Caros amigos, a política no esporte sempre foi tão complexa como a política em outras esferas maiores. Há gente contra uns, há gente contra outros e nenhum deles será perfeito ou uma unanimidade, seja em qual meio ele estiver fazendo política. Desde que foi eleito presidente da FIA, Jean Todt sabia que iria enfrentar grandes desafios e que, apesar dos sorrisos diante das câmeras de televisão e fotógrafos, teria um difícil relacionamento com o chefão da FOM e “dono” do circo da Fórmula 1, Bernie Ecclestone, que tinha no antecessor do francês um amigo de longa data e alguém que ele “apoiou até a penúltima hora”, o inglês Max Mosley. Jean Todt tem, ao longo destes anos, andado entre pontos de atrito com Bernie Ecclestone e a FOM, uma vez que tem na sua gestão um trabalho que busca aliar o automobilismo como esporte com as tendências e necessidades racionais e ambientais que o mundo vem exigindo... e isso tem irritado muita gente. Como não vivo no meio jornalístico e acompanho o esporte pelo que acesso nos sites especializados e nas transmissões pela televisão, estranha-me em parte ver alguns narradores, comentaristas e jornalistas criticando a atuação de Jean Todt à frente da FIA. Será que o ex-diretor daquela que foi a mais vitoriosa Ferrari da história (até) hoje é tão mal diretor? Durante estes seus 6 anos como Presidente da FIA, que se completarão no próximo mês, Jean Todt levou outras categorias de âmbito mundial a um platamar mais elevado do que elas tinham, mesmo atravessando um período de crise econômica grave, que se afetou a mais exposta entre elas, a Fórmula 1, afetou muito mais as outras. Apesar disso, o Campeonato Mundial de Endurance ganhou muito em importância com o apoio da FIA. Jean Todt não é um cartola, um burocrata em sua formação e essência. Ele foi navegador e depois chefe de equipe da Peugeot nos Rallies e o Campeonato Mundial da Categoria ganhou em importância neste período, bem como o Campeonato Mundial de Carros de Turismo. Além disso, há um projeto em implantação para “estruturar um caminho” nas categorias de base com vistas a levar os pilotos para a Fórmula 1. Nas três categorias mencionadas acima, um ponto em comum foi a preocupação com a questão da motorização para a equalização de custos e para uma adequação aos rumos que a indústria automobilística tem buscado tomar para fazer motores mais eficientes e econômicos. Esta filosofia tem irritado a mídia, os torcedores e o “dono” da Fórmula 1. Apesar de todos os problemas que vem enfrentando, entre eles o grave acidente que levou à morte o piloto francês Jules Bianchi, Jean Todt vem conseguindo conduzir as questões do esporte automotivo, mas neste início de setembro, a FIA vai ter que encarar um desafio mais complexo que qualquer pressão que Bernie Ecclestone possa vir a conseguir fazer. Durante o Rally de La Coruña, na região espanhola da Galícia, Um grave acidente vitimou 6 espectadores, deixando ainda 16 feridos. A batida aconteceu após um carro descontrolado acertar o público enquanto em alta velocidade. Entre os mortos estão quatro mulheres, uma delas menor de idade e outras duas grávidas, e dois homens, segundo as autoridades locais. A batida aconteceu quando os carros passavam pela cidade de Carral, distante 20 km de Le Coruña, num local considerado de pouca periculosidade onde é comum o público acompanhar a passagem dos carros mais perto do trajeto do que o bom senso manda. O Peugeot 206 guiado por Sergio Tabeayo e Luis Prego, perdeu o controle a tocar num desnível no terreno. Piloto e copiloto não tiveram ferimentos, mas estão em choque por conta das consequências. Basta entrarmos no “youtube” ou outros locais onde são armazenados vídeos para vermos o quão insanos são os torcedores da modalidade, colocando em risco a eles mesmos e aos pilotos , margeando os locais onde os carros passam, algumas vezes sem as rodas no chão, em alta velocidade. O que aconteceu no Rally de La Coruña não foi o primeiro caso de acidente com vítimas fatais. Em maio, uma criança de seis anos morreu no Rali Donnelly, realizado na Austrália, e outros três espectadores morreram no Rali da Estônia. O presidente da FIA, Jean Todt, convocou uma reunião em Genebra para a quarta-feira de ontem, dia 9 de setembro, com os presidentes das comissões da FIA envolvidas na segurança do rally. O objetivo da reunião é revisar os trágicos acidentes ocorridos recentemente e avaliar cada possível medida adicional para apoiar e fortalecer os esforços dos organizadores em relação à segurança dos espectadores e dos pilotos. Em um autódromo, um kartódromo uma arena, é muito mais fácil criar mecanismos de segurança e controlar o público, apesar de já termos assistidos algumas cenas bizarras em autódromos como Hochenheim e Silverstone. A verdade é que Jean Todt está diante daquele que talvez seja seu maior desafio nestes 6 anos de mandato. Um abraço e até a próxima, Fernando Paiva |