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Daniil contra o tempo! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 25 June 2016 23:23

Olá fãs do automobilismo,

 

Passado o êxtase que foi estar em Indianápolis no final de maio, retomei com tudo a acelerada rotina do meu consultório, que com a graça divina anda cheio, com mais e mais esportistas (tem jogador de tênis, de basquete, de hockey no gelo, ginastas...), mas como uma apaixonada por velocidade, dividir minhas experiências como terapeuta com meus queridos leitores é uma das coisas que faço com mais prazer.

 

Desde minha última coluna antes de ir para Indianápolis muita coisa aconteceu, tanto pelas pistas como no meu consultório e entre todos os pacientes que passaram por sessões comigo, o que mais tem me preocupado é o jovem piloto russo Daniil Kvyat, que há pouco tempo era visto como o prodígio que saiu direto da GP3 para a Fórmula 1, dentro do programa de jovens pilotos da Red Bull, assumindo um dos assentos na Toro Rosso, mas logo sendo promovido para o time principal.

 

Contudo, as coisas pelos lados da equipe austríaca ocorrem com tanta velocidade quanto um dos seus carros passa em uma reta e de prodígio e promessa, de campeão potencial e aposta que deu certo, Daniil foi do céu ao inferno em menos de 72 horas. Após conquistar um brilhante pódio no GP da China, uma corrida desastrada em seu país teve um desfecho desastroso para ele: perdeu o lugar na equipe principal para outro prodígio, Max Verstappen, e retornou à Toro Rosso, uma espécie de “rebaixamento de cargo”!

 

Daniil é meu paciente há mais de dois anos, desde quando ainda era piloto da Toro Rosso, antes de ser promovido ao time principal e as sessões com ele sempre foram muito tranqüilas. Ele sempre falava e estar vivendo um sonho e que a cobrança e a pressão eram coisas naturais para um piloto de fórmula 1, onde lidar com elas era como ter um carro no seu retrovisor o tempo todo: era preciso manter a concentração, fazer sua corrida e, claro, não deixá-lo ultrapassar.

 

Depois de um desastroso GP em casa, o mundo caiu sobre a cabeça de Daniil Kvyat.

 

Depois de ser informado da “troca” de equipe para a corrida seguinte, o Grande Prêmio da Espanha, Daniil telefonou para mim e pediu para ir mais cedo até San Diego (ele fazia sessões quinzenais e desde então passamos a fazer sessões semanais). Diante de uma mudança tão grande em sua vida, logicamente que eu o recebi, mesmo depois de meu último horário, fiquei duas horas com ele no divã. Daniil estava devastado!

 

Aprender a gerir as emoções é uma competência que em muito nos capacita. Ajuda-nos a tomar melhores decisões, a adequarmo-nos melhor às circunstâncias e a lidar de forma mais eficaz com os outros ou com situações desafiadoras. Alguns de nós somos emocionalmente mais fortes do que outros, afinal, somos todos diferentes uns dos outros, mas a pessoa emocionalmente forte pode lidar eficazmente e funcionalmente melhor com desafios exigentes. Não quer dizer que não sofra, que não sinta o impacto avassalador dos acontecimentos, de todo. Claro que sente e sofre com isso, no entanto, a sua capacidade de manter o equilíbrio emocional, suportado pela sua força emocional, permite que se mantenha funcional, adaptado e adequado na sua vida. Contudo, tudo na vida tem limites e os de Daniil foram claramente ultrapassados.

 

Helmut Marko: mentor e algoz, colocou Max Verstappen (na foto) como o "prodígio da vez".

 

Ele falou muito sobre a conversa que o todo poderoso Helmut Marko teve com ele sobre a decisão de promover a troca entre ele e Max Verstappen, que havia uma pressão comercial em torno de se manter Max interessado em continuar nas equipes da Red Bull e que trocá-lo com ele tinha também um caráter de investimento no projeto das equipes a longo prazo, mas era difícil aceitar aquilo de bom grado. Ele disse o quanto Marko costumava ser direto com ele e com todos do programa de jovens pilotos e que nem todos conseguiam lidar bem com aquilo.

 

Daniil sabia teria que fazê-lo e a melhor forma de fazer isso seria andar na frente do seu novo companheiro de equipe, Carlos Sainz Jr. e esperar que Max Verstappen não tivesse uma performance capaz de incomodar Daniel Ricciardo no Grande Prêmio da Espanha. Caso isso acontecesse, seria uma maneira de mostrar a todos nas duas equipes e diante da imprensa, que cercou-o com perguntas, câmeras e flashes de que a decisão da Red Bull teria sido errada.

 

O desconforto de estar de volta à Toro Rosso era evidente nas expressões de Daniil. 

 

O resultado daquele final dês semana todos sabem muito bem: não só Daniil não conseguiu andar na frente do espanhol como Max Verstappen fez um período de treino excelente, andando na frente de Daniel Ricciardo em quase todas as sessões, como , por questões de estratégia, acabou por conquistar uma impressionante e surpreendente vitória na corrida em que estreava na equipe principal.

 

Aquilo tudo teve um efeito devastador sobre Daniil. Primeiro que, com o carro andando bem como andou em Barcelona, poderia perfeitamente ter sido ele a estar no carro e levando a bandeira da Rússia para o alto do pódio pela primeira vez na história da fórmula 1. Daniil deixou o circuito de Barcelona destruído. Ligou para mim e repetia que estava vivendo um pesadelo. Que aquilo não podia ser real.

 

Só existe uma opção para Daniil: trabalhar, superar-se e mostrar que ele continua uma aposta válida.

 

Não há uma fórmula mágica para conseguir desenvolver a força emocional. Se conseguir definir os seus limites emocionais, identificando como é que quer sentir-se e o que seria necessário para sentir-se dessa forma, pode começar a ter a noção das estratégias a tomar. Quando os seus limites são definidos, você ensina aos outros como quer ser tratado e como devem tratá-lo. Através da definição e consciencialização dos seus limites emocionais, você estabelece uma barreira de proteção e fertiliza o terreno para a construção de força emocional.

 

Ao conhecer os seus limites emocionais, saberá reconhecer quando está a sair desses limites ou quando eles estão a ser ultrapassados por outros. Por exemplo, se você tem o seu conjunto de limites bem definido e for confrontado a lidar com uma relação negativa onde se sente desprezado e humilhado, um alerta soará na sua mente lembrando de seus limites e instigando à ação para criar a mudança.

 

Não bastassem as pressões internas, Daniil foi "jogado aos leões". Neste caso, à imprensa.

 

Mas a mudança está sendo difícil para Daniil. Em praticamente todos os momentos em que esteve na pista, ele foi mais lento que Carlos Sainz Jr. e isso certamente não está sendo visto com bons olhos por parte de Helmut Marko, Franz Tost e Chrietian Horner. Este desempenho pode vir a levar Daniil a uma situação ainda pior: perder o lugar na Toro Rosso para algum outro piloto do programa de jovens pilotos da Red Bull como aconteceu com Jean-Eric Vergne, Sebastien Buemi e Jaime Alguersuari.

 

Daniil sabe que precisa se concentrar ao máximo e refazer seu caminho de volta para a Red Bull e isso passará por um processo de superação que precisa começar logo. O tempo corre contra ele e Daniil tem consciência disso. A mudança começa por focar-se naquilo que tem, nas suas virtudes, nas sua forças e habilidades. Deixar de lado as cobranças e a necessidade de ter que dar respostas e explicações, concentrando-se em fazer o seu trabalho.

 

Daniil tem condições de reencontrar-se, mas o tempo corre contra ele.

 

Reencontrar-se! É isso que Daniil busca e precisa. Voltar a ser o prodígio que o fez chegar à Red Bull, que mostrou ter condições de ser um vencedor na Fórmula 1 de fazer da imagem que vimos no final do Grande Prêmio da China uma constante. O tempo é um adversário impiedoso neste processo, tanto quanto o histórico da equipe.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares