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Lewis: Ressurreição ou morte! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 25 May 2016 16:11

Olá fãs do automobilismo,

 

Estou escrevendo de Indianápolis, na noite da terça-feira, 24 de maio, onde estou acompanhando a 100ª edição das 500 Milhas, na torcida por nossos pilotos, devidamente credenciada como enviada do Site dos Nobres do Grid. Que seja dito, fui muito bem recebida pela assessoria de imprensa da IMS e todos disseram que são nossos admiradores... olha a responsabilidade. Minha primeira vinda ao autódromo como “jornalista” e já sob pressão.

 

Cheguei aqui no centro do país apenas na madrugada da sexta-feira para o sábado. Afinal tinha uma agenda de consultas para cumprir e a semana passada foi, sem sombras de dúvidas, a semana mais difícil do ano até o momento. Acho que meus queridos leitores sabem bem o motivo, mas não fazem ideia dos detalhes. Não posso contar todos, por uma questão de ética e sigilo, mas como muito já foi dito ou subliminarmente deixado exposto pela imprensa, posso me dar o direito de revelar algumas coisas.

 

A largada do GP da Espanha de Fórmula 1 acontece aqui lá em San Diego à meia noite do sábado para o domingo, devido ao fuso horário. Preparei um jantarzinho gostoso para meu maridinho, abrimos um vinho e, de sobremesa, vamos assistir a corrida, mesmo sendo algo quase que sacrificante para ele ficar por quase duas horas diante da televisão enquanto eu falo como uma metralhadora.

 

Todos que aqui me leem viram ou ficaram sabendo do que aconteceu na terceira curva do circuito. Enquanto Lewis levava as mãos ao rosto, depois do acidente que tirou ele e Nico da corrida, eu levava as mãos a cabeça com um grito de “meu Deus!!!” Era evidente para mim que minha semana teria o impacto de um daqueles terremotos catastróficos. Eu só não tinha mensurado o tamanho do problema.

 

Aquilo que todos achavam que mais cedo ou mais tarde aconteceria, acabou acontecendo em Barcelona.

 

Passava uns 20 minutos da meia noite, a corrida já reiniciada, quando meu telefone tocou: era Niki Lauda! Perguntou se eu estava assistindo a corrida e eu respondi que sim. Então ele perguntou quando seriam as próximas sessões de Nico e Lewis. Pediu para que não fossem no mesmo dia e eu confirmei que um viria na quarta pela manhã e o outro só na quinta à tarde. Ele agradeceu e disse que “nós teríamos muito trabalho por estes dias...” e desligou.

 

Eu já havia externado aqui que andava muito preocupada com o comportamento do Lewis após a conquista do título. Ele teve alguns problemas no início do campeonato, alguns “azares”, mas estar “tranquilo demais” em dadas situações é um sinal de perturbação psicoemocional onde a pessoa “mascara” para si mesma e tenta fazer o mesmo para os que estão em sua volta numa postura de que “está tudo bem”, quando na verdade, não está.

 

Após o GP da Russia e de outro problema de ordem mecânico em seu carro, na sessão que se seguiu àquela corrida Lewis externou – de forma explícita – o primeiro sinal de que algo não ia bem. Ele não podia falar abertamente para imprensa e nem mesmo para grande parte dos integrantes da equipe que não estava satisfeito com a troca de membros do seu staff de corrida com Nico para a temporada deste ano. Chegar na Europa com uma desvantagem tão grande na pontuação não era algo que Lewis considerava aceitável.

 

O estilo de vida agitado está interferindo em Lewis. Ele não pode mais negar isso.

 

A forma como ele se impôs na classificação para o GP da Espanha dava mostras de que, tecnicamente, Lewis continuava superior a Nico em termos de velocidade, mas e na questão eficiência? Ao longo do final de semana, quantas vezes Lewis cometeu erros em suas voltas rápidas que antes não cometia? Impossível negar que ele estava sob pressão.

 

Na semana em seguida ao GP da Espanha, Lewis era o meu paciente da última sessão da quinta-feira. Ele chegou em cima da hora da consulta. Confesso que por um momento pensei que ele não viria... mas ele veio. Chegou calado, com um expressão no rosto que parecia gritar “preciso de ajuda”. Aquela expressão que ele jamais pode deixar transparecer diante dos fotógrafos ou das câmeras de TV.

 

Um atleta de alto rendimento como é um piloto de Fórmula 1 prepara-se por toda a vida para que na competição, no momento decisivo, saiba controlar as suas emoções a favor do melhor desempenho possível. Acontecer um determinado comportamento ou atitude do qual, posteriormente, possa se arrepender, acontece? Claro que pode acontecer.

 

Após conseguir a pole position, Lewis parecia "estar  de volta" ao Lewis do ano passado.

 

Quando isto acontece quando, reagimos de forma emocional, de forma automática. Isso é uma das coisas que fazem com que nós percamos a cabeça muitas vezes é o fato de não termos controle total sobre os nossos pensamentos e ações. Sim, o equilíbrio emocional é extremamente importante para tomarmos decisões acertadas na nossa vida. O nosso equilíbrio emocional está dependente do conhecimento que temos dos nossos estados internos e da influência que estes têm sobre o nosso pensamento.

 

Muito mais do que estar fisicamente em forma, praticar e exercitar os poderes da concentração é vital para um esportista. Não é diferente daquilo que fazemos quando, por exemplo, aprendemos a jogar tênis. Você nunca reparou no antebraço de um jogador profissional de tênis? O braço com que ele joga é mais desenvolvido que o braço não dominante, mesmo ele fazendo treinamentos físicos adicionais para o outro braço na academia. Isso não acontece devido a nenhuma anormalidade genética, mas devido ao constante uso do braço que agarra a raquete em detrimento do outro. Nós conseguimos fazer o mesmo com a nossa mente: conseguimos praticar a capacidade atencional vezes sem conta para desenvolver o lobo frontal do nosso cérebro, para que funcione a um nível muito elevado.

 

Lewis era o retrato da decepção e do desânimo após a corrida na Espanha.

 

Este tipo de treinamento é que permite o desenvolvimento do equilíbrio emocional. O lobo frontal inibe os comportamentos fortuitos (através de um processo chamado de controle dos impulsos), de forma que cada pensamento não provoque um ato sem previamente ter sido pensado sobre as suas consequências. Este processo certamente é capaz de evitar a todos nós, não apenas aos super atletas como os pilotos, muitos problemas provocados pela ausência de raciocínio lógico de grande parte das nossas ações menos ajustadas.

 

Quantas vezes os nossos comportamentos e propósito correspondem completamente? Quão frequentemente damos por nós em disputa com as nossas intenções e ações? O nosso ego por vezes nos impulsiona a falar ou agir de maneira que perdemos o controle do que estamos fazendo e extrapolamos o limite da realidade. o ego está simplesmente a seguir ordens da nossa mente, por isso devemos colocar o fracasso/falha exatamente onde pertence: Na nossa força de vontade para agir.

 

Não tenho dúvidas de que uma guerra pior que a de 2014 vai acontecer a partir da corrida de Mônaco.

 

Por vezes não seguimos em frente porque nós simplesmente “não sentimos isso.” Quando deixamos os nossos sentimentos tomarem o controle, a nossa mente “adormece”, e fazemos correr o programa automático, reagindo todos os dias à constante tagarelice na nossa cabeça. O desenvolvimento da musculatura emocional, através do treino do lobo frontal, pela ação da atenção intencional, permite-nos silenciar o diálogo interno que nos retira as aspirações e elevação.

 

Extrapolamos o horário da sessão, mas eu achei que isso foi mais do que necessário. Era preciso fazer com que Lewis saísse bem aqui do consultório antes de voltar para a Europa. No dia seguinte, recebi outro telefonema de Niki Lauda, perguntando como tinha sido a sessão.

 

Disse-lhe que trabalhamos bem, mas que era preciso um trabalho em equipe, envolvendo ele, Toto Wolff e Paddy Lowe para que Lewis não se perca mais uma vez. Que sejam dadas realmente condições iguais aos dois pilotos da equipe. Afinal, não seria lógico ou prudente deixar um bicampeão (tri com o título na McLaren) sair com sua capacidade e o volume de informações que acumulou nos anos dentro da equipe para as fileiras inimigas. Ele concordou!

 

Os dirigentes da Mercedes terão este ano maistrabalho do que tiveram no ano passado, provavelmente.

 

Quando os queridos leitores estiverem lendo esta coluna, dia 31 de maio ou 1º de junho, já terá sido disputado o GP de Mônaco e saberemos se Lewis conseguiu por em prática aquilo sobre o que conversamos. Caso isso aconteça, preparem-se: teremos uma verdadeira guerra dentro da equipe e pelas pistas restantes da temporada.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares