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O inferno de Nurburgring! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 07 October 2015 00:24

Desde o início do ano que o Site dos Nobres do Grid retomou um assunto que deveria ser de enorme interesse para quem acompanha o esporte a motor no Brasil ao dar início ao retorno em todos os autódromos regionais do Brasil.

 

A série inicial, realizada entre 2009 e 2011, fez um “Raio X” de como estavam nossos autódromo àquela altura, onde vimos com dor e o sofrimento com as dificuldades que os mesmo vinham passando por falta de cuidados, falta de verbas, má gestão pública e/ou privada, além da especulação imobiliária.

 

Como sempre, vão ter sempre aqueles que adoram falar mal das coisas daqui do Brasil, que o nosso automobilismo é uma “várzea”, que os “envolvidos” merecem os parabéns e coisas de outra natureza. Gostaria de saber o que estes “sábios profissionais de mídia” tem a dizer sobre os problemas de Nurburgring, o mítico circuito alemão, paixão de 10 entre 10 fãs do automobilismo que tem “sobrevivido”, apesar de ser na Alemanha, de ser um circuito FIA 1 (configuração atual), o complexo de Nurburgring está atolado em dívidas.

 

O circuito e suas demais instalações, ou no caso a empresa que deveria gerir bem o complexo entrou com pedido de insolvência em 2012 e passou a enfrentar a perspectiva de falência... a menos encontrasse alguém disposto a investir “alguns caminhões” de Euros.

 

Vista aérea do autódromo "FIA 1" implantado em Nurburgring na primeira metade da década de 2000.

 

Em 2004 a Nurburgring Gmbh decidiu, depois de ter feito a reforma que criou o circuito de cerca de 5.000 metros (menos ou mais por conta de alterações menores) cerca de 10 anos antes, investir na criação de um complexo com hotel, cassino e um parque temático. O plano era para atrair um público muito maior do que apenas os fãs de automobilismo, trazendo mais dinheiro para a região.

 

O problema foi que o projeto não decolou e o público cativo continuou sendo aqueles atraídos pelo “inferno verde”, que paga 27 Euros para dar uma volta nos pouco mais de 22 quilômetros e percorrer o histórico traçado, ou 100 Euros para da quatro voltas (Existem pacotes com mais voltas), além das despesas com combustível. Aquele que fica num “bed and breakfest” por 35 Euros. Para estes, a diversão está na pista! O público para o parque, o hotel e o cassino não apareceu.

 

A charmosa vila de Nurburg atrai os fãs de automobilismo, que preferem ficar num "bed and breakfest do que no hotel.

 

A Nurburgring Gmbh, é de propriedade do estado alemão da Renânia-Palatinado, mas isso não era o plano. A ideia estava no projeto de se privatizar a empresa Nurburgring, mas como a projeção de público e retorno financeiro para o investimento nunca veio – o estado foi “segurando o pepino” de manter as coisas funcionando desde então. Total de dívidas era, no final de 2012, de quase 500 milhões de Euros, e que inclui um empréstimo de 330 milhões ao fundo de investimento do próprio estado.

 

Como a Alemanha é não apenas membro, mas a “locomotiva” da União Europeia, ela tem que dar exemplo em termos de responsabilidade fiscal. Baseada nisso, a Comissão Europeia vetou empréstimos via banco europeu e por conta disso, o contribuinte alemão, goste ele ou não de corridas, vem pagando a conta.

 

Um dos efeitos deste rombo financeiro vem sendo visto mundialmente na Fórmula 1. O circuito perdeu o GP da Europa e passou a revezar com Hockenheim a realização do GP da Alemanha e este ano, sem recursos, tentou negociar com o Bom Velhinho, que aproveitou pra se vingar dos alemães e aquele processo que custou-lhe 100 milhões de Euros para “escapar do xilindró” e deixou os dominadores da categoria vendo corrida na TV!

 

Viktor Charitonin é hoje o maior acionista do complexo de Nurburgring. Bilionario russo, é empresário do ramo automotivo.

 

A “salvação” do circuito e de tudo à sua volta passaria pelas mãos de um destes milionários (ou bilionários) russos que ficaram riquíssimos sem ninguém saber muito bem como. O nome do “salvador do inferno verde” é Viktor Charitonin, que pretendia adquirir 2/3 das ações do complexo pela bagatela de 77 milhões de Euros.

 

O investidor é dono de um outro conglomerado, o “Capricórnio”, fornecedor de componentes para a indústria automobilística, mas que tem o nome da empresa e de seu sócio envolvidos com problemas financeiros, hipotecas e penhor de obras de arte, o que apontaria a impossibilidade da empresa honrar

 

O outro 1/3 das ações do complexo de Nurburgring seria adquirido pela GetSpeed, que também não andaria financeiramente bem das pernas. Ela chegou a fazer o pagamento de uma parcela de 5 milhões de Euros, mas começou a passar por apertos. Já o Russo, fez os dois primeiros pagamentos do acordo estabelecido com o governo alemão.

 

O cuidado com o circuito, não só o moderno como o histórico é intenso para que Nurburgring continue vivo.

 

A compra e a mudança de controle administrativo do complexo de Nurburgring aconteceu em 2013, mas alguns problemas permaneceram e o maior deles, pelo menos em termos de visibilidade, foi negociar com o Bom Velhinho sobre as bases do autódromo receber a categoria. Poucos se lembram, mas houve muitas discussões sobre como seria o arranjo financeiro para o GP daquele ano. Jogador novo no negócio, o russo bancou a conta em 2013... mas quando tentou fazer o mesmo em 2015, não conseguiu.

 

Nurburgring tem uma atividade de pista quase diária, principalmente com a ida dos apaixonados pela sua história e suas curvas para percorrê-las como se fossem pilotos... e esta é uma forte fonte de renda, especialmente quando os fãs acham que são pilotos e aceleram mais do que deve. Se lembrarmos que durante décadas ficou sem a Fórmula 1 e “manteve-se vivo”, pode se dizer que a categoria do Bom Velhinho é perfeitamente dispensável. Na verdade, os outros promotores pagam para correr lá e para a Fórmula 1 correr em um autódromo, seu dono é quem tem que pagar por isso! E no caso de um GP na Europa, a FOM cobra de 20 a 30 milhões de Libras.

 

Tem gente que vai para Nurburgring, pagando para dar algumas voltas, que acabam pagando muito mais que isso.

 

Bater em Nurburgring dói muito no bolso! Um reboque não sai por menos de 150 Euros. O metro de guard rail danificado custa 31 Euros e como são lâminas triplas, pode multiplicar por três! Se a cagada for muito grande, tem entrada de Safety Car por 82 Euros a cada 30 minutos e se tiver que fechar a pista, são 1.350 Euros por hora de interrupção da diversão alheia.

 

Estes valores, assim como todos os valores de arrendamento do autódromo e outros serviços tiveram aumentos anuais da ordem de 8% depois que a administração mudou de mãos. Tal aumento de preços provocou uma queda na busca do circuito como local para testes de pneus por fabricantes, por exemplo. Mas os gestores tem conseguido encontrar novas maneiras de atrair eventos, inclusive para o Nordschleife, como tem sido o caso das provas do WTCC, além da recente conquista da etapa do WEC, que permanecerá em 2016.

 

Nurburgring recebe muitos eventos importantes. Além de suas 24 horas, o WTCC usa o Nordschleife e o WEC chegou em 2014.

 

O que precisa ficar claro é que mesmo sendo no país mais poderoso da Europa, os administradores do complexo de Nurburgring tem trabalhado duro para manter o autódromo ao menos honrando seus custos. O “Inferno Verde” continuará ameaçado enquanto tiver uma enorme dívida a ser paga e um dono que pouco se sabe de onde e por quais vias vem o dinheiro que tem honrado as parcelas de pagamento das dívidas.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva