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Um peixe muito indigesto PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Friday, 06 June 2014 04:15

No mês passado nossa conversa foi sobre os pescadores. Neste mês, vai ser sobre peixes. Na verdade, um peixe em especial.

 

Quando comecei a pensar sobre o assunto fiquei em dúvida sobre qual seria o “personagem”. Se um tubarão, por sua ferocidade, quem sabe uma piranha... mas isso poderia levar a interpretações sexuais, o que não é a minha intenção. Poderia ser algum peixe venenoso, mas na minha pesquisa acabei achando “o peixe certo”.

 

Nos rios da Amazônia, com toda sua diversidade de fauna e flora, há um peixinho bem pequeno, mas que é capaz de fazer estragos monumentais em suas vítimas por sua natureza de penetrar em lugares quentes, como o canal retal e o canal da uretra (pena não poder escrever do jeito que todo mundo conhece). Este peixe chama-se Candiru.

 

O Vandellia Cirrhosa tem uma reputação entre os nativos de ser o peixe mais temido naquelas águas, até mais que a piranha. A espécie cresce até dezoito centímetros e tem forma de enguia, tornando-o quase invisível na água. Ao ser atraído pelo cheiro e calor da urina, pode aprumar suas nadadeiras e ir contra o fluxo da mesma, penetrando na uretra. Ele então se instala no canal e a parte posterior do corpo e suas nadadeiras cravando-se no tecido da vítima, podendo se alimentar do sangue e tecido do agente hospedeiro. O Candiru só pode ser retirado por meio de cirurgia.

 

Da nossa vizinha Argentina, bem longe da Amazônia, da cidade de Córdoba, saiu um outro peixinho. Nada de nome em latin. Ele se chama José Maria Lopez, mas podemos chamá-lo de “Pechito”, como ele é mais conhecido em seu país e agora o está ficando pelo mundo.

 

Pechito Lopez em Termas de Rio Hondo, testando um Fórmula 3. Nunca disputou o campeonato do continente.

 

Filho de um famoso – entre eles – piloto argentino (Osvaldo ‘cocho’ Lopez), que disputou provas em diversas categorias argentinas e que foi companheiro de equipe de Ingo Hoffmann no antigo campeonato sulamericano de turismo (muitas vezes andando na frente do nosso multicampeão) cresceu “respirando velocidade”.

 

Foi campeão de praticamente tudo no que correu em sua vida. Na Argentina, dominou todas as categorias, desde o kart até a Top Race V6. Depois de sagrar-se campeão de tudo na Argentina no início da carreira, foi para a Europa, onde foi campeão da Fórmula Renault Italiana e da Fórmula Renault V6 europeia, o que deu a ele a chance de testar o F1 de Fernando Alonso.

 

Na GP2, correndo pela Supernova, com um orçamento curto, náo conseguiu mostrar muita coisa.

 

Quando foi criada a GP2, o ‘Candiru argentino’ foi correr na equipe de Enrique Scalabroni – a Supernova – que teve êxito em outras categorias, mas na GP2 não conseguiu muito sucesso. Era uma “equipe caseira”, uma vez que Scalabroni é cordobês, de Alta Gracia, terra fértil de onde nasceu Oreste Berta e também os Lopez, uma família veloz.

 

‘Pechito’ não conseguiu dar seguimento à sua carreira na Europa e no caminho para a Fórmula 1 por pura falta de dinheiro. Para fazer a segunda temporada na GP2 era preciso reunir um milhão de dólares e o piloto só conseguiu 20 por cento deste valor... e ficou na Argentina.

 

Seu histórico de vitórias na Fórmula Renault rendeu-lhe um teste no F1 de Fernando Alonso.

 

Para sua felicidade, o automobilismo argentino é forte e as empresas investem no esporte, o público vai aos autódromos e os pilotos podem viver profissionalmente do esporte. Assim, ‘Pechito’ deixou de lado os monopostos e ingressou na mais importante categoria de turismo do país, a TC 2000.

 

Não demorou muito para que ele conseguisse se transformar no “homem a ser batido”, conquistando campeonatos em sequência. Mas mesmo assim, passou por algumas dificuldades e foi “diversificar”, correndo até mesmo no campeonato de “Turismo Carretera”, que usa carros mais antigos e com motores preparados, correndo mesmo em circuitos menores e mais perigosos, onde a TC 2000 não corre, alegando segurança.

 

De volta à Argentina, Pechito foi praticamente imbatível na TC 2000, principal categoria de Turismo do país.

 

Os horizontes do argentino voltaram a se abrir com as etapas do WTCC, o mundial de “carros de combate”, que começou a correr etapas no país. Era uma forma de correr com os melhores carros de turismo do mundo e algumas equipes “alugavam” carros para pilotos locais.

 

‘Pechito’ foi pra pista e deu um show, vencendo uma das provas disputadas no país sem conhecer bem o carro e isso chamou a atenção dos dirigentes e chefes de equipe. Ao ponto de, neste ano, com a estreia da Citroen, ele conseguiu fechar um pacote e ter o terceiro carro da equipe.

 

Também venceu no Turismo Carretera, categoria mais tradicional do país, com disputas desde os anos 30.

 

E era o terceiro mesmo! Afinal, os “donos” da equipe eram o multicampeão da categoria, Yvan Muller e o megacampeão de tudo, em especial do Rally, Sebastien Loeb. Ambos franceses, numa equipe francesa... Pechito era “o estranho no ninho” na festa dos queijos e vinhos!

 

Por mais que os franceses achassem que teriam três pilotos fortes, certamente o argentino era o último dos três na aposta da equipe para conquistar o campeonato. Dá pra imaginar como estão pensando hoje os diretores da Citroen (a equipe tem apoio oficial de fábrica) e o corpo técnico da equipe diante do que mostra o desempenho de seus pilotos nesta primeira metade do campeonato?

 

Aposta errada, com gente errada, no lugar errado: Pechito embarcou no sonho da USF1 e nos delírios políticos.

 

José Maria ‘Pechito’ Lopez lidera o campeonato com 40 pontos de vantagem (uma vitória vale 25 pontos) para seus colegas de time, provavelmente sem ordens de equipe, mas ainda cercado da ignorância por parte dos “espectadores de internet”, que continuam jogando confete sobre o Loeb, como andei lendo em alguns “blogs especializados”, ignorando completamente quem é o líder do campeonato e “o cara” na categoria. Talvez para alguns o Candiru devesse entrar pela orelha e não pela uretra.

 

Como eu sou um eterno “do contra”, minha torcida vai toda para o argentino! Que ele vença o campeonato deste ano, derrotando os mitos franceses e consiga abrir um novo caminho para os pilotos de seu país novamente em destaque no cenário internacional.Numa desses a gente pega uma carona e consegue colocar algum brasileiro na categoria também.

 

Com meia temporada do WTCC decorrida, os franceses estão vendo do que Pechito Lopez é capaz.

 

Enquanto isso, fica a esperança – pequena – que nossos seguidores do automobilismo abram seus olhos e deem valor aos pilotos do continente. Tem muita gente boa correndo por aqui sem o devido reconhecimento à sua capacidade e seu talento. Basta, talvez, um pouco mais de investimento para que eles conquistem o mundo, como nós, brasileiros, conquistamos nos anos 70/80/90.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva