Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
È vivo Nasr. È morto Senna! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 08 April 2015 04:08

Quem ama e assiste corridas em geral – e Fórmula 1 em particular – nestes últimos 20 anos não apenas aqui no Brasil – onde até certo ponto seria natural – mas em todo o mundo, que assistiu estarrecido pelas imagens da televisão o então melhor e mais importante piloto do mundo, Ayrton Senna da Silva, espatifar a Williams número 2 contra o muro da curva Tamburello e morrer diante dos nossos olhos (eu não engulo e jamais engolirei a “versão oficial” da morte no hospital de Bolonha) sofre – em maior ou menor grau – de algum tipo de saudosismo.

 

Por mais que alguns não gostem deste ponto de vista, não tem como não levar isso em conta: Nunca um piloto com a importância que tinha Ayrton Senna morrera de uma forma tão violenta e trágica. Claro que não vou aqui menosprezar a morte do dia anterior, de Roland Ratzemberger ou a Roger Williamson ou a de Tom Pryce. Mas a morte “ao vivo” do principal piloto da categoria naquela altura e um dos maiores nomes de todo o automobilismo mundial, liderando uma corrida e sendo transmitida para todo o mundo foi algo inédito.

 

Em minhas pesquisas pela internet atrás de artigos para leitura e pesquisas para as minhas colunas, dei de cara com foto de uma manchete de um jornal da Suiça que nunca tinha ouvido falar estampando na sua capa uma foto de nosso mais novo piloto na Fórmula 1 e a manchete: “O novo Senna”!

 

Trinta segundos de termos impublicáveis seguiram-se de um “de novo”! Não é possível, é muita falta de capacidade, de criatividade ver um profissional de jornalismo fazer este tipo de comparação e ainda escrevê-la. É nessas horas que digo: Não troco meu CRECI pelo MTB (ou sei lá como chamam isso no exterior) de muitos que trabalham por aí!

 

Não é apenas aqui no Brasil que por saudosismo ou por apelo para vendas, tentam "criar um novo Senna".

 

Quem, minimamente, acompanhou a carreira de Felipe Nasr até chegar à Fórmula 1 sabe muito bem que ele nunca foi nenhum fenômeno. Um piloto muito bom, com muita capacidade técnica, muito inteligente e capaz de derrotar seus adversários usando muito mais a cabeça do que o ímpeto.

 

Talvez, nos dias de hoje, pilotos com este perfil – de saber gerenciar melhor os recursos do carro e usar estes recursos de forma sábia – seja mais valorizado do que aqueles pilotos que um dia escreveram seus nomes na história pelo ímpeto e pelo arrojo.

 

Mas, por mais que eu queira, não posso condenar a postura desta publicação como um todo ou pura e simplesmente por considerar tal comparação um absurdo sem tamanho. Ela é – certamente – um sinal de saudosismo. Um saudade do tempo em que os pilotos “tiravam leite de pedra” e o conceito de “limite” tinha mais de relatividade do que do que a teoria do Einstein.

 

A capa da revista italiana Autosprint, da primeira semana de maio estampava em sua capa a dura verdade.

 

Ainda assim, é querer exigir de uma pessoa que ela seja alguém que fisicamente ela não é e nunca vai ser. Mentalmente ela não é e nunca vai ser e provavelmente não irá satisfazer o ávido desejo daqueles que querem ver renascido aquele que entrou para a história... e lá ficará!

 

Eu quase vomitei (estava jantando), tamanho quando vi no telejornal da emissora que transmite as corridas com sinal aberto (desde que não tenha futebol, ou algo que seus diretores considerem mais interessante, no mesmo horário) uma integrante da equipe de funcionários do dito canal de televisão com um “sobrenome de adjetivo” deixar o piloto completamente sem graça e com um sorriso amarelo sem tamanho quando ouviu da ‘mocinha’ que ‘Nasser era Senna ao contrário’! O que saiu de “mais leve” foi um outro adjetivo, que rima com o sobrenome da “profissional de mídia”.

 

Minha mulher tirou as crianças da mesa tamanho o murro que dei nela e o tanto que xinguei esta cidadã. Nessas horas dá revolta de ver gente tão despreparada trabalhando no autódromo e tanta gente competente, que escreve em veículos menos prestigiados, ficam tendo que assistir essas coisas e corridas pela televisão. Acabo tendo que dar o braço a torcer a aceitando quando o Editor do site fala que não tem a menor vontade de ir fazer cobertura na F1. Se ouço uma dessas, esculacho na hora!

 

Nessas horas tenho que apoiar o nosso Tricampeão ainda vivo, Nelson Piquet, quando critica duramente o despreparo dos nossos profissionais (ou nem tanto) que vão fazer cobertura nos autódromos. Mas o pior, no meu entender, é que por maior que fosse a imbecilidade protagonizada pela enviada da emissora, a equipe de edição de imagem poderia ter cortado esta parte e evitado tamanho vexame, Basta entrar no Google e ver a reação do público que segue a categoria. Ninguém poupou a cidadã. Ou seja, o erro não foi só dela!

 

Contudo, alguns anos depois, em 2001, a mesma revista buscava um novo "ídolo" para "incendiar os autódromos".

 

O pior de tudo é que esta atitude de “querer ressuscitar o morto” ou – pior – querer que alguém o substitua. Em 2001 a revista italiana Autosprint fez uma matéria de capa com um jovem que assombrava a categoria F3000 no país... um tal de Felipe Massa!

 

O então promissor piloto tinha mesmo uma “performance digna do finado”, tendo vencido quase todas as corridas da categoria e era tido como aposta certa para “arrebentar” na Fórmula 1. Bom, passados 14 anos desde então, o mais perto que Felipe Massa chegou de um título mundial foi o vice campeonato de 2008.

 

Na após o trágico GP de Ímola, a mídia e o mundo clamavam por um herói... e puseram o mundo sobre os ombros de Rubinho.

 

Mas a maior vítima desta insana cobrança em querer um novo “herói”, um “semideus da pátria sobre rodas”, o mais cobrado e injustiçado, quem carregou por quase vinte anos o estigma de “ter que ser o ‘novo herói’ do automobilismo brasileiro” foi Rubens Barrichello.

 

Antes mesmo do “morto esfriar na cova”, lá estava a rede de televisão, seu “eloquente” narrador e pseudo auto-assumido “porta-voz do anseio popular” – logicamente diante do risco de queda que veio a se concretizar de audiência nas manhãs de domingo – anunciando que um novo campeão havia sido formado no solo sagrado do kartódromo de Interlagos, que recebeu o nome do finado herói.

 

Acontece que Rubens Barrichello, assim como Felipe Nasr e como Felipe Massa, não era um “fora de série”. Um piloto rápido, técnico, competente, mas que além do “azar” de ser contemporâneo de um fenômeno como Michael Schumacher, ponteou sua carreira por “se meter em roubadas”.

 

Mal orientado, Rubens Barrichello tentou assumir um papel que não lhe cabia... e como foram impiedosos com ele!

 

No GP Brasil de 1995, a a primeira corrida de F1 em Interlagos após a morte de Ayrton Senna, Rubens Barrichello apareceu com o uma “homenagem” ao falecido tricampeão com uma pintura que o lembrasse. O grande artista Sid Mosca preparou uma “montagem” com a pintura do capacete amarelo de faixas azul e verde sendo cobertas pelo contorno de seu próprio capacete.

 

Só que Barrichello pilotava uma Jordan e só conseguiu o 16º lugar no grid de largada. Na corrida, com problemas no câmbio no seu carro, acabou abandonando com apenas 16 voltas na corrida... vencida por Michael Schumacher.

 

Em 2011 ele “repetiu” o feito, na sua corrida de despedida da carreira – pela Williams – onde terminou num melancólico 14º lugar. No ano seguinte, o lugar na equipe foi daquele que, por herança genética, poderia ter sido o “legítimo herdeiro” do sobrenome nas pistas. Contudo, diante da tragédia, a família afastou o sobrinho que ainda hoje procura afirmar-se como piloto – e que só teve a chance de pilotar por ser sobrinho de quem era – uma vez que não pode fazer uma carreira de formação como fazem os pilotos pelo mundo.

 

"Por direito", herdeiro e sucessor só poderia haver um, mas não deixaram-no seguir o seu caminho.

 

Como bem disse a manchete da revista italiana Autosprint, È MORTO SENNA... e por mais que queiram ressuscitar a ele, a audiência repetindo seu nome à exaustão, aumentando seus feitos como um pescador de final de semana, isso não vai acontecer.

 

Portanto, que Ayrton Senna tenha sempre o seu lugar marcado na memória de todos que amam o automobilismo, na história deste esporte como um dos maiores de todos os tempos e que a vida siga adiante. È VIVO FELIPE NASR!        

 

Abraços,

 

Maurcio Paiva