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Entrevista: Felipe Giaffone PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 29 April 2016 07:38

O sobrenome Giaffone tem uma história de meio século no automobilismo brasileiro e dentre os membros desta família veloz, Felipe Giaffone, ex piloto da Fórmula Indy e atualmente um dos mais destacados pilotos da Fórmula Truck vem mostrando sua capacidade dentro e fora das pistas.

 

Desde sempre preocupado com assuntos que extrapolavam os limites do asfalto, Felipe Giaffone foi membro atuante por anos como consultor da Comissão Nacional de Kart da CBA, comissário em competições nacionais e internacionais. Representou nosso automobilismo em vários eventos da FIA e da FIK e assumiu, desde o ano passado, a presidência da Associação de Pilotos Brasileiros de automobilismo – ABPA – que além de conquistar o inédito direito a voto nas assembleias da CBA, pretende revolucionar a relação dos pilotos com o esporte no país.

 

Foi sobre ests e outros assuntos que Felipe Giaffone concedeu esta inédita e exclusiva entrevista para o Site dos Nobres do Grid durante a última passagem da Fórmula Truck por Curitiba.

 

NdG: A família Giaffone construiu uma história ao longo deste meio século de velocidade. Com o sucesso vem a cobrança e a responsabilidade. Como é lidar com isso?

 

Felipe Giaffone: É uma história que começou com meu pai, meus tios, passou por nós, eu e o Zequinha [Giaffone], e já está nos meus filhos, é a terceira geração e eu digo que é uma felicidade poder trabalhar com aquilo que se gosta. Seja como comentarista da Band, seja no kartódromo da Granja Viana, seja aqui correndo na Fórmula Truck, o que move a mim e a todos é poder fazer isso. É trabalhoso, mas é muito gostoso.

 

NdG: Mas os Giaffone não se limitaram a conquistar o sucesso como pilotos nas pistas, tem o lado dos empreendedores, dos construtores, de desenvolvimento tecnológico. Foi uma questão de vocação, necessidade ou oportunidade?

 

Felipe Giaffone: Meu pai e meu tio já haviam começado uma fábrica de kart com meu tio Affonso lá trás, nos anos 60/70, mas eles pararam, e só voltaram quando eu e o Zequinha começamos a correr, foi quando a ZF voltou com força e foi o começo  de tudo que as pessoas veem hoje. Depois dos karts passamos a fazer as “gaiolas” dos carros da Stock Car e depois passamos a fazer os carros inteiros e junto com a introdução dos motores V8. Isso tudo precisou de muito esforço e dedicação, especialmente do Zequinha que ficava dia e noite na fábrica. Mas este lado de construção e projetos é mais do meu pai e do meu irmão. Eu fiquei mais ligado ao kartódromo, que também exige muito, mas como fica tudo na mesma rua estamos sempre em contato, trocando ideias e buscando fazer as coisas cada vez melhores.

 

Eu tenho uma vida muito corrida com a F. Truck, sendo comentarista na Band, na gestão do kartódromo... mas isso é gostoso.

 

NdG: Mas você não pode fugir desta parte da JL... afinal, você foi durante muito tempo o piloto de testes dos carros lá fabricados. Você ainda faz isso?

 

Felipe Giaffone: (risos) é, eu ainda sou, mas no ano passado tive tantos compromissos que nem consegui fazer todos os testes que eram necessários. Andei muito nos Stock Car durante anos e além deste carro atual, fizemos testes com outros dois protótipos até chegar na configuração atual e os resultados estão aí. Um carro bom, rápido, competitivo e seguro. Infelizmente esta condição acabou me impedindo de vir a participar da categoria, mas me deu muito prazer andar bastante com os carros da Stock.

 

NdG: Entre os Giaffone, você é o que – até agora, pelo menos – foi “mais longe”. Como foi o trilhar deste caminho naquela época e como você vê este caminho hoje?

 

Felipe Giaffone: Eu acho que eu e o Zequinha fomos os primeiros brasileiros a ir direto para os Estados Unidos pra correr. Aqui no Brasil eu só corri de kart, nunca de outra categoria. A gente via o caso de alguns pilotos que foram para a Europa, uns com mais sucesso que outros, e que por não conseguirem atingir seus objetivos por lá acabaram indo para os EUA, que estava se mostrando um mercado um pouco mais aberto, menos competitivo para se tentar um caminho de profissionalização no automobilismo e eu falava desde criança que eu queria ganhar dinheiro correndo, como piloto... de qualquer coisa, mas como todo menino que andou de kart tinha o sonho da Fórmula 1. Com 19/20 anos eu deixei de lado o sonho da Fórmula 1 fui para os EUA para tentar me profissionalizar. Como tudo na vida o trabalho também precisa ter uma coisa de sorte e eu tive muita quando consegui o patrocínio da Hollywood, mas antes disso tanto eu como o Zequinha ralamos muito, corremos muito atrás de patrocínio. Ele, uma hora, desistiu e eu continuei mais um pouco, cheguei a voltar para o Brasil e andar de kart no início do kartódromo da Granja Viana, mas foi ali que consegui um teste com a Hollywood na Indy Light e além de ter ido bem, tive a sorte de outros pilotos mais experientes terem subido para a A categoria principal, o Tony [Kanaan] era da Tasman e tinha patrocínio da Marlboro, que era concorrente. O patrocínio veio para mim! Trabalhamos juntos vários anos e ter um apaixonado por automobilismo como era o Flavio de Andrade, presidente da Souza Cruz na época e se não fosse esta parceria com eles talvez minha vida fosse bem diferente hoje.

 

NdG: Passaram-se mais de 15 anos, quase 20 desde sua entrada na Indy Light e a gente olha hoje e estão lá o Tony [Kanaan] e o Helio [Castroneves] ainda e não vemos mais novos pilotos como outros que surgiram depois de você e não se firmaram ou, pior, pilotos com chances reais de ascensão  para ser o futuro na categoria. Onde está o problema? Há um problema aqui no Brasil?

 

Eu queria ganhar dinheiro como piloto. Falava isso desde criança. Claro que sonhei com a F1, mas nem fui pra Europa, fui direto para os EUA.

 

Felipe Giaffone: Uma coisa que eu vejo e, de certa forma positiva, foi o automobilismo nacional crescer muito. Quando eu era moleque, meu sonho era ser piloto profissional e se fosse hoje e minha família não tivesse a relação que tem com a Stock Car, eu focaria na categoria. Lógico que temos a Fórmula Truck também, que é uma grande categoria e onde estou há uma década, mas a Stock seria um caminho natural e o investimento para se sair do país para correr é muito alto hoje em dia, mais do que quando eu e o Zequinha saímos e tanto os pais como os pilotos estão vendo que é possível se profissionalizar e ganhar dinheiro correndo aqui no Brasil. Eu acho que isso desmotivou muitos brasileiros a tentar fazer uma carreira internacional da forma que era antes. Se a gente for olhar para o que era o automobilismo nacional 20 anos atrás, quem era profissional e ganhava dinheiro com o automobilismo além do Ingo [Hoffmann], do Chico [Serra] e do Paulão [Paulo Gomes]? Veja o exemplo do automobilismo argentino, que é fortíssimo: eles não tem pilotos na F1 faz tempo. Na Indy eu não lembro de nenhum e lá tem várias categorias que correm nos finais de semana e eles vivem disso. A mesma coisa é nos EUA, e neste caso, muito maior. É algo muito forte. A NASCAR tem três categorias que a gente vê na TV e mais outras tantas subdivisões regionais, e corridas em ovais de terra as categorias de monopostos e tanta coisa mais. Os patrocinadores investem lá e o automobilismo cresce sem ter que se sair do país.

 

NdG: Tudo bem, vimos aí duas realidades distintas, mas o Brasil ainda está longe de ambas... mesmo aqui da Argentina. Vamos então deixar de lado o que conquistamos mundo a fora?

 

Felipe Giaffone: No caso do Brasil seria preciso se fazer algo mais. Precisaríamos de um projeto que pudesse usar leis de incentivo e grandes patrocinadores abraçarem o projeto para que pudéssemos fazer uma academia de pilotos para que estes garotos fossem com condições para os EUA e para a Europa, onde eu vejo o aprendizado no mesmo nível, e por estes meninos em evidência. Isso precisaria também de muita divulgação, de apoio da televisão. Se nada for feito, pode ser que em pouco tempo não tenhamos mais pilotos na F1 e F. Indy.

 

NdG: A gente vê hoje essa coisa de “programa de jovens pilotos”. Nos anos 70/80 a Elf e a Renault tinham projetos de formação e suporte a pilotos franceses e estes chegaram na F1, mas este modelo de hoje parece ser bem diferente. Esse modelo atrapalhou a vida dos Brasileiros?

 

Felipe Giaffone: Em parte sim, mas não é só isso. Falta a gente se mexer por aqui e é daí que vem uma das ideias da associação que criamos. Eu fui com o Cleyton [Pinteiro] na FIA e este ano eu vou pra França e pretendo copiar um modelo de escola de kart que eles tem lá para trazer para o Brasil e fazermos três escolas. A FFSA, que é a federação francesa deu esta oportunidade de trazermos isso para o Brasil e o presidente da CBA comprou a ideia e nós fizemos o projeto onde 70% vai ser bancado pela FIA e 30% pela CBA e isso vai acontecer. É um passo pequeno, mas já é alguma coisa no sentido de formar pilotos e com isso criar uma base. Na França eles tem cerca de 50 escolas padronizadas e daí vamos ter quantidade para tirarmos qualidade. Este ano eu fechei um projeto de incentivo com a Shell e a ComGás onde estaremos formando 96 pilotos e com a performance como critério e vai haver uma rotatividade e um afunilamento. Neste caso, o projeto é a Stock Car, que é até onde a gente consegue bancar. Para um projeto atingir um nível internacional a gente vai precisar de mais.

 

NdG: Isso poderia ser uma forma de alavancar e colocar um destes novos pilotos do kart numa destes “programas de jovens pilotos” que possa levá-lo até a F1?

 

Felipe Giaffone: Eu vejo isso como o caminho e vejo a ABPA, a associação dos pilotos que está nascendo como um meio para se conseguir isso. Na Inglaterra o BRDC tem mais de 800 pilotos filiados. O presidente era o Damon Hill e agroa é o Derek Warwick. Em outros países existem associações de pilotos que trabalham para que os pilotos locais tenham mais oportunidades e possam ter carreiras profissionais.

 

NdG: Durante muito tempo você esteve envolvido com o CNK (Comissão Nacional de Kart), mas você se afastou algum tempo atrás. O que te levou a se afastar?

 

Hoje, apesar da crise atual, é possível se profissionalizar e ganhar dinheiro como piloto no Brasil. Isso tem segurado bons pilotos por aqui

 

Felipe Giaffone: Na área do Kart Internacional eu fiquei até o ano passado, participando das reuniões e transmitindo para a CBA o que lá era discutido e aqui no Brasil e aqui no Brasil, começamos um trabalho com o [Rubens] Gatti, eu e o Binho Carcasci, mas o Binho não aguentou seis meses sequer e eu também acabei largando porque não adiantava nada eu falar as coisas e se fazer tudo de forma diferente. Daí eu comuniquei ao Cleyton [Pinteiro] que iria me afastar, mas sem fazer alarde, porque eu não tinha no [Rubens] Gatti o suporte para fazer certas ideias se tornarem viáveis, serem executadas. Com o tempo ele foi centralizando as decisões e hoje é assim que funciona, com ele centralizando tudo.

 

NdG: Voltando para tua carreira nos EUA, você teve sucesso, conseguiu bons resultados, venceu uma corrida (com uma equipe pequena, o que é mais difícil) e dos monopostos a mais de 300 Km/h você veio para um caminhão de 4,5 Toneladas. Como foi essa adaptação a um meio tão diferente?

 

Felipe Giaffone: Realmente, é uma diferença muito grande. Eu tive uma carreira boa nos EUA até antes do meu acidente no Kansas em 2003, no mesmo oval onde morreu Dan Weldon, quebrei o fêmur direito e a bacia e acabei ficando um bom tempo afastado. Naquele ano foi proibido o patrocínio de cigarros para a temporada seguinte e com isso perdi o patrocínio da Hollywood. Para 2004 eu peguei uma equipe horrível (Dreyer & Reinbold) e daí a coisa foi ladeira abaixo. Nos dois anos seguintes eu estive na equipe do A.J. Foyt, que era muito ruim ainda e mesmo conseguindo alguns bons resultados eu desanimei. Eu não queria me tornar um desses pilotos que ficavam esperando um colega bater e se machucar para assumir o carro dele e nem também ficar tentando guiar mais que o carro e me envolvendo em acidentes. Quando eu fiz minha última corrida na Indy eu pensei “É, acabou o tesão”. O bacana em ser piloto é poder correr e se sentir bem. Eu podia ter ficado mais um ou dois anos tentando ficar na categoria, morando nos EUA, mas em 3 meses em empacotei os 10 anos de EUA e mandei tudo pra o Brasil e “virei a chave”. Hoje, mesmo comentando as corridas, indo em algumas ao vivo, não sinto a menor vontade de estar lá na pista, e também não teria mais condições de estar lá depois deste tempo todo. Quando eu voltei para o Brasil eu não queria mais correr, ia dar um tempo pra pensar na vida, mas o Renato [Martins] me chamou e eu topei... e ganhei o campeonato! Naquele ano de 2007 fui convidado para correr as 500 Milhas de Indianápolis. Só não fui porque os treinos da qualificação coincidiam datas com uma etapa do campeonato. Foi quando ganhei minha primeira corrida na categoria e, no final do ano, fui campeão. Mas eu trocava aquela vitória pela chance de poder andar num carro de uma equipe média nas 500 Milhas, com certeza. Eu já estou aqui disputando minha décima temporada, numa grande equipe, sendo competitivo e realizando meu sonho, que é ganhar dinheiro correndo, mas se eu deixar de ser competitivo, quando isso acontecer, eu paro.

 

NdG: Mas você não precisava ter retornado para o Brasil. Os EUA oferecem possibilidades. O Campeonato de Endurance é forte e competitivo, tem corridas de GT e Protótipos. Você não pensou em uma alternativa por lá?

 

Felipe Giaffone: No meu último ano nos EUA as coisas não estavam boas por Lana Indy  eu comecei a sondar possibilidades e até acertei um teste com protótipos, mas quando eu encerrei a temporada na Indy eu larguei tudo mesmo pra trás nos EUA e vim embora para o Brasil. Além de estar desmotivado na Indy, as coisas estavam precisando de uma ajuda por aqui. O Kartódromo [Granja Viana] estava passando por um momento difícil, tinha muito trabalho por aqui, meu pai e meu irmão precisavam de ajuda e quando ele me via de mau humor por lá, falava, “larga tudo e volta. No dia que você não quiser mais isso aí, tá cheio de coisas pra você fazer no Brasil” (risos). Além do que, no campeonato de endurance você corre 10 finais de semana e os outros vai fazer o que? Ficar na praia? Eu não nasci pra isso. Eu estou muito mais feliz aqui com todo o trabalho que tenho do que se estivesse nos EUA, quase que de férias, correndo de vez em quando.

 

NdG: E nessa de gostar de trabalhar você foi se tornando uma voz muito ativa no automobilismo brasileiro. Até onde você buscou isso e até onde as coisas acabaram surgindo pra você?

 

O patrocínio da Hollywood foi fundamental pra meu sucesso nos EUA, mas o acidente em 2003 e o fim dos patrocínios de cigarro em seguida mudou tudo.

 

Felipe Giaffone: Eu sou um cara muito sonhador, diferente do meu irmão que é mais pé no chão e eu vejo que minha vida como piloto já está no final. Eu estou motivado, continuo competitivo, mas não busco mais novos desafios, novas categorias e não vou esperar perder a competitividade para parar. Era preciso, continuando no meio, buscar outras coisas e eu devo isso ao Cleyton [Pinteiro] que me chamou, primeiro para fazer coisas junto à CBA, depois me colocou na FIA onde pude ver e entender como muitas coisas funcionam e é inacreditável como nós pilotos só nos preocupamos em acelerar, ter um carro competitivo e ir atrás de patrocínio quando tem muito mais coisas envolvidas. O piloto é uma raça bem egoísta... e eu me incluo nisso aí. Hoje menos, porque eu tive a chance de abrir os olhos e ver o quanto de coisas existem envolvidas no nosso esporte e tento passar isso hoje para todos com quem convivo. Há algum tempo fui, mais uma vez indicado pelo presidente da CBA, colocado como comissário desportivo internacional, que é diferente do piloto convidado e eu vou estar como comissário em Spa Francorchamps na F1 este ano.

 

NdG: Você deu “o gancho” da pergunta seguinte: como é este processo de indicação, seleção e aprovação de comissários na FIA?

 

Felipe Giaffone: Vou citar a F1: todo país indica, além dos comissários internacionais que são indicação da FIA, há um comissário nacional. É um jeito que a FIA tem para “agradar” as autoridades nacionais, mas ninguém coloca um comissário que não entenda de corridas, claro. Foi aí que o Cleyton me indicou e eu achei, de início, que eu não seria a pessoa mais indicada para isso, por nunca ter sido comissário antes e o presidente apostou em mim e eu me preparei pra fazer isso. Sem alarde, sem divulgar por aí, há 7 anos que sou o comissário nacional aqui no GP Brasil de F1. Dois anos atrás, por eu falar demais, os comissários internacionais perguntaram se eu aceitaria ser um dos comissários internacionais da FIA, para estar em corridas fora do Brasil. Eu disse que sim, mas expliquei que minha agenda era muito complicada com o trabalho de comentarista da Indy, com o trabalho no Kartódromo, com o calendário da F. Truck... teria que dar muito certo encaixar tudo. No ano passado eles voltaram a falar nisso e no início deste ano o Charlie [Whiting] me convidou para ser um dos comissários internacionais. Trocamos emails, eu mandei meu calendário para ele e eu fui escalado para Spa. Só que quando você entra na FIA como comissário internacional, aparecem vários convites. Eu vou fazer uma etapa do WTCC este ano e teve um convite da Fórmula E em Long Beach, que não deu pra aceitar por ser no final de semana de etapa da Indy. O WTCC é um desafio novo, um regulamento que eu estou estudando, mas que eu acho que tem muito mais a ver com a nossa realidade no Brasil do que a F1. É algo que podemos trazer para aplicar no automobilismo nacional. Eu já faço treinamento para comissários de kart e, via associação, esperamos poder fazer treinamentos para comissários de pista. A ideia é, além de melhorar o trabalho dos comissários, aproximar a relação entre pilotos e comissários para que a distância entre nós seja menor e um não ter raiva do outro (risos).

 

Eu trabalhei algum tempo junto ao CNK, fui a reuniões na FIA, mas optei por me afastar por não ser ouvido nas coisas que colocava.

 

NdG: Agora conta uma entre nós (e todos os leitores do site): os comissários que estão há anos como comissários não ficaram melindrados ou chateados por você e não um deles ter sido indicado para esta posição que você está assumindo?

 

Felipe Giaffone: Eu acho que o complica um pouco nessas horas é o inglês. Talvez haja uma dificuldade na comunicação em inglês, que nesses casos é fundamental, e uma outra coisa é que o comissário brasileiro que ficou muitos anos antes de mim no GP Brasil ele nunca passou nada pra ninguém sobre como é o trabalho em um evento desses e eu pretendo fazer justamente o contrário. Com isso, de formar, de aperfeiçoar, eu espero que possamos fazer algo que nãosei se será possível, mas no GP Brasil, daqui mais algum tempo, eu entrar como comissário internacional e ter um outro brasileiro como o comissário do país. O importante é que haja um aprendizado, um aperfeiçoamento. A F1 é um mundo à parte, mas a gente pode trabalhar esta melhoria com outras categorias e nós temos alguns bons comissários e se a gente tiver mais ferramentas e mais treinamento juntos, podemos ter comissários ainda melhores. Eu acho que os pilotos estão errados de falar que os comissários são horríveis. Um outro problema também é que não existe um comissário que seja dedicado só a isso, um profissional. Todos tem seus trabalhos e fazem o trabalho de comissários no final de semana e na segunda-feira estão de volta ao trabalho normal. Isso, claro, não é culpa deles, mas podemos, quem sabe, pensar em mudar isso no futuro.

 

NdG: Você disse que é um cara que “fala demais”. Foi por isso que acabou “sobrando pra você” ser o primeiro presidente da Associação Brasileira de Pilotos de Automobilismo?

 

Felipe Giaffone: Este assunto da ABPA é algo que já vem sendo falado há algum tempo com o Cleyton [Pinteiro] e ele foi um incentivador para que nós fizéssemos a associação e eu tinha meus receios porque não é só criar uma associação para dizer que existe uma associação e no ano retrasado, conversando mais uma vez com o Cleyton [Pinteiro] eu falai que, se a proposta para se criar uma associação e esta ter o espaço que vai ter junto à CBA, eu trabalharia no projeto e ele disse que sim, que estava tudo de pé. Mas eu lembrei a ele que, sendo uma associação de pilotos, a gente iria “bater” na na CBA e ele disse: “É isso que eu quero! Tem que cobrar, que falar que criticar. Quem é que mais fala da CBA? Não é o Cacá [Bueno], não é o Thiago [Camilo]. Eles tem que estar na associação.” A proposta da associação não é reunir um grupo de amigos, mas reunir os pilotos em busca dos nossos interesses e pra isso precisamos do críticos, também dos moderados, dos ponderados. Não é para fazer dos pilotos amigos, não é pra unir ninguém, mas sim para termos uma voz. Claro que eu espero que tenhamos diferenças de opinião entre nós, mas que as boas ideias surjam e pela maioria possamos colocar nossas posições diante da CBA. Desde o início do ano aABPA vem ocupando 70% do meu tempo.

 

NdG: Mas isso não é ruim pra você como piloto? Como administrar esta associação e continuar na pista, nos treinos, nos negócios particulares?

 

Felipe Giaffone: A ideia é que a associação vai funcionar como uma empresa. Ela vai ter administradores e os pilotos serão associados. Nós daremos as diretrizes, mas ela vai ser profissionalizada, profissionais do ramo vão tocar a associação pra que ela se estabeleça.

 

Tenho uma boa relação com a CBA. O Cleyton me chamou para o CNK, me chamou pra ser comissário e foi um incentivador da ABPA.

 

NdG: Vocês trocaram ideais com outras associações, como a Associação Argentina de Volantes?

 

Felipe Giaffone: Não, e por pura falta de tempo. Existem alguns exemplos de associação. A da Inglaterra, que o Gil de Ferran me falou é bem estruturada, mas é um pouco diferente do que a gente está fazendo e existe a ADAC na Alemanha, onde eu estive e que é um negócio absurdamente grande, que tem um prédio de mais de 20 andares e super moderno. No prédio, o automobilismo ocupa só um andar, os outros funcionam com assuntos de interesses deles, onde já houve até evento da FIA e a gente tem que fazer uma empresa que consiga gerar recursos para que este seja investido em corridas, em formação, em crescimento do automobilismo e os pilotos terão uma série de benefícios sendo associados como o site da ABPA mostra. Tem sido muito legal ver a receptividade das empresas onde eu fui junto com o Paulo Becardi, que é o diretor executivo e não tomamos um fora ainda. Pedir patrocínio para automobilismo você toma noventa e nove foras pra ouvir um sim e só ouvimos “sim”. Ainda não fomos em todas as empresas que queremos ir, mas é o início ainda.

 

NdG: Quanto tempo vai ser o mandato do presidente da ABPA?

 

Felipe Giaffone: São 4 anos. Um, inclusive, já passou antes da associação ser lançada agora em abril. A associação faz um ano em agosto. Há a possibilidade de uma reeleição, com os votos sendo dos co-fundadores. Uma coisa importante é que nossas contas serão 100% abertas e todo mês um co-fundador vai fazer um vídeo mostrando como o valor das contribuições será aplicado e a receptividade no meio dos pilotos foi muito boa e há uma motivação geral.

 

NdG: De uma forma geral, quem acompanha automobilismo e ouve falar em associação pensa logo em GPDA (Grand Prix Drivers Association). A ABPA é parecida em alguma coisa com a GPDA?

 

Felipe Giaffone: Eu não conheço bem a GPDA. Até participei de uma reunião da associação de pilotos da FIA, junto com o Emerson [Fittipaldi] que era seu presidente. Da GPDA, que é dos pilotos da F1. A ABPA é algo mais próximo do que é a da FIA, mas no nosso caso, diferente do que é a associação da FIA. Nós seremos uma empresa, que vai captar dinheiro e investir no automobilismo em assuntos que são necessários, que vemos fazer falta e que queremos melhorar.

 

NdG: A gente foi buscar a GPDA por um problema que há por lá que é o desinteresse de alguns pilotos. Como evitar que isso aconteça no futuro com a APBA?

 

Felipe Giaffone: Toda vez que se tem uma associação de pilotos de uma categoria apenas é complicado. Primeiro porque o benefício é segurança, prevenção e eu entendo que haja conflito porque eu via isso na Indy. Eu, com 25 anos de idade, queria ir pra cima, queria ganhar corrida e arriscava, enquanto quem tinha mais anos de categoria era mais ponderado. Com o tempo é que sua cabeça vai mudando. Ter uma gestão nas mãos de ex-pilotos como é o caso da GPDA (presidida por Alexander Wurz) ou pilotos mais velhos é bom porque eles sabem os pontos que precisam ser abordados enquanto a molecada quer é acelerar e conquistar seu espaço... e não dá pra culpá-los. Eu nesta fase não tinha interesse algum em querer fazer alguma coisa. São poucos os que pensam nisso quando jovens.

 

NdG: A ABPA vai ter o inédito direito de ter voto nas assembleias da CBA e do CTDN, junto com as 20 federações que existem no Brasil. Com o voto de vocês serão 21 votos nas próximas eleições para presidência em janeiro de 2017. Você já parou pra pensar que o voto da ABPA pode decidir uma eleição em que se aponta que teremos dois candidatos?

 

A ABPA chega para somar, vai ser uma empresa para trabalhar pelos pilotos e teremos voto na CBA. Avisei ao Cleyton que iríamos “bater” na CBA e ele disse: “é isso que eu quero”.

 

Felipe Giaffone: Sim, já pensei! Mas eu pensei mais além. A ABPA tem um voto, mas ela tem a voz de todos os pilotos e assim como cobraremos do presidente neste final de mandato, cobraremos do futuro presidente e o nosso voto será dado para o candidato que apresentar as melhores propostas para os próximos quatro anos e, independente de quem for eleito, haverá cobrança da nossa parte. O que ele disser que vai fazer, caso não faça, nós colocaremos a boca no trombone. Votaremos no candidato mais alinhado com nossa visão do que é preciso fazer pelo automobilismo brasileiro e a ABPA será parceira e fiscal da administração.

 

NdG: Será que a presença da ABPA no centro do poder não poderá fazer com que um piloto, seja o presidente ou um outro membro da ABPA venha a ser um futuro candidato à presidência da CBA?

 

Felipe Giaffone: Eu acho que não. A ABPA pode ajudar muito a CBA. Se andarem de mãos dadas pelos interesses do automobilismo brasileiro, isso será o que vai atender nossos anseios. Queremos um presidente que consiga atender os anseios dos pilotos e que consiga administrar bem a entidade. Isso será como ter um de nós como presidente.