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Automobilismo Brasileiro: O tamanho da crise. (3ª Parte) PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 29 July 2015 01:16

Com as mudanças anunciadas no final do ano passado, quando a VICAR decidiu reunir as categorias que promove, passamos a ter apenas dois eventos nacionais com forte apelo popular, que “enche autódromo” (os “Eventos VICAR” e a Fórmula Truck), tendo como “sobreviventes em âmbito nacional” a Sprint Cup e a Porsche Cup.

 

Se analisarmos o cenário ao longo da última década, onde diversas categorias deixaram de existir, devemos considerar esta situação como uma evidência de que o nosso automobilismo está falindo? 

 

É possível reverter este quadro e voltarmos a ter mais eventos nacionais? 

 

Cleyton Pinteiro – Presidente da CBA.

O fato da VICAR decidir reunir as categorias que ela promove foi um reflexo da situação econômica do país. Eles precisam ver a forma de manter seu negócio viável e esta foi a forma que eles encontraram para fazer com que os custos operacionais acabassem sendo diluídos.

 

Por contada crise econômica mundial que começou em 2008, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro o automobilismo sofreu um baque... e um baque muito grande. Na Fórmula 1, por exemplo, muitas das montadoras que estavam na categoria ou venderam o time ou fecharam as portas, ou pararam de fornecer motores. No Brasil tivemos problemas também e continuamos tendo que lidar com eles.

 

Nós queremos que não tenhamos mais categorias encerrando suas atividades, não queremos que mais autódromos deixem de receber corridas. Tenho trabalhado muito junto aos políticos daqui para que Caruaru tenha uma reforma que há muito precisa. Ver uma multidão dessas aqui, tanta gente que saiu de Recife e veio pra cá,deixou de ir pra praia e viajou 140 Km para estar aqui, no sol, numa arquibancada para assistir a Fórmula Truck. Hoje mesmo terei um encontro como o prefeito e tratarei sobre isso.

 

Neusa Navarro Felix – Promotora e Presidente da F. Truck.

Olha na situação que está o nosso país, o automobilismo é um dos primeiros a ser atingido. Já é muito difícil encontrar empresas que queiram investir no automobilismo e com a crise que estamos vivendo, onde as empresas estão cortando é justamente em áreas como a nossa.

 

Eu tenho certeza de que é um momento difícil, mas que é passageiro, que o Brasil vai se recuperar e voltar a estabilizar a economia. 2015 vai ser um ano difícil para todo mundo, mas 2016 o país vai estar saindo deste momento difícil e as coisas vão melhorar. Este ano a Fórmula Truck está fazendo a sua programação, todos os seus eventos no Brasil e esperando esse período difícil melhorar.

 

Eu acho que o Brasil precisa de mais autódromos, mais opções de lugares para levarmos a Fórmula Truck. Muitos esportes recebem incentivos do governo e o automobilismo não recebe nenhum. O automobilismo gera muitos empregos diretos e indiretos e quanto mais a gente mostrar o automobilismo, mais ele vai crescer.

 

Nei Lins – Presidente da Federação de Automobilismo de Goiás.

Eu vejo da seguinte forma: existe uma carência de autódromos no Brasil. Quando os que estão sem receber corridas por quaisquer motivos, voltarem a receber eventos a coisa pode mudar. Eu acho que este foi um dos motivos que levou a VICAR a fazer esta opção. O outro motivo foi por conta do custo.

 

Esta decisão de reunir as categorias é prejudicial para o público, é prejudicial para as Federações por que fazemos menos eventos. No ano passado, depois da reabertura do nosso autódromo, no segundo semestre nós fizemos aqui quatro eventos. Este ano, com todo o ano, só iremos fazer três. Isso é muito prejudicial porque há uma redução de arrecadação nas taxas que são pagas para as Federações, que vivem disso, que não tem ajudas nem subsídios dos governos.

 

Este cenário só pode mudar quando a economia do país se recuperar e os promotores de categoria conseguirem mais recursos e eu acredito que esta situação vai mudar e tudo no país vai melhorar, inclusive o automobilismo.

 

Thiago Marques – Promotor da Sprintrace.

Eu tenho, apesar de muito novo, uma vivência de automobilismo como piloto, como chefe de equipe numa equipe vitoriosa como a Action Power e há alguns anos como promotor de categoria com a Sprintrace. Muita gente critica a CBA como um impedidor do crescimento automobilismo brasileiro, mas estas pessoas não entendem a função da CBA. O automobilismo é feita pelos promotores e as decisões de gerenciamento é dos promotores, não da CBA.

 

A Sprintrace é uma categoria que tem uma tecnologia única no país, com um nível de segurança que poucas categorias no mundo tem, com o piloto na posição central. Temos um motor, GM, muito bem desenvolvido, um câmbio de ponta e conseguimos fazer esta categoria com um custo de 250 mil reais a temporada para quem quiser pilotar nela.

 

Para fazer um comparativo, na Stock Car, é preciso investir dois milhões e meio por um carro para ser competitivo. O Brasileiro de Turismo, que tem um projeto de chassi, motor e câmbio bem antigos, é preciso se investir mais de 600 mil para ser competitivo. Assim o automobilismo fica realmente muito caro. Com o sistema monopolizado, não tem como fugir disso.

 

A Fórmula Truck tem uma exposição bem maior do que a Stock Car por ser transmitida numa TV aberta e custa 600 a 700 mil reais, com envolvimento das fábricas e se a gente for pensar em custo, um caminhão é um veículo muito mais caro do que um carro então, porque um carro de corrida da Stock Car custa tão caro? É que precisa pagar o aluguel do motor, o aluguel do cambio, o aluguel de um monte de coisas e, no final, dá a conta dos dois milhões e meio.

 

Quando se tinha a transmissão em TV aberta, as equipes conseguiam o retorno da exposição. Agora, na TV por assinatura, como fazer isso, como cobrir os mais de quatro, quase 5 milhões da temporada da Stock Car? Não tem como. O resultado é que tem equipe que o dono está pondo dinheiro do bolso pra continuar na pista.

 

O Brasileiro de Marcas, onde eu corro como piloto, tem uma coisa legal de envolvimento com as montadoras e elas passam uma verba que varia entre 25 a 30% de um carro, que ajuda muito, mas que eu vejo como horroroso para o campeonato estar junto com a Stock Car. A Renault vem e coloca uma grana, traz o Barrichello pra ser piloto e a equipe fica numa barraca no pátio,no estacionamento, e não nos boxes, de frente para as câmeras. Não dá pra entender quem pensa fazer as coisas assim.

 

Talvez seja por este tipo de coisa que os patrocinadores fogem e preferem investir em outra coisa. A Volkswagen ficou dois anos na Stock Car e saiu, sumiu! Porque sumiu? Como se deixa escapar? O mercado de venda de carro no Brasil é um dos melhores do mundo e as montadoras investem quanto em expor seu carro? Sua marca?

 

Se tivesse um carro aqui com a tecnologia que temos na Sprintrace, ia custar 900 mil por temporada, fácil! Felizmente o brasileiro é apaixonado por automobilismo e por isso eu acredito que não vai haver uma falência do automobilismo nacional. Depois do futebol ainda somos nós. Apesar da crise financeira no país e no mundo, ainda vamos nos recuperar. Com poucas mudanças é possível melhorar o cenário atual. É preciso baratear as categorias, expor mais. O Brasileiro de Marcas perdeu a transmissão ao vivo, a Stock Car perdeu a Globo, a Mercedes perdeu 25% do grid do ano passado para cá. É preciso se abrir os olhos para esta realidade.

 

Rubens Gatti – Presidente da Federação Paranaense de Automobilismo.

Eu entendo que nós precisamos aproveitar e aprender com todas as situações negativas que aparecem para procurar uma solução diferente.

 

Nós passamos por dois problemas diferentes e em sequência. No ano passado nós tivemos a Copa do Mundo, que afetou todos os esportes do país e este ano todo este problema da situação econômica que está afetando o país como um todo. Nós já passamos por crises maiores e superamos. Esta também será superada e o automobilismo vai voltar a crescer. Os regionais e os campeonatos de kart estão com grids bem razoáveis e este momento difícil da economia nacional vai passar. Quando passar, o automobilismo voltará a crescer.

 

O automobilismo brasileiro já mostrou sua força no exterior e produzindo talentos que saíram do país e que correm aqui nas nossas categorias, mas o grande esporte do país é o futebol e por isso que digo que é preciso buscar soluções inovadoras para que o automobilismo brasileiro ganhe em importância. Quem sabe não surge uma proposta nova que mude a forma de gestão do automobilismo brasileiro. Não diria que esta seja uma fórmula falida, mas uma forma que precisa ser adaptada. O mundo está evoluindo de maneira muito rápida e precisamos estar em constante adaptação.

 

Maurício Slaviero – Diretor Executivo da VICAR

Qualquer negócio no país está com problema. Automobilismo, indústria farmacêutica, bancos, indústria de eletrodomésticos... e a razão de tudo isso está no governo federal e na situação econômica que o país se encontra hoje, que não começou hoje, veio vindo e piorando e estamos como estamos.

 

Eu vejo de forma positiva o que nós fizemos. É muito melhor ter dois eventos fortes, muito fortes, do que três ou quatro “mais ou menos”. Era preciso fazer algo dentro do que procuramos fazer e nós estamos apostando no sucesso desta fórmula para este ano e com ela dando certo, continuar para os anos seguintes.

 

Diante do cenário econômico do país e mundial, eu acho muito difícil que surjam outras categorias no automobilismo brasileiro. Está muito difícil conseguir contratos de patrocínio e os investimentos em marketing estão sendo muito afetados, com cortes consideráveis.

 

Toninho de Souza – Promotor de corridas e dono de escola de pilotagem. 

Eu estou há 50 anos no automobilismo, desde o início da década de 60 e com pessoas como o Pedro Victor DeLamare e Wilson Fittipaldi Jr. Desde 1981 que venho mexendo com eventos e promoção de categorias. Foram categorias de monopostos, de marcas, de endurance...

 

Mas era uma outra época! Vivemos por duas décadas uma sequência de títulos mundiais e tivemos três pilotos geniais na F1. Isso criava um espaço enorme para se trabalhar o automobilismo no Brasil, porque o automobilismo estava em alta. Foram gerações de garotos querendo ser o novo Emerson, o novo Nelson, o novo Ayrton. Ídolos abrem portas!

 

Falar em gestão é muito complicado. É muito fácil falar mal, criticar a CBA como vejo muitos fazer. Eu trabalhei para a CBA por 8 anos e vi como é difícil fazer. Adoraria ver um destes que tanto criticam a CBA assumir algo lá e fazer algo diferente e melhor... e não estou defendendo nenhum presidente ou ex-presidente. É apenas a exposição de uma realidade.

 

É preciso fazer uma gestão moderna? Sim, mas tudo isso passa por uma coisa: dinheiro! Sem dinheiro não tem como fazer isso e hoje não tem mais que “puxe” dinheiro para o automobilismo. O último foi o Ayrton Senna. Em 1995 eu formei 250 pilotos na escola. No ano passado foram 10. Precisa de mentes novas, ideias novas e uma pessoa ou grupo de pessoas que agregue capital.

 

Falando dos promotores, o Mauricio [Slaviero] e a Neusa [Felix] foram os sobreviventes. Eles são os sobreviventes e a duras penas estão sobrevivendo. Digo mais: no dia que o Fernando Alterio (Diretor Presidente da Time For Fun, dona da VICAR) disser que “não quer mais brincar de carrinho”, acabou tudo!

 

Tudo que o Maurício faz é com sacrifício e ele é um cara muito inteligente e trabalhador. Não deve ser fácil pra ele chegar numa mesa de reunião e dizer que “está empatando”, por que ganhando não está. Na Fórmula Truck, não é segredo o sufoco que a Neusa está passando.

 

Precisamos de uma gestão feita por um gestor de verdade. Não é nada contra nenhum presidente de federação ou quem está na CBA hoje, mas um esporte como o automobilismo, que na época que o Paulo Scaglione era o presidente e haviam 19 campeonatos nacionais, faturava 8 milhões de reais por ano. Agora, com o que sobrou, se faturar 4 é muito. Aí a gente olha os rodeios... e descobre que eles faturam 2 bilhões!

 

Tem final de semana que tem 30 horas de automobilismo na televisão se a gente somar tudo que passa em todos os canais. Vocês já viram rodeio do Brasil na televisão? Eu nunca vi. Como é que um esporte que tem a televisão trabalhando pra ela, transmitindo corridas, fatura menos do que o rodeio que nem propaganda faz na televisão. Se a gente somar tudo que acontece de automobilismo no Brasil, com F1, WEC e o que for, não chega a 100 milhões. A gestão do negócio está errada!