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É a Hora do Cockpit Fechado. PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 24 August 2015 16:00

Em 2009, se alguém me falasse do cockpit fechado na Formula 1 ou demais competições de monolugares, eu diria que era algo de ficção cientifica, ou então diria que isso pertenceria à Endurance, onde seria o seu lugar. Creio até que nunca ouvi qualquer conversa sobre o assunto. Talvez porque achava que as coisas já estavam feitas no capitulo da segurança – o que não é verdade, nunca será.

 

 

Contudo, numa única semana, os acidentes de Henry Surtees e Felipe Massa fizeram com que ouvisse falar da história dos cockpits fechados, especialmente através de um designer brasileiro, o Ubiratan “Bira” Bizarro Lima, que falou sobre o assunto – creio que até o entrevistei na altura. Como eu, muitos encontravam-se céticos sobre esse assunto, dizendo até que tudo isto tinha sido uma série de acidentes infelizes. E aos poucos, a ideia desapareceu de cena, apesar de saber que a FIA estava a pensar no assunto.

 

 

Contudo, passaram-se seis anos, e nesse tempo tivemos acidentes graves, até mortais, por causa de objetos que os pilotos levaram na cabeça, a área mais vulnerável de todas. Jules Bianchi, no ano passado, e agora Justin Wilson, que no passado dia 23 de agosto, durante a corrida de IndyCar em Pocono, levou com um objeto vindo do carro de Sage Karam – aparentemente um pedaço de asa com sete quilos de peso – e o atingiu na cabeça em cheio. O piloto britânico de 37 anos nunca recuperou a consciência e acabaria por morrer 24 horas após o acidente.

 

Em 2009 o jovem piloto Henry Surtees teve a infelicidade de ser atingido por um pneu na cabeça e veio a falecer.

 

O objeto do qual Wilson foi atingido equivale a um televisor de tamanho médio. Mais pesado do que a mola que Massa levou do carro de Rubens Barrichello, mais mais leve do pneu que Henry Surtees levou do carro de Jack Clarke, na prova de Brands Hatch de Formula 2. Destes três exemplos, dois foram fatais, e mesmo o brasileiro conseguiu recuperar sem sequelas do seu acidente no Hungaroring porque a mola em questão tinha menos de um quilo. Mas se acham que isto é leve, imaginem esses objetos atirados a 200, 250 ou 300 quilómetros por hora. Não preciso fazer cálculos matemáticos para entender que o impacto é forte, e não há capacete suficientemente forte ou HANS que nos salva.

 

Pelo meio, tivemos Bianchi, mas embora o impacto tenha sido contra um trator – bem mais pesado, logo, não entra nestas contas – a ideia é a mesma: o impacto afetou a sua cabeça, um órgão vulnerável em situações deste tipo.

 

Justin Wilson, assim como Henry Sutees, teve a infelicidade de ir de encontro ao bico do carro de Sage Karam.

 

Assim sendo, creio que é a altura de pensarmos seriamente na ideia do cockpit fechado, quer seja de vidro inquebrável, quer seja um rol-bar na zona do cockpit, semelhante ao que os dragsters têm. E sendo eu uma pessoa absolutamente renitente nesse campo, por razões estéticas, acho que a segurança tem de levar a melhor.

 

É certo que há ali muitas duvidas a esse respeito, por causa da visibilidade do piloto – os roll-bars podem prejudica-lo nas curvas – e há dúvidas sobre como é que os “canopys” conseguiriam defletir a água em casos de chuva, mas são soluções técnicas que podem ser resolvidas. Nada é irresolúvel, se queremos reduzir o perigo de morte a um mínimo tolerável.

 

Em 2009 Felipe Massa foi de encontro a uma mola que caíra da Brawn de Rubens Barrichello... e ficou fora da temporada.

 

Contudo, tem de se apontar o silêncio da FIA sobre este assunto, apesar de saber que algures em 2010 ou 2011 ter aparecido um vídeo demonstrativo dos testes de impacto sobre objetos aos cockpits. Sei também que o próprio “Bira” tem sido incansável na consciencialização das entidades automobilísticas nesse sentido, apesar do silêncio destas, mas tenho aquela sensação de que não desejam colocar o cockpit fechado por razões práticas e estéticas.

 

Para piorar as coisas, tenho a sensação de que a FIA tem uma atitude de “estar à sombra da bananeira” em relação à segurança, ao contrário do que aconteceu nas presidências de Jean-Marie Balestre e Max Mosley. Quando lemos as queixas que Gary Hartstein faz sobre a atitude “relaxada” que eles têm nesse campo, e as criticas que faz a Jean Todt por ser egoísta – “a agenda de Todt é ele mesmo” – dizia ele recentemente, fico com a sensação de que ou não estão a levar a sério, ou tentam resolver a situação de outra forma, que não é a indicada. Curvas modificadas por Hermann Tilke ou bermas asfaltadas podem ser uma solução, mas como vemos, não é suficiente.

 

Há algum tempo se fala sobre cockpits fechados. Os monopostos mudaram ao longo de décadas... e devem mudar novamente.

 

E em relação à IndyCar, parece que dois acidentes graves em quatro anos, ambos a acontecerem em ovais, não fazem passar uma boa imagem delas, apesar de terem colocado um elemento de segurança bem importante que é a SAFER, uma barreira de metal que absorve melhor o impacto, reduzindo os riscos de ferimento ao piloto, por dissipar melhor a sua massa.

 

Em suma, creio que é hoje de pensarmos seriamente sobre isso. Ou esperamos para o próximo acidente – fatal ou não – para vermos ação?

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira


   


Last Updated ( Tuesday, 25 August 2015 13:06 )