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O milagre mexicano! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 17 March 2016 00:11

Caros amigos, em tempos de turbulência econômica e para quem trabalha com o mercado mobiliário, como eu, tem se deparado com situações desafiadoras dia após dia na realidade brasileira, vendo coisas que dificilmente imaginaria ver (ou rever), certas coisas são realmente surpreendentes. Nos anos 70, o Brasil viveu um período chamado de “milagre econômico”, que de milagre não tinha nada. No automobilismo caótico do mundo CVC/FOM/FIA, um “milagre” está acontecendo.

 

Dentro da sua metodologia de gestão onde atrair os holofotes para si e para seu produto e fazer pressão em seus parceiros com o uso da mídia, Bernie Ecclestone colocou Interlagos sob os holofotes quando em entrevista à emissora britânica Sky Sports, revelou que o nosso GP corre o risco de não acontecer este ano por conta de dificuldades financeiras da organização do evento, mas nos seu jogo de “morde e assopra”, revelou que está trabalhando para que a corrida no Brasil não deixe de acontecer.

 

Já tem alguns meses que temos tratado deste assunto, tanto na minha coluna como outros colunistas também já abordaram o tema. O problema é complexo: para trazer a Fórmula 1 para o país o investimento é alto e o retorno além de duvidoso tem diversos fatores que vão além do dinheiro, apesar deste ser o ponto mais crítico no caso específico do GP Brasil.

 

Em tempos de crise como o que estamos vivento e com as grandes empresas estão reduzindo seus investimentos em publicidade, mesmo aquelas que tem mantido sua presença no GP do Brasil, tem investido menos. Somado a isso os custos do evento aumentam sem parar e para piorar tudo, a disparada do dólar dobrou o valor investido de 2013 para 2015... e as incertezas do quadro econômico do país para os próximos meses certamente tem deixado Tamas Rohonyi com um grande problema nas mãos.

 

Se o estimado leitor acha que seria apenas uma forma de Bernie Ecclestone estar usando a fragilidade de alguns países que recebem a categoria há muitos anos para forçar situações onde a FOM consegue tirar vantagens cada vez maiores, que há pelo menos uma dúzia de países prontos para ocupar o lugar do Brasil e que o poderoso chefão da categoria não pensa duas vezes em deixar de fora um país, por mais tradição que ele tenha, fora do calendário (vide os anos que a França está sem GP e no ano passado não teve GP da Alemanha), a questão é mais complexa.

 

Bernie Ecclestone tem negócios no Brasil. Sua ligação com o país vai além do GP de Fórmula 1 e isso tem décadas. Poucos sabem que ele produz, por exemplo, cafés gourmet para exportação em São Paulo. Mas, por outro lado, interesses e tradições não são garantia de nada e nem para ninguém. Basta ver a situação que os administradores do autódromo de Monza estão passando.

 

Um dos mais tradicionais circuitos do mundo, num país que “respira velocidade”, o principal palco do país corre o sério risco de não ter seu contrato renovado este ano (ao menos no caso de Interlagos, o contrato vai até 2020). Mesmo com todo o sucesso de público que é todos os anos, e com um raro momento de benevolência por parte de Bernie Ecclestone, com uma redução na taxa de contrato para a realização da etapa italiana, ele tem exigido um pacote de investimentos em melhorias que na confusa política italiana (tão ou mais que a nossa), tem sua decisão ainda não definida, uma vez que os italianos também tem reclamado de uma relação deficitária na corrida. Por via das dúvidas, o circuito de Mugello teve sua homologação como FIA1 concedida na semana passada e deixada uma porta aberta para que outro promotor use uma outra pista para manter o GP italiano. Aliás, isso já aconteceu em uma ocasião, com o GP da Itália sendo disputado em Ímola.

 

E onde está o milagre? Este não vem nem do Brasil nem da Itália, mas do México, que voltou a receber a fórmula 1 em 2015 e, ao contrário do que ocorreu em vários outros países, o GP mexicano tem sido alardeado (ao menos segundo declarações dadas pelo Ministério do Turismo daquele país) como um sucesso financeiro, com um lucro anunciado de mais de 400 milhões de dólares.

 

A questão é saber se esta empolgação que foi a volta da corrida ao Autódromo Hermanos Rodriguez não seria apenas um momento de euforia pelo retorno do país ao circo da Fórmula 1 e se com as enfadonhas corridas que tem se sucedido (e a corrida mexicana não fugiu a regra).

 

Devemos também “dar um desconto” nos números divulgados pelo ministério do turismo mexicano quando fala em retorno porque este não foi apenas o retorno de bilheteria no autódromo, mas engloba o volume que girou na economia, algo que a SPTuris não divide como bônus para o promotor, que aqui no Brasil é um empresário, lá no México, o governo é parceiro no negócio.

 

Alguns exemplos precisam ser igualmente considerados: é bom lembrar que a primeira corrida no COTA foi um grande sucesso, mas que com a continuidade da prova o público e o retorno financeiro foram diminuindo.

 

Resta saber se o “milagre mexicano” terá uma vida mais longa que o milagre econômico brasileiro.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva