espero poder voltar a ver a categoria ter seu nível de participação e competitividade de volta, atraindo os garotos que saem do kart, atraindo pilotos que pensam em fazer uma carreira na Europa, aprendendo aqui o que precisam aprender sobre comportamento de um Fórmula, a parte de aerodinâmica, de suspensão, mecânica, para não irem “crus” lá pra fora.

 

Eu também estou fazendo todo meu esforço para colocar nossos carros em mais esta etapa, mesmo sem ter chance de conquista de título, mas lembrando que é a 100ª corrida da Fórmula 3 Brasil neste novo formato e que é uma categoria que merece ter um promotor à sua altura, que realmente dinamize a categoria, que atraia patrocinadores, que promova a categoria como esta deve ser promovida.

 

É preciso fazer coisas que elevem a categoria e para o ano que vem estão querendo fazer uma coisa que eu sou contra, que é a de levar os motores pra JL equalizar. Os motores já são muito equilibrados. O [Oreste] Berta fez um motor onde não há como fazer grandes alterações. A taxa de compressão é uma taxa limite para todos. Se um comissário técnico pegar qualquer motor de qualquer equipe e abrir para examinar, não vai encontrar nenhum fora do regulamento.

 

 

Estão fazendo isso porque a equipe do [Augusto] Cesário teve um domínio muito grande nas últimas três temporadas. É uma equipe que tem recursos, tem ótimos pilotos, investe bastante em equipamento e temos que respeitar a sua competência. Ele tem recursos que não temos. Tem as melhores relações de marcha, os melhores eixos-piloto, semi-eixos e peças com uma disponibilidade muito maior do que a que temos. Se o custo de uma temporada na categoria A na minha equipe vai na casa de um milhão de reais, na dele vai muito mais além. Isso dá condições de se usar peças aliviadas e que permitem uma melhor distribuição de peso no carro. Se uma equipe tem 25 ou 30 relações de marcha aliviadas e a outra como nós tem 10, tem que dar sorte daquela ser a usada por ele nos seus carros para estarmos em condições equivalentes.

 

Com toda essa mudança de saída do esquema da VICAR, acho que não levaremos mais adiante esta ideia de equalização dos motores na JL e penso que nós só temos a ganhar em fazer um evento onde não seremos os últimos a ser lembrados. Não estou participando diretamente das negociações. O [Augusto Cesário] “Formigão” é quem está cuidando disso. Ele tem a maior estrutura e o maior interesse de que a categoria se torne o mais forte e o mais atrativa possível. Além deste trabalho de nos juntar com uma outra categoria, devemos contratar um profissional para cuidar da categoria e divulga-la como ela merece e precisa ser divulgada.

  

Uma coisa que não tem estimulado os meninos no kart é a falta de um ídolo, um piloto vencedor nas categorias top. O Felipe [Massa], com todas as dificuldades dos últimos anos, não vem conseguindo fazer o papel que o Rubinho [Barrichello], o Ayrton [Senna] tiveram. Então ele não viu quando era criança um piloto brasileiro para se espelhar e isso não aumenta o número de kartistas e os que chegam na idade do fórmula não se animam pra vir correr aqui. Ter um ídolo brasileiro seria uma forma de incentivar a busca pela categoria.

 

José Ricardo Fortunato – Proprietário da Equipe Fortunato Racing.

Eu acho que a minha condição é muito diferente da condição de um [Augusto] Cesário, por exemplo. Ele é um profissional do automobilismo e eu sou um pai de piloto que quer incentivar a carreira do filho e que pra isso montou uma equipe e meu filho corre aqui.

 

Temos dois carros, um outro carro para outro piloto que tenha interesse em correr e nós podemos alugar e dar alguma estrutura, mas os custos da categoria são muito altos e a exposição muito baixa. Vai servir como escola, pra aprendizado, como investimento, mas para ter retorno de publicidade e investimento nem o campeão vai ter.

 

Eu acho que esta ideia de equalização de motores feita pela fábrica do Giaffone pode ser boa e espero que seja mais barata. Este ano estou investindo 800 mil reais na temporada do meu filho, Artur Fortunato, para ele poder se aprimorar como piloto e podermos pensar em outras categorias no futuro, mas se ele não estiver na equipe e caso eu não consiga pilotos para correr e financiar os custos com pessoal, material, treinos, é melhor vender os carros e aplicar este dinheiro em outro lugar.

 

 

Os meninos que estão saindo do kart estão se questionando se devem ou não vir correr na Fórmula 3 Brasil. É uma categoria que para o piloto correr com chances de ganhar corridas precisa investir uma quantidade de dinheiro quase igual a de ir correr na Europa. Se ele pensa em ir para a Europa e tentar uma carreira pra chegar na Fórmula 1, talvez ele prefira ir direto para lá, sem ficar um ou dois anos aqui.

 

Rodrigo Contim – Proprietário da Equipe Hitech Racing.

Este ano também começou bem, mas está terminando como um ano muito fraco, algo que não combina com o status da categoria e chega a ser extremamente triste ver o grid com tão poucos carros. Na minha opinião, é um somatório de fatores. A CBA deveria olhar com outros olhos para a Fórmula 3. Eu vejo muita preocupação em torno de outras categorias, com ideias mirabolantes de que se for feito isso ou aquilo vai atrair os pilotos, mas estão esquecendo isso aqui, que já existe.

 

É preciso se trabalhar estratégias de promoção e captação de recursos. A gente sabe que existem leis de incentivo ao esporte e este poderia ser um caminho para a Fórmula 3, sem pensar apenas nos pilotos profissionais, mas também nos muitos profissionais que aqui trabalham. Se for feito investimento na base este terá reflexos em toda a cadeia, mas isso não está acontecendo.

 

Se for elaborado um projeto, sério, bem estruturado, e for captado através de incentivo o capital necessário para executá-lo, que este venha gerar a formação de pilotos, o fortalecimento da categoria, o crescimento das equipes, isso vai ser uma realidade que pode mudar o cenário que estamos vendo no momento.

 

A Fórmula 3 está passando este ano um problema que a Stock Car sofreu no passado: existiam preparadores de motor e cada um fazia seu motor na sua equipe e isso gerava discrepâncias entre os motores e isso acabou por lá. A Fórmula 3 nunca teve motores equalizados e não existe categoria nenhuma no mundo que seja competitiva sem que haja equalização de motores.

 

Foi um trabalho nosso junto a VICAR para que a partir do próximo ano todos os motores sejam examinados e equalizados para que tenhamos uma maior competitividade e possamos atingir um platamar como o que existe na Stock Car, onde há um grid forte e vemos praticamente todos os carros virando voltas no mesmo segundo. Para a Fórmula 3 isso seria um passo adiante.

 

Sabemos que um carro como um Fórmula 3 é um carro complexo, onde acerto de asa, suspensão, molas, relações de câmbio tudo isso afeta pra melhor ou pra pior o desempenho do carro, mas o fator motor ainda é o principal diferencial e isso vindo ser feito por uma empresa, trabalhando todos os motores de forma igual, estas diferenças irão diminuir.

 

 

Mas é importante frisar que este é apenas um dos problemas que a categoria passa. A crise financeira pela qual o país está passando tem nos afetado muito. Somos o elo mais fraco entre as categorias da VICAR e quem é mais fraco sofre primeiros os efeitos de uma crise. Na verdade éramos. Depois da etapa de São Paulo onde rumores começaram a surgir, na semana seguinte fomos comunicados que a F3 não faria parte do calendário de eventos de 2017.

 

Quando foi divulgado o calendário das outras quatro categorias e não foi divulgado o calendário da F3 Brasil já ficamos alertas quanto a isso. Conversamos depois disso e ainda foi oferecida uma alternativa com um calendário de quatro datas, que seria melhor do que nada, mas que não é aquilo que buscamos. 

 

Para a temporada de 2014 a nossa proposta foi “tabelar” os custos para a F3 Light e a partir daí trabalharmos em cima disso para fomentar a categoria. O preço dado na época foi 195 mil reais. Este preço, para aquele ano, era inviável! Pra hoje é extremamente inviável. Aqui na Hitech a gente não leva este valor em conta por ser impossível fazer um trabalho por este valor. Para nós, como empresa, não podemos pagar para o piloto correr. A Hitech é uma empresa e, como empresa, precisamos dar lucro. Queremos formar talentos. Queremos formar campeões, mas não podemos trabalhar e, no final do ano, as contas não fecharem.

 

Eu não sou contra um tabelamento na categoria light, pelo contrário! Isso daria uma condição maior de equilíbrio para quem está chegando, mas não pode ser um valor que dê prejuízo para nós. É preciso que se chegue a um valor que custeie todos os aspectos da equipe e que ela possa ainda ter algum retorno.

 

Se quisermos atrair pilotos saindo do kart para a Fórmula 3 aqui no Brasil, nós precisamos ter um grid como o que já tivemos, com 14, 15, 16 carros, quem sabe mais, e assim os garotos vão olhar para a Fórmula 3 Brasil como opção. Grid faz Grid! Se você tiver um grid de 6 carros, o kartista não vai se interessar em vir para cá. Do contrário, eles vão direto correr fora do Brasil e mesmo com um custo mais alto do que teriam aqui.

 

Estamos trabalhando e negociando com possibilidades para o calendário deste ano e a permanência da categoria. Criamos uma associação das equipes e, no momento, não podemos ainda falar detalhes sobre as negociações, mas em breve teremos novidades e vamos fazer a temporada de 2017 acontecer. 

 

Rogério Raucci – Proprietário da Equipe RR Racing.

Eu entrei na F3 em 2012, quando comprei um carro da categoria Light para meu filho, Raphael. A categoria tinha ubs 6 ou 7 carros. Em 2013 deu uma melhorada, chegou a ter uns 10 carros. Tinham os carros da A e os da Light. A VICAR mostrou interesse em fazer algo mais pela categoria e isso deu uma motivada no [Augusto] Cesário, no Rodrigo [Contim] e em mim também. Em 2014 a temporada já começou com 16 carros no Grid.

 

O problema maior que se viu foi que foi que a hegemonia e o domínio do Pedro Piquet em 2014 e 2015 isso desestimulou muitos pais. Os pais, porque é uma categoria de “paitrocínio”, não queriam entrar na categoria pra serem vice-campeões. Além do que, os custos não eram mais os 200 mil reais para andar de “Light” e os 450 mil para andar na A, base que a CBA pediu pra nós, das equipes, montarmos nossos orçamentos em torno desses valores. Já tinha equipe pegando 700 mil, um milhão, um milhão e pouco. Isso desequilibrou o campeonato. Você não consegue competir com um orçamento que é metade do teu concorrente, com menos treinos, menos pneus, menos peças.

 

A grande vantagem da F3 Brasil em relação as demais é a liberdade de treinos. Você podia treinar à vontade, desde que tivesse dinheiro para locar autódromo, jogos de pneus, combustível, mobilização de equipe, etc. Apesar do carro ser relativamente, não totalmente, defasado em relação aos europeus, treinar à vontade era um atrativo. A justificativa dessas equipes que cobravam mais era que “estavam vendendo treinos”. Isso criou a disparidade. Se você tem um orçamento ilimitado, você tem tudo de ponta, tudo em abundância, vai andar na frente e colocou a categoria, para os outros, numa platamar impossível para a realidade brasileira.

 

Outro problema era a F3 ser a terceira ou quarta categoria do final de semana. Treino às 8 da manhã em Santa Cruz do Sul no outono. Não tem! É neblina pesada, não dá pra andar. A VICAR tem suas categorias principais e seu faturamento. A F3 foi encaixada num contexto para que não sumisse e o promotor, claro, vai priorizar uma categoria de 20, de 30 pilotos ao invés de uma com 10. Eu perdi pilotos porque eles e os pais ficavam brabos por andar e treinar nessas condições, por que o [Pedro] Piquet ganhava todas e achavam que o carro dele estava fora do regulamento... e não estava. Ele tinha era tudo top, tudo novo, mais pneus, mais treinos, mais pelas, mais tudo. Isso desestimulava. Não estou fazendo crítica aos Piquet. Eles tinham como investir, investiram, deram tudo que podiam para o Pedro correr e ele correu. O regulamento permitia e eles fizeram tudo dentro do regulamento. Eu nunca questionei como vi e ouvi gente questionando o carro do Pedro. Mas eu penso que isso atrapalhou por um lado, porque ele não teve que “disputar posição”... e ele teve que fazer isso na Europa.

 

O F3 é um baita carro, onde o piloto aprende muito. A categoria tem a Cesário Fórmula, que tem 25 anos de bagagem na categoria e eles conhecem todos os caminhos. É difícil chegar no nível técnico deles.

 

Nós temos dois problemas: o primeiro é a situação financeira do país. Isso tem tirado a condição dos pais de investir na carreira do piloto. A outra é o problema de quem sai do kart. Não existe um plano para essa passagem ser feita. O garoto sai do kart e vai sentar num carro com asa, com cambio, com um motor de quase 280 cavalos logo de cara? Ele tinha que passar por um carro mais simples e menos potente, com uns 150 cv, menos carga aerodinâmica. Essa categoria faz falta no Brasil. Uma categoria com um custo de no máximo 150 mil a temporada. No Turismo é a mesma coisa. A categoria de entrada tem um motor de 380 cavalos. Com isso você não tem renovação na Stock. Ela não está cumprindo com seu papel. Os pilotos, salvo um ou outro como o Guga Lima, o Felipe Fraga, o Guilherme Salas são os mesmos há uma década. Não existe um projeto de renovação.

 

No ano que vem a F3 vai ter motores revisados e equalizados pela JL. Pode dar certo, pode sair mais barato. Primeiro pela seriedade da JL. Segundo porque vai acabar esse “tititi” de que o meu motor é melhor do que o seu, ou o contrario, que o [Augusto] Cesário faz isso, faz aquilo e o que ele faz é dentro do regulamento e porque ele sabe 20 vezes mais do que eu, que cheguei na categoria em 2012. O carro é muito mais do que motor, mas o pai que no kart comprava tudo e pagava uma fortuna para um preparador fazer o motor do kart do filho, que ganhava de todo mundo, quando vê o moleque andando atrás diz que a culpa é do motor. Como ele não entende nada, ele não lembra ou não sabe que o carro tem pressão aerodinâmica, cambagem, convergência, molas, suspensão. É tecnologia e o moleque precisa ter braço e coragem pra guiar o carro. Vai acabar com o “mito dos motores”. Pode não ser a melhor, mas é uma boa solução.

 

 

Agora, estamos no meio do mês e não sabemos ainda o calendário. Não tem calendário! Em novembro deste ano eu já sabia o calendário da categoria que meu filho, Giuliano, vai correr em 2017. As datas, as pistas, tudo. Eu só leio bobagem no Facebook sobre disputa dos candidatos à presidência da CBA, que não teve prêmio, que A é melhor que B, mas para ver o que vai acontecer na VICAR, o calendário é da VICAR, não é da CBA. Não se fala nada de produtivo e enquanto as pessoas que trabalham no automobilismo não se unirem e trabalharem pelo automobilismo, vamos continuar nessa porcaria. A disputa tem que ser na pista, não fora dela.

 

Antes de botar a culpa na CBA, na VICAR, na Pirelli, que aumentou o preço do pneu, vamos trabalhar pra fortalecer a categoria e o trabalho começa por fortalecer a base, que é o kart. Se tiver piloto saindo do kart para correr, vai ter piloto procurando carro pra correr. Tem que desmistificar essa coisa do esporte de rico. O Felipe [Giaffone] tem feito um trabalho legal, mas o pessoal só quer criticar. Vai no kartódromo e você vai ver sempre os mesmos. Não existe uma orientação, um plano de formação, só existe aquela conversa que o pais tem que comprar isso, aquilo, investir... gastar. Uma categoria de kart na Europa tem 100 meninos largando porque tem categoria dos 13 aos 16, tudo largando junto. O top 20 de um europeu de kart são “os caras”.

 

Esses meninos tinham que correr juntos aqui, daí, com 15 anos, vai para um Fórmula 4, que o Giovanni Guerra quer trazer pra cá, mas aí você ouve os teus colegas falando que não é pra apoiar a vinda de uma F4 para o Brasil, que isso vai acabar a F3... vai nada! Ia segurar os garotos aqui, dois ou três anos. Quem faz dois anos de F4 vai pra F3. Quem não tem grana pra ir pra Europa, vai fazer grid aqui. Se tiver base vai ter piloto para todos, mas tem que ter base.

 

Estou acompanhando os passos que estão sendo dados neste novo formato e acredito que, se bem organizado, teremos uma maneira melhor para mostrar a categoria para os patrocinadores que vierem estampar suas marcas nos nossos carros, podemos negociar um pacote melhor de transmissão das corridas na televisão e podermos, desde que trabalhemos realmente juntos, nós, os proprietários das equipes, fazer da F3 uma categoria mais forte.

Last Updated ( Monday, 30 January 2017 09:31 )