No último dia 1º de dezembro, sem menção alguma por parte da imprensa esportiva (nem o fariam, afinal, por tratar-se de uma marca comercial, só sairia algo se fosse matéria paga), um dos maiores – talvez o maior – parceiros do automobilismo brasileiro completou 60 anos de Brasil: a Bardahl. Já faz algum tempo que não vemos e nem ouvimos nas rádios e nas TVs aquele clássico slogan musicado: “Tudo anda bem com Bardahl”, mas a presença da marca e seus produtos no nosso cotidiano permanece, especialmente se você olhar para as vitrines de produtos dos postos de combustível de norte a sul do país, ou mesmo dentro das lojas de conveniência. No nosso meio, o automobilismo de competição, a Bardahl tem uma forte presença até hoje... e uma história grandiosa como promotora, parceira e patrocinadora de eventos e pilotos, tendo sido uma das empresas que viabilizaram a ida de Emerson Fittipaldi para a Europa e para a “conquista do mundo”. Mas a história da Bardahl começa muito antes... já é quase centenária. Em 1922, como conta os registros da empresa nos Estados Unidos, um jovem norueguês, chamado Ole Bardahl (foto acima) chegou à cidade de Seattle, onde havia uma comunidade norueguesa instalada desde antes de sua chegada, com pouco dinheiro e dificuldades com o idioma para tentar “fazer a vida” numa “terra de oportunidades”. Depois de conseguir se estabelecer, arranjar um emprego que o permitisse sobreviver e dominar um pouco o inglês, Ole Bardahl foi estudar... e dedicou-se as áreas de administração e química, que viria a ser a grande mola impulsionadora de onde sua vida chegou nos anos que se seguiriam. Há alguma controvérsia sobre até onde Ole Bardahl investiu em sua formação acadêmica. O que de fato não se pode negar é que ele era um empreendedor! Depois de 7 anos trabalhando, ele conseguiu montar seu primeiro negócio, que nada tinha a ver com óleo, química ou administração: ele construía casas de madeira. Contudo, continuava a estudar e conseguiu desenvolver a primeira fórmula de atração polar, o que o levou a abrir seu segundo negócio: uma pequena fábrica química em Seattle. Vista da fábrica da Bardahl em Seattle, nos Estados Unidos... onde tudo começou. Na verdade, Ole Bardahl melhorou um produto já existente. A Boeing estava trabalhando neste “aditivo”, mas os primeiros resultados não foram satisfatórios, o que levou o químico que desenvolveu a fórmula original a vendê-la. Ole Bardahl conseguiu aperfeiçoar a fórmula e com ela conseguir os resultados que a Boeing esperava. Durante a segunda guerra mundial, o aditivo para óleo produzido por Ole Bardahl em Seattle tinha como destino a Força Aérea dos Estados Unidos. O produto conseguia estender de 800 para 1500 horas o intervalo das revisões dos motores dos aviões. Tal feito levou o governo norte americano a tratá-lo como segredo de guerra até 1946. Depois da guerra, com liberdade para comercializar seu produto no mercado, Ole Bardahl partiu para a expansão da sua marca e para fazer isso de forma rápida e com baixo custo, ele partiu para o licenciamento da marca, onde o parceiro investidor montava a estrutura de produção e vendas. Depois do final da II Guerra Mundial, a marca Bardahl espalhou-se de costa à costa nos Estados Unidos. Neste processo de licenças, uma família italiana, da cidade de Florença, o direito de venda dos produtos Bardahl na América do Sul e Europa no início da década de 50 através da Bardahl Lubrificants Mediterranea e em 1953, o vendedor Ernesto Baroni, munido de uma máquina - que servia como demonstrador do que o aditivo Bardahl era capaz de fazer chega ao Brasil e começa então o ciclo da empresa em território nacional. Não demorou muito para que a Bardahl Lubrificants Mediterranea concedesse a um grupo de empresários brasileiros, da família Nunes Galvão e da empresa Civilsan, o direito de intermediar a importação dos produtos e assim nascia a Bardahl Lubrificantes do Brasil. Tradição é algo tão importante que os primeiros compradores de produtos da Bardahl no Brasil, uma família, proprietária de um posto de combustíveis da cidade de Pelotas-RS, são distribuidores da linha Bardahl até hoje, 60 anos depois. No final dos anos 50, Ole Bardahl veio ao Brasil e esteve na edição das Mil Milhas Brasileiras. Nos anos 50, a frota de veículos brasileira era muito pequena e o mercado estava completamente aberto à possibilidades. Antônio, Evânio e Mario Galvão, apostaram nos benefícios do uso de um aditivo como o Bardahl nos motores e na expansãor as vendas, inicialmente restritas a São Paulo. Com a chegada do governo Juscelino Kubitscheck e o programa de desenvolvimento da indústria automobilística, o consequente aumento da frota poderia ser uma alavanca para as vendas dos aditivos da Bardahl. Contudo, junto com as medidas vieram uma série de restrições às importações de produtos industrializados, visando o desenvolvimento da indústria nacional. Junte-se a isso um desentendimento entre a Bardahl nos Estados Unidos e a Bardahl Lubrificants Mediterranea, os irmãos Galvão compram as ações da Civilsan em 1956 e passaram a receber, diretamente do EUA a base para produzir no Brasil o aditivo B12, na fábrica instalada no bairro do Morumbi. A chegada de Juscelino Kubitscheck à presidência obrigou a Bardahl no Brasil a fazer grandes mudanças. O incremento das competições automobilísticas, foram uma grande ferramenta de marketing para a Bardahl, que tinha em Evânio Galvão um apaixonado por automobilismo. Esta paixão virou negócio, com a Bardahl patrocinando as Mil Milhas Brasileiras, oferecendo uma miniatura de cerca de 40 centímetros do colossal troféu da prova aos pilotos vencedores. O troféu original fica no Centro de Memória, na fábrica de Cajamar. Quando o Morumbi ainda era quase desocupado, com praticamente apenas um acesso, a Bardahl manteve nesta entrada um gigantesco outdoor por praticamente 5 anos (entre 1969 e 1974) com a sua linha de produtos. Era impossível não ver de tão grande que era. Na entrada do bairro do Morumbi, em São Paulo, tinha um enorme outdoor com os produtos Bardahl. Como patrocinadora dos Fittipaldi (desde o patriarca, o Barão Wilson Fittipaldi, na organização das Mil Milhas Brasileiras, quanto na carreira dos pilotos, Wilsinho e Emerson), ter um garoto propaganda campeão mundial de Fórmula 1 não era para qualquer um e Emerson Fittipaldi, assim como seu irmão, fizeram diversas peças publicitárias para a marca Bardahl. Em termos de marketing, o super agente Bardahl, um misto de 007 com Dick Tracy, combatia os vilões que visavam danificar o motor dos nossos carros. A ideia original data dos anos 50, mas veio sendo repaginada década após década, ganhando todos os recursos que a computação poderia permitir, misturando desenho animado com carros e pessoas de verdade. A Bardahl foi, por décadas, a maior patrocinadora do automobilismo nacional. Mas voltemos a história: O brasileiro é um empreendedor e os empresários brasileiros queriam ir mais longe. Queriam criar produtos e isso entrava em conflito com os interesses diretos da Bardahl. Surgiu então a Promax, uma empresa que desenvolveria novos produtos e que, se tivessem bons resultados, receberiam a “grife” Bardahl. Em 1978, precisando de mais espaço e de um local mais apropriado, a Bardahl mudou-se para a cidade de Cajamar, onde está instalada até hoje e onde teve condições de desenvolver mais produtos, adaptando-se aos avanços tecnológicos que a indústria automobilística vivia no mundo e aqui no Brasil, com a chegada dos carros movidos à álcool. Como piloto, Emerson Fittipaldi foi patrocinado pela Bardahl e foi também, garoto propaganda na TV no Brasil. A Bardahl criou o aditivo “Proal”, o primeiro para motores à álcool. Mas junto com ele foi preciso criar toda uma linha de embalagens de plástico, uma vez que as embalagens de metal, quando tinha um problema, em uma lata que fosse do lote, estava gerando reclamação e devoluções. A Bardahl comprou maquinário, contratou pessoal e passou ela mesma a produzir as embalagens de plástico deste e de outros produtos nos anos 80, numa linha que foi repaginada em 2002, quando a indústria de embalagens plásticas, já mais desenvolvida, passou a produzir embalagens e o seguimento interno foi aos poucos desativado. Nos dias de hoje Bardahl conta com uma grande linha de produtos, para todos os seguimentos automotivos. Nos tempos dos carros de motor flex, adivinhem quem foi que largou na frente? Vista aérea do complexo da Promax-Bardahl em Cajamar, interior de São Paulo, onde está desde 1978. Quem assiste as corridas da Stock Car pode ver dois carros com as cores da Bardahl na pista. A Equipe Hot Car Competições, do grande piloto e grande campeão nos anos 70/80, Amadeu Rodrigues, representa as cores da marca de aditivos e lubrificantes mais famosa do Brasil, tendo vencido uma das etapas do campeonato no ano passado. Quando a Bardahl se aproximava de completar 50 anos de Brasil, decidiu encarar um novo projeto: preservar a memória de tudo que haviam vivido neste meio século de Brasil. Assim, foi montado dentro da fábrica em Cajamar um “Centro de Memória”, que segue um processo dinâmico de atualização até os dias de hoje (e certamente continuará seguindo). História tem que ser preservada e a Bardahl criou um pequeno museu, um Centro de Memória para isso. Quem tem a oportunidade dei ir até lá, poderá conhecer, através dos murais, toda a história da companhia, e até antes, com a chegada de Ole Bardahl aos Estados Unidos. Verá também uma raríssima máquina de envase, da fábrica do Morumbi e lerá sobre a parceria com a fábrica do México, a maior do mundo. Além disso, poderá ver toda a evolução tecnológica da Bardahl através destas décadas e divertir-se assistindo as sensacionais peças publicitárias do tempo ainda da TV em preto e branco, com Emerson Fittipaldi, Wilsinho, algumas cenas de corridas e as peças com o Agente Bardahl. A jornalista Cristina Carola foi nossa cicerone e nos conduziu nesta visita ao Centro de Memória da Bardahl. Quem gostou do que viu e do que leu e quiser conhecer pessoalmente o Centro de Memória da Bardahl pode entrar em contato com a empresa e agendar uma visita (convide seus amigos para fazer esta interessante e divertida viagem no tempo) com a jornalista Cristina Carola enviando um email para
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e conheça um pouco mais sobre a história do nosso automobilismo e este grande incentivador. Agradecimentos: Aos Diretores José Xisto e Rubens Jacob e a Supervisora de Comunicação Cristina Carola, responsável pelo Centro de Memória da Bardahl.
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