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Vexame no Planalto Central! PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 02 February 2015 01:14

Caros amigos, passei os últimos dias analisando todos os passos deste processo que culminou com o cancelamento da “Brasília Indy 300”, marcada para o dia 8 de março, e no desenrolar dos fatos que virão – porque eles virão, não tenham dúvidas – em consequência não apenas do cancelamento da prova, mas principalmente da  paralisação das obras no Autódromo Internacional Nelson Piquet.

 

Na minha coluna do dia 25 de setembro eu já mostrei que, apesar da torcida e afirmar “eu quero acreditar”, todo aquele teatro armado no autódromo para a apresentação da corrida que traria a Fórmula Indy de volta ao Brasil (e livraria o Grupo Bandeirantes de um processo e uma multa milionária por quebra de contrato com a IMS – a “FOM” da Indy) dava calafrios por conta de como, quando e com quem estava sendo feito o acordo para uma reforma milionária – e um verdadeiro “maná” para as empreiteiras superfaturarem desde as pedras de brita para o asfalto até o mais sofisticado equipamento instalado – com um governador em final de mandato e pouquíssima chance de ser reeleito, como tentava – e não o foi.

 

Menos de dois meses depois o Diário Oficial do Distrito Federal anunciava que a licitação estava adiada por irregularidades e não trazer valores dos serviços a serem prestados (alguém surpreso?). Nuvens negras pairavam sobre o Planalto central e, por mais incrível que isso parecesse, o governo do Distrito Federal procurava tranquilizar a todos dizendo que as obras aconteceriam. Inclusive máquinas já estavam no local.

 

Duas semanas atrás, oito dias antes do despacho do Ministério Público do Distrito Federal, o Diário Oficial do Distrito Federal anunciava que a licitação estava suspensa! Desta vez apontando o sobrepreço nas obras, que estavam indo num ritmo tão bom que animava os entusiastas e competidores locais de que o autódromo de Brasília renasceria... mas aquilo era mais do que um "sinal de alerta": o projeto estava ruindo como um castelo de cartas ao vento.

 

Segundo o Grupo Bandeirantes, a Terracap, Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal, realizou o cancelamento da prova de forma unilateral e informou ao grupo na quinta-feira passada, dia 29 de janeiro. Acontece que o Ministério Público descobriu que o dinheiro, antes destinado para a realização da prova, teve sua destinação alterada para outros fins ainda não conhecidos e que o cancelamento não teria acontecido por conta de problemas relacionados às obras ou à organização, mas por questões políticas e financeiras e está relacionado à mudança de governo.

 

 

Por seu lado, a Terracap, no dia seguinte à divulgação do comunicado do Grupo Bandeirantes, divulgou nota que não tomou uma decisão unilateral, apenas atendeu a uma recomendação do Ministério Público para atender aos interesses da população do Distrito Federal, ao cancelar a Brasília Indy 300. A empresa se disse preocupada com o teor do contrato assinado com o Grupo Bandeirantes, promotor do evento.

 

O mais espantoso é que, da mesma forma que a FIA achou uma ‘brecha’ no regulamento dos motores, o novo Governo do Distrito Federal achou uma ‘brecha’ no contrato para não ter que pagar um centavo pelo rompimento do mesmo, além de ter envolvimento do Ministério Público na história.

 

O Ministério Público encaminhou um documento com 5 páginas e 23 argumentos para que o contrato fosse suspenso, as obras paralisadas e a verba redirecionada. De acordo com o documento, o contrato violava claramente o interesse do Distrito Federal pela mudança de rumo das despesas públicas, já que Brasília está em estado de emergência no quesito saúde pública e não tem conseguido pagar servidores, entre outros problemas prioritários por conta da grande dívida, de aproximadamente 17 milhões de reais mensais pelos próximos 22 anos, deixada pelo governo anterior, de Agnelo Queiroz, em exercício quando o contrato da Indy foi assinado.

 

No documento no Ministério Público, constatou-se que o ‘Termo de Compromisso’ firmado entre o Grupo Bandeirantes e o ex-governador tem data desconhecida e não conta com assinatura de testemunha e nem com publicação no Diário Oficial do Distrito Federal. O contrato seguiu roteiro semelhante. Desta forma, o Termo não possui qualquer validade jurídica e, portanto, não pode gerar punições ao estado. A multa é de 80 milhões de reais!

 

A outrora temida Curva da Bruxa teve sua área de escape ampliada, ficando mais segura, e asfalto novo.

 

O que mais me espantou nesta sequência de sinais foi a “inocência”, a credulidade dos dirigentes da Indianápolis Motor Speedway Incorporation, empresa que gere a categoria em acreditar piamente na promessa de um político brasileiro. Pior que isso, sendo a Bandeirantes tão bem estruturada na área de jornalismo político e entendimento dos nebulosos negócios da política nacional não ter ninguém para alertar que aquilo era pra lá de arriscado.

 

No ‘cordão dos inocentes’, incluam-se os brasileiros que trabalham diretamente com a categoria: Carlo Gancia e Willy Hermann. Carlo Gancia, que seguiu para Indianápolis para tentar contornar o estrago feito e ‘salvar a prova’. Um navio com 40 contêineres já está no mar, a caminho do Brasil, trazendo os pneus e a gasolina que é misturada no etanol.

 

As obras já estavam bastante adiantadas. Colaboradores nossos estiveram no autódromo, filmando o trabalho e, pelas imagens, as coisas pareciam que conseguiriam deixar as coisas prontas para a corrida em tempo hábil, mesmo porque, apesar de a licitação ter sido suspensa no início do ano, as obras continuavam, numa destas coisas inexplicáveis que só acontecem aqui no Brasil.

 

Na saída da Curva da Bruxa, entrando na reta oposta, o traçado está asfaltado e a área de escape aumentou.

Com isso, a bomba do prejuízo fica inteiramente no ‘colo’ dos diretores do Grupo Bandeirantes, um prejuízo não apenas financeiro, mas de credibilidade. Neste ‘buraco negro’, o piloto Vitor Meira acabou sendo arrastado, uma vez que ele participou diretamente de todo processo de negociação.

 

Os dirigentes da Indy foram inocentes, apesar de terem recebidos alguns ‘alertas’ e que deveriam levar em conta a possibilidade de realizar a prova em Goiânia. Foi preciso que acontecesse tudo o que aconteceu para que dois diretores do campeonato viajassem no dia seguinte para fazer uma visita a pista da capital de Goiás, a que oferece as melhores condições de receber uma etapa da Fórmula Indy, Interlagos à parte.

 

Seria uma corrida contra o tempo, contra a credibilidade e que, em cerca de 30 dias, teria que deixar o Autódromo Internacional Ayrton Senna em condições de receber a corrida. Em paralelo, a categoria também está trabalhando com a possibilidade de fazer uma rodada dupla em Saint Petersburg, nos dias 22 e 23 e simplesmente deixar a questão da etapa brasileira para os tribunais, aqui e nos Estados Unidos.

 

Como era de se esperar, os dirigentes da categoria chegaram a conclusão de que não haveria tempo hábil de preparar o circuito para a corrida, apesar de eu achar esta decisão muito mais uma resposta ao Grupo Bandeirantes do que a real impossibilidade técnica em realizar a corrida, visto que a categoria corre em lugares que não chegam nem perto das condições que o autódromo goiano oferece.

 

Curva do Placar: a parte mais clara do asfalto é o asfalto antigo, que ainda seria recapeada. o resto é área de escape.

 

O lado sombrio desta estória toda é que, na condição que se encontra o autódromo de Brasília, não há a menor condição de receber corridas de coisa alguma e para o mês de abril temos programadas etapas da Fórmula Truck (dia 12) e da VICAR (dia 26), que ainda tem mais uma etapa, para o dia 13 de setembro. E nisso não estou levando em consideração o calendário do regional e nem o do motociclismo.

 

Certo fez a Dorna, que não apostou um mísero centavo nas promessas políticas brasileira e deixou a Moto GP bem longe daqui. Que este episódio sirva de lição.

 

Fernando Paiva

 

 

 

Last Updated ( Tuesday, 03 February 2015 09:15 )