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Saudosismos e Paranóias. PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 08 May 2015 20:38

Todo mundo que assiste corrida há mais de 25 anos como é o meu caso tem saudades dos tempos em que o piloto fazia a diferença, que os carros eram mais difíceis de guiar, que não tinha eletrônica quase nenhuma, que se via carro “de lado” nas curvas.

 

Se a gente voltar mais no tempo e pegar aquele filme do Steve McQueen sobre as 24 Horas de Le Mans com aqueles Ford GT 40, aquelas Porsche 917 e aquelas Ferrari 512, que na minha opinião são carros muito mais bonitos do que os atuais carros da categoria.

 

Para os saudosistas em geral – excluo-me deste “pacote” – a volta da Honda para a McLaren teve um “ar todo especial”. Era a volta da parceria vencedora e dominante do final dos anos 80 e – no caso aqui do Brasil – um saudosismo associado com o finado Ayrton Senna.

 

Acontece que nesse mundo imediatista em que vivemos, todos queriam um “retorno às vitórias e às glórias” quase que imediato... e mesmo com a japonesada “roendo o bambu” durante um ano – desde o anúncio da parceria até a apresentação do motor – as primeiras conclusões foram pra lá de frustrantes.

 

Diga-se de passagem, as outras três construtoras de motores da categoria – Ferrari, Renault e Mercedes, sendo a última em particular – reclamaram muito do fato desta “entrada tardia” dos japoneses. No caso dos alemães, o protesto era por conta de uma “possível transferência de dados” das referências do vitorioso motor alemão para os futuros motores japoneses.

 

Na sua esquerda, uma TV alemã da Telefunken. Na sua direita, uma TV Hitachi, japonesa. Bem parecidas...

 

Para quem não era nascido na época, nos anos 60/70, quando os japoneses começaram a se aventurar na área de eletro-eletrônica, havia uma piadinha que dizia que “japonês não fabricava, japonês copiava!” Isso tinha lá seu fundo de verdade, uma vez que os eletrodomésticos produzidos na terra do sol nascente tinham “uma enorme semelhança” com os produzidos no ocidente, Em particular, com os alemães, nos quais a indústria automotiva também “inspirou-se” no passado.

 

Quando os japoneses da Honda decidiram retornar à Fórmula 1, 20 anos depois de sua aparição nos anos 60, também não começaram vencendo. A entrada no mundial da categoria no GP da Inglaterra em 1983, com o Stefan Johansson como piloto, foi bem discreta, com o carro ficando ali, no meio para o fim da classificação no grid.

 

A Honda voltou para a F1 com uma equipe pequena, a Spirit. Andando no meio para o fundo do pelotão.

 

Foi apenas em 1985 que a Honda – já em parceria com a Williams – começou a se mostrar como forte construtora de motores. No ano anterior, apesar de conquistar uma vitória com Keke Rosberg, esta deu-se muito mais por conta do abandono dos favoritos do que por força do propulsor.

 

A Honda foi “a dona do pedaço” na segunda metade da década de 80, apesar da Williams ter entregue o campeonato de 1986 de mão beijada para Alain Prost e a McLaren. Foi uma das supremacias mais longevas e incontestáveis da história da Fórmula 1, não apenas com os motores turbo, mas também com os motores aspirados.

 

O motor que os japoneses desenvolveram foi o dominador de meia década da Fórmula 1.

 

O motor Honda criado nos anos 80 tinha 6 cilindros em V, com 1.5 litros e chegava a transferir para o eixo traseiro mais de 750 cv de potência, com o turbo compressor regulado numa pressão de 2.5 bar, girando a 13.500 RPM em seu auge de eficiência, quando equipou as McLaren MP4/4.

 

No tempo em que a pressão podia chegar a 4 bar, esta potência passava facilmente dos 1200 cv, transformando os carros em verdadeiros “canhões”. Como o regulamento permitia que houvesse “motores de treino”, estes chegavam a absurdos 1400 cv antes de uma série de regras serem introduzidas visando a diminuição da vantagem dos motores turbo, reduzindo a pressão destes (e consequentemente a potência), além da quantidade de combustível utilizada pelos carros, que começou a ser feita na metade da década.

 

O casamento com a McLaren produziu uma das maiores supremacias da história da categoria.

 

Era uma realidade bem diferente deste mundo tecnológico em que vivemos e que tanto atormenta o jurássico Bom Velhinho, que quer seus motores berrando pelos autódromos nos confins do mundo para – quem sabe – alguém escutar, deixando de lado Nurburgring, Hockenheim e Paul Ricard!

 

O motor japonês do Século XXI não tem praticamente nada (ou nada mesmo) do seu quase tataravô. É um V6, turbo, com 1,6 litros, mas quer tem junto a ele todo um conjunto de sistemas híbridos que trabalham em conjunto para “empurrar” o carro (ERS-K, que converte a energia cinética da desaceleração em energia elétrica; e ERS-H, que converte o giro da turbina em eletricidade).

 

A volta, agora com as novas regras da categoria reeditou uma parceria. Mas daí garantia de sucesso...

 

Só que o sonho de ver a McLaren andando na frente, disputando vitórias e refazendo a vitoriosa parceria que rendeu 4 títulos mundiais não está passando nem perto de acontecer! Na verdade, a volta da Honda está obtendo um retorno pior do que o que se viu em 1983. Afinal, a Honda tinha como parceira uma equipe inexpressiva – a Spirit – e agora não... a parceira era a McLaren... e o time está no fundo do pelotão... quando larga! O fato de Jenson Button sequer ter largado no Bahrein foi “coisa de Marussia”.

 

Para os saudosistas esta situação que a McLaren está vivendo é frustrante. O motor da Honda está pelo menos 150 cv mais fraco que os motores de Ferrari e Mercedes, hoje tidos como equivalentes... e só não estão quebrando “pirotecnicamente” como os Renault por conta da precaução dos japoneses em “segurar a potencial cavalaria”.

 

A McLaren tem sofrido com os problemas com o motor Honda e os saudosistas (além dos pilotos) estão frustrados.

 

Enquanto isso, o saudoso vai sofrendo sem ver a volta dos tempos dourados (no caso platinados, dada a cor do carro) e que ainda deixou-os mais frustrados quando a equipe anunciou que iria mudar a cor dos carros... e ao invés de provocar orgasmos em branco e vermelho tirou o brilho platinado para colocar um cinza chumbo, quase negro. Quanto chororô na internet... parecia coisa do Príncipe das Lamúrias nos tempos dos insucessos do pangaré rampante. Aí você junta tudo isso com mais um aniversário da morte do queridinho nacional e tem um rio de lágrimas e amargura maior que o Amazonas!

 

Quando saudosismo se junta com fanatismo e delírios megalômacos, temos a combinação perfeita para a completa insanidade. Um belo exemplo disso é a “Igreja Maradoniana” existente na Argentina. Sim, alguns dos nossos ‘hermanos’ criaram uma “Igreja” para o “aspirador” da camisa 10 de seu país.Tem até site... www.iglesiamaradoniana.com.ar 

 

Saudosismo, fanatismo e idolatria insana podem parecer engraçado, mas também pode ser visto como uma doença...

 

Tem cerimônias, altar, até casamento sob as bênçãos de uma imagem dele – menos gordo, claro – com aquela famosa frase “La mano de Dios”. Para nós, que vemos este tipo de coisa, é um ato doentio e ridículo. Afinal, trata-se de um homem, mortal, imperfeito e mesmo tendo sido um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos.

 

Agora, se usarmos a mesma referência, a entrega insana e desmedida diante de um local praticamente considerado como “solo sagrado”, quase um “templo”, onde ano após ano pessoas vão lá, o enfeitam de flores, rezam e curvam-se diante de uma placa de bronze sobre a qual jaz um dos maiores pilotos de todos os tempos (mas não o maior, como eles bradam em todos os universos, reais e cibernéticos), deve ser visto como?

 

... e isto pode ser visto de mais de uma forma, por mais pessoas ao redor do mundo do que se imagina.

 

Este tipo de atitude não beira ser doente, insano e ridículo como o dos seguidores da “Igreja Maradoniana”? Como bom senso é um artigo raro nestes dias de hoje...

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva