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Nico: 2015 não virou fumaça! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 08 September 2015 20:54

Olá Fãs do automobilismo,

 

Com o fim da chamada “temporada europeia” da Fórmula 1 e com todos de mudança em direção à Ásia, praticamente todo o grid passou por aqui no consultório entre a terça-feira dia 8 e a segunda-feira dia 14 para consultas regulares ou sessões extras.

 

Confesso que dentre todas as consultas que fiz nos últimos dias, aquela que me fez voltar para casa pensando no conteúdo do que conversamos durante a seção foi o teor da sessão com o Nico Rosberg. Ele chegou com um ar bem abatido depois de tudo o que aconteceu no GP da Itália, em Monza e, mesmo tentando disfarçar, ele não conseguiu.

 

Nico é um homem muito gentil e educado. Não por sempre me trazer chocolates quando vem para consulta, dificultando o meu regime, mas pela maneira como trata as pessoas. Minha secretária é completamente fascinada por ele e já me confessou que passou a assistir a Fórmula 1 e torcer para o Nico desde que começou a trabalhar comigo.

 

Como sempre faço, pergunto por sua esposa e de como vai a gravidez, que já está na reta final. Graças a Deus está tudo bem e ele costuma relaxar com este tipo de contato, mesmo sendo alemão e os alemães terem a fama de serem pessoas pouco afetivas.

 

Nico Rosberg tem estado sob pressão na luta pelo título da temporada de 2015... e a pressão aumentou depois de Monza. 

 

Todos que acompanharam o último final de semana viram que não foi um final de semana fácil para Nico lá em Monza. A troca do motor, as dificuldades na qualificação e o motor estourando no final da corrida com a vitória de Lewis Hamilton que abriu assim 53 pontos de vantagem no campeonato.

 

Nico não negou que foi um final de semana frustrante e não é nada fácil lidar com as frustrações, porque encarar o erro – seja seu ou de alguém que trabalha com você – deixa um peso sobre os ombros... uma sensação de culpa. A primeira atitude frente a algo que saiu errado, que nos magoou, é nos colocar na posição de vítima. E ainda que qualquer história tenha dois ou mais lados, quando sentimos que perdemos, esta é uma reação natural.

 

Com a presente condição do campeonato, mesmo que Nico vença todas as corridas até o final da temporada, bastará para Lewis “comboiá-lo”, chegando em segundo lugar, que terminará à frente na pontuação final e conquistará seu terceiro título. A missão de Nico – tanto como execução como de probabilidades – é difícil, mas mesmo com a voz mais baixa que o de costume, Nico não deu mostras de que desistiu da disputa.

 

O final de semana na Itália foi complicado. Usar um motor com 5 corridas de uso numa pista como Monza era um risco a mais.

 

Claro que somos mais do que a dor, somos muito maiores que as perdas. Contudo, é natural a gente se deixar cair. O que não podemos é nos acostumar à postura de vítima e ficar o tempo todo em que levamos um “golpe contra nossos projetos”, contra nos recolhendo nessa triste realidade. Reagir é preciso, mas precisa ser um ato pensado, não apenas um movimento no sentido contrário.

 

Todos nós temos sonhos e trabalhamos para torná-los realidade. Frustrações quando apostamos em resultados que não chegam podem acontecer e fazem parte de um processo chamado vida, onde crescemos, caímos, levantamos, caímos e levantamos novamente... o importante neste processo é entender que perder não significa que somos ruins, fracos ou incompetentes. Significa apenas que aquele caminho não deu certo, que aquela aposta não trouxe o resultado esperado, que aquela não foi a opção correta. Nós podemos e devemos continuar da experiência para frente.

 

O cronômetro mostrou que não seria uma corrida fácil e que as Ferraris poderiam até tirá-lo do pódio em sua corrida em casa. 

 

Nico é um atleta e os atletas de alto nível enfrentam grandes desafios e vencer uma competição importante acaba por marcar sua trajetória para sempre. No outro caminho, atletas que depois de um fracasso, grave lesão ou outro impedimento qualquer que conseguem se restabelecer, voltar a treinar e competir e vencer ou aquilo que chamamos de “dar a volta por cima” são ainda mais reconhecidos como atletas exemplares.

 

Este é o meu grande desafio com Nico neste momento: mantê-lo motivado e concentrado no que ele precisa fazer para manter-se competindo em alto nível contra um adversário que encontra-se no momento em um momento psicológico muito positivo e – mais difícil ainda – sendo meu paciente... e os dois sabem que sou a terapeuta deles.

 

O pior dos cenários acabou acontecendo: abandono por quebra de motor e Lewis Hamilton vencendo a corrida. 

 

Em uma primeira orientação eu diria que para forjar uma personalidade a fim de suportar a carreira esportiva competitiva, é necessário que desde a fase inicial da prática esportiva a alegria e a confiança no esporte como possibilidades de desenvolvimento estejam presentes em todos os momentos. Deste modo surgirá lentamente e progressivamente uma autoconfiança que servirá de base sustentadora para fortes emoções futuras.

 

Neste aspecto, Nico teve todo o apoio possível, tendo um pai que foi piloto, mas que não forçou-o a seguir seus passos, que não cobrou resultados, mas procurou abrir portas no campo da “diplomacia comercial” desde os tempos do kart, onde teve como companheiro de equipe o próprio Lewis. Um fator que sempre menciono nas sessões com Nico, é que ele chegou à Fórmula 1, por mérito, um ano antes que Lewis e isso faz dele um grande piloto, um vencedor, um campeão.

 

Foco foi algo que nunca faltou para Nico Rosberg... mas agora ele precisa de muito mais que isso para continuar com chances.

 

Há algum tempo a definição de “resiliência” ganhou uma força muito grande na comunidade terapêutica. Aqueles atletas que por um motivo ou outro não desenvolvem suas resiliências acabam por sofrer um maior impacto quando passam por revezes em suas vidas esportivas e isto costuma afetar sua performance e uma vida muito perturbada.

 

Nico tem dentro da equipe Mercedes um ambiente completamente favorável. Ele foi o piloto escolhido pela montadora alemã para ser “o investimento” para levar os bávaros de volta ao topo da principal categoria e condição técnica para conquistar um título mundial, mesmo tendo Lewis Hamilton como companheiro de equipe.

 

Mantê-lo confiante e acreditando nisso é a base do nosso trabalho e as suas reações são geralmente positivas. No ano passado, Lewis sofreu mais problemas técnicos do que ele, este ano, Nico sofreu este revés em um momento em que já estava em desvantagem na tabela do campeonato e estes 53 pontos é a maior diferença que um deles conseguiu impor sobre o outro, mesmo com aquela corrida com pontuação dobrada.

 

O importante é não desistir. Ainda tem 7 GPs pela frente e o campeonato deste ano ainda não virou fumaça.

 

O trabalho do psicólogo é importante, mas é preciso que o paciente trabalhe a si mesmo também e, no momento, o que Nico não pode deixar é seus sonhos, suas ambições, sua luta e seu campeonato – que ainda não acabou – virar fumaça.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares 

Last Updated ( Tuesday, 08 September 2015 21:33 )