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Será que vale a pena? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 09 March 2016 22:55

Caros amigos, no início deste mês, o neto do nosso eterno colunista, Senhor Willy Möller, Yan, que reside perto de Zandvoort, na Holanda, nos escreveu dizendo que estava havendo um movimento por parte de um membro da nobreza daquele país, que tem um regime de parlamentarismo monárquico, para reformar e trazer a Holanda de volta ao calendário da Fórmula 1.

 

De certa forma, acredito que o destaque conseguido pelo jovem Max Verstappen em seu ano de estreia na categoria pode ter incendiado os corações mais exaltados dos fãs de automobilismo. A questão reside nas dificuldades em se conseguir colocar algum país no mapa da geografia financeira de Bernie Ecclestone, ainda mais sendo na Europa.

 

O velho continente, como é chamado, ainda abriga a maior parte das corridas disputadas no campeonato. Contudo, neste ano teremos duas (três se formos pensar em antiga União Soviética) das nove corridas disputadas em países que não possuem “tradição automobilística”: Hungria, Russia e Azerbaijão... com os dois últimos tendo “comprado a alto preço” o ticket de entrada para o circo.

 

Não sei o que passa pela cabeça do nobre de ideal tão nobre como o holandês que pretende levar de volta a Fórmula 1 ao seu país. Contudo, espero que ele esteja bem atento a outros entusiastas que fizeram tal aposta e investiram algumas centenas de milhões de dólares (ou euros, caso ele venha a levar o projeto adiante) e terminaram com um enorme elefante branco nas mãos... e uma dívida ainda maior com os investidores. Exemplos não faltam.

 

Na Coréia do Sul foram investidos quase 400 milhões de dólares para transformar uma distante área rural no maior complexo automobilístico do país. Yeongan recebeu seu primeiro GP em 2010 e seus idealizadores imaginavam transformar aquele circuito numa verdadeira “Meca” do automobilismo, atraindo milhares de pessoas e desencadeando um efeito de grande fomento no esporte a motor daquele país.

 

O circuito que ocupa uma área de quase dois milhões de metros quadrados (isso é quase o dobro da área de Interlagos) e com arquibancadas para 120 mil pessoas que simplesmente não compareceram! Ao longo dos quatro anos de realização, seria preciso somar todos os públicos para lotar o autódromo, que nos outros 51 finais de semana, ficava subutilizado, com realização de corridas amadoras, de bicicletas e até de patins.

 

Na Turquia, que investiu pouco mais de 300 milhões de dólares, aconteceu o mesmo problema de público e de ociosidade. Durante os demais 51 finais de semana do ano, nada acontecia no autódromo que até foi elogiado pelo seu traçado, mesmo tendo sido projetado pelo controverso Hermann Tilke. Dois anos atrás, o espaço foi utilizado como depósito de carros velhos e chamou a atenção da mídia esportiva.

 

Pior foi o caso da Índia, que investiu quase meio bilhão de dólares para fazer um autódromo, com incentivo de Bernie Ecclestone que via na emergente e aquecida economia local, no fato de ter uma equipe no grid com CEO indiano e alguns pilotos com potencial para estar no grid uma oportunidade de negócios.

 

O problema foi que os meios políticos e jurídicos colocaram em risco a realização da corrida em todos os anos, com ameaças de embargo do evento e até de arresto dos equipamentos. O dono da Force India, Vijay  Mahlia, recebeu ordem de prisão por questões com o fisco e com empresas locais, parceiras comerciais em seus negócios. Ele escapou, o circuito, não e hoje as sagradas vacas podem pastar sossegadamente nas áreas de escape.

 

Se estes exemplos longínquos não servirem como referência, talvez o que aconteceu em Valência sirva. No período em que Fernando Alonso era “A” estrela do grid, após a primeira aposentadoria de Michael Schumacher, a cidade de Valência aproveitou a lacuna nos circuitos alemães e a complicada situação financeira de Nurburgring para “roubar” para si o GP da Europa.

 

Um projeto interessante, que revitalizou uma área abandonada da cidade e que fez de Valência, que possui um bom circuito, o Roberto Tormo, uma espécie de “nova Mônaco”, com mais sol, mais calor e um traçado não tão apertado, possibilitando velocidades mais altas. Contudo o projeto só durou os 5 anos do contrato inicial e depois de 2012, as áreas em torno do antigo porto voltou a ficar abandonada.

 

Há algumas semanas eu fiz uma pergunta sobre os pilotos que investem milhões no sonho de chegar a ser piloto de Fórmula 1. Se tivesse contato com o nobre holandês, faria a mesma pergunta: será que vale a pena?

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva