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Sabine Kehm PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 28 June 2014 04:29

Olá fãs do automobilismo,

 

Tem muita gente que fala coisas do tipo: “nada neste mundo me surpreende”, não é? Eu, definitivamente, não sou uma delas! Pelo contrário, acho que neste mundo de hoje podemos nos deparar com algo surpreendente quando menos esperamos e uma destas coisas aconteceu na semana passada.

 

Minha secretária passou-me uma ligação que eu jamais esperava receber na vida. Já tive e tenho como clientes pilotos, familiares de pilotos, chefes de equipe, até jornalistas que cobrem o esporte, mas nunca tive a oportunidade de conversar com um assessor de imprensa de um piloto e quando Sabine Kehm disse que gostaria de conversar comigo, confesso, fiquei surpresa.

 

O Michael falou dela algumas vezes em suas consultas, sempre falou de uma pessoa muito sensata, ponderada, extremamente profissional e que era mais estável sob pressão do que ele. Era alguém que ele admirava e respeitava. Afinal, uma relação de quase duas décadas e uma relação tão próxima que o telefonema – como ela confessou – foi uma sugestão da Corinna.

 

Sabine veio na última quarta-feira e pediu para ser atendida no último horário que eu tivesse. Se possível, sem riscos de encontrar com outros pacientes uma vez que, depois de tudo o que vem acontecendo nos últimos meses, seu rosto ficou extremamente exposto.

 

Sabine Kehm é uma profissional extremamente respeitada no meio do automobilismo.

 

Com muita serenidade, algo que seu olhar transmite, sem que ela precise dizer uma palavra, Sabine agradeceu a atenção em eu atendê-la sem ser ela uma paciente regular. Ela também disse que o Michael falava sobre nosso trabalho vez por outra e se referia a mim com muito respeito e carinho.

 

Profissional séria e conceituada no meio, Sabine Kehm está na vida de Michael Schumacher desde os tempos de Ferrari, quando o então Bicampeão do mundo assumiu o desafio de levar a equipe italiana de volta ao topo da categoria. Ela contou que não foram anos fáceis e que nem sempre todo o foco profissional do seu piloto conseguia deixá-lo em paz com sigo e com a equipe.

 

Para alguém tão competitivo quanto ele, não vencer ou demorar tanto quanto ele demorou a voltar a conquistar o título não foi algo fácil de assimilar. Contudo, todo o investimento valeu a pena e os 5 títulos conquistados foram muito mais do que êxitos profissionais.

 

Há anos trabalhando com Michael Schumacher, foi chamada para cuidar da difícil missão após o acidente do alemão.

 

Sabine disse que, mesmo depois da – primeira – aposentadoria, manteve contato constante com Michael Schumacher. Ela disse que o espírito competitivo do alemão continuava ativo e foi por isso que ele tentou correr de motocicletas, deixando Corinna com os cabelos em pé.

 

A volta para as pistas com um contrato de três anos pela Mercedes foi encarada por muitas pessoas dentro e fora do circo da Fórmula 1 como um erro, mas Michael se sentia tão motivado quanto no começo da carreira e nos três anos em que esteve na equipe prateada – com quem dizia ter uma dívida dos tempos de início de carreira – que ele não pensava em parar, mesmo depois dos três anos do contrato inicial. Parar foi duro, mas mesmo o afastamento do esporte, profissionalmente, não afastou Sabine e Michael. Depois de tanto tempo, a relação era mais do que profissional. Era mesmo uma amizade.

 

Foi mais por conta desta amizade do que por qualquer outro motivo que seu telefone tocou na antevéspera do ano novo com uma péssima notícia: o amigo de tantos anos estava entre a vida e a morte... e ela seguiu para Grénoble com uma dos mais duros desafios de sua vida.

 

Ao longo dos anos, a relação entre Sabine e a família Schumacher transcendeu o trabalho.

 

Durante o trajeto até o hospital universitário, Sabine disse que passavam por sua mente os momentos que transcorreram depois do acidente de Silverstone, em 1999, quando uma falha nos freios da Ferrari fez com que o carro passasse reto em uma da velozes curvas do circuito e colidisse frontalmente com a barreira de pneus e provocando fraturas em suas pernas.

 

Também vinham à mente os dois dias no hospital na Alemanha depois do acidente com a motocicleta que deixou Michael em coma e Corinna mais nervosa do que durante todos os anos em que o marido esteve na Fórmula 1.

 

A situação desta vez era mais grave do que tudo o que ela passou. Os relatos dos médicos – que ela pediu que eu nào pergutasse detalhes – davam conta de que o que viria pela frente seria um longo e árduo trabalho de “blindagem”, tanto da família – Corinna e filhos – quanto de Michael em relação ao assédio da imprensa.

 

Foi Corinna, esposa de Michael, quem pediu a ajuda de Sabine e que indicou-a para falar comigo.

 

Sabine confessou que entenia o lado da imprensa, mas que não tinha muito a fazer em relação ao que a imprensa queria. Fotos? Fora de cogiação. Detalhes? A quem interessaria? No entender da família – algo que ela concordou inteiramente – os fãs e a imprensa teriam que receber informações... quando houvesse alguma informação a ser dada. No mais, o dia a dia em que nada ou quase nada parecia mudar, este era um momento apenas da família. E, se formos ver bem, sempre que houve uma mudança no quadro clínico de Michael, esta mudança foi noticiada.

 

Quando da transferência para Lausanne, havia um sentimento de que uma etapa, a mais difícil, havia passado. Contudo, a notícia do furto dos registros médicos de Michael no hospital de Grénoble fizeram a serena Sabine alterar-se. Até mesmo aqui no consultório o seu tom de voz mudou quando falamos sobre o assunto.

 

Sua indignação era latente. Ela lembrou do jornalista que tentou entrar no hospital “disfarçado” de padre para tentar chegar perto e até tirar fotos de Michael na UTI. “Que absurdo! Será que não existe mais ética ou respeito pelo ser humano neste mundo”? Estas foram as palavras dela. Naquele momento, nem a mais forte das fortalezas resistiria a tamanho ataque.

 

Profissionais e pessoas como Sabine tem que ser muito respeitadas.

 

Normalmente o profissional cuida da hora que tem com seus pacientes. Afinal, tem outros com horário marcado. Mas Sabine foi a última pessoa que eu tinha para atender naquele dia e nossa conversa foi muito além daquela “hora contratual”. Aquela imagem da pessoa “seca”e sem sentimentos que ela transpareceu a mim e a todos durante estes meses em que a conhecemos (algum dos queridos fãs já havia lido ou ouvido seu nome antes deste acidente com o Michael? Eu nunca!) desfez-se ao longo da nossa conversa.

 

Sabine mostrou-se tão campeã em sua corrida profissional quanto seu amigo Michael!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares