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Massa sob pressão PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 25 July 2014 21:43

Olá fãs do automobilismo,

 

Provavelmente todos os leitores que seguem o site dos Nobres do Grid viram o impressionante acidente com Felipe Massa na primeira curva do GP da Alemanha. Mais espetacular do que grave, apesar de vermos a Williams com as rodas para o ar, as consequências de mais este acidente, o quarto em dez corridas da temporada, estão sendo maiores do que o próprio Felipe esperava.

 

Foi pouco depois do almoço daquele domingo que recebi uma ligação... era a Rafaela. Ela queria saber se eu teria condições de viajar até a Europa para conversar com Felipe, demonstrando uma incomum preocupação, pelo menos a olhos vistos.

 

Disse-lhe que precisaria estudar a minha agenda e, talvez, fazer alguns arranjos. Contudo, não teria como dar um retorno até o final da segunda-feira. Ela compreendeu e reiterou que considerava muito importante que conversássemos antes do GP da Hungria.

 

Na segunda-feira, o trabalho junto com a minha assistente foi o de procurar uma forma de ajudar Felipe. É dever de todo terapeuta procurar estar ao alcance do seu paciente em momentos críticos. Estar ou não estar pode fazer mais diferença do que se possa imaginar, podendo evitar até ações graves, o que penso não seria o caso do Felipe.

 

Cobrança, pressão e críticas... tudo contra Felipe.

 

Consegui seguir viagem na terça-feira a noite, chegando na Alemanha na quarta-feira onde a própria Rafaela foi me receber. No caminho do hotel tivemos oportunidade de conversar (eu ouvi bem mais do que falei), mas sempre com o cuidado de não fazer prejulgamentos antes de conversar com o paciente.

 

Encontrei um Felipe tranquilo, brincando com o filho e sorridente, o que me deu um alívio inicial, mas logo que ficamos a sós, a expressão facial do meu paciente mudou sensivelmente. Vi um Felipe mais inquieto do que em outros momentos, mesmo momentos de crise e pressão, como nos últimos anos de Ferrari.

 

O ponto central desta irritação – segundo ele – estava sendo a frequência com que vinha se envolvendo em acidentes, alguns como vítima completa da atitude de outros pilotos, como foi na primeira curva do GP da Austrália, na abertura da temporada.

 

O acidente no Canadá foi grave...

 

Se formos ver bem o histórico de acidentes deste ano, três dos quatro acidentes em que o Felipe esteve envolvido se deram na primeira volta. Dois deles ainda na primeira curva. Apenas o acidente do GP do Canadá aconteceu no final – na última volta – da corrida. O que isso tem em comum?

 

Em todos os casos o piloto está, no caso específico de Felipe, num momento de tensão extrema de disputa de posição e espaço no asfalto. Entre todos os acidentes, se tem um que ele simplesmente não teve o que fazer foi o da corrida de estreia, quando foi atingido por trás por um “míssil” verde de origem oriental.

 

Nos demais, pelo menos teoricamente, ele teve alguma visão ou alguma percepção do que poderia acontecer, inclusive neste ocorrido na Alemanha. Contudo, não vou eu, psicóloga, ficar bancando a comentarista de corridas. Tem pessoas que fazem isso profissionalmente que podem – e devem – fazê-lo de forma mais precisa e competente.

 

... mas Felipe saiu andando do carro.

 

O problema que percebi na irritação do meu paciente é que ele tem a plena noção de que poderia estar numa outra condição, tanto no campeonato quanto dentro da equipe, completamente diferente da qual encontra-se no momento. Isso realmente o está incomodando, apesar de todas as “declarações públicas” de apoio e agradecimento ao trabalho que ele vem fazendo na equipe.

 

Outra coisa que tem deixado o Felipe muito contrariado é a reação da imprensa brasileira em relação a ele. Durante anos as críticas da imprensa italiana ou espanhola perseguiram-no, tentando “diminuir” seu peso e importância dentro da equipe Ferrari. Contudo, o que tem sido falado e escrito dentro do Brasil, especialmente este ano, e em sua visão, injustamente.

 

Havia um ponto que eu gostaria que ele tocasse... mas ele não tocou: Valtteri Bottas. Em momento algum da nossa conversa ele referiu-se ao companheiro de equipe e, no meu entender, isto é sintomático: o finlandês está incomodando mais do que devia!

 

Na Inglaterra, batida no treino livre e na corrida, na primeira volta fizeram-no "zerar" mais uma vez.

 

Até a largada para o GP da Hungria, lembrando que vocês, queridos leitores, só estarão lendo esta coluna após a conclusão da etapa Magiar, o loirinho de cabelo espetado estava “espetando” 61 pontos de diferença, com o triplo de pontos marcados, com alguns pódios inclusive, contra o então primeiro piloto da equipe. Certamente algo nada agradável.

 

Aquela situação que foi considerada absurda no GP da Malásia pode voltar a acontecer antes do final da temporada com a equipe, por uma questão de conveniência, pedir que Felipe abra caminho para o companheiro. Senti-me na obrigação de tocar no assunto, mas com uma abordagem distinta, lembrando que este fato aconteceu duas vezes este ano entre o tetra campeão Sebastian Vettel e o companheiro de equipe, Daniel Ricciardo.

 

A reação não foi das melhores, mas não foi também específica. Felipe apenas disse que não concordava com este tipo de coisas em corridas – no que eu concordo plenamente com ele – apesar de vir fazendo parte delas há anos e, no caso dele, com uma recente e incômoda frequência.

 

Na Alemanha foi pior: viu o mundo de "rodas para o ar".

 

No momento, o que se pode fazer é uma introspecção e rever algns pontos. O primeiro é que em “condições normais”, ele é tão ou mais rápido do que seu companheiro de equipe. O segundo é que, por mais difícil que seja, é preciso desligar-se da tabela de pontos do campeonato e correr como se todos estivessem zerados. Reduzir a autocobrança no momento é fundamental.

 

Em conseguindo esta estabilidade, aí sim será a hora de reagir e começar a andar na frente do outro piloto do carro branco. Esta é a única forma de se tentar reverter o quadro psicológico negativo e você já passou por dificuldades e provações maiores do que esta, Felipe.

 

Força e coragem Felipe... mais do que nunca tem que ser guerreiro, mas sobretudo, manter-se vivo.

 

Lembre-se da nossa conversa anterior: Grano duro... grano duro.

 

Beijos do meu divã,

 

Catarina Soares