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Programa de jovens pilotos: bom ou ruim para nós? (2ª Parte) PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 30 November 2014 21:03

Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace, Wilson Fittipaldi Jr, Nelson Piquet, Ingo Hoffmann, Raul Boesel, Chico Serra, Ayrton Senna, Roberto Pupo Moreno, Rubens Barrichello, Ricardo Zonta, Felipe Massa e tantos outros pilotos brasileiros chegaram à Fórmula 1 mostrando seu talento e competência, em uma época em que o dinheiro era importante, como sempre foi, mas que o talento tinha um peso enorme e que os chefes de equipe estavam sempre de olho nos novos valores que disputavam as categorias de base.

 

De cerca de uma década para cá, algumas equipes deram partida num novo método de observar e selecionar seus futuros pilotos: são os “Programas de Jovens Pilotos”, que ganhou projeção com a Red Bull, de onde saiu o tetra campeão Sebastian Vettel. Hoje, praticamente todas as equipes possuem programas do gênero na Europa, recrutando pilotos até mesmo desde o kart.

 

E como ficam os brasileiros neste cenário? Será que as portas, que nunca foram largas ficaram ainda mais estreitas? O Site dos Nobres do Grid dão início a uma nova enquete sobre este assunto. Afinal, até onde é positivo para os nossos pilotos estes programas das equipes de F1?

 

Vejam a opinião de grandes nomes da nossa imprensa especializada.

 

Castilho de Andrade – Jornalista responsável pelo credenciamento do GP Brasil de F1.

O problema começa pelo fato de que há anos nós não mandamos mais pilotos em quantidade e qualidade como mandávamos para a Europa. A quantidade de pilotos que saíram do Brasil para ir correr nas categorias de acesso no velho continente, não só na Fórmula 3 inglesa, mas também na europeia e depois na italiana nos anos 70 e 80 era muito grande. Nos anos 90 foram pilotos também correr em outras categorias como a Fórmula Renault e, depois disso, a quantidade de pilotos caiu muito.

 

Se olharmos pela questão matemática, quanto mais pilotos tivermos lá naquela época, mais gente havia para ser vista e alguém acabava sendo visto e conquistando oportunidades. Hoje o meio está muito competitivo. Tem pilotos de tudo que é país do mundo indo para a Europa e um número muito grande de categorias de monopostos que abriram uma grande margem para se dar os primeiros passos. É mais gente para ser vista e, sem brasileiros ou com muito poucos, fica mais difícil ainda de aparecer e crescer por lá.

 

Nestes últimos dois anos a grande esperança, a grande aposta para termos uma renovação e a permanência de um brasileiro na Fórmula 1 vem sendo o Felipe Nasr, que passou todo este ano como piloto de testes na Williams e mostrou condições técnicas para estar como titular em 2015. Contudo, não podemos viver de exceções como ele e é preciso fazer com que mais pilotos brasileiros busquem o caminho da Europa.

 

Claudio Carsughi – Comentarista de Automobilismo da Radio Jovem Pan e Sportv.

Para as equipes, estes programas de jovens pilotos são extremamente positivos. É uma forma de se fazer uma ligação entre contratos iniciais e posteriores contratos de cinco ou seis anos com valores muito mais interessantes para elas do que fazer grandes investimentos na contratação de pilotos.

 

Este é um método que a Red Bull vem colocando em prática há algum tempo e tem dado bons frutos, como foi a relação com Sebastian Vettel e agora com Daniel Ricciardo e que vem sendo copiado, ao menos em parte por outras equipes, como a Ferrari e a McLaren.

 

Para o piloto, não só o brasileiro, como o de qualquer nacionalidade, é uma dificuldade a mais porque não se trata apenas de uma questão de se “garimpar” o piloto para investir, este piloto precisa ter por trás alguém influente para que ele seja “mostrado” nos lugares certos nas horas certas e dar “aquele empurrão” tão necessário no início.

 

Portanto, para o piloto brasileiro que deseja tentar chegar à Fórmula 1, estabelecer-se na Europa, sair do Brasil e ir correr na Europa, onde ele terá mais visibilidade e tentar aparecer naquelas corridas que são mais vistas, aquelas que fazem preliminares na Fórmula 1, a Fórmula 3 em Monte Carlo, a Fórmula 3 em Macau, por exemplo. Nelas, pessoas que tem o poder ou os canais para levá-lo para um programa destes, estarão observando os pilotos com potencial para chegar na Fórmula 1.

 

Apesar destes programas, para quem é selecionado, significar também uma redução no capital investido na carreira, quem tiver um patrocinador ou um grupo de patrocinadores fortes terá sempre uma vantagem sobre os demais e uma porta um pouco mais aberta que os outros.

 

A parte que nós, que gostamos de corridas, tanto valorizamos, que é o talento, acaba ficando em um segundo plano, dependendo de que antes o piloto se estabeleça por outros meios. Aí, depois das coisas já estabelecidas, o talento vir a ser avaliado e considerado como uma coisa a mais. No início, o volume e o recheio da mala pesam mais.

 

Odinei Edson – Narrador da Fórmula 1 na Radio Bandeirantes.

A F1 é um esporte muito complexo e que envolve muito dinheiro. As coisas mudaram e vem mudando de forma cada vez mais rápida e vive tempos muito diferentes do que vivemos nos anos em que fomos campeões.

 

A questão econômica tomou um peso muito grande e os valores que estão envolvidos são astronômicos. Além disso, há um processo de concentração de renda que está minando as equipes menores te tornando as equipes maiores cada vez maiores e mais poderosas.

 

Durante muito tempo, e isso é algo que existia nos tempos do Emerson, existe hoje e vai continuar existindo, os pilotos que levaram e levam patrocínios para as equipes sempre acabam conseguindo um lugar. A diferença são os valores, que cresceram muito e depois da crise de 2008, onde várias fábricas deixaram o circo, estes valores cresceram ainda mais.

 

O problema é que a torneira não verte mais tanta água, uma vez que a crise atingiu o mundo inteiro, em todos os seguimentos e conseguir patrocinadores tem se tornado uma tarefa cada vez mais dura. O caminho para o futuro ainda está obscuro, com todas estas mudanças econômicas, aliadas à evolução tecnológica, que passou a exigir dos pilotos qualidades diferentes do que seriam as principais virtudes de dez, vinte ou trinta anos atrás.

 

O Brasil vem sofrendo há muito tempo com problemas nas categorias de base e, de um tempo pra cá este problema só se agravou. Além de nossos pilotos estarem sofrendo com os problemas para ter onde se formar, desde o kartismo, as categorias de fórmula no país estão tecnicamente defasadas.

 

Empresas como a Red Bull investiram pesado nesta nova forma de se garimpar e preparar seus pilotos para a Fórmula 1 e suas categorias de acesso. O exemplo do Sebastian Vettel e Daniel Ricciardo é uma prova incontestável de que o método funciona, tanto que McLaren, Ferrari e as outras equipes seguiram os passos dos austríacos.

 

É uma tendência, é um caminho e para os pilotos é uma mudança, que pode ser aproveitada por nossos pilotos, desde que eles consigam se fazer vistos para ser selecionados para fazer parte de um destes programas. Chegar num programa destes como eles chegam, com 12 oi 13 anos e passar pelo processo que os europeus passam é o caminho.

 

Sérgio Maurício – Narrador de esportes do Sportv.

Eu não vejo de forma separada – estrangeiros e brasileiros – mas de uma forma comum porque a Fórmula 1 é a categoria mais cobiçada por todos os pilotos que um dia colocam um macacão ou até mesmo o sonho de muitos que nem conseguiram colocar o capacete e ir pra pista.

 

Para mim, o talento ainda é o que faz a diferença entre um piloto bom e um fora de série, capaz de poder estar em um daqueles carros que hoje estão na Fórmula 1. Quando o piloto começa no kart e vai treinando, disputando corridas e campeonatos ele vai moldando o piloto que um dia ele será no futuro. Vai desenvolvendo habilidades, aprimorando aquelas habilidades que já vieram com ele, que são natas, que serão, juntas, o que chamará a atenção dos dirigentes, dos agentes, daqueles que levam alguém a participar de um programa como estes que vemos em algumas equipes.

 

Os programas podem ser uma faca de dois gumes uma vez que da mesma forma como eles revelaram pilotos que hoje estão disputando títulos, campeonatos, ao passo que outros entraram nestes programas, percorreram um caminho e, na hora do grande passo, foram preteridos e ficaram mesmo sem rumo.

 

Hoje, no Brasil, temos uma joia preciosa que é o Felipe Nasr. Um piloto talentosíssimo, muito bem preparado, que já mostrou ter condições totais de estar e uma grande equipe e que foi este ano para a Williams onde fez um belíssimo trabalho, mesmo sem passar por um programa destes que vemos em outras equipes. O salto da GP2 para a Fórmula 1 é enorme e não há garantia de sucesso, com ou sem programa de jovens pilotos.

 

Milton Alves – Redator do Anuário Shell/Stock Car e ex-assessor da categoria.

Com quase tudo na vida, há um lado bom e um lado ruim. As vezes um grande talento não tem as “condições” para passar por este processo todo. Tomando como exemplo os nossos campeões mundiais – Emerson, Nelson e Ayrton – puderam “pular etapas”, algo que pouquíssimos podem fazer.

 

Deixe-me fazer um parâmetro com um outro esporte e um outro fora de série: o Futebol e o Neymar. O jogador apareceu no Santos, nas categorias de base e chegou ao time principal pulando etapas. Ele “chegou chegando” como se diz hoje em dia e mostrando que tinha capacidade de não precisar fazer algumas das “etapas didáticas” que outros precisaram fazer. O mesmo aplica-se ao automobilismo.

 

O Sebastian Vettel foi um piloto que cumpriu todas as etapas, desde o kart, passando por categorias de base, mas desde menino ele mostrou que era muito bom. Agora temos aí o Max Verstappen, que foi do kart para a Fórmula 1 em menos de dois anos. O Vettel é um piloto vitorioso. O Verstappen pode vir a ser, mas o que mais tem pesado para se vencer ou não na fórmula 1 é ter ou não ter um carro vitorioso. Não tem como vencer hoje em dia se não tiver um carro vitorioso.

 

Projetos como estes, de jovens pilotos, se bem conduzidos, podem fazer aflorar no piloto habilidades que ele nem conhecia. Não que ele vá transformar um piloto comum num gênio das pistas, isso não faz, mas pode fazer com que ele leve o seu potencial a um nível que ele talvez não fosse capaz de fazer sozinho.

 

Eu vejo o investimento no talento como algo benéfico. Um outro grande exemplo disso é o Lewis Hamilton. Ele era um menino quando Ron Dennis começou a investir nele e todos viram a forma como ele chegou à Formula 1, como se estabeleceu e é hoje respeitado na categoria.

 

Quanto aos brasileiros, a gente tem uma coisa por aqui de que “o brasileiro nasce feito”... e eu não sei se isso é verdade. O Jackie Stewart certa vez brincou dizendo que era a água que a gente bebia que formava tantos pilotos... e hoje a água tá faltando, principalmente em São Paulo.

 

Brincadeiras à parte, além da diminuição do número de pilotos que tem tentado a carreira no exterior, o automobilismo nacional cresceu e em particular a Stock Car, que hoje tem esquemas profissionais muito bem montados e que fizeram os pilotos locais passar a olhar com mais atenção os carros de turismo e vem se mostrando uma excelente oportunidade do piloto ter uma carreira profissional no Brasil.

 

Assim, eu não vejo estes programas de jovens pilotos como algo que vá mudar para melhor a vida dos pilotos brasileiros que ainda tentarem ir para a Europa. Temos a defasagem do câmbio, que não ajuda em nada. A libra inglesa é cara e estabelecer-se por lá para ser visto e passar a ser parte de um programa destes ainda será difícil.

 

Fabio Seixas – Comentarista de automobilismo do Sportv.

Se formos ver a questão da faixa etária com a qual os pilotos vem chegando na Fórmula 1, é visível como eles estão chegando cada vez mais cedo. Um piloto que eu considero um marco deste processo é o Jenson Button, que chegou na Williams aos 20 anos de idade e que atraía muita mídia e que teve bons resultados.

 

A partir daí a F1 começou a olhar com mais atenção. Depois teve o caso do Hamilton, que não era parte de um programa de formação oficial, mas que a McLaren apostou e investiu nele desde menino até conquistar um campeonato do mundo com ele.

 

O outro ponto que eu vejo como fundamental no estabelecimento destes programas foram os salários dos pilotos, que estavam alcançando valores altíssimos, inflacionados especialmente durante a era Schumacher. Era preciso encontrar uma solução para esta questão.

 

A forma que as equipes encontraram foi criando estes programas de jovens pilotos, investindo em valores com potencial para chegar ao topo da carreira e, quando ele chegar lá, pronto, formado, preparado para ser campeão, tê-lo sob contrato por vários anos e não ter que ir buscar um piloto em uma outra equipe, tirando-o de lá por um caminhão de dinheiro.

 

Assim, cada uma começou a trabalhar para criar o seu “próprio Hamilton”, criar o seu “próprio Vettel”. Se bem que em alguns casos, este programa não está se baseando apenas no talento, mas também na “capacidade de investimento” do candidato no projeto da equipe e isso não significa apenas “levar dinheiro”. O mercado do país daquele piloto ser interessante para a montadora, o principal patrocinador, etc. Uma montadora com interesses no Brasil poderia escolher um piloto brasileiro. Agora, como o foco tem estado longe daqui, está mais difícil para um piloto brasileiro entrar num programa como estes.

 

O programa mais bem sucedido de todos estes é sem dúvida o da Red Bull. Depois da saída do Mark Webber, todos os pilotos da equipe principal e da Toro Rosso são pilotos formados no programa que eles criaram.

 

Livio Oricchio – Jornalista do portal Globo Esporte e veículos internacionais.

Alguns dias atrás eu fiz uma pesquisa nesta área, procurando os nomes dos pilotos destes programas e não vi o nome de nenhum piloto brasileiro. Tinha piloto da Indonésia, das Filipinas, de países sem qualquer tradição no automobilismo.

 

Isso mostra que nós não temos, hoje, nenhuma representatividade no cenário automobilístico internacional. Nós temos uma CBA que é inerte. A CBA tem que se fazer presente, se fazer ouvida. Não é pecado se pegar dinheiro da CBA para ir representar o país no exterior, mostrar que existe automobilismo no Brasil – bem ou mal – e que podem sair pilotos daqui.

 

Falando objetivamente, ou o piloto tem muito dinheiro para se bancar até chegar na F1 ou ele tenta conseguir entrar num destes programas de jovens pilotos, cujo o risco é imenso porque o piloto fica literalmente na mão de quem gerencia este programa, que pelo que vejo segue critérios técnicos de avaliação, mas que também é um tanto subjetivo.

 

Um exemplo que acompanhei de perto foi o do Antônio Felix da Costa, português do programa da Red Bull, que tudo indicava ser o piloto que iria pra Toro Rosso, que andava na Renault 3.5 e que já tinha feito várias simulações de F1 e a equipe optou pelo Daniil Kvyat, que fez a GP3 e que tinha bem menos quilometragem que ele. Como o Felix da Costa não tinha dinheiro, ficou na mão.

 

Dependendo do dinheiro ou destes programas, as possibilidade de um piloto chegar na F1 ficam muito restritas. No passado, só o talento era quase que suficiente para você crescer no automobilismo. O automobilismo mudou muito em pouco tempo, como 15 anos e hoje o talento é apenas um dos componentes que podem levá-lo a crescer na carreira.

 

Eu tenho ficado chocado com o despreparo técnico e emocional dos brasileiros que tem ido tentar a carreira na Europa e o emocional hoje é tão importante quanto o preparo técnico, podendo fazer aquela diferença fundamental em décimos de segundo. A gente tinha piloto brigando por pódio, vitória e isso desapareceu. É impressionante a gente ver uma F. Renault 2.0, a World Series, a GP3, a GP2 e não vê ninguém chegando.

 

Em Silverstone em conversei com o presidente da CBA e fiquei chocado com a postura dele. Ele acha que aquela categoria lá no sul é escola de formação... não é! Temos que respeitar o esforço e a dedicação daqueles que estão lá trabalhando, mas não há a menor condição de se querer preparar um piloto para correr no exterior com o que é oferecido ali. Aí o garoto vai para a Europa, toma 5 ou 6 décimos numa F. Renault 2.0 e pira, porque isso é largar em 20º e se não melhora ele não consegue se recuperar psicologicamente. É preciso se pensar seriamente nisso no Brasil se quisermos ter futuro no cenário internacional.