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Interlagos: um problema sem solução? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 05 December 2015 22:11

Algumas semanas atrás meu primo, Fernando, que é o gerente do Projeto dos Nobres do Grid há alguns anos, escreveu sobre o risco do super autódromo de Austin, nos Estados Unidos, falir. Alguns meses antes eu também escrevi sobre a quase falência do autódromo de Nurburgring, na Alemanha. Este ano vimos também que o autódromo da Turquia, construído especialmente para a Fórmula 1 tinha se tornado depósito de carros de uma revenda.

 

Será que não está mais que na cara de que autódromo é um negócio de sucesso e retorno, no mínimo, duvidoso? Eu sou corretor de imóveis e afirmo com certeza que tem coisa melhor a se fazer com uma área de 500, 600, um milhão ou mais de metros quadrados do que uma pista pra se fazer corrida. No passado, quando construíram Nurburgring, Monza ou mesmo Interlagos podia ser diferente... hoje eu já não garanto. Ainda bem que tem gente que pensa diferente de mim, do contrário, os autódromos no mundo já teriam virado prédios ou roças, dependendo no lugar onde estão!

 

Deixemos de lado o problema dos outros e vamos olhar para o nosso problema: Interlagos! Sim, Interlagos é um problema e um problema enorme... com um milhão de metros quadrados, enfiado no meio da maior cidade da América do Sul, cercado de todos os problemas de uma megalópole como é a capital paulista e, como se não bastasse, trata-se de um bem público, sujeito a todo tipo de armação política num país onde estas são uma prática comum.

 

 GP do Brasil de Fórmula 1. A festa da velocidade estaria dando prejuízo para quem a organiza... será?

 

Pouco mais de um mês atrás, quando estava para acontecer o GP Brasil de Fórmula 1, fui atrás de uma informação que recebi de que “Interlagos seria eterno, pois trata-se de um parque municipal”. Isso não é verdade! Existe uma lei ordinária, feita por um vereador que tem o bairro como reduto (Sr. Goulart) e que conseguiu batizar uma praça no bairro com o nome do nosso eterno Luiz Pereira Bueno, garantindo que as áreas no entorno da pista, quando não houvesse atividade automobilística ou comercial no local, pudessem ser usadas como parque para os cidadãos que lá quisessem estar, através de uma lei ordinária, algo que pode ser mudado com alguma facilidade.

 

Acontece que, uma área do tamanho de Interlagos, com toda a estrutura que lá existe (arquibancadas, boxes, prédios, a pista em si com seu asfalto especialmente preparado para a competição) tem um custo de manutenção, que não deve ser barato. Para bancar este custo, a prefeitura tem que usar da massa de dinheiro que arrecada em impostos da população para pagar esta conta ou usar o espaço como centro de atividades e, com o aluguel do mesmo, cobrir estes custos... no mínimo!

 

 Quem vê as arquibancadas lotadas nem desconfia de como é a negociação e a divisão entre a FOM e o promotor local...

 

Agora vamos entrar na questão dos custos e do retorno que um promotor de um evento pode ter utilizando Interlagos como espaço para a sua atividade, seja de automobilismo ou não. Como fã de automobilismo eu também acho um absurdo se usar Interlagos para shows musicais, eventos religiosos e até a parada gay já tentaram transferir para lá, mas a questão é que tanto o show musical, cujo o ingresso é um absurdo de caro para nenhum conforto, bem como os eventos religiosos, onde o “correr das sacolinhas” faz o “milagre da multiplicação dos cifrões”. Em ambos os casos o evento acaba dando o retorno que os promotores precisam para pagar o aluguel do espaço e ainda ganhar dinheiro. E no automobilismo também é assim?

 

Segundo o promotor local do GP do Brasil de Fórmula 1, o húngaro Tamas Rohonyi, a corrida da categoria do ‘Bom Velhinho’ está com um prejuízo acumulado de fazer inveja ao ganhador da megasena dos 200 milhões de Reais do começo do mês. Pelos seus números, o déficit do ano de 2014 passou dos 100 milhões e os números de 2015 ainda não foram divulgados. Se bater na mesma casa, o cara vai ter que ser louco – ou burro – pra continuar insistindo num negócio que só dá prejuízo!

 

 Tamas Rohonyi (caminhando ao lado do Bom Velhinho) diz que há riscos da corrida nem acontecer no ano que vem.

 

A conta é mais ou menos assim: o promotor local tem que pagar uma fortuna para o ‘Bom Velhinho’ (algo entre 20 e 40 milhões de dólares) para ter o “privilégio” de ter uma etapa do mundial de Fórmula 1 no seu quintal. Além disso, a FOM, tem o direito de explorar as áreas mais nobres do autódromo, os “Hospitality Center” (aquele lugar onde vai um monte de riquinho e seus ‘abas’, que na maioria não está nem aí pra corrida ou o que está acontecendo e se faz presente só para aparecer), camarotes VIP com ar condicionado e abafadores de ruído (algo que nem precisa tanto hoje em dia).

 

Para o promotor local sobra o espaço das arquibancadas e a colocação de publicidade de patrocinadores locais (a FOM já tem os dela e estes ocupam os melhores locais com visão da TV) nos espaços restantes. É a soma dessas duas fontes que salvam (ou afundam) o promotor local e, segundo Rohonyi, mesmo com um bom público nas arquibancadas – algo que as imagens mostraram não ser algo tão espetacular como já foi em outros tempos – a conta não estaria fechando por falta de patrocinadores para comprar as “quotas” de patrocínio.

 

Com o país numa crise desgraçada, mesmo quem investe, comprando setores inteiros como algumas grandes corporações e colocando os lugares à disposição de seus parceiros comerciais pela distribuição de ingressos, estas não enchem e o investidor naquele espaço toma o prejuízo junto. Tomou o prejuízo, um ano, dois, não vai tomar o terceiro e aí, ou arranca do promotor um “precinho mais camarada” para montar um “puleiro” (aquelas arquibancadas montadas no final da reta dos boxes , de frente pra curva do sol ou na subida do café) ou não vai entrar na festa no ano seguinte.

 

 Na Reta oposta, fica a arquibancada com "zero conforto" do autódromo, mas onde se deram grandes festas no passado.

 

Como o ‘Bom Velhinho’ não está nem aí para “tradições”, basta ver que este ano não teve GP da Alemanha, o país com mais títulos mundiais e que a corrida em Monza foi ameaçada de ficar de fora do campeonato de 2016, sendo a única que se salva é o GP de Mônaco, ou o negócio fica bom, ou vai pra outro lugar. Os argentinos transformaram o autódromo de Termas do Rio Hondo, que fica nos quintos dos infernos, longe de tudo até na argentina num autódromo FIA1. Já recebem a Moto GP e o WTCC... eles estão só esperando uma derrapada por aqui para conseguir levar a etapa para lá, onde, apesar da crise, o público lota os autódromos, a audiência na TV das corridas de lá são altíssimas e a paixão dos argentinos pelo automobilismo transcende cadáveres.

 

Na verdade, o que o ‘Bom Velhinho’ quer é dinheiro e para isso chegou a pressionar a dona dos direitos de transmissão por aqui, dizendo que ela precisa fazer mais pela F1 e que os mexicanos estão chegando no nível dos brasileiros. Pelo que eu vi nas duas transmissões (GP do México e GP do Brasil), eles enfiaram um 7x1 na gente com direito a olé! A emissora da F1, claro, não se manifestou, mas chamou minha atenção aquela animação na abertura da transmissão ter sido voltada para os patrocinadores da temporada. Foi a primeira vez que fizeram isso.

 

 A foto é ilustrativa, mas há alguns anos o setor mais barato do autódromo deixou de conseguir sua lotação completa.

 

Mas voltando a questão do dinheiro, que é onde reside o problema, com o custo do que é a Fórmula 1 hoje, sem a participação de um financiador, não tem como sustentar a etapa. A TV da F1 anda mal das pernas, endividada, tanto que as transmissões tem sido feitas, em sua maioria, do estúdio e apenas os repórter de campo com um cinegrafista estão no local. Aqui não é país árabe onde os Sheiks não tem o que fazer com tanto dinheiro e constroem circuitos como os que tem por lá, com um cenário impressionante e com gosto de leite desnatado!

 

Daí o problema volta para o elefante de um milhão de metros quadrados encravado na maior capital do Brasil. A prefeitura já enfiou 160 milhões de reais para esta reforma que ficou com cara de laje de favela (quem sabe quando terminar a obra, sabe-se lá quando, fique bom) e que continuará em 2016. A cidade ganha dinheiro com o aumento da arrecadação de impostos, ISS, mas vai usar este dinheiro para ajudar a manter a corrida? O Tamas Rohonyi foi pedir dinheiro para o Ministro dos Esportes, que tem cara de que nunca fez esporte algum na vida. Do jeito que o governo tá enrolado, com um déficit bilionário nas contas públicas, duvido que sequer ouçam os argumentos do promotor.

 

 Até mesmo num setor onde a maioria são convidados como este "vermelho", na subida do café, havia muitos lugares vazios.

 

Eu vou aqui dar uma sugestão: Tamas, começa já um “croudfunding” (é assim que se escreve? Meu inglês é de Fast Food!), essa “vaquinha” via internet para ver se você consegue uma ajudinha com a corrida do ano que vem. Mas desde já, para com essa coisa de botar “grid boy”. Foi ridículo! Alé é lugar da mulherada bonita e gostosa! Não viu o que aconteceu na Rurria, nem teve entrevista coletiva! Daí, depois, não sabe porque o público reclama. Outra: dá um jeito de organizar a entrada do público na pista! Se pode num monte de lugar, se em Monza é aquela zona todo ano, porque aqui não pode também? Em termos de fazer zona, somos melhores que os italianos! Se quiser, pode mandar um email para o site que a gente conversa. Numa dessas posso até ser seu assessor... tá difícil vender imóvel com essa crise.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva