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Written by Administrator   
Saturday, 11 October 2014 15:04

Tem um velho ditado que diz: time que ganha não se mexe! O problema é que nada é eterno e as mudanças fazem parte do dia a dia, do mundo, da vida. A grande diferença é como se faz esta mudança. Se bem planejada, pode ser para melhor. Se mal planejada, um ciclo vitorioso pode ser encerrado.

 

Claro que nada nessa vida é imutável e, erros podem ser reparados e caminhos vitoriosos retomados. O problema é que, no caso da Ferrari, a fanfarra desandou no dobrado e aquilo que era uma orquestra de violinos virou uma batucada de amadores bêbados no final daquela pelada de solteiros contra casados.

 

Encerrado o ciclo de vitórias de Michael Schumacher e com a – primeira – aposentadoria do alemão no final de 2006, a legião estrangeira da Ferrari já tinha dado sinais de que o primeiro passo no “desmanche” da vitoriosa união entre um francês, um inglês, um alemão e um sul africano estava por vir.

 

Em 2008, Jean Todt deixou a direção da equipe. Apesar de continuar com um cargo de “representante da equipe no conselho mundial da FIA”, é algo muito distante do que ele fazia e ao longo daquele ano, Ross Brawn e Rory Byrne também deixariam a equipe e para substituí-los, o presidente Luca di Montezemolo apostou na “prata da casa”, promovendo Aldo Costa para ser o homem forte da equipe nos boxes.

 

Nos anos 90, a Ferrari montou uma verdadeira legião estrangeira para voltar a vencer na F1.

 

Stefano domenicali, que já era parte da equipe desde 1995, e já tinha algum envolvimento por ser diretor de corridas em Mugello, acompanhou de perto o trabalho de Jean Todt e coube a ele assumir a equipe quando o francês deixou o time no início de 2008. Com ele veio o título de construtores de 2008... mas depois disso, vieram mais italianos!

 

Aldo Costa também entrou para a Ferrari em 1995 e acompanhou todo o trabalho de reestruturação da equipe na divisão de projetos, trabalhando com Rory Byrne. Quando o sul africano deu sinais de que estava pensando em “chutar o balde”, Aldo Costa ganhou mais importância na equipe e assumiu a chefia da equipe no lugar que era de Ross Brawn quando este deixou o time.

 

Assim, a equipe tinha Stefano Domenicali na chefia, no lugar de Jean todt. Aldo Costa no lugar de Ross Brawn e Nicholas Tombazis, um grego radicado na Itália e que acompanhou alguns dos melhores projetos da F1, trabalhando com Rory Byrne desde os tempos de Benetton, seguindo com ele para a Ferrari e ficando dois anos na McLaren com Adrian Newey, voltou para Maranello em 2006, assumindo o lugar de Byrne em 2008. E este foi o ano do último título da Ferrari (construtores).

 

Em 2008, o inicio da "reitalianização" do comando da equipe, com Stefano Domenicali e Aldo Costa. (Foto:Sutton)

 

O desempenho da equipe no ano seguinte, quando houve uma grande mudança de regras foi pífio. Apenas uma vitória e o quarto lugar no mundial de construtores levaram a equipe a tomar uma ação enérgica: contratar o melhor piloto do mercado! Se em 1995 este era Michael Schumacher, em 2009 o piloto era – na visão de Luca di Montezemolo e sua trupe – Fernando Alonso era o nome capaz de conduzir novamente a Ferrari às vitórias.

 

A resposta foi quase imediata, com o espanhol chegando na última corrida com uma mão na taça para a disputa da última etapa, em Abu Dhabi. Contudo, numa daquelas “coisas que só a Ferrari faz”, a equipe cometeu um erro colossal de estratégia e acabou com as chances de Fernando Alonso conquistar seu terceiro título. A torcida não perdoou. A mídia italiana não perdoou.

 

A temporada de 2011 começou e o carro não rendia aquilo que a direção da equipe esperava, que os ‘tifosi’ esperavam, que o “dono da equipe”, D. ‘Choronso das Lamúrias’ esperava. Alguém tinha que ser jogado aos leões no coliseu e o escolhido foi Aldo Costa. Depois do protocolar “obrigado pelos bons serviços prestados”, o italiano saiu pela porta dos fundos, dando lugar ao inglês Pat Fry. Parecia que Luca di Montezemolo percebera que não dava para ter uma trupe inteiramente doméstica.

 

Em 2010, um erro grotesco de estratégia na última corrida da temporada tirou as chances de título de Fernando Alonso.

 

Mas até onde a culpa era de Aldo Costa? Outra trapalhada do pastelão italiano acabou divulgada algum tempo depois: o caríssimo túnel de vento que aequipe construiu parecia ter “alguma coisa errada”. A equipe de engenheiros procurava o problema enquanto a equipe de aerodinâmicistas quebrava a cabeça para tentar descobrir o que tinham feito de errado no projeto. A solução foi passar a usar o túnel de vento da extinta equipe Toyota, na Alemanha.

 

O problema é que, nem assim os italianos conseguiram fazer um carro competitivo e ano após ano foram ficando mais e mais distantes das vitórias, com o “dono da equipe” tendo que tirar leite de pedra para andar entre os primeiros e, vez por outra, vencer uma corrida.

 

A Ferrari – e todas as outras equipes – tiveram uma grande chance de “virar a maré” com a enorme mudança de regras para a temporada de 2014, mas conseguiram fracassar novamente e em circunstâncias ainda mais absurdas do que as vistas em fracassos anteriores.

 

Com uma nova turma de estrangeiros (um francês, um inglês e um grego), a Ferrari tentou reencontrar o caminho dos títulos.

 

Um equipe cujo seus motores sempre foram uma marca registrada de sua força, um conflito entre a capacidade de produzir um carro competitivo (equipe aerodinâmica) e a de construir uma unidade de força leve, potente e confiável (equipe de engenharia) tem sido a responsável pelo patético desempenho da sua dupla de pilotos.

 

Acontece que Nicholas Tombazis pediu que a divisão de motores, liderada por Luca Marmorini, que produzisse uma unidade menor, mais leve e que não precisaria ser “tão potente”, uma vez que o projeto aerodinâmico compensaria a perda com uma maior eficiência... e o inocente acreditou!

 

Marmorini, que trabalhou na Ferrari entre 1990 e 99 e depois voltou em 2009, viu que seu motor mostrou-se bastante inferior ao da Mercedes e até mesmo que o da Renault. Pior que isso, depois de ter atendido as solicitações da divisão de aerodinâmica, viu seu projeto ser apontado como um dos fatores para os problemas de aerodinâmica e balanço do chassi!

 

Em 2008, um erro de sinalização nos boxes tirou as chances de vitória de Felipe Massa em Singapura. Pontos preciosos.

 

Pior que isso foi o engenheiro declarar em público a gigantesca burrada que cometeu! Foi como jogar gasolina numa fogueira. Ele mesmo decretou sua condenação à cruz (de cabeça para baixo) e ao apedrejamento por parte da mídia italiana e dos ‘tifosi’. Os motores passaram a ser responsabilidade de Mattia Binotto e Lorenzo Sassi.

 

O problema é que os erros da equipe iam da fábrica à pista! Nos treinos livres do GP do Bahrein, o carro do “dono da equipe” deixou os boxes para abrir uma volta com três pneus de um conjunto, e um de outro, tendo que retornar imediatamente após a saída. Dá pra imaginar quantos palavrões o espanhol falou no retorno aos boxes.

 

O fracasso de mais um projeto atingiu a esfera mais alta da equipe: Luca di Montezemolo. Como resposta, era preciso promover uma mudança estrutural profunda e desta vês o “atirado aos leões” foi o diretor geral da equipe, Stefano Domenicali. No comunicado oficial, a notícia foi dada como tendo sido um pedido de demissão, mas qualquer pessoa que acompanha a equipe e é minimamente inteligente sabe bem que não foi isso.

 

O túnel de vento da Ferrari, que deveria ser uma maravilha tecnológica, não funciona como deveria. A Ferrari usa o da Toyota.

 

Para seu lugar foi indicado um italiano que havia anos estava nos Estados Unidos e que nunca foi ligado à área de competições: Marco Mattiacci. O novo ‘Capo’ chegou com mais poderes do que o próprio Montezemolo pensaria ou gostaria que ele talvez tivesse, uma vez que sua indicação veio da matriz, da FIAT, da parte de Sergio Marchionne e Mattiacci, depois de “algumas semanas de observação”, começou a colocar em prática o “plano de reestruturação” da equipe e também da fábrica, onde Marchionne e Montezemolo simplesmente não falavam a mesma língua.

 

Quando Luca Marmorini foi demitido, o comunicado assinado por Marco Mattiacci falou sobre como estaria trabalhando o processo de reestruturação da equipe, com James Allison, diretor técnico, continuando como responsável por todo projeto do carro, com a ajuda de Nikolas Tombazis, chefe de projeto do chassi, e Lorenzo Sassi, projetista de motores, Ele ignorou solenemente o – ainda – diretor de engenharia, Pat Fry, que liderou o desenvolvimento do atual carro. 

 

Não bastasse as mudanças estruturais, Marco Mattiacci deixou claro que mudanças operacionais não estavam descartadas. Sabedor de que no ano passado o empresário do ‘Príncipe das Lamúrias’ tinha ido ao motorhome da Red Bull tentar encaixar seu cliente na vaga a ser aberta pela saída de Mark Webber, o novo ‘capo’ passou a considerar o processo de reestruturação da equipe sem o espanhol?

 

As sucessivas crises mostraram que Sergio Marchionne e Luca di Montezemolo viam o mundo e o futuro de forma diferente.

 

Com seu contrato assinado até 2016, o ‘Lamúrias’ começou a tratar da renovação (por mais três anos), contudo, o pacote de exigências foi considerado absurdo por Mattiacci e quando vazou a notícia de que, aproveitando-se da crise entre os pilotos na Mercedes, o empresário do espanhol foi tentar “propor uma troca”... o sangue da ‘italianada’ simplesmente “ferveu”!

 

Com um discurso de que é preciso estar “comprometido com a Ferrari”, inicialmente dito por Luca di Montezemolo no ano passado, numa “chamada de atenção” que deu em seu principal piloto e que o levou a contratar de volta o Kimi ‘Tomotodas’ para “atormentar o espanhol”, Mattiacci deixou claro que não via mais em Alonso um elemento tão fundamental assim para os planos do time a longo prazo, entendendo que sua saída apenas complementa o movimento de reestruturação da equipe.

 

A tumultuada semana do GP da Itália, que expôs o tiroteio entre Sergio Marchionne e Luca di Montezemolo, que teve no abandono da prova pela Ferrari do “futuro ex-dono da equipe” diante da arquibancada lotada no final da reta de Monza o “fator precipitador” do anúncio da saída do presidente da Ferrari e a chegada de Sergio Marchionne,

 

O abandono do 'Príncipe das Lamúrias' no GP de Monza deste ano fez o molho da massa desandar de vez.

 

No mês passado a equipe já anunciou que estaria focando no projeto do carro de 2015 (algo que vem sendo anunciado praticamente todos os anos há algum tempo). Apesar de evidente, não se anuncia nem a saída do ‘Lamúrias’ e nem a contratação de outro piloto para o seu lugar. Apesar de toda esta sequência de mudanças, especialmente estas de 2014, não me sentirei surpreso se na “casa da mãe Joana” da Itália, assistiremos mais um festival de erros, desculpas e mudanças sem resultados práticos.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

 

Last Updated ( Saturday, 11 October 2014 15:42 )