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O Retorno à Campo Grande - MS em 2015 PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 15 March 2015 04:23

Quando estivemos em Campo Grande para conhecer o Autódromo Internacional Orlando Moura, em outubro de 2010, ficamos simplesmente encantados com o que vimos.

 

 

Esqueçam as instalações suntuosas dos autódromos do oriente médio ou mesmo as varandas envidraçadas de Londrina e Curitiba (para adequarmos a ótica do leitor à realidade dos autódromos que não são para a Fórmula 1). O autódromo da capital do estado de Mato Grosso do Sul era o exemplo de um bom autódromo para treinamento, formação e corridas das categorias nacionais, tanto de automobilismo como de motociclismo.

 

Uma área impecavelmente cuidada, com as áreas verdes aparadas, zebras pintadas, marcas claras no asfalto, dotado de generosas áreas de escape que praticamente isentam suas curvas de guard rails, muros de concreto e barreiras de pneus. Ali, se o piloto erra e perde a curva, dificilmente vai conseguir bater em alguma coisa.

 

Os boxes, de uma simplicidade, mas dimensões e limpeza tais, com instalações elétricas e hidráulicas funcionando, quase como se estivesse para receber por aqueles dias a chegada de um grande evento nacional, tendo no seu andar superior uma enorme área para montagem dos HCs e Camarotes VIP, bem estruturadas em termos de instalações elétricas.

 

A torre, bem dimensionada para o porte do autódromo, estava bem montada, com seus quadros de conexão em condições de atender às necessidades dos Comissários, Diretor de Prova, Cronometragem e Secretaria, propicia ao Diretor de prova – em seu último andar – uma visão de praticamente toda a pista.

 

 

No Paddock, um restaurante e banheiros muito limpos e com tudo funcionando eram uma garantia de que tanto o público presente como os profissionais que lá estavam para trabalhar encontrariam um espaço limpo e em condições para não passar por apertos. O único `senão` que consideramos foi o problema do asfalto, que erraram no tratamento do mesmo quando de seu recapeamento. Apesar disso, depois daquela visita, fizemos questão de cumprimentar o Sr. Milton Pupin, administrador do autódromo.

 

Como tudo nesta vida – especialmente em se tratando de construções – se não houver cuidado permanente com o patrimônio, este acaba se deteriorando... e nos últimos anos o Autódromo Internacional Orlando Moura viveu um verdadeiro calvário.

 

Em 2012 a prefeitura da cidade (o autódromo é municipal, como já contamos no artigo escrito no início de 2011) mudou de mãos, com a eleição de Alcides Bernal, do Partido Progressista, em sucessão de Nelson Trad Filho, do PMDB, que governou por dois mandados.

 

O mandato de Alcides Bernal durou pouco mais de 14 meses, tendo este sido cassado , envolvido em diversas acusações. A prefeitura passou então para as mãos do vice-prefeito, Gilmar Olarte, do mesmo partido.

 

 

Com todos estes problemas o autódromo, outrora muito bem cuidado, começou a passar por um processo de deterioração e que culminou com o pedido de interdição da praça de esportes por parte da Vigilância Sanitária, do Corpo de Bombeiros e da Secretaria do Meio Ambiente. O Ministério Publico decretou que o autódromo fosse lacrado e proibiu qualquer tipo de atividade no local até todas as pendências junto aos três órgãos, conforme o processo em trânsito na 42ª Sessão da Procuradoria de Justiça na Cidade de Campo Grande, conforme vimos ‘in loco’, ao termos acesso à este.

 

Além de irmos à Procuradoria de Justiça e ao Ministério Público, fomos ao Quartel General do Corpo de Bombeiros e a Secretaria de Saúde para apurar quais seriam os problemas encontrados pelos órgãos que pediram a interdição do autódromo.

 

De acordo com o levantamento junto ao Comando do Corpo de Bombeiros em Campo Grande, o autódromo precisa instalar uma rede de hidrantes e uma dotação de extintores de incêndio para o combate em caso de chamas na área dos boxes, camarotes, escritório, torre de controle e restaurante. No restaurante, foi posto como exigência a colocação do sistema de alimentação de gás para a cozinha em um local externo ao mesmo, sendo este canalizado até o fogão, com válvula de isolamento.

 

 

A cozinha, da mesma forma que foi alvo do Corpo de Bombeiros, foi alvo da Vigilância Sanitária. O órgão de saúde pública exigiu que as paredes internas da cozinha e do restaurante fossem revestidas com material cerâmico (azulejo ou similar) para garantir uma melhor e mais eficiente higienização do local. A cozinha ainda deve ter um sistema de lavagem e calhas para drenagem do piso quando da lavagem do mesmo, sendo a água oriunda desta lavagem recolhida a local apropriado, item este também parte da inspeção da Secretaria de Proteção Ambiental.

 

A Vigilância Sanitária também cobrou que os banheiros tivessem tampas em todas as privadas, com descargas em funcionamento e sem vazamentos, assim como as pias e suas torneiras. Também devendo haver recipientes para sabão líquido, porta toalhas descartáveis, abastecidos e cesto para disposição do papel usado, tanto nas privadas como nas pias.

 

 

A Secretaria de Meio Ambiente, além da questão da disposição de águas servidas, oriundas da cozinha e dos banheiros, mostrou especial preocupação (e um certo desconhecimento) com relação à “disposição de óleo queimado” por parte das equipes. Logicamente que procede a preocupação de que óleo derramado venha a contaminar o solo, o sub-solo e até o lençol freático, mas mostra o desconhecimento do que hoje é pratica no automobilismo, com o uso de bandejas portáteis para coleta e deixar os boxes limpos e secos.

 

Em todo caso, a Fundação do Esporte da Cidade de Campo Grande vai ter que trabalhar e correr contra o tempo uma vez que, com o Autódromo Internacional Nelson Piquet, em Brasília, semi destruído, a Fórmula Truck buscou antecipar a etapa – anteriormente programada para junho – da categoria na cidade para o segundo domingo de abril.

 

 

Batalhamos durante todo um dia para, no final da tarde da sexta-feira dia 20 de fevereiro conseguir entrar nas dependências do autódromo na companhia do Administrador do Autódromo, Sr. Milton Pupin para ver a situação que este período de abandono provocou em suas instalações... e aos nossos olhos, pareceu que o período foi mais longo do que o declarado.

 

Toda a entrada do autódromo, junto ao muro onde costumam ficar os ônibus que fazem linha no dia das corridas tinha o mato alto, mas ver o portão de entrada com suas pontas apoiadas no asfalto já foi o primeiro “aperto no peito”. Até chegarmos no Paddock, quando foi possível ver o mato brotando nas fendas do asfalto próximo aos boxes. Na parte do pit lane onde é reservada para a montagem das casamatas o mato também brotava entre as frestas do piso junto as muretas internas e externa.

 

 

Milton Pupin abriu o escritório há muito fechado enquanto fomos inspecionar a torre de controle. Os vidros estavam inteiros, mas os sinais de abandono eram visíveis, com as caixas de conexão elétricas com os fios expostos e tampas caídas. O mesmo cenário que vimos andando pela área VIP e pelos boxes.

 

Do alto da torre, fazendo uma “panorâmica”, ver o mato alto por praticamente todo o circuito teve um “lado bom”. Um dos maiores problemas do Autódromo de Campo Grande, nas palavras de chefes de equipe e preparadores é o barro vermelho, típico do solo da região. Este solo levanta uma poeira fina que invade as tomadas de ar, comprometendo o funcionamento do motor e sistemas de resfriamento.

 

 

Com o mato tendo crescido e tomado as áreas em torno do traçado da pista em praticamente sua totalidade, este problema para os competidores pode vir a ser eliminado. Se no falecido Jacarepaguá, o mato alto “virava grama”, em Campo Grande isto também pode acontecer. O problema é que o mato também comprometeu as caixas de brita das áreas de escape e até mesmo as partes com asfalto.

 

 

 

Devidamente autorizados, fomos dar uma volta na pista e verificar se o asfalto dos 3.433 metros do circuito também tinham sido comprometidos. Felizmente, apenas algumas zebras tinham alguns pontos com mato crescendo, algo simples de ser resolvido, mas as áreas de escape, especialmente no final das duas retas precisam de cuidados.

 

 

Fotografamos toda a pista e depois de alguma experiência adquirida nestes anos frequentando autódromos, elaboramos uma lista de sugestões para melhorias no Autódromo de Campo Grande.

 

 

Na reta dos boxes, o mato brotou entre o Pit Wall e a pista, mas não havendo rachaduras no asfalto, não proliferou para pontos dentro do traçado. Contudo, o avanço sobre a zebra no final da reta que antecede a curva 1 e a tomada da caixa de brita no contorno externo da mesma darão mais trabalho.

 

 

Olhando mais de perto, a vegetação nem está tão alta quanto pareceu quando olhamos as primeira partes na entrada do autódromo, mas assim como na curva 1, o contorno externo da curva 2, depois da pequena reta que se segue à curva 1, também está tomado até projetando-se para o asfalto. Neste ponto a vegetação fez “sumir” o guard rail da curva 2.

 

 

Nas retinha seguinte, que leva para a curva 3 não está tão ruim. Na verdade, a maior preocupação, que é o asfalto, este está como antes. Sofrendo com o erro do recapeamento mal feito de 2011, mas sem rachaduras.

 

 

Antes de chegar na curva 4, tentamos “achar” um guard rail no meio da vegetação, mas com o terreno mole por conta das chuvas recentes na cidade, melhor não correr o risco de “atolar”. Entre os pontos das curvas 3 e 4 a vegetação está mais baixa do que em outros pontos, aparentemente.

 

 

Na reta principal, oposta à reta dos boxes, as antigas barreiras de pneus – trançados – continuam lá, mas agora engolidas pelo mato alto. Em alguns pontos, no limite externo, a vegetação nativa não conseguiu “fechar” todos os pontos, com espaços de barro vermelho à mostra. Seria de grande valia “plantar” este tipo de vegetação resistente nestes pontos.

 

 

A curva 5, longa e logo após o ponto de velocidade mais alta no circuito teve sua área de escape completamente tomada pela vegetação, fazendo sumir a parte de asfalto e a caixa de brita após a mesma. Como não tem nenhuma barreira depois da curva, mesmo com todo o espaço lá existente, não tem como deixar apenas a vegetação. Carro nem caminhão para com ela, especialmente se molhada.

 

 

Depois da retinha que leva para a curva 6, vimos o ponto onde o asfalto está mais desgastado. Naquele ponto a vegetação está bem mais baixa que em outros pontos, mas a área de escape da curva precisa ser refeita, apesar do guard rail muito distante para a velocidade que ali se chega.

 

 

Na curva 6 começa uma sequência de três curvas de baixa velocidade que levam à reta dos boxes. Na curva 7 há, em sua parte parte externa, um guard rail, mas a área de escape, caso refeita é bem generosa. Na saída da curva, no lado interno, fica a entrada dos boxes.

 

 

A curva 8 também tem tem um guard rail e dentre as áreas de escape é a que está em uma condição menos degradada em relação às demais. O guard rail da mesma também está em boas condições. A entrada dos boxes não sofreu modificações desde a última visita.

 

 

Diante da situação complicada que nós encontramos em Campo Grande, era mais do que preciso ouvir os responsáveis pela administração do autódromo sobre os problemas encontrados na nossa visita e o que a administração do autódromo pode fazer para recuperá-lo.

 

 

Da primeira vez que estivemos na cidade, ouvimos o Sr. Milton Pupin, mas desta vez, considerando o problema de ordem jurídica que é a interdição do autódromo, pedimos ao Milton para falar com o Secretário da Fundação do Esporte da cidade de Campo Grande, Sr. José Eduardo Afonso da Mota e também o Sr. Milton Pupin.

 

 

NdG: Estamos cientes da situação do autódromo e temos visto que há uma mobilização para que a interdição seja retirada. Hoje (20 de fevereiro de 2015) houve uma reunião na prefeitura de Campo Grande para tratar do assunto. O que foi tratado nesta reunião? Algo foi decidido?

 

José Eduardo A. da Mota: Nós fomos convidados pelo prefeito, Sr. Gilmar Olarte (PP-MS, para colocá-lo à par da situação atual que se encontra o autódromo, tendo em vista que o prefeito se interessou em fazer retornar à Campo Grande uma etapa da F. Truck. Ele queria saber as necessidades que teria o autódromo para que esta corrida possa ocorrer. Então, nos, da Fundação, estivemos lá, junto com representantes da Secretaria de Obras, a Federação de Automobilismo, a FAMS, Além de outras entidades que pudessem participar na elaboração de uma proposta e daí se buscar valores para uma nova reunião com representantes da F. Truck e podermos ter uma posição para informar o quanto terá que ser investido para colocar o autódromo em condições.

 

NdG: Nós estivemos aqui em Campo Grande em 2010, visitando o autódromo. De 2010 para cá, o que foi feito em termos de melhorias, conservação, investimentos no autódromo?

 

José Eduardo A. da Mota: O que eu posso dizer é sobre a nossa gestão e nesta gestão (iniciada em março de 2014), do jeito que recebemos o autódromo lá ele está, nada foi feito durante este período. O autódromo não está apto para receber grandes competições, mas nós continuamos utilizando o autódromo para competições locais. Neste período que estou à frente da secretaria, tivemos também a visita de um representante da Stock Car, fazendo uma vistoria no circuito e foi feito um orçamento prévio de quanto ficaria para adequar o autódromo para termos uma etapa da Stock Car. E o custo ficou entre 5 e 6 milhões de reais. Teria que ser feito um trabalho em toda a pista e ser colocado um muro entre as duas retas do circuito. Como a Prefeitura passou por uma situação complicada no ano passado (Nota do NdG: O prefeito, Sr. Alcides Bernal (PP-MS) foi cassado em 12 março de 2014, assumindo seu vice, Sr. Gilmar Olarte), com muitas despesas que não puderam ser saldadas em virtude da administração anterior e o Prefeito optou por priorizar outras áreas inicialmente. Para este ano, de acordo com o orçamento municipal ou com a entrada de parcerias, estaremos buscando viabilizar meios para recolocar o Autódromo de Campo Grande no calendário nacional.

 

NdG: O Sr. falou que o autódromo continua sendo utilizado para eventos locais. Que eventos tem ocorrido?

 

 

José Eduardo A. da Mota: Nós chamamos de “eventos domésticos”. São eventos de som, disputas deste tipo, provas de pedestres, de atletismo, provas do Campeonato Regional de Motociclismo... nós temos dentro da área do autódromo um circuito de Motocross e recebemos uma etapa do Campeonato Brasileiro, além dos eventos de arrancada. Além disso, locamos o autódromo para treinos privados. Equipes de São Paulo vem utilizar nosso circuito.

 

NdG: É consenso de que o circuito de Campo Grande é muito técnico e muito seguro, com grande áreas de escape. Mas uma das coisas que os preparadores de equipes sempre falam em relação à Campo Grande é no barro vermelho, que levanta um pó muito fino e vai para os coletores de ar do carro. O autódromo está com o mato alto, mas está bem verde e bem fechado...

 

José Eduardo A. da Mota: Esta vegetação é a ‘braquiária’, ela cresce muito e rápido. Como o autódromo está interditado pela justiça, não podemos trabalhar, aparar aquilo. Caso consigamos atender as exigências do Corpo de Bombeiros, da Vigilância Sanitária e da Procuradoria de Justiça, vai ser tudo capinado. O autódromo vai ficar bonito. Na lista de pedidos está a poda da vegetação. Como nós estamos no início do ano letivo, a Prefeitura está mais focada nas escolas. Dado este passo inicial, outras frentes ganharão mais espaço. Entre elas o autódromo. Eu espero que a reunião da próxima semana (Nota do NdG: Na segunda-feira, 23 de fevereiro, o Sr. Roberto Cirino, da F. Truck esteve em Campo Grande em reunião e visitação ao autódromo. No dia 1º de março, durante a transmissão da etapa de Caruaru da F. Truck a corrida foi confirmada para o dia 12 de abril). O retorno do autódromo é algo importante e é isso que nós queremos fazer ver. Temos muitas solicitações para uso de treinos privados por parte de equipes, especialmente de São Paulo.  Além de muito bom, elogiado, o custo da nossa locação é mais baixo do que o de outros lugares. Além disso, precisamos atender a nossa demanda. Há uma busca dos membros do setor automotivo aqui na cidade que quer utilizar o autódromo para testes, eventos. Se não usam o autódromo vão fazer aonde? Nas ruas e avenidas? No nosso caso, na FUNESP, ainda temos outras preocupações, como o Ginásio Municipal que precisa de uma grande reforma para atender e poder receber eventos nacionais. Perto disso, o investimento e a manutenção do autódromo é bem mais barato. Estamos estimando a adequação para a F. Truck em algo de 400 mil reais. A reforma do ginásio está orçada em 12 milhões!

 

NdG: 400 mil reais seriam necessários para colocar o autódromo em condições. E a manutenção? Quanto custa manter o autódromo em condições operacionais para treinos, eventos testes, competições regionais, atrair provas do Campeonato Brasileiro de Motociclismo. Ser um espaço ativo?

 

José Eduardo A. da Mota: Eu vejo da seguinte forma: O autódromo pode se manter. Apesar de não cobrarmos caro pelas locações, ele tem como gerar uma receita capaz de custear estas despesas de manutenção. Não só isso, podermos oferecer um locar com boas condições para que vier locar o autódromo. A nossa grande dificuldade é que o dinheiro que entra numa locação do autódromo vai para uma conta da Prefeitura e para termos acesso a este valor não é simples. A arrecadação desta conta pode ser direcionada para outras áreas, mesmo aqui na Fundação. Assim, recursos ali arrecadados nem sempre retornam. A nossa intenção é que, depois desta reforma, os recursos gerados pelo autódromo sejam direcionados apenas para o autódromo.Na verdade, será uma conta que será recebedora da locação de parques, ginásios e do autódromo. Vai diminuir o acesso de outras frentes e com isso acredito que teremos como fazer uma manutenção adequada no autódromo.

 

NdG: Mas a conservação do autódromo passa também pelo contrato de locação. O locatário precisa devolver o autódromo conforme o recebeu. Como são os contratos de locação feitos pela FUNESP?

 

José Eduardo A. da Mota: Este é um grande problema que nós temos e que nos foi narrado pelo Milton [Pupin]. A tarefa de cuidar de tudo aquilo lá, e é uma área muito grande, é feita por ele e mais um. A dotação de pessoal da Fundação é muito pequena. O Milton tem que ficar indo lá, constantemente, no momento sozinho porque a outra pessoa está sem salário. Este período em que o autódromo ficou sem atividade percebemos que tem muita coisa estragada. Se nos for dado condições de consertar tudo e cuidar, teremos como deixá-lo sempre proto para receber eventos.

 

NdG: Uma sugestão que nós damos é que haja uma interação maior entre os administradores de autódromo do país. Que se copie modelos de gestão, formatos de contrato, que se busque reunir o que há de melhor entre todos. Os contratos de locação de Curitiba são bem rígidos e os locatários são obrigados a entregá-lo arrumado e limpo. Poderia se fazer isso por aqui, não?

 

José Eduardo A. da Mota: O fato do Autódromo de Curitiba ser privado ajuda muito. Talvez ele até dê lucro, uma vez que tudo o que ele arrecada pode ser reinvestido no autódromo, diferentemente daqui. Além disso, ele pode agir direto e rapidamente para fazer qualquer coisa dentro do autódromo. Aqui, que é um bem público, não funciona assim. Um exemplo, vamos precisar roçar a vegetação. Para isso é preciso solicitar para a Secretaria de Obras que este serviço seja feito. Daí eles vão fazer aquilo sei lá quando. Eu posso precisar para daqui duas semanas e eles só disponibilizarem para daqui há dois meses! O ideal seria termos uma “conta suprimento” onde pudéssemos direcionar verba para atender as necessidades do dia a dia. Um exemplo: quebra uma descarga de um dos banheiros. Para trocar o Milton [Pupim] precisa solicitar para a Fundação, que vai solicitar para a Prefeitura, que vai fazer cotação do serviço... este processo demora! Numa gestão direta, é uma questão de horas, na pública, de semanas.

 

NdG: Mas se o contrato de locação rege que tudo foi entregue funcionando e algo foi quebrado, o locador paga...

 

José Eduardo A. da Mota: Mas para isso funcionar tem que ter gente “em cima”... e este é outro problema que temos. Falta pessoal. Tem que ter gente para recapitular tudo, verificar tudo...

 

NdG: Mas é assim que funciona! Vistoria inicial e final. Como quando se loca um carro, por exemplo.

 

 

Milton Pupin: Neste caso, o certo seria o seguinte: o autódromo vai ser usado? Sim. Quando é feito o contrato de locação, teria que ter gente nossa para olhar tudo antes e depois do evento e na hora de receber o dinheiro, na segunda-feira, depois do contrato, revisto tudo e se houvesse algo errado, haver o ressarcimento. Mas para isso teríamos que ter um serviço nosso.

 

José Eduardo A. da Mota: Mas nós temos uma grande vantagem: a Prefeitura está com boa vontade para fazer, apesar das dificuldades financeiras que ela está passando. 2014 foi um ano difícil e agora, depois de praticamente um ano, é que as coisas estão se normalizando. Ele já deixou evidente de que gosta de eventos de velocidade. Ele mandou construir a pista de MotoCross e por ele, certamente o autódromo estaria funcionando. Eu creio que vamos ter a reabertura do autódromo em abril com a Fórmula Truck e que os processos de interdição serão resolvidos. E além, que mantenhamos o autódromo funcionando depois da corrida. Temos que dar uma satisfação às pessoas da nossa comunidade. Se nós tivéssemos um piloto local ou do estado disputando estas categorias principais seria um atrativo para o público local.

 

NdG: Uma coisa que vemos em outros espaços como são os autódromos é a sua exploração também em “eventos alternativos”, como shows, feiras e até eventos religiosos. Vocês já buscaram este tipo de alternativa?

 

José Eduardo A. da Mota: O grande problema é que como o autódromo fica na margem da estrada, de uma rodovia federal e com isso temos uma proibição para venda de bebida alcoólica. Assim, quando se faz um show, que normalmente tem o patrocínio de uma cervejaria, como eles vão expor e explorar a marca e o produto se não podem vendê-lo? Se formos buscar a fundo esta questão, veremos que todo órgão público que tem este tipo de espaço, para fazer algo do gênero terá este tipo de dificuldade.

 

NdG: O autódromo encontra-se interditado pelo Ministério Público, pelo Corpo de Bombeiros e pela Vigilância Sanitária. O que existe de alegação para a interdição e o que a Fundação está fazendo para resolver o problema?

 

 

José Eduardo A. da Mota: O Corpo de Bombeiros está exigindo que seja instalada uma rede de hidrantes, com tubulação nas dependências ali dos boxes, além da colocação dos extintores de incêndio. Exigiu também que o gás de cozinha do restaurante fique numa casinha, fora do mesmo. São cerca de 20 itens de segurança. A Vigilância Sanitária cobrou limpeza de uma forma geral, quer vasos com tampa e funcionando e também pediu mudanças no restaurante, exigindo que o mesmo fosse todo com cerâmica ou azulejo nas paredes da cozinha para melhor limpeza. Eles também querem que haja água potável, mas quer que o poço que temos no autódromo seja fechado. Inclusive, estão querendo que todos os poços da cidade sejam fechados. Agora, imagine, com toda esta crise de água, a gente aguar a grama  de parques e estádios de futebol com água tratada pela companhia de águas porque os poços estão fechados. A Secretaria do Meio Ambiente quer que haja um plano de contenção e controle de resíduos oleosos, para que os mesmos não contaminem o solo. São coisas que podemos resolver, mas que precisava haver algo que impulsionasse esta mudança e precisa de investimento. Depois que fizermos tudo que está na lista de exigências do Corpo de Bombeiros, da Vigilância Sanitária e da Secretaria de Meio Ambiente, apresentamos isso ao Ministério Público e liberamos o autódromo.

 

Programa para melhorias.

Ao longo destes mais de seis anos de atividade do Projeto Nobres do Grid, aprendemos alguma coisa sobre autódromos, conversando com administradores, projetistas, pilotos e ex-pilotos. Assim, decidimos nesta nova série de artigos sobre os autódromo  brasileiros, apresentar uma lista se sugestões, para seus proprietários e administradores, no intuito de melhorar aspectos de segurança e condições de trabalho para aqueles que lá irão em eventos de treinos e competições.

 

01) Estabelecer uma faixa de cobertura asfáltica com 10 metros de largura como área de escape ao longo da curva 1.

02) Estabelecer uma faixa de caixa de brita com 10 metros de largura como área de escape após a faixa de cobertura asfáltica ao longo da curva 1.

03) Estabelecer uma faixa de cobertura asfáltica com 05 metros de largura como área de escape ao longo da curva 2.

04) Estabelecer uma faixa de cobertura asfáltica com 05 metros de largura como área de escape ao longo da curva 3.

05) Estabelecer uma faixa de cobertura asfáltica com 10 metros de largura como área de escape ao longo da curva 4.

06) Estabelecer uma faixa de caixa de brita com 05 metros de largura como área de escape após a faixa de cobertura asfáltica ao longo da curva 4.

07) Instalar uma barreira de pneus (dupla) aparafusada, desde a saída da curva 4, percorrendo toda a reta oposta, até o limite do raio da curva 5.

08) Instalar um muro de concreto, com 1 metro de altura ao longo da reta oposta, afastado 10 metros do limite interior da mesma, iniciando na entrada da curva 4, indo até o início do contorno da curva 5.

09) Estabelecer uma faixa de cobertura asfáltica com 15 metros de largura como área de escape ao longo da curva 5.

10) Estabelecer uma faixa de caixa de brita com 10 metros de largura como área de escape após a faixa de cobertura asfáltica ao longo da curva 5.

11) Estabelecer uma faixa de cobertura asfáltica com 05 metros de largura como área de escape ao longo da curva 6.

12) Estabelecer uma faixa de cobertura asfáltica com 05 metros de largura como área de escape ao longo da curva 7.

13) Estabelecer uma faixa de cobertura asfáltica como área de escape ao longo da curva 8, até o seu Guard Rail.

14) Instalar um muro de concreto, com 1 metro de altura ao longo da reta dos boxes, afastado 10 metros do limite interior da mesma, iniciando na saída da curva 8, indo até o início do contorno da curva 1.

15) Verificar os pontos onde não há vegetação e plantar vegetação resistente, como a que predomina hoje no circuito.

16) Instalar portas nos boxes.

17) Recapeamento da pista com correto procedimento para a “cura” do asfalto.

 

 

 

Last Updated ( Saturday, 20 June 2015 21:04 )