Olá leitores! Devo dizer que gostei do GP do Brasil. Mais uma vez tivemos uma corrida de Fórmula 1 com duas características completamente diferentes: o jogo de xadrez entre Nico e Lewis e as disputas no “mundo normal”, ou seja, de 3º lugar para trás. Cheguei a ler nas redes sociais alguns comentários de que “a corrida foi chata”. Depende: se o chata significa “não tem o Ayrton Senna disparado na frente, pronto para vencer a corrida”, lamento informar que foi chata mesmo. Agora, se a pessoa assistiu a corrida pensando em ver boas disputas de posição, encontrou com o que se divertir. Tudo é uma questão de ponto de vista, exatamente como no caso da clássica frase “Fulano mora muito longe”. Longe ou perto é uma questão de ponto de vista... Vencedor, com méritos (afinal, dominou os treinos e estava com o carro mais “no chão” que o companheiro de equipe), foi o Nico Rosberg. De quebra, a vitória dele deu uma apimentadinha na última corrida do ano, a próxima etapa lá em Abu Dhabi. Se ele vencer lá em Dubai, o Lewis precisa chegar em segundo para ser campeão (se chegar em 3º o campeão será Nico). Dessa vez ele não deu brechas para os ataques do inglês e liderou com autoridade a corrida. Vimos que aprendeu a dura lição de Austin, onde ele perdeu a liderança por excesso de confiança. Seu companheiro Hamilton (2º) poderia ter dificultado mais a vida de Rosberg. Poderia. No afã de diminuir a distância entre ele e o alemão, errou na freada da Curva do Lago, rodou, conseguiu voltar rapidamente para a pista para ir trocar os pneus danificados na rodada (deveria agradecer às novas especificações da FIA: na época da caixa de brita, a corrida provavelmente teria acabado para ele ali mesmo) mas mesmo assim perdeu preciosos segundos que fizeram falta no final em sua busca pela primeira posição. Mas correu bem, sem dúvida. Em 3º lugar (ou 1º da Fórmula 1, descontando os dois carros da Fórmula Mercedes) chegou Massa, ovacionado pela torcida que reconheceu o bom trabalho feito no final de semana. E isso apesar dos percalços: excedeu a velocidade de entrada dos boxes na 1ª parada (levou 5 segundos de punição para a parada seguinte), na 3ª parada de troca de pneus se enganou e parou na McLaren ao invés da Williams, afinal a McLaren adotou um uniforme de mecânicos muito parecido com o da Williams, e nisso perdeu mais um tempinho... e ainda assim correu suficientemente bem para chegar em 3º. Eu, que não me furto de criticar o Massa quando acho que ele correu abaixo do que pode, reconheço que gostei da maneira como ele correu. E algo maravilhoso aconteceu: ele errou e admitiu o erro, não ficou dando as desculpas de costume. Não sei o quanto o apoio da arquibancada influenciou, mas que ele fez uma apresentação acima da média dele nesse ano, isso fez. E teve o momento mágico no pódio, sendo entrevistado pelo grande campeão Nelson Piquet, em que ele mandou o protocolo para o lixo e no meio da entrevista em inglês começou a falar em português. Fantástico. Seu companheiro Bottas (10º) teve um problema no mínimo incomum em um esporte de tão alto nível como a F-1: na segunda parada nos boxes, um mecânico teve que... ajustar o cinto de segurança, que não estava suficientemente apertado, fazendo com que ele se mexesse no cockpit em curvas e frenagens. Ou seja, além do esforço para pilotar o carro (que não é pequeno) ele tinha que ficar se segurando com o braço nesses momentos. Definitivamente a Williams é um pouco como o Botafogo, tem coisas que só acontecem com ela... Em 4º chegou Button, que fez uma bela corrida, ao seu estilo, simples, discreta, mas muito eficiente. O carro se entendeu bem com a pista de Interlagos, e ele teve como mostrar o que sabe. Melhor momento? Sem dúvida a disputa com Räikkönen. Seu companheiro Magnussen (9º) enfrentou problemas com o desgaste excessivo de pneus no recapeado asfalto da pista e teve um bocado de dificuldades, pelo que o resultado, se não foi bom como o do Button, foi o possível para quem lutou com o carro e os pneus a prova toda. Em 5º chegou Vettel, depois de largar em 6º e perder 2 posições logo na primeira volta. Não deixa de ser um bom resultado, levando em conta que foi o melhor carro dentre aqueles que não contam com o poderoso motor da Mercedes. Seu companheiro Ricciardo abandonou com problema na suspensão. Em 6º chegou Alonso, que correu como nunca mas chegou na posição habitual dele para essa temporada. O carro da Ferrari não permite mais do que isso, infelizmente. Mas ele batalhou bastante, fez algumas belas ultrapassagens e teve um momento pouco comum para ele: chegou no companheiro de equipe e teve que batalhar pela posição, não teve aquela moleza da equipe pedir para o outro cara abrir para ele passar. Por sinal o outro cara, no caso o Räikkönen (7º), depois que a equipe parou de dar dedicação total ao carro do Alonso melhorou consideravelmente o desempenho, e mostrou nessa corrida que quando o carro está igualzinho o do Alonso é capaz de andar junto com El Egoistón de las Astúrias... Em 8º chegou Nico Hülkemberg, que fazendo uma parada a menos nos boxes conseguiu tirar um bom desempenho de sua Force India (chegou a liderar a prova) e no final vinha em ritmo decididamente mais forte que o das duas Ferrari na sua frente. Se a corrida tivesse mais umas 3 voltas, poderia ter chegado à frente dos dois carros vermelhos... não me conformo com o fato de ele não ter oportunidade em uma das grandes equipes. Seu companheiro Pérez chegou apenas em 15º lugar, o segundo colocado de trás para frente entre os que receberam a bandeirada final. Próxima corrida, a decisão do campeonato no nababesco circuito de Abu Dhabi, dia 23/11. Não gosto da pista, mas com esse regulamente com asa móvel, ERS e outros artifícios deve dar para ter uma boa prova – ou ao menos é essa a minha esperança. Se não for, dá para ficar admirando a iluminação do hotel construído de forma que os carros passem pelo meio dele, e que muda de cor o tempo todo. Até a próxima! Alexandre Bianchini |